Bolsonaro declara guerra ao Nordeste

Bolso ama o nordestino

Por Ronaldo Souza

Bastaria ver o nome do aeroporto.

Aeroporto Glauber Rocha.

Baiano, tido por muitos como um gênio do cinema, autor de clássicos como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha certamente não era um cineasta “terrivelmente evangélico”.

Ainda bem, porque seria terrivelmente ruim se fosse.

Portanto, a inteligência e o bom senso, raros nos tempos atuais, sugerem fortemente que o Aeroporto Glauber Rocha jamais seria uma obra do governo Bolsonaro.

Jamais.

Aos cães raivosos, que por um bom tempo ainda continuarão vomitando a sua raiva, é uma obra do Governo Federal, governo Dilma, em parceria com o Governo do Estado da Bahia, governo Rui Costa.

E o mico anda dizendo que mesmo sem recurso ele conseguiu concluir a obra.

O presidente foi… como dizer sem chama-lo de mentiroso? Não foi honesto.

Houve um último pagamento feito no governo de Temer, que teria sido no governo dela própria, Dilma, mas como o tomaram…

Realizado pelo governo do mico, que paga mico todo dia, nada, zero, “neca de pitibiriba”, como dizemos aqui no Nordeste que ele tanto odeia.

Bolsonaro  vinha para a solenidade como convidado do Governo do Estado da Bahia, dentro de um processo de convivência saudável entre governador e presidente, de partidos opostos, mas não inimigos.

Ocorre que, como tudo mais, o presidente desconhece as relações de convívio saudável em qualquer nível.

E como autoridade máxima do país, às escondidas ele transformou a inauguração numa festa dele.

E veio como intruso.

Penetra.

Receoso das vaias que receberia, mesmo sendo uma região rica e de muitos fazendeiros (afinal, apesar de alguns preferirem que assim não fosse, Vitória da Conquista é uma cidade do Nordeste), Bolsonaro determinou que a inauguração não seria aberta à população.

Se você não acredita, aqui está a foto do aeroporto hoje pela manhã. Observe que os tapumes da obra não foram retirados para impedir a aproximação do povo.

Conquista e o muro da vergonha

Determinou que seriam 300 convidados, dos quais somente 70 do governador. Um ambiente hostil ao governador estava sendo preparado.

Soube-se depois que de 300 teria passado para 600 convidados, sem alteração no número daqueles de responsabilidade do governo do estado, proporcionando ambiente mais hostil ainda.

Não satisfeito, como você pode ver na manchete lá em cima, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) proibiu o pouso do avião que levaria governador e comitiva para a inauguração do aeroporto.

Tornou-se uma festa particular.

Mas, certamente, o presidente vai dizer o que lhe vier na cabeça.

E dali nunca sai coisa boa.

No seu twitter (não seria bom que ele trabalhasse um pouco, um pouquinho só pelo menos?), ele postou que o governador mandou tirar a Polícia Militar da sua segurança, mentindo mais uma vez.

Os seus miquinhos amestrados não sabem, mas todos sabemos que o policiamento interno dos ambientes onde ele estará é de responsabilidade da Abin, da sua segurança pessoal e da Polícia Federal (a mesma que deixou acontecer a “punhalada” que, estranhamente ele autorizou que parassem as investigações e até o grande Alexandre Frota, deputado do seu partido, estranhou).

Além disso, o exército cercou o local e ele mandou posicionar atiradores de elite no topo do aeroporto.

O que faria a Polícia Militar, que nem teria acesso às dependências internas da solenidade de inauguração?

Bater nas pessoas que ousassem se aproximar para conhecer o aeroporto de sua cidade?

Mas, como disse o jornalista Fernando Brito, “o clima é de inteira liberdade. Dentro do ‘cercadinho’, claro”.

Presidente, veja o que o senhor consegue fazer.

Depois de dizer isso, o senhor consegue ter a cara de pau de dizer que não disse.

E aí sai outra vez jurando amor eterno aos nordestinos.

Cerca de três ou quatro dias depois o senhor fez isso.

Todos sabemos que o senhor gosta de pau de arara, mas do outro, aquele que tanto se usou na ditadura militar e o senhor costuma fazer a apologia, particularmente quando fala do coronel Brilhante Ustra, um torturador que se deliciava colocando baratas e ratos na vagina de mulheres.

Mas esse pau de arara de que o senhor fala no vídeo mais acima é, mais uma vez, o sarcasmo, o deboche, a humilhação com que muitos se referem ao paraíba, esse ser inferior, de quem o senhor tinha acabado de dizer tanto gostar.

A aquele pau de arara que tanto mal fez e faz o senhor faz a apologia, num discurso inflamado e doentio.

Ao outro pau de arara, o paraíba, o senhor se refere com o desprezo, a gargalhada larga, escancarada, do deboche que fere a carne e atinge a alma de um povo sofrido, mal tratado e eternamente subjugado na sua pureza e esperança, que de tão grandes e fragilizadoras chegam vez por outra a depositar em homens asquerosos como o senhor.

O que restou ao paraíba que está ao seu lado e do seu lado?

Sujeitar-se aos abusos do chefe e cumprir o mesmo papel que cumpre o deputado Hélio Bolsonaro, trastes humanos que são.

Mas não se preocupe, presidente, todos nós nordestinos sabemos do seu amor pelo Nordeste e sabemos o quanto nos tem ajudado.

Todos os seus gestos, palavras e ações mostram isso de maneira bem clara.

Bolsonaro impede verbas para o Nordeste Na hora certa saberemos reconhecer tudo isso.

Pode ter certeza, não esqueceremos.

Permita-me usar aquelas coisas geniais que os seus miquinhos amestrados, cada vez com mais raiva de tudo, adoravam dizer.

Acho bom Jair se acostumando porque o Nordeste já percebeu quem você é.