Resposta a Nádia Lopes

Nádia, como você solicitou e lhe prometi em um post aí embaixo, escrevi um texto sobre instrumentação e obturação. Sei que não é o que você pediu. Ocorre que sentei para escrever e, ao começar a digitar, senti que o texto foi tomando um outro rumo e me permiti me entregar às palavras. Espero que mesmo assim você goste. Ele pode ser lido na seção Conversando com o Clínico sob o título de Preparo e obturação do canal.

Untitled

Pergunta de Érica Souza:

Estou com um caso do 25 em um paciente idoso, hj qdo fui acessar, percebi q a polpa estava calcificada,nesse caso coloquei provisrio e pdi ao paciente p aguardar; se não ocorrer sintomatologia dolorosa, posso restaurar com R.C.?

Desde já obrigada pela atenção!

R. Érica, estando o canal calcificado não deverá haver sintomatologia, restaure o dente. No paciente idoso é comum haver calcificação total ou parcial do canal, portanto, observe sempre essa possibilidade na(s) radiografia(s) pré-operatória(s). Assim, muitas vezes você percebe a impossibilidade do tratamento endodôntico e já faz a restauração.

Untitled

Pergunta de Max:

Ao proceder a obturação e na radiografia de qualidade de obturação verifiquei que o cone passou do ápice, retirei os cones e então fechei temporariamente com medicação intra canal de hidróxido de cálcio… três dias após fui refazer a obturação, mas ela estava com sensibilidade no dente, possivelmente pelo cone ter passado o CT gerou uma pericementite e eu deveria ter receitado antiinflamatório por 3 dias para diminuir tal inflamação e então proceder a obturação do canal, estou certo ?? Eu não obturei na sessão posterior e a paciente está com hidróxido de cálcio e receitei diclofenaco sódico 50mg – 3 dias. e pretendo obturar após 7 dias da sensibilidade, estou seguindo um protocolo adequado ? desde já agradeço pela atenção.

R. A “nova” obturação poderia ser feita na mesma consulta em que tirou os cones. Se não desse mais tempo, faria o que você fez, medicação com hidróxido de cálcio. Na outra consulta, que você agendou para três dias depois, mesmo com sensibilidade (dor intensa não), você poderia ter feito a obturação (lembre que ela não teria sido feita por questão de tempo). A sensibilidade é resultante de atos operatórios que se somam (obturação, ultrapassagem do cone, desobturação), mas não contraindica necessariamente a obturação. Se a dor for acentuada mantenha a medicação sistêmica, se não for, pode suspender. No prazo que você deu, pode obturar.

Esta é uma resposta bem sucinta, mas, como sua questão é muito interessante e sei que existem muitas dúvidas nessa hora, em breve escreverei um artigo sobre cada possibilidade dentro da sua colocação e postarei no Conversando com Clínico.

Agradecimentos

Tenho recebido muitos comentários elogiosos a este site. Agradeço a todos, muito legal. No início fiquei acanhado quanto a coloca-los no “ar”, mas depois fui me acostumando. Apesar de não ter colocado todos, foram postados como Saudações. Resolvi, porém, que, dali por diante, os próximos não seriam mais postados para não parecer que estava aproveitando para me enaltecer. Volto atrás, pelo menos para esses dois. Um deles, o de Alírio, é a prova de que realmente pretendia não fazer mais isso, pois é de novembro do ano passado (mesmo antes desse, outros já não tinham sido colocados). Perceba o sentimento de busca, não importando o tempo, contido nas palavras de ambos. Graças a eles, sou forçado a dizer que é possível que outros venham a ser postados também. Muitas vezes trazem mensagens de entusiasmo, motivação, busca incessante. Isso é vida. Nada melhor.

Alírio comentou : 20/11/2007 às 12:13

Já com uma certa estrada de vida clínica foi que ingressei numa especialização, e justamente onde menos esperava: endodontia! Hoje percebo que realmente as coisas só devem vir ao seu tempo…sei que estou no lugar certo, na área certa, com a equipe certa, e, principalmente, com o orientador certo, que, mesmo sendo nosso mestre, faz com que o enxerguemos como mais um colega, apenas mais experiente, dada a simplicidade com que nos transmite todo seu conhecimento, nos fazendo pensar em endodontia, e não apenas repetir as etapas mecanicamente. Desde já(pois ainda não acabamos), muito obrigado por tudo.

Aurimar Andrade comentou: 12/01/2008 às 14:18

Alírio: Gostei muito do seu comentário pois aconteceu algo parecido comigo. Por diversas razões e circunstâncias adiamos desejos e planos, são coisas que fazem parte da vida. Em contrapartida, chegamos à Especialização com mais maturidade e experiência adquiridas em anos de ” mocho “. Em suas palavras sentí o mesmo entusiasmo que sinto até hoje e mesmo sem conhecê-lo, gostaria de incentivá-lo a aspirar novas metas, converse com seu orientador. Na mesma linha de incentivo, gostaria que soubesse que dentre os colegas que ingressam mais tarde em uma Especialização, estão muitos professores de destaque no cenário nacional.

Cordialmente,

Aurimar Andrade

Gentileza do Prof. Ruy Hizatugu

Prezado Prof. Ronaldo Araújo Souza.

Foi uma surpresa muito agradável visitar seu site hoje logo de manhã. Web belíssimo, com o propósito nobre de orientar colegas interessados na endodontia. Vou ficar fora de São Paulo durante as festas de fim de ano. Neste período quero reservar um tempo para visitar e beber dos ensinamentos inseridos em seu site. Na volta vou dar o retorno e para tanto, peço permissão para entrar na discussão. Vou adorar ser orientado pelo colega, que confesso, já admiro há algum tempo. Gostei muito da divisão dos temas. Muito simples e didático. Vou adquirir o seu livro através do meu amigo Rui Santos. Depois por e-mail eu quero tirar as dúvidas para minha orientação e também dos meus colegas e alunos.

Ronaldo, Feliz Natal. Saúde e Paz para todos os seus familiares.

Abraço com muita estima e amizade.

Ruy Hizatugu

Prezado Prof. Hizatugu,

Fiquei muito feliz em saber que você gostou do site. Ele existe há sete meses e certamente aos poucos algumas modificações serão feitas. Muito obrigado pelas suas palavras, mas não me vejo em condições de orientá-lo e jamais pretenderia fazê-lo. Pelos conhecimentos que sei que você tem, admito a possibilidade de troca de idéias, o que já me honraria. Concordo quando você fala em celebrar as diferenças. É provável que existam ”diferenças endodônticas” entre nós, isso só enriquece. Segundo Paulo Freire, ”não há saber maior ou menor. Há saberes diferentes”.

Um abraço,

Ronaldo Souza

Untitled

Pergunta de Renata Lessa Feijó:
Eu estava fazendo um canal de um menino de 12 anos na unidade 36. A coroa estava bem destruida, mas dava para isolar direitinho. Só que o paciente voltou depois com o dente todo quebrado não sobrando quase nada para o grampo segurar. Todos os grampos que tenho a minha disposição na clinica não adaptam no dente. Queria saber qual grampo serviria nesse caso para um molar todo destruido que só tem pouco da cervical.

R. (João Dantas) Há particularidades de cada situação que não permitem que eu consiga ser preciso na indicação de um grampo. Contudo, há um grampo que considero um coringa para estas situações: o grampo W8A. Fica firme em molares bem destruidos ou expulsivos. Mas é importante que seja de uma boa marca (Ivory, KSK, GST ou SS White). Outros que uso muito nestes casos são: 14A e 26. Uma opção que também costumo lançar mão é utilizar um grampo de incisivo (210) que já esteja “relaxado”. Para conte-lo conto com o auxílio da SuperBonder. Tente alguma destas opções.

Untitled

Pergunta de Nádia Lopes (Portugal):

Olá dr. será que poderia aqui relatar com algum pormenor dois procedimentos da endodontia: instrumentação e obturação. Se fosse possivel gostaria muito.
atentamente

Nádia Lopes

R. Nádia, para falar sobre esses temas precisaria de muito espaço. A idéia do site é abordar os temas de Endodontia de maneira simples, objetiva e rápida. Em sua homenagem e aos dentistas portugueses, vou escrever um pequeno texto sobre esses temas. Dentro de poucos dias ele será publicado na seção CONVERSANDO COM O CLÍNICO deste site. Fique atenta.

Um grande abraço para você e todos os dentistas portugueses.

Untitled

Pergunta de Rosa Porto:

As vezes quando faço a pasta de Hca + soro, demora de homogeneizar, noto que é quando o HCa não esta novo.Gostaria de saber se ha alguma perda de beneficio desta pasta?

R. Rosa, o soro fisiológico é um veículo para você levar o hidróxido de cálcio mais facilmente ao canal. Sendo assim, não precisa fazer uma manipulação rigorosa como se faz, por exemplo, com o cimento obturador. Basta misturar e deixa-lo em condições de ser levado ao canal. A consistência mais apropriada para isso é aquela que se aproxima da consistência de creme dental. Se você não está conseguindo é possível que esteja colocando muito soro (fica muito fluido), ou pouco soro (fica com aspecto ressecado). Afora isso, como você observou, o hidróxido de cálcio pode estar velho e aí pode haver sim perda das suas propriedades. Se não estiver no prazo de validade use outro.

A imaginação e o conhecimento

De acordo com Einstein “a imaginação é mais importante do que o conhecimento”. Para determinadas coisas não deveria haver qualquer tentativa de explicação; ou se entende ou não. Essa frase do famoso cientista é uma delas.

Há um conhecimento científico e outro filosófico. O conhecimento filosófico não precisa ser provado, ele se nutre da imaginação do homem; e não há limites para isso. O mundo científico é diferente, ele exige provas. Não é tão fácil consegui-las nas ciências inexatas. Poderíamos recorrer a alguns exemplos. Acredito que bastam os seguintes.

Você é capaz de me dizer qual é a solução irrigadora ideal? Ah, essa é fácil, hipoclorito de sódio. Quem lhe disse? É a clorexidina. Não, é o soro fisiológico, o que importa é o volume de irrigação e não a substância química. Não, é o hipoclorito de sódio a 1%. Que nada cara, a 5%. Ah não, a virtude ‘tá no meio, é a 2,5%. E aí, finalmente, qual é?

Você é capaz de me dizer qual é a medicação intracanal ideal? Hidróxido de cálcio, não tem pra ninguém. Já era, é clorexidina. Qual é meu, é corticóide. Olha parceiro, trabalho com PMCC há 120 anos e todos os meus casos dão certo. Quer dizer que você não utiliza Tricresol de jeito nenhum? Olha, eu só uso hidróxido de cálcio com veículo oleoso. E aí, finalmente, qual é?

O conhecimento científico é limitado, e com uma agravante; ele pode ser limitante. Os resultados são incontestáveis, as estatísticas, lei. De acordo com Rubem Alves* “O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento”. Crio a verdade, não quero ver a possibilidade do outro.

Você lembra que até pouco tempo não se podia fazer tratamento endodôntico de canal com polpa viva em sessão única? Se não fosse feita medicação intracanal com corticóide o coto pulpar se inflamaria e ocorreria o fracasso da terapia. Os trabalhos mostravam isso. Hoje, todos preconizam, todos fazem. A imaginação faz a ciência avançar.

* Rubem Alves – Psicanalista e professor paulista.

Untitled

Pergunta de Caroline Santana:

Em caso de extravasamento de hipoclorito de sódio, qual a consequência do ponto de vista histológico e quais as características clínicas observadas imediatamente e após 48 horas?

R. O extravasamento do hipoclorito de sódio promove grande destruição tecidual, cuja intensidade dependerá basicamente de dois fatores; o volume extravasado e a concentração da solução. Deve-se ter em mente, porém, que mesmo em baixas concentrações há injúria grave. No momento do extravasamento, o paciente pode acusar a sensação de “queimação” e inchaço imediatamente após. Procure irrigar bastante com soro fisiológico e faça uma boa aspiração via canal. São comuns a necrose tecidual e formação de feridas na mucosa, que precisam ser muito bem higienizadas. Deve-se afastar a possibilidade de infecção, por isso é usual a prescrição de antibióticos, além dos analgésicos. A aplicação de gelo externamente na face pode ajudar a diminuir as dores do paciente. O período de manifestação dos sinais e sintomas é variável, também dependente do grau de injúria. Sobre esse tema, permita-me sugerir a leitura de um dos nossos artigos anteriores aqui no blog – Cuidado com o hipoclorito de sódio.