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Enguer Charão:
Caro Professor Ronaldo,
Em primeiro lugar, gostaria de lhe parabenizar pelo excelente trabalho e pela idéia do blog para o site. Minha pergunta é, ao mesmo tempo, simples e complexa. Minha curta experiência de 3 anos como clínico geral tem me levado, na maioria das vezes (ainda bem!) a grandes satisfações profissionais. No entanto, como diz o ditado antigo, nem tudo na vida são flores. Venho, humildemente, pedir-lhe um conselho no manejo de casos de necrose pulpar com lesão periapical, casos em que o paciente chega ao consultório com o dente aberto (por colegas ou por cárie). Estou experimentado grande dificuldade no controle desses casos, especialmente no seu manejo inicial. Exemplificando, após fazer o selamento provisório entre as consultas, o paciente sente muita dor e não vê alternativa a não ser antecipar a próxima consulta para “drenagem” do canal em caráter de urgência. Pergunto-lhe, onde posso estar errando? Limpeza do forame? Medicação intracanal? Calibre do instrumento memória? Obrigado,

Caro Enguer, quando você está diante de um canal com necrose pulpar, sem ou com lesão, você está diante de um canal infectado. Nos casos com lesão periapical a infecção está mais disseminada, o que torna mais difícil a sua eliminação. Uma preocupação constante nos casos de necrose pulpar é como penetrar nos canais e a penetração desinfetante sempre foi importante por dar mais segurança a esse momento. Hoje a melhor forma de fazer isso é com técnicas que fazem o preparo coroa-ápice, com hipoclorito de sódio em concentração adequada (sugerimos a 2,5%) como solução irrigadora. Observe, porém, que toda substância química precisa de um tempo mínimo para agir e como tem sido bastante estimulada a idéia de que é bom quem faz rápido, é possível que o preparo do canal feito nessas condições não permita o tempo adequado para o hipoclorito de sódio desempenhar o seu papel. Faça um preparo de acordo com a sua habilidade, o seu conhecimento e a sua experiência, ou seja, no seu tempo. Como é rotina há 21 anos, recomendo também a limpeza do forame e medicação com hidróxido de cálcio com veículo aquoso (soro fisiológico, água destilada). Não faça uma condensação muito vigorosa ao ponto de extravasar o hidróxido de cálcio na primeira consulta, isso traz riscos adicionais.

Prof. Ruy Hizatugu

O Prof. Ruy Hizatugu fez um comentário para um colega e me enviou. Como achei interessante perguntei-lhe se podia colocar aqui no blog. Veja a resposta dele:

Caro Ronaldo.
Fico muito feliz em saber que você gostou de meu comentário. Não só autorizo como afirmo que, me sinto muito lisongiado com esta homenagem.
Abração do,
Ruy.

Aí está o comentário:

“Tenho visto casos clínicos de profissionais altamente sofisticados que usam microscópio em tempo integral, radiografias digitalizadas, tomografias, laser, ultrasom., todavia os casos e resultados não são bons. Eu tenho um slide muito sugestivo sobre tecnologia, onde em apenas uma foto eu mostro vários aparelhos modernos. Discuto e defendo a idéia de que, na década de 70, Herbert Schilder usava apenas limas de aço, clorox, guta percha e cimento a base de OZE. O seu índice de sucesso era de quase 100%. Eu sempre evito de falar deste assunto para evitar constrangimentos, principalmente entre meus amigos. Adalberto, a tecnologia da internet, computadores, websites, telefones celulares, células tronco, técnicas moleculares para diagnóstico de doenças, tomógrafos computadorizados etc, infelizmente não melhorou a qualidade de vida do homem. Esta, segundo o sociologo italiano Domenico De Masi e outros pensadores do século XX! está fincada em cinco pilares: Autonomia, Tranquilidade, Tempo, Espaço e Saúde. Parece que o avanço tecnológico induz uma competição para a aquisição de bens materiais, brutalizando os sentimentos mais nobres do ser humano”.

Ruy, De Masi também diz uma coisa muito interessante no seu livro “O Ócio Criativo”. Ele diz que as sociedades que se apoiaram somente na produtividade estão repensando esse modo de “viver”, que o homem precisa dedicar-se mais ao ócio criativo. Você não acha que somente assim florescerão a imaginação e a criatividade, coisas que parecem faltar em determinados momentos, inclusive na Endodontia?

Abraço.

A difusão do erro

Há pouco tempo uma aluna de uma das minhas turmas de especialização, ao me mostrar a radiografia final do tratamento endodôntico que acabara de fazer, chamou a minha atenção para a pequena passagem de cimento obturador para além do comprimento de trabalho (não chegou a ocorrer extravasamento para a lesão periapical). Perguntei-lhe então se tinha colocado o cimento obturador na ponta do cone, e aí veio a minha surpresa. Ela não só disse que sim como intencionou extravasa-lo, e aí arrematou; tinha adicionado iodofórmio ao cimento. Caí da cadeira.

Não preconizo o extravasamento intencional de qualquer material para os tecidos periapicais, muito menos de cimento obturador, e muito menos ainda com iodofórmio. O extravasamento intencional de cimento obturador é absolutamente desnecessário. Na verdade, um grande equívoco. Por isso, em algumas situações, quando há risco iminente de que isso venha a acontecer, recomendo não colocar o cimento obturador na ponta do cone.

Vi ali o quanto é forte e o quanto está impregnada nos endodontistas a idéia de que é necessário colocar alguma coisa em algum lugar, quase sempre uma substância medicamentosa. Mesmo tendo pouco tempo de formada, o que me faz imagina-la com poucos vícios, e tendo como coordenador científico do seu curso de especialização um professor que orienta não adicionar nada ao cimento obturador e muito menos extravasa-lo, ela fez. Por que?

O tratamento endodôntico deveria ser uma coisa bem mais simples. O preparo do canal tem como objetivo remover a causa da patologia, a obturação visa selar o canal. Infelizmente, não tem sido assim.

É comum atribuir-se o sucesso em Endodontia às substâncias químicas. A ausência de dor após o atendimento de urgência nos casos de polpa viva (pulpites) sempre teve como explicação a utilização de corticóides e nos casos de polpa necrosada (abscessos agudos) o uso do PMCC. Chegou-se ao absurdo de se preconizar extravasamento de cimentos “à base” de hidróxido de cálcio porque favoreceria o processo de reparo. Que loucura.

O mais recente absurdo é querer mostrar que a excelência em Endodontia só se consegue com extravasamento de material obturador. Isso, na verdade, representa um importante fator dificultador do processo de reparo. Na hora em que mostrarmos aos nossos alunos que não é nada disso, eles perceberão que o tratamento endodôntico é mais simples do que os fazem imaginar.

Só executar tratamentos endodônticos todos os dias não é suficiente. Entender o que é Endodontia é fundamental. Ciência e Arte. Isso exige estudo.

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Luis Yonel do Pias:
Prezado Professor ronaldo
Eu gostei muito de seu livro, lembro que lei  algums capitulos do livro,o tempo que fiz minha especializacao em brasil mais nao consegui comprar-lo, agora no meu retorno talvez no congresao com certeza vou, e tomara possa conhecer-lo para me assignar o livro.
um forte abraco
atte.
luis
lima-peru

Luis, terei prazer em lhe conhecer e assinar o livro.
Um abraço.

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Rosa Porto:
Ronaldo, segue o rx do dente conforme vc me solicitou. Este paciente tem 12 anos,gostaria de saber se vale a pena tratar.Vai haver uma reparação ossea da lesão, pelo menos? A lima da radiografia é a 80. Na minha opinião, acho que não deveria ser indicada uma extração porque o paciente é muito jovem ,não tem indicação pela idade para implante e a extração deixaria uma deiscencia ossea muito grande, se houver reparação ossea , ja iria preparando o tecido para posterior implante.Gostaria se saber sua opinião? O desagradável é dizer para o paciente que vai tratar para depois extrair.
Um grande Abraço.

Rosa, vale a pena tratar sim. Tem grandes chances de reparar e acho que é isso que vai acontecer. Não pense em indicação de extração e implante, portanto não diga que vai tratar para depois fazer implante. Converse com os pais (de preferência sem ser na presença do garoto para não tirar a motivação dele) e diga que por ser um caso difícil não estaria descartada a possibilidade de implante no futuro, mas que você vai tentar salvar o dente. Assim você se resguarda e os prepara para a possibilidade do pior. Se der certo, e tem chances, será ótimo para todos.
Por favor, mande as radiografias sem ser em PDF para que eu possa colocar aqui no blog para ilustrar melhor e servir como orientação para os colegas.
Um abraço.

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Luis Yonel do Pias:
ta certo professor , saiba que fique na duvida dessa definicao ja que estou com um tratamento de revascularizacao e que tou pegando o protocole do professor Trope, e foi por isso que a questao surgio ja que nestos caosos de o apice ‘e aberto inmaduro que ten uma lesao periapical , o que faria pensar que o processo de formacao do apice que ainda acho fisiologico pela presenca de celulas diferenciadas na papila apical que nao foram eliminadas pelo proceso de necrosis, e os casos mostran que ainda continua a formacao do apice ate conseguir um fechamento das paredes do canal e do apice, mais tamben induzido pelo tratamento de revascularizacao, e isso que nos leva a definir-lo como apicoformacao, bom foi de ali que saio a questao um abraco professor ronaldo.
atte
luis

Correto Luis. Nos casos de pacientes muito jovens há a possibilidade de ainda existirem células indiferenciadas da papila dental, ou seja, naquelas porções finais do canal não seria polpa e sim papila dental. Nesses casos, como você colocou, mesmo diante de imagem de lesão periapical ainda há chances  de continuidade de formação apical. Em situações como essa aquele segmento do canal não deve ser instrumentado.
Um abraço.

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Luis Yonel do Pias:
Prezado professor ronaldo muito obrigado pela resposta do hipoclorito e sua concentracao p, agora tenho uma questao que gostaria me ajude a resolver ‘e verdade que o tratamento de apice aberto chamado apicoformacao ‘e   em dentes de pacientes jovens pelo motivo de morte pulpar esse fato dessa definicao ta certo nao tenho duvida mais como chamaria aos casos de apice aberto em paciente adulto pelo motivo de reabsorcao apical o trauma oclusal,e talvez os casos de dentes invaginatus que apresentan esse problema de apice aberto a minha duvida fica ali como eu chamria a ese tratamento sera que apicoformacao tamben ? muito obrigado profssor tomara me possa ajudar novamente.
atte
luis

Luis, define-se apicogênese como o processo de desenvolvimento apical nos casos em que a polpa se mantém viva. Observe que, na verdade, há desenvolvimento radicular “natural” como um todo, do qual faz parte o apical. Isso ocorre em qualquer situação, independente do tratamento, isto é, se é uma proteção pulpar direta, curetagem pulpar ou pulpotomia. Define-se apicificação como o processo de fechamento do ápice nos casos em que a polpa está necrosada. Não há desenvolvimento radicular (apical). Fecha-se o ápice mas não se desenvolve a raiz. O que ocorre é que o nome apicificação está associado aos casos de rizogênese incompleta. Se, por qualquer razão, você tiver um canal com polpa necrosada e ápice muito aberto e precisar fazer uma terapia para induzir fechamento do ápice, não seria uma apicificação?
Um abraço a todos os colegas do Peru.

Caso Clínico 39

               A                                                B

Radiografia pré-operatória mostrando cárie extensa e lesão periapical (A). O preparo foi realizado com técnica coroa-ápice. Em B, obturação com a técnica da condensação lateral. A fluidez da obturação é um reflexo da fluidez do preparo do canal. Observe que este é compatível com as características da raiz, há um respeito pela proporcionalidade. Não imagine que no preparo do canal você tem que alargar aleatoriamente, por mais convidativo que ele seja. Não é assim.

Caso Clínico 37

   A                                                            B

Obturação tridimensional com a técnica da condensação lateral (A). Observe o pequeno extravasamento de cimento obturador. Um ano após não há mais lesão periapical (B), mas vai levar bem mais tempo para que o organismo consiga eliminar o material extravasado. Tenha sempre em mente que material obturador extravasado para os tecidos periapicais é um corpo estranho, portanto, indesejável. Em alguns casos, como neste, há alguma possibilidade de que isso venha a acontecer, mas não pense que esse é o procedimento correto. É falha técnica. A ausência da restauração coronária põe em risco todo o tratamento endodôntico.

Caso Clínico 38

                    A                                            B

                         C

Determinação do comprimento de trabalho (A). Obturação tridimensional com a técnica da condensação lateral (B). Observe a passagem de material obturador pelo forame e delta apicais e também a criação de espaço para retenção da restauração coronária. Em C, controle radiográfico mostrando reparo em pleno andamento. A restauração coronária ainda não foi feita, o que põe em risco o tratamento executado.