Cuidado com o hipoclorito de sódio

Muita coisa tem sido dita a respeito do hipoclorito de sódio. O seu uso está consagrado na Endodontia e sou um dos que o recomendam como substância química auxiliar do preparo do canal, porém, são conhecidos os relatos de acidentes com a sua utilização. Vamos conversar um pouco sobre isso. Não abordarei as suas características químicas, vantagens, desvantagens, nada disso; quem sabe venhamos a faze-lo em outro momento.Vamos falar de outros aspectos.

Sempre tive muito cuidado com a maneira de irrigar o canal. A postura clássica da literatura tem sido ensinar a fazer fluxo/refluxo (isso exige pressão maior no êmbolo da seringa), com a agulha colocada o mais próximo possível do comprimento de trabalho. Pelos riscos que oferece, não recomendo fazer a irrigação dessa maneira. Acredito que alguns dos acidentes que acontecem têm a sua origem na obediência a essa forma de irrigar.

1. Extravasamento da solução para os tecidos periapicais – Já tive oportunidade de atender pacientes que vinham de acidentes como esse e sei de casos que aconteceram com bons profissionais. As conseqüências podem ser desastrosas, e não pensem que só ocorrem com concentrações mais elevadas de hipoclorito de sódio.

Por que?

É conseqüência da pressão exercida sobre o êmbolo da seringa.

Sugestão:

Faça uma irrigação passiva. Não faça pressão forte sobre o êmbolo e não posicione a agulha no CT. Deixe-a folgada no canal; para se assegurar disso, movimente-a enquanto irriga.

2. Outro muito sério; a possibilidade do hipoclorito de sódio cair nos seus olhos e/ou nos do seu paciente. Também tem muito a ver com a forma como você irriga. Mas, já perceberam que às vezes você precisa fazer uma pressão maior na seringa porque parece que a agulha “entupiu”. Onde é que você faz isso, no canal, não é? Aí a solução sai, ou a própria agulha se solta, e “espirra” no seu paciente ou em você, às vezes nos olhos. Caso isso aconteça, com você ou o paciente, a solução é lavar abundantemente os olhos com água, selar o dente e ir o mais rápido possível ao oftalmologista.

Por que?

a) agulha mal encaixada na seringa.

b) agulhas hipodérmicas de pouco diâmetro interno pré-curvadas podem ter o fluxo dificultado e requerer maior força.

c) observe que você irriga com pressão normal, continua preparando o canal e, ao tentar nova irrigação faz “um pouco mais de força”; a borracha do êmbolo não deslizar bem pode ser a causa, como o ar que se forma dentro da agulha.

Sugestão:

Não faça a pressão para “desentupir” a agulha no campo operatório, mas em outro lugar, como por exemplo na pia ao seu lado (depende da disposição do seu consultório) ou na cuspideira. Independente disso, é recomendável que você e o seu paciente estejam usando óculos protetores. Cuidados também para quem usa “adaptadores” de agulhas nas seringas (como o Endo Rig).

3. Manchar a roupa do paciente ou a sua. Esse é bem mais simples.

Sugestão: Normalmente, para facilitar a “chegada” nos dentes posteriores, e mesmo nos anteriores, as agulhas irrigadoras são ligeiramente curvadas. Não “percorra” o trajeto da mesa auxiliar até o campo operatório com ela “voltada” para baixo, mesmo que esteja preparando o canal de um dente inferior. Ela deve ir ao campo operatório com a sua extremidade voltada para cima e lá, no campo operatório, ser posicionada de acordo com cada caso.

Enfim, vamos sempre lembrar que irrigar canal não depende somente das características químicas das substâncias; é de fundamental importância a forma como se irriga.


Travamento do cone

Na nossa infância tivemos momentos mágicos na escola, inclusive na hora de aprender. E foi lá que aprendemos, de maneira lúdica, muitas coisas.

Tendo dimensões semelhantes, voce consegue encaixar e adaptar um objeto quadrado em um triangular? E um retangular em um circular? Parece que não, não é? Desde a idade mágica, a nossa infância, aprendemos que um objeto quadrado só encaixa em outro quadrado, um retangular em outro retangular; começávamos a ter noções das formas das figuras e objetos e, consequentemente, das suas diversas maneiras de se adptarem.

Esse é o princípio do travamento do cone principal de guta percha. O cone é circular (redondo), portanto, só poderá ser encaixado perfeitamente em um receptor circular. Em Endodontia, o receptor para o cone é o canal e assim podemos dizer; o cone de guta percha só poderá ser encaixado perfeitamente em um canal circular. Vamos mudar para uma linguagem mais adequada à Endodontia? O cone de guta percha só poderá ser ajustado perfeitamente em um canal circular.

Desde 1958 Green mostrou que, a 1mm aquém do ápice, os canais não são circulares. Ele encontrou três configurações anatômicas, nenhuma delas circular. Ao longo dos anos outros autores têm confirmado o que poderíamos dizer da seguinte maneira; a maioria dos canais não é circular.

Acredita-se que instrumentos endodônticos, também circulares, confeririam essa condição aos canais. Várias deformações da anatomia original dos canais, cuja origem está na própria anatomia, nas características dos instrumentos endodônticos e nas técnicas de instrumentação, têm sido demonstradas por diversos trabalhos, fato esse bastante acentuado no preparo dos canais curvos. É consensual que, ao final do preparo, em poucas situações os canais podem ser considerados “redondos”.

As técnicas mais recentes de instrumentação, particularmente aquelas executadas com instrumentos de níquel-titânio acionados por motores, instrumentação rotatória como alguns chamam, têm proporcionado uma forma final do canal muito próximo disso, ou seja, um canal quase circular, em alguns casos circular, no seu comprimento de trabalho. Por que em alguns casos circular? Trabalhos, que em breve vocês verão divulgados, mostram que, a depender do nível de ampliação, há desvios.

O travamento do cone de guta percha tem sido defendido por muitos profissionais como a garantia de um vedamento hermético. O cone de guta percha é circular; só poderá ser ajustado perfeitamente em um canal circular. Não parece ser este o canal que a literatura tem registrado.

Travamento do cone principal de guta percha como sinônimo de vedamento hermético; isso não existe.

Saudações

Maisa Silveira 07 jun

É muito gratificante para mim ver sonhos de uma pessoa tão querida serem realizados… Acompanho com muito orgulho cada vitória desta trajetória repleta de sucesso. Meu eterno mestre, tenho certeza que este é só mais um passo de muitos trabalhos magníficos que ainda virão.
Saudade de você e de toda equipe.

Beijo grande.

Rosângela Andrade Moreira 03 jun

Quem acompanhou sua trajetória sabe o quanto você lutou para chegar até aqui. PARABÉNS! O site está muito bom. Começa aqui uma nova era na endodontia. E como você mesmo citou A VIDA É BELA, quando temos pessoas como você.

Abraços!

Daniela Bernardes Castello Branco 28 maio

Professores como você é que nos tornam melhores. Obrigada por tantos ensinamentos e este novo site só reforça a sua intensa dedicação ao ensino! Da sua eterna e orgulhosa aluna.

Luana Curvelo 27 maio

Professor Ronaldo, adorei o site, agora poderemos aprender mais sobre Endodontia. Um grande abraço!!!

Professores do Curso de Especialização em Dentística: Altino, André, Bel, Céres, Denise e Paula 26 maio

Mais uma vez, queremos parabenizá-lo pela iniciativa do site endodontia clínica. Esperamos que você tenha sempre mais e mais sucesso! Abraços.

Diogo Passinho 25 maio

Grande Mestre, o site ficou ótimo, agora sim todos que se interessam pela endodontia irão poder entender um pouco mais sobre o tema.

ABRAÇO!!!

Prof. Kleber Carvalho 21 maio

…reconheço e congratulo sua iniciativa, que quiçá se sedimente como mais um canal no transmitir conhecimento entre colegas. Todos ganhamos.

Um grande abraço.

Buscando as respostas

Há alguns anos, ao final de uma aula sobre técnicas de instrumentação para uma turma de especialização, uma das alunas disse uma coisa interessante; são tantas técnicas, tantos detalhes, que fica muito confuso e a gente se perde.

Não lembro se antes desse episódio eu já tinha parado para pensar sobre essa questão, mas sei que a partir daquele momento isso foi uma constante. Desde então tenho tido a sensação de que a aluna estava certa. Mais do que isso; tenho tido a sensação de que a compreensão do que é, de fato, a Endodontia e o tratamento endodôntico não está bem definida.

A(s) causa(s) para isso pode(m) ser vária(s). Uma delas a abordagem dos diversos temas da Endodontia. É possível que o formato mais acadêmico empregado nas publicações científicas, fundamental para o desenvolvimento da especialidade, não tenha proporcionado o meio mais adequado para determinado tipo de discussão. Basta ver o grande desenvolvimento técnico/científico da Endodontia para não se ter nenhuma dúvida de que as publicações científicas têm cumprido, e muito bem, o seu papel. Contudo, é possível que os espaços onde as diversas dúvidas existentes no dia-a-dia da Endodontia possam ser colocadas e, o mais importante, discutidas, ainda não tenham sido devidamente explorados. O nosso desejo é que este blog possa contribuir nesse sentido.

Aqui teremos oportunidade de discutir as nossas dúvidas. Para todas elas devem existir respostas. Observem que não colocamos “existe resposta” e sim “devem existir respostas”, pois elas existirão em função das diversas concepções que constituem a Endodontia. Buscaremos, juntos, a resposta mais adequada.