As rusgas de um homem com rugas na alma

Por Ronaldo Souza

A sua ignorância já passou para os anais do judiciário brasileiro.

Afinal, não é todos os dias que se tem oportunidade de ouvir um juiz de direito chamar Câmara (dos Deputados) de Câmera.

Não caia na tolice de lhe pedir para usar sob e sobre; ele não sabe. Já se enrolou várias vezes.

Burrice e ignorância que tanto depõem contra os concursos públicos para a classe de juízes federais, já tão fragilizada conceitualmente diante da sociedade.

No entanto, possivelmente, se não a sua maior performance, uma das mais fulgurosas foi sobre as relações conjugais.

As relações conjugais, como sabemos, nem sempre são simples, razão pela qual não é incomum que casais se separem.

Quando a vida se impõe sobre o “até que a morte os separe” e desfaz o que fez, é comum que entre os cônjuges, além do amor tenham ido embora também a paz e a harmonia.

E tudo se torna traumatizante.

Mas há juízes que tornam o “até que a morte os separe” mais traumatizante ainda.

Quando a vida resolve separar o que parecia caber somente à morte, um juiz pode fazer um estrago ainda maior.

É quando, ao assinar o atestado de óbito daquela relação, o juiz assina também o óbito da língua.

O casal de pombinhos se transforma em “conjes”, cada um para seu lado.

Um inferno!

A falta de amor dói a quem pensava que a chama jamais se apagaria.

Dói também, e muito, a falta de amor do juiz pela língua.

Como juiz, além de incompetente (dito por vários juristas e professores de Direito), passou todo o processo da lava jato mentindo. Atropelou tudo que era possível.

Flagrado pelo The Intercept em diálogos e ações escabrosos com promotores da lava jato que corromperam todo o processo judicial, nada aconteceu. Algo, aliás, comum na sua vida, sempre blindado pela imprensa.

Ninguém teve mais dúvidas da sua decisiva participação na farsa da condenação e prisão de Lula.

Ali ficou patente a armação.

Porém, para os que ainda eventualmente continuassem acreditando na sua seriedade, sua falta de dignidade se exibiu sem nenhum pudor ao aceitar ser ministro do presidente que ajudou a eleger com a prisão de Lula; era a desmoralização de um homem já desmoralizado há algum tempo.

No mais recente episódio dessa cruel e covarde perseguição a Lula, divulgaram-se notícias do seu enquadramento na Lei de Segurança Nacional, numa tentativa absurda de prende-lo outra vez.

Não importaram o completo sem nexo da tentativa e a afronta à Constituição Brasileira.

Tentou esconder que não tinha autorizado a operação.

Veja o que o ConJur (site jurídico) chegou a chegou:

A lei nº 7.170 não costumava ser evocada para investigar adversários políticos. A notícia causou espanto entre os operadores de Direito e juristas consultados pela ConJur, que reprovaram veementemente o ato. Conclui-se, portanto, que o inquérito faz expressa referência à requisição do Moro e à LSN. E que o ex-juiz da “lava jato” foi expressamente comunicado que o IPL havia sido instaurado por requisição dele.

Covarde.

Entre mentidos e desmentidos da sua tentativa de enquadrar o ex-presidente na LSN não importou o ridículo em que caiu mais uma vez. O que importou foi que se criou mais uma chance de trazer o nome de Lula para as manchetes, sempre de forma negativa.

Fatos novos, que de novos nada têm, são requentados com frequência para esse fim.

Sobre Gilmar Mendes, disse que é natural que tenha algumas “rugas pontuais” com o ministro.

Não há limites para sua burrice e ignorância, por isso jamais se deve dizer que ele atingiu o ápice; haverá sempre mais. 

Se estivesse vivo, Fellini diria; “E la burrice va”.

Adora criticar o “nine“, como carinhosamente se refere a Lula, mas o “ten“, pra variar, derrapou feio outra vez.

Dessa vez sobre rusgas e rugas.

Culpa da língua portuguesa, sempre bonita, porém, muito exigente.

As rusgas na labuta diária do homem trazem rugas e envelhecimento precoce à sua pele.

Há homens admiráveis que carregam na face esse sinal indelével do tempo.

Marca inconfundível de lutas, conquistas e derrotas.

Há, entretanto, outros.

Corpos jovens ou não que revestem almas envelhecidas desprovidas de retidão.

Carregam consigo as rugas da alma.

Dificilmente perceptíveis, mas muitas vezes denunciadoras da indignidade.

O Brasil realmente não anda bem de heróis e mitos.

É uma pena.