Um grupo de atores, cineastas, roteiristas e outros profissionais do audiovisual assinam um manifesto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O número de signatários já passou dos 2 mil nomes e inclui os atores Wagner Moura, Paulo Betti e os cineastas Kleber Mendonça Filho, Karim Ainouz, Jorge Furtado e a diretora Anna Muylaert.
Encabeçado por Dandara Ferreira e Luiz Carlos Barreto, o manifesto fala sobre o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica”, promovido por um Congresso “contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição”.
Da Folha
Uma comissão de cineastas, atores, roteiristas e demais profissionais do audiovisual, encabeçada por Dandara Ferreira, filha do ministro da cultura Juca Ferreira, e pelo produtor Luiz Carlos Barreto, assinou um manifesto na internet contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, difundido nas redes sociais desde quarta-feira (23).
Até a publicação deste texto, os signatários do documento já excediam a casa dos 2.000. Segundo Dandara, entre os mais célebres estão os cineastas Kleber Mendonça Filho, Karim Aïnouz e Jorge Furtado, os atores Wagner Moura, Paulo Betti e Jesuíta Barbosa, além do ator e roteirista Gregório Duvivier, que também é colunista da Folha.
A cineasta Dandara Ferreira, filha do ministro Juca Ferreira, na Sala São Paulo
“Denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha.”, diz o texto.
Os signatários expressaram indignação diante das “arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo”. Tais atitudes colocariam em xeque “a convivência, o respeito à diferença e a paz social”.
O manifesto tem o intuito de “denunciar essa enganosa narrativa” e alertar a comunidade internacional do audiovisual sobre o momento político no país. Os profissionais demonstraram a intenção de lançar mão de instrumentos legais para “impedir um retrocesso em nossa frágil democracia”.
O texto ainda evita adotar mensagem partidária, uma vez que os signatários expressam preferências políticas díspares.
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LEIA O MANIFESTO NA ÍNTEGRA
Nós, cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores e técnicos do audiovisual brasileiro, nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade.
Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas. Sem ela, não haveria liberdade para expressarmos nossas distintas convicções,__ pensamentos e ideologias. Sem ela, não poderíamos denunciar o muito que falta para o país ser uma nação socialmente mais justa. Por isso, nos colocamos em alerta diante do grave momento que ora atravessamos, pois só a democracia plena garante a liberdade sem a qual nenhum povo pode se desenvolver e construir um mundo melhor._
Como nutrimos diferentes preferências políticas ou partidárias, o que nos une aqui é a defesa da democracia e da legalidade, que deve ser igual para todos. Somos frontalmente contra qualquer forma de corrupção e aplaudimos o esforço para eliminar práticas corruptas em todos os níveis das relações profissionais, empresariais e pessoais.
Nesse sentido, denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha.
Manifestamos a nossa indignação diante das arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo. Da mesma forma, expressamos indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política. Estas atitudes colocam em xeque a convivência, o respeito à diferença e a paz social.
Repudiamos a deturpação das funções do Ministério Público, com a violação sistemática de garantias individuais, prisões preventivas, conduções coercitivas, delações premiadas forçadas, grampos e vazamentos de conversas íntimas, reconhecidas como ilegais por membros do próprio STF. Repudiamos a contaminação da justiça pela política, quando estadesequilibra sua balança a favor de partidos ou interesses de classes ou grupos sociais.
Nos posicionamos firmemente a favor do estado de direito e do respeito à Constituição Brasileira de 1988. Somos contrários à irracionalidade, ao ódio de classe e à intolerância.
Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação.
Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados. Tal agenda envolve desqualificar as empresas nacionais estratégicas, entre as quais se insere a emergente indústria do audiovisual.
Por todos esses motivos, nos sentimos no dever de denunciar essa enganosa narrativa e de alertar nossos pares do audiovisual em outros países sobre este assombroso momento que vivemos.
Usaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição para impedir um retrocesso em nossa frágil democracia.
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