Os bons ventos sopram e trazem de volta a força e a magia dos sonhos
Por Ronaldo Souza
É como se tivesse havido por um algum tempo uma separação que não se conseguia explicar.
Por onde andava aquele velho e conhecido Caetano Veloso?
Sempre inquieto, inconstante, polêmico, derrubando as prateleiras da sala de jantar.
Posições próprias, certas ou erradas.
Nunca linear.
Era simplesmente ele.
Estaria em processo de retiro pessoal para ver melhor?
Quantas vezes ficamos surpresos e frustrados com alguns de seus posicionamentos!
Xinga-lo, ofender, agredir, por em determinados momentos “não ler na nossa cartilha”?
Jamais.
É ser primário.
O homem primário não cabe no Homo sapiens.
Diante da vida, não nos resta outra alternativa que não seja a inteligência, o bom senso.
A vida e o bom senso clamam pela aceitação do outro.
Somos iguais na diferença.
Há muitos anos não assisto à Globo.
Mas a minha mulher sabia que aquele programa eu queria ver.
Era o Altas Horas, de Serginho Groisman.
E na hora ela me chamou.
Eu estava no escritório lendo e editando o vídeo do desastre da dignidade do ministro Celso de Mello, do STF.
Parei e fui assistir com ela.
E ali estavam.
Gil e Caetano, como nos velhos tempos.
Gil me assustou.
Com o semblante cansado, falando muito pouco, quase nada e com dificuldade de cantar.
Somente no outro dia minha filha me lembrou que até poucos dias ele estivera hospitalizado por uma crise hipertensiva.
O que mais importava é que ele estava ali, a sua presença já valia a noite.
Já não me via assim há tempos, mas foi um momento rico diante da TV.
Acho que Tony Ramos foi a nota destoante.
Não me parece tão simples explicar aquela aparente apatia em um homem que me parece emotivo.
Gosto dos homens emotivos.
Ao contrário, Rodrigo Santoro estava resplandecente, vivo, pulsante.
Apaixonado.
É como defino os homens que se mostram como ele fez.
Cantores e cantoras se apresentavam cantando músicas de Caetano e Gil, entre perguntas do auditório repleto de jovens.
E foi de uma garota de cerca de 20 anos que veio a pergunta da noite.
Como eles, que viveram 1964, viam o momento atual?
Foi Caetano quem respondeu.
E ali pude ver.
Mesmo que com alguns cuidados na colocação das palavras, Caetano estava de volta e não deixou de dizer que as manifestações lembram muito as de 1964, aquelas que levaram o Brasil à longa noite das trevas; a Ditadura.
Veja o que disse a matéria do Brasil 247 e depois o vídeo.
Cantor baiano, que há tempos é muito crítico ao PT, declara, ao vivo na Rede Globo, que as passeatas do dia 13 de março último se assemelham à marcha da família com Deus e pela liberdade, marco histórico do processo que culminou com o golpe militar de 64; “A passeata de domingo não era suficientemente diferente da passeata da Família com Deus pela Liberdade que produziu o golpe de 1964, que ajudou a dar o golpe. O buraco é sempre mais embaixo, mas a gente tem que olhar com objetividade”; imperdível
Cenário político é o mesmo do golpe de 64, diz Caetano Veloso