Feliz Natal

As propagandas são cada vez mais fantásticas, de uma qualidade impressionante. Algumas usam as próprias músicas de Natal como fundo musical, outras usam músicas consagradas, algumas são criadas para a peça publicitária. Os textos, lidos por vozes Cid Moreirianas (o dos bons tempos, não essa coisa de hoje do Fantástico, dá pena), tocam fundo na alma. Paro para ouvir e me permitir sonhar. Aí entra; “Tenha um Natal feliz com o Banco…,”. Fecho imediatamente o sonho, cruel demais.

“Já reparou como voce passa o ano todo gastando razão e economizando emoção…”, meu Deus do Céu, que bonito, vou longe. Mas aí vem a pancada: “…neste Natal, Shopping Center…”. Gente, emoção não tem nada a ver com shopping center.

Vamos ouvir, ver, ler (viva os e-mails) mensagens lindíssimas desejando Feliz Natal, de pessoas que passaram o ano todo enviando e-mails (pobres e-mails) recheados de preconceito, discriminação, racismo.

Acho que tive “natais” perfeitos quando criança. A Missa do Galo na minha querida Juazeiro (da Bahia), a espera ansiosa pela chegada de Papai Noel, presente debaixo da cama. Era bom demais. Eu e Vânia preservamos isso com as nossas duas filhas e sei que elas farão isso com os filhos delas. Alguns devem pensar que não seria a melhor maneira de educar os filhos, afinal, não deixa de ser uma mentira. Além disso, quantos não sabem o que é um feliz natal, seria um acinte.

Neste site existe um outro texto, Natal, escrito para o do ano passado, primeiro ano do site “no ar”. Um outro texto, uma outra mensagem, talvez mais densa. Fala desse natal que não existe para muitos, porque também o considero. Porém, se a vida me permitiu natais felizes, não consigo me ver negando-os às minhas filhas. E quanto à mentirinha do Papai Noel, posso lhe assegurar que não faz mal. Não fez a mim, não fez a elas.

É lógico que o natal deveria ser todos os dias, não os presentes, o espírito, mas não dá. É a crueldade do dia-a-dia, a correria, a sobrevivência, mas também não deveríamos nos afastar tanto assim do clima que reina nesta época do ano.

Antes, só as crianças. Hoje, todos querem e ganham presentes. Ruim? Não. Afinal, receber presente é muito bom, apesar de que dar é mais gostoso. O problema é que parece que ficou mais a distribuição de presentes do que a alegria do momento, e até o seu real significado. 

Ainda me percebo tocado pela data, pelo espírito que reina nesta época do ano. Muitas vezes me vem a emoção e deixo-a tomar conta de mim. É pecado? Acho que, bem lá no fundo, sou eu que estou precisando de um Feliz Natal. Sou eu que estou precisando pegar esse espírito e egoisticamente guardar comigo, para usa-lo um pouquinho a cada dia, como um antídoto à exacerbação de sentimentos que em nada enaltecem o homem.

Para os que vão continuar mandando e-mails recheados de preconceito, discriminação, racismo, por favor, não me desejem Feliz Natal.

E para você, Feliz Natal, durante os próximos trezentos e sessenta e cinco dias.

Uma questão importante

Casimiro Ricardo:
Prof. ronaldo fico aqui questionando neste momento de reflexão diante do seu questionamento. Quantas faculdades de Odontologia através de seus professores apregoam a determinação de milimetros que não devem ser manipulados, por acharem que o campo de ação do endodntista é o canal dentinário. Será que num diagnóstico de polpa necrosada em que  ainda não visualizou rarefação óssea(?) apical poderemos acreditar que bactéria nenhuma invadiu o canal cementário,claro que não.Para obter-mos controle da infecção temos que limpar todo o canal.

Casimiro, respeito a filosofia das diversas escolas que existem no Brasil e tenho grande respeito pelos professores, alguns dos quais meus amigos, mas há muito tempo trabalho para mudar a compreensão de alguns conceitos, particularmente nas questões pertinentes ao terço apical. Vários professores já entenderam a nossa concepção. Em várias cidades do Brasil em que tenho tido oportunidade de dar aulas as respostas são altamente estimulantes. Já recebi e-mails de professores de outros países dizendo-se entusiasmados com as nossas idéias. Ainda são poucos, mas já se manifestaram. Vejo trabalhos de autores internacionais consagrados com a mesma linha de raciocínio, um dos quais, o Professor P. N. Ramachandran Nair, disse recentemente no Congresso Internacional de Endodontia em Porto Alegre que a concepção está biologicamente correta. Posso lhe assegurar que é um processo irreversível.

Untitled

Antônio Tavares:
Após as técnicas de anestesia ptérigo mandibular de um tempo e bucal, para a extração do segundo molar inferior esquerdo comprometido por cárie e ainda com vitallidade pulpar, o paciente relata todos os sinais de bloqueio do nervo alveolar inferior e acusa permanecer com dor à percussão horizontal. Pergunta-se: Qual o provável diagnóstico e que outra técnica de anestesia deveremos utilizar?”

Antônio Tavares, não é uma pergunta pertinente à endodontia. Recorri ao Prof. Eduardo Azoubel, Professor de Cirurgia do Curso de Odontologia da Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências (FBDC). Aí está a resposta dele:

Acreditamos que se trate de um caso atípico, pois todos os bloqueios necessários foram realizados, porém nao podemos esquecer que a maioria das áreas do corpo humano possuem anastomoses e nervos colaterais. Neste caso poderíamos fechar um diagnóstico de inervação colateral ou uma resposta inflamatória no periápice, então sugerimos com uma broca esférica número 1 realizar uma perfuração na cortical medular e proceder uma anestesia intra-óssea.
Espero ter ajudado
Eduardo Azoubel

Untitled

Heneias Oliveira:
Prezado Prof. Ronaldo, saudações!
“Diploma de curso Superior, hoje em dia, já não é um diferencial”.
Esta frase é do Eugênio Mussak, professor do MBA da FIA. Realmente estamos precisando entender mais do processo que envolve a Odontologia de uma forma mais holìstica. Saint’ExuperrY disse: O escencial é invisível aos olhos. Assim, nós cirurgiões-dentistas deveríamos enchergar a nossa tão sublime profissão. Diferencial, hoje, é conseguir a confiança de nossos clientes. É ter um comportamento honesto com eles com transpartência e um mix de senso e atitudes corretas no quesito procedimento odontológico. O processo de aprendizagem não deve se resumir apenas ao acúmulo de conhecimento mas sobretudo também ao estímulo ao pensamento. O sucesso de nossas carreiras está fundamentada nestes princípios. A tecnologia está em nossas mãos porêm a ética deve fazer parte de nossa conduta como profissionais e como seres humanos. Em meio a esta crise mundia, sobreviverá aquele cuja mente for fértil.
Saúde e prosperidade a todos os meus colegas.

Untitled

Fabiana:
Olá Prof., como vai… Estou querendo comprar um localizador apical e estou um pouco na dúvida quanto ao custo benefício da marca Joypex. O Sr. já ouviu falar… Ele é bem mais barato do que os outros… Se puder gostaria de algumas dicas… Desde já obrigada e parabéns pelo site estou adorando…

Fabiana, infelizmente não posso lhe ajudar pois não conheço esse localizador apical. Vou ver se consigo alguma informação e lhe passo. Fico feliz por saber que você está gostando do site.

Untitled

Elton:
Professor iniciei o tratamento endodôntico do elemento 46 em um paciente de 13 anos, o dente já estava praticamente aberto, consegui identifcar os canais mésio lingual e distal, mas não estou conseguindo localizar o mésio vestibular, gostaria de saber, como devo proceder pra localizar o o canal em questão?
Desde já obrigado!!

Elton, o canal disto-vestibular (DV) “caminha”, o que pode dificultar a sua localização, entretanto, o MV está sempre embaixo da cúspide MV. Veja se ainda há alguma possibilidade de existir teto da câmara pulpar e remova para que você possa enxergar perfeitamente todo o assoalho da câmara. Ilumine-o bem (“jogue” a luz do refletor para dentro da câmara usando o espelho clínico) e siga as linhas escuras do assoalho, elas conduzem às entradas dos canais. Não busque somente com a ponta do explorador, é um instrumento muito grosseiro. Use também uma lima 08 ou 10 e faça uma sondagem cuidadosa. Observe que durante a sondagem em busca do canal quando a ponta da lima “bate” na dentina do assoalho não “encaixa”, fica solta, mas se ela “encontrar” a entrada do canal voce vai perceber que fica presa (isso exige muita delicadeza no manuseio do instrumento, aliás, como sempre deve ser). Não remova o instrumento, ali deve ser o canal. Se você tiver lupa e/ou o microscópio, nessas horas são recursos muito bons.

Um convite

Acredito que um dos maiores equívocos, quem sabe o maior, que se comete na Endodontia, é o ensino, e consequentemente o exercício, apoiado quase que exclusivamente em princípios mecânicos. Até quando iremos colocar a execução da técnica pela técnica acima da técnica respaldada pela compreensão do processo. Por causa disso, duas coisas aconteceram: o absoluto desencontro da endodontia, como ciência, com as outras especialidades das áreas de saúde e baixos percentuais de sucesso. Você tem dúvidas disso? Como explicar então tantos retratamentos sendo feitos? Faço um convite. Leia o texto “Entender para fazer bem” em Conversando com o Clínico clique aqui. Depois, que tal se trocarmos idéias sobre o tema aqui no blog?

Entender para fazer bem

Entre os temas que sempre abordo com os alunos de graduação, está uma conversa que pretende chamar atenção deles para a ligação das disciplinas básicas com a clínica (apesar de achar que se eu falar “link” e não ligação eles entenderão melhor, recuso-me para não contribuir com o desrespeito e assassinato do nosso Português. Nessa tentativa desesperada estou bem acompanhado, como por exemplo, por gente do nível de Ariano Suassuna).

– Se eu pegar uma turma de medicina equivalente à de vocês (6o semestre) quem vocês acham que fará melhor uma ligação das disciplinas básicas com a clínica, vocês ou eles? Eles nunca pararam para pensar sobre isso, mas já sabem a resposta.

O que faz um médico diante de uma ferida contaminada? Limpa (remove a infecção) e a protege contra a invasão de microorganismos, até que o reparo se dê com o fechamento da ferida, a cicatrização da pele. Ele sabe que ao limpar a ferida, ao remover a infecção, o reparo está garantido. Para evitar nova infecção, ele sela e protege a ferida até que a pele se reconstitua e aí assegure o reparo em “definitivo”.

Vamos para a Odontologia? Qual é a terapia indicada para um dente com tecido cariado? A restauração da porção perdida com o processo de cárie? Não. A terapia indicada é o preparo cavitário (momento em que se remove a cárie, a infecção) e a restauração do dente, para que ele recupere as condições funcionais e estéticas. A restauração teria basicamente dois objetivos; funcional e estético. Mas, não é só isso; ela tem um outro objetivo, nobre, que é o de selar a cavidade e assim “evitar” que novos microorganismos tenham acesso às estruturas dentais, o complexo dentina/polpa.

Já foi demonstrado que para existir cárie há necessidade da interação de três fatores; hospedeiro – dieta – microorganismos. Considerando-se que o homem (hospedeiro) precisa da dieta para sobreviver, resta-nos pensar sobre os microorganismos.

Existem animais de laboratório que são livres de microorganismos, os chamados germ-free. Vamos imaginar a seguinte situação; a existência do homem germ-free; ele não teria microorganismos na sua cavidade oral. Imagine que conseguíssemos “colocar” alguns microorganismos só em um determinado dente, um dente anterior, e tivéssemos induzido o surgimento de cárie nele. Agora existe cárie em um dente.

Você vai tratar o dente em questão. Você remove a cárie. Esqueça a estética. Você acha que precisa restaurar para evitar que microorganismos invadam o complexo dentina/polpa? Se você lembrar que este paciente é germ-free, e que portanto não há microorganismos, você precisa da restauração para “proteger” dentina e polpa? Não. Não há quem os invada. Assim, após a eliminação da infecção, se não houvesse a preocupação com a proteção do complexo dentino/pulpar, estética e função, esse dente não precisaria ser restaurado. Calma, não se precipite. É lógico que todos os dentes devem ser restaurados. Nós estamos conversando sobre uma situação hipotética de um paciente germ-free.

Observe que não cabe à restauração eliminar as bactérias. Esse papel cabe ao preparo cavitário. À restauração cabe, após a eliminação do agente causal, selar a cavidade e impedir a chegada de novos microorganismos. As eventuais alterações pulpares deixarão de existir graças ao fato de que a causa, a cárie, foi removida. A permanência desse quadro, e a conseqüente manutenção do reparo a longo prazo, terá lugar pelo selamento da cavidade. Obtém-se o reparo com o preparo cavitário; mantém-se o reparo pelo selamento cavitário.

Assim ocorre na Endodontia. O preparo do canal remove a causa e com isso permite ao organismo promover o reparo; a obturação sela o canal e permite a manutenção do reparo a longo prazo. Obtém-se o reparo com o preparo do canal; mantém-se o reparo pelo selamento do canal. Este é o objetivo da obturação.

É reconhecida a dificuldade de eliminação dos microorganismos pelo preparo cavitário na dentística. Particularmente em cavidades mais profundas, permaneceriam nos túbulos algumas bactérias, haja vista que a sua remoção total poderia levar à exposição pulpar, com as suas eventuais conseqüências (não cabe neste momento comentá-las, fazer juízo de valor; quem sabe venhamos a fazê-lo futuramente). Tendo em vista a possibilidade de permanência desses microorganismos remanescentes, apesar de polêmico, propõe-se o uso de uma substância com potencial antimicrobiano, geralmente hidróxido de cálcio, e o selamento da cavidade pela restauração. De uma forma bem sintetizada, pretende-se com o primeiro uma ação sobre os eventuais microorganismos residuais e com o segundo evitar a chegada dos que naturalmente habitam a cavidade oral. O sucesso desses procedimentos garantirá à polpa a sua sobrevivência em estado de saúde.

É por demais reconhecida a dificuldade de eliminação dos microorganismos do sistema de canais radiculares pelo preparo do canal. Alguns deverão permanecer. Tendo em vista a possibilidade de permanência desses microorganismos remanescentes, propõe-se o uso de uma substância com potencial antimicrobiano, geralmente o hidróxido de cálcio, e depois o selamento da cavidade pulpar pela obturação do canal. De uma forma bem sintetizada, pretende-se com o primeiro uma ação sobre os eventuais microorganismos residuais e com o segundo evitar a chegada dos que naturalmente habitam a cavidade oral. O sucesso desses procedimentos garantirá aos tecidos periradiculares a sua sobrevivência em estado de saúde.

É tão simples assim? É sim. Já passou da hora de se continuar imaginando que deu certo porque vedou hermeticamente.

Untitled

Heneias Oliveira:
Professor Ronaldo, quando vier a MG ministrar algum curso ou palestra por favor mande-me um email dizendo a data. Obrigado.

Heneias, quando receber um convite para ministrar um curso em Minas Gerais terei o maior prazer em ir e em lhe avisar.
Um abraço,
Ronaldo Souza