Abrir e fechar um buraco. Qual a dificuldade?

Furando a parede

Por Ronaldo Souza

Fim de semana, você em casa e aí resolve colocar qualquer coisa na parede.

Já tendo feito antes, o que lhe torna experiente, munido de ferramenta de última geração (daquelas recomendadas pelos experts), você parte para mais uma.

Fácil.

Conhecedor da arte (viu até palestras sobre o tema proporcionadas pelas empresas do ramo e vídeos no You Tube), ferramenta de última geração, pronto para o trabalho.

De repente, o inesperado.

Um cano.

Não devia estar ali.

Água para tudo quanto é lado.

O que fazer?

Não tem jeito.

Chame um bom encanador.

Quem sabe ele até poderá lhe orientar e mostrar que não é tão simples assim, não se trata somente de abrir e fechar um buraco.

Talvez vá um pouco além.

Resolveu.

Conhecedor da arte (viu até palestras sobre o tema proporcionadas pelas empresas do ramo e vídeos no You Tube), instrumento de última geração, pronto para o trabalho.

Maravilha.

De repente, o esperado.

Furou o cano.

Mas fechou na mesma hora.

Material vedador para tudo quanto é lado.

Viu como ficou bom?

O material vedador vedou o cano furado e os buracos que tinha.

Se vedou, tá resolvido.

Algum tempo depois, o inesperado.

A lesão periapical.

Não devia estar ali.

Ficou.

Persistiu.

O que fazer?

Chame um bom endodontista. 

Quem sabe ele até poderá lhe orientar e mostrar que não é tão simples assim, não se trata somente de abrir e fechar um buraco.

Vai muito mais além.

Mas não precisa!

Foi bem tratado.

Tá bem feito.

Tá bonito.

É porque não tinha que dar certo.

Tem casos que a endodontia não resolve.

É verdade, não tinha pensado nisso.

Então manda operar.

Tem casos que a endodontia não resolve.

Esses casos só a Endodontia resolve.

Uma tarde com a Endodontia

Principal

Olá pessoal,

Em média, o tempo das palestras das Sessões de Quarta da ABO-BA tem sido em torno de 2 horas e meia.

O tema sobre o qual vamos conversar é um dos mais interessantes e polêmicos da Endodontia.

Acredito que é possível que a abordagem que vou fazer levante algumas questões e aí precisaríamos de um tempo maior para conversar e trocar ideias.

Aqui pra nós, muita coisa precisa ser vista e discutida.

Vou mostrar muitos casos clínicos e trocar ideias sobre eles e por isso é bem possível que precisemos de um pouco mais de tempo.

Extravasamento

Vamos conversar, por exemplo, sobre casos como esses acima e saber o que há de igual ou diferente entre eles.

Então, vamos fazer um pouco diferente?

Já consultei a ABO sobre isso. Começaremos às 14:00, mas não vamos estabelecer hora para terminar. É claro que não vamos nos prolongar demais, mas acho que devemos aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível.

Afinal, já tem mais de 5 anos que não falo aqui em Salvador.

Foi uma opção minha, mas acho que chegou a hora de termos essa conversa.

Tenho certeza de que vai ser bem legal. Vamos conversando, conversando e se bater um pouquinho de fome, comam uma barrinha de cereais ou de chocolate, como acharem melhor, ali mesmo enquanto a conversa continua.

A ABO vai manter um “cafezinho” à sua disposição na parte externa do auditório.

Se precisar ou se vocês quiserem, podemos dar uma parada rápida de 10-15 minutos para esticar as pernas, tomar o café e voltamos.

Coisa rápida.

Você não gostou pelo fato de ser à tarde e vai atrapalhar o seu consultório?

Concordo com você e já pensei sobre isso.

À noite seria melhor.

Mas, se for à noite será que você não estará cansado depois de um dia inteiro de trabalho no consultório?

Ah, até pensei em ir, mas hoje tô tão cansado!

Se for à noite, a que horas você sairá da ABO? Às 22:30 talvez?

Você não ficaria um pouco apreensivo ao ir “pegar” seu carro, um táxi ou o ônibus a essa hora?

Repito. Acho que vai ser bem legal.

Vou além. Tenho certeza de que você não vai se arrepender.

Combinado?

Espero vocês na ABO-BA, no dia 23 de agosto, às 14:00.

Abraços,

Ronaldo Souza

Sobre pavões e balões

Pavão

Por Ronaldo Souza

Como é difícil construir um nome.

Não é fácil.

Pode parecer que hoje é mais fácil.

Talvez até seja.

Afinal, estamos na era da comunicação.

E para muitos, comunicação virou sinônimo de marketing pessoal.

Cada vez mais fácil, escancarado e…

“Às favas com os escrúpulos de consciência”.

Disse uma certa vez Jarbas Passarinho.

É por aí.

E as redes sociais?

Terreno “ideal” para isso.

Casos e mais casos clínicos postados todos os dias.

Um desfile sem fim.

O ego?

Inflado.

Lá em cima.

Como um balão.

Não consigo lembrar de ter visto postagens mostrando casos clínicos concluídos, com acompanhamento radiográfico do paciente e cura da lesão periapical.

Como mostrar se acabaram de ser feitos?

O caso acabou de ser feito e já está no facebook, Instagram…

Às vezes dá a impressão de que o paciente ainda nem saiu do consultório.

“Olha, esse caso acabou de sair do forno, terminei agora. Sei que não está muito bonito, foi final de dia, já estava cansado, mas acho que dá pra quebrar o galho”.

E aí vem a pergunta que já sabe das respostas.

“O que vocês acham?” Podem criticar.

Elogio da carência

Trezentas mil curtições!

– Excelência em endodontia
– Professor, parabéns, o senhor é a lima de ouro
– Nunca vi tanta competência e tanta humildade juntas
– Vindo de você, só podia esperar toda essa competência
– Maravilha, como é que eu faço para ter um extravasamento desse?

E por aí vai.

Nesses pedidos de elogio mal disfarçados de humildade está expressa a necessidade de reconhecimento.

Ou será imperceptível uma coisa tão clara?

Não deveria haver perdão para a humildade hipócrita que se traduz em modéstia e provoca elogios.

Ainda que desfile pelos melhores salões, sua falsidade é tola e beira o ridículo.

Talvez por isso desfila pelos melhores salões.

É insuportável.

Erasmo de Rotterdam enalteceu o poder da retórica no seu livro “Elogio da Loucura”.

Tornou-se um clássico da literatura universal e como tal exerceu grande influência, como por exemplo na adoxografia.

Adoxografia é o enaltecimento desmerecido sobre algo ou alguém; elogio imerecido.

É a “arte” de se fazer o elogio imerecido de pessoas ou coisas sem valor, pessoas vulgares.

Elogiar a carência de reconhecimento é uma forma de perpetuar a humildade hipócrita.

Elogiar a carência é também uma forma de perpetuar a pobreza mental.

E há sempre um preço a pagar.

Lembremos Thomas Fuller:

“Elogios tornam os bons melhores e os maus piores”.

Há nesse movimento uma coisa ao mesmo tempo interessante e preocupante.

Alguns casos postados, todos com extravasamento (“surplus”), veem acompanhados, como já comentei, de 300 mil curtições.

Parabéns.

Aí eu olho para “dentro” dos canais, onde a obturação deveria estar, e não a vejo.

Procuro.

Cadê ela?

Sabe onde está?

No periápice.

Às vezes tem mais fora do que dentro.

Obturações cheias de vazios

Você acha que exagero um pouco?

Claro que exagero.

É para chamar a atenção e “mostrar” que não estão percebendo que algumas obturações estão lá, nos tecidos periapicais, como manda o figurino (deles), mas cá, dentro do canal, elas apresentam evidentes falhas de preenchimento.

Obturações vazias

Exibem as obturações sem perceber as diferenças de radiopacidade que existem nelas.

Exibem espirros da obturação para os tecidos periapicais como prova da qualidade da obturação.

E encantam o mundo.

Sabe o que as diferenças de radiopacidade estão doidinhas pra dizer?

Que não há homogeneidade na obturação!!!

Se não há homogeneidade é porque ela não está preenchendo igualmente o canal.

Se não está igualmente preenchendo o canal é porque tem um pouquinho mais aqui, um pouquinho menos ali, um pouquinho mais cá, um pouquinho menos acolá…

Naquele ponto em que a radiopacidade é menor faltou um pouco de guta percha, naquele outro faltou um pouco de cimento, mais adiante um pouquinho de um e do outro.

Vamos lá.

Você concorda comigo se eu disser que onde tem um pouco menos de obturação significa que ali não está tão bem preenchido?

Se não está tão bem preenchido, selou bem?

Concorda comigo se eu disser que onde a obturação não selou tão bem não está vedando hermeticamente?

Concorda comigo se eu disser que, diante do exposto, o extravasamento de material obturador não é sinônimo de vedamento hermético?

O profissional realmente competente e sensato sabe que, mesmo com todas as facilidades de comunicação, redes sociais, postagem em tudo quanto é lugar, o trabalho que não for de fato bem feito não deverá ter vida longa.

O protesista, clínico geral, periodontista… não vão ficar indicando sempre só porque você faz tudo rapidinho e está “aparecendo”.

Com o tempo deverão perceber que os casos do simplista que faz tudo rapidinho e simplesinho não estão dando muito certo.

Deixarão de encaminhar seus pacientes.

Por uma razão bem simples.

A indicação do seu nome partiu deles. Dando errado e precisando retratar ou operar, os pacientes irão se aborrecer também com quem indicou.

Sem falar que, ao começar a ter que remover as próteses que fez por trabalhar confiando no “seu canal”, o profissional que lhe indicou também terá prejuízo financeiro.

E aí, prevalecerá o antigo e famoso boca-a-boca.

– Ah, agora tô mandando meus pacientes pra fulano.

Balão

Mais cedo falei de balão.

Pra que fui falar?

Passei o resto do texto pensando nas noites de São João da infância, vivida na minha querida Juazeiro (BA).

Inesquecíveis.

Meu pai comprava muitos vulcões e eu ficava maravilhado com aquilo tudo.

E os balões?

Subiam, subiam, subiam…

Meu Deus, como era lindo!

Eu me encantava, mesmo sabendo da frustração por vir, porque logo em seguida eu os via cair.

Sem saber, estava aprendendo com eles a efemeridade das coisas.

Aprendi a ver e admirar a beleza do efêmero.

Mas também aprendi sobre a desilusão que ele pode trazer.

Como é difícil construir um nome.

Um nome que pode se tornar um balão de noite de São João.

Fugaz.

Uma tarde com a Endodontia

Principal

Olá pessoal, vamos bater um papo sobre Endodontia?

Será bem informal. A qualquer momento você poderá levantar a mão e fazer o seu questionamento.

Se preferir, pode mandar por escrito. A resposta será dada na mesma hora.

Além disso, ao final estarei à disposição para trocarmos opiniões.

Até que horas?

Não sei.

Vamos conversar o quanto for necessário, sem pressa.

Espero por vocês no dia 23 de agosto, às 14:00, na ABO-Bahia.

A entrada é gratuita e não precisa se inscrever.

Até lá.

Para onde estão levando a Endodontia?

Caminho a seguir

Por Ronaldo Souza

– E o que está errado?

– Não é a Ciência. Alguns acadêmicos é que são arrogantes e se esquecem da mera condição de ser humano.

Foi assim que Olga Soffer, antropóloga e arqueóloga da Universidade de Illinois, respondeu à pergunta de uma entrevista à revista IstoÉ, em setembro de 2009.

A arrogância é bastante conhecida no mundo acadêmico, mas recomenda a prudência que ela não pode andar se exibindo por aí.

Por isso o arrogante se mostra humilde.

Pelo menos ele acha.

Na verdade, se há algo difícil de conter é a arrogância.

A todo instante ela se mostra, ainda que “controlada”.

Formas em Endodontia

Figuras geométricas planas

Lembra da imagem acima do texto Redondinho que nem moeda?

Se você não o leu, talvez seja interessante faze-lo para conversarmos melhor agora.

Qual a relação existente entre as formas?

O que elas podem representar?

Como seria preencher o espaço de um trapézio com um objeto circular?

O que as formas podem significar na Endodontia?

Qual é a forma dos canais?

Cônica.

Os canais radiculares são cônicos, como são os instrumentos.

Formas de canais e limas 1'

A figura acima nos mostra isso. Aí aparecem 5 instrumentos de diferentes fabricantes. Quatro são para instrumentação rotacional e um para o movimento reciprocante.

A conicidade dos instrumentos visa “copiar” a dos canais. Assim, a possibilidade de que toquem nas suas paredes se torna muito maior. Objetiva-se alcançar mais facilmente o desgaste das mesmas.

Por que isso?

Porque, estando as paredes também contaminadas, desgasta-las significa remover a contaminação ali impregnada, como também em parte dos túbulos dentinários.

O papel da infecção no sistema de canais

Se pudéssemos dizer uma verdade na Endodontia, qual poderia ser?

  1. A obturação do canal é o fator determinante do sucesso
  2. Não há lesão periapical sem infecção no sistema de canais
  3. Só a tomografia de feixe único pode dizer se há ou não lesão periapical

Eu apostaria as minhas fichas no número 2.

Existiriam outras verdades?

Deixemos essa “busca” para outro momento.

Tendo em vista que a infecção é a causa da lesão periapical, reconhece-se ser a instrumentação do canal e o consequente desgaste das paredes dentinárias a melhor maneira de se atingir aquilo que deve ser o objetivo maior do tratamento endodôntico: remover a causa.

A recomendação clássica determina que alguns instrumentos devem ser utilizados em sequência de ampliação dos seus calibres para que se consiga atingir o melhor resultado em termos de remoção do conteúdo do canal e da contaminação impregnada em suas paredes.

Por sua vez, em termos de quantidade de instrumentos a ser utilizada para esse objetivo a orientação mais conhecida parece ser a que diz que os canais devem ser preparados com 4 instrumentos (1+3) nos casos de polpa viva e 5 instrumentos (1+4) nos casos de polpa necrosada.

Apesar de estimulado por protocolos, é equívoco elementar tentar pré-estabelecer números em Endodontia. Não pode ser consensual, por exemplo, a quantidade de instrumentos que deve ser utilizada.

Ao mesmo tempo, se não há, e não pode haver, consenso na quantidade de instrumentos a ser utilizada, a literatura aponta para a imprescindibilidade da instrumentação.

Mesmo “copiando” os canais, é de conhecimento geral que os instrumentos não têm demonstrado a efetividade que se imaginava quanto a tocar nas suas paredes.

As limitações são claras.

Segundo a literatura, cerca de 35 a 40% das paredes dos canais não são tocadas pelos instrumentos endodônticos.

Mesmo com o uso de alguns em sequência de ampliação, quase metade das paredes dos canais não seria instrumentada.

Formas de canais e limas 2'

O que você vê na figura 2 são exatamente os mesmos canais da figura 1 e estão dispostos na mesma ordem. Lá, observados no plano mesio-distal, os canais assumem forma cônica. Aqui, observados pelo plano proximal, algo que não temos condições de fazer nos pacientes, de cônico eles nada têm, muito pelo contrário.

De modo geral, os instrumentos endodônticos existentes hoje são de grande qualidade.

A indústria merece todos os parabéns e ainda bem que a temos ao nosso lado.

Há detalhes de requinte na sua fabricação que os tornam muito importantes para a maior qualidade do tratamento endodôntico e podem torna-los “diferentes” uns dos outros.

Não caberia aqui, entretanto, entrar nesses detalhes. Em nome da compreensão do que de fato significa o tratamento endodôntico, eles não serão comentados aqui.

Se a relação entre instrumento e canal desempenha papel importante no preparo do canal e essa importância se manifesta fundamentalmente na capacidade de um tocar nas paredes do outro, ainda que as outras não percam a sua importância deve ser esta a questão mais relevante.

Assim, reforço que apesar da inegável qualidade dos instrumentos, mais do que eventuais detalhes de como ele foi fabricado, é bem provável que, para efeito de limpeza e modelagem (se quiserem, cleaning and shaping), a forma que o instrumento apresenta ou adquire dentro do canal seja primordial.

Diante dessa perspectiva, não parece difícil perceber que não há absolutamente nenhuma relação de proximidade entre a forma dos instrumentos e a anatomia dos canais na figura 2.

Não é só por esta razão, mas por esta imagem fica mais fácil entender porque a literatura diz que cerca de 35 a 40% das paredes dos canais não são tocadas pelos instrumentos endodônticos.

Você concordaria comigo se eu dissesse que onde não tocamos não limpamos?

Seria assim ou você prefere que eu diga que onde não tocamos fica, no mínimo, bastante prejudicada a nossa capacidade de limpeza?

Deixemos bem claro então.

Mesmo com a instrumentação proposta e executada há anos de que são necessários alguns instrumentos em sequência de ampliação de calibres, cerca de 35 a 40% das paredes dos canais não são tocadas pelos instrumentos.

Posso lhe fazer algumas perguntas?

Nas imagens acima, tendo o mesmo formato, cônico, você consegue ver algum instrumento com desenho diferente ao ponto de imagina-lo tocando mais nas paredes do canal do que os outros?

Você consegue imaginar qualquer um deles tocando em todas as paredes dos canais observados na figura 2 que, repito, são exatamente os mesmos da figura 1?

É difícil imaginar que sob essa ótica, a possibilidade de que os instrumentos toquem em todas as paredes dos canais é praticamente inexistente, ou, pelo menos, muito pequena?

De forma resumida, sob a perspectiva de que os instrumentos “precisam” tocar nas paredes dos canais para desempenhar as suas funções, você consegue ver diferenças significantes entre eles?

Diante do que acabamos de conversar, diante do seu conhecimento de anatomia dos canais radiculares, diante de tudo que você já sabe, quais são as reais chances de que só com um único instrumento você consiga fazer isso?

Se trabalhando dessa maneira há uma probabilidade de que você toque em menor quantidade de paredes do canal, portanto, menor capacidade de remoção do seu conteúdo, quais são as reais chances de controlar a infecção que fez surgir a lesão periapical?

Você está fazendo dessa maneira, tudo com rapidez, com um instrumento só, seja ele qual for, porque já tem a comprovação de que obteve sucesso a longo prazo ou porque professores “consagrados” estão dizendo a você para fazer assim?

Já lhe mostraram e/ou você já tem muitos casos de lesões periapicais reparadas com acompanhamento de alguns anos trabalhando dessa maneira?

Ainda que a pressão seja tão forte nesse momento, até porque está sendo empurrada goela abaixo pelos professores “consagrados” pelos holofotes dos palcos brasileiros, nos seus momentos de reflexão, quando surge a incerteza que só a reflexão traz, você acha que essa proposta responde às questões da Endodontia?

Você a vê como algo sensato?

Você faria assim nos seus pais?

Como um oncologista pediátrico que prescreve medicação anticancerígena a crianças, mas não a usaria caso fossem os filhos dele, você usaria essa “técnica endodôntica” nos seus filhos?

Se alguém está usando o argumento da simplificação do tratamento endodôntico, por favor, pare. Ele não pode ser utilizado aqui.

Os formadores de opinião precisam entender que existem diferenças entre as coisas.

Ainda que algumas palavras aparentem ser iguais, não são.

Ser simples é uma coisa, ser simplista é outra completamente diferente.

Simplicidade é tornar as coisas acessíveis e descomplicadas sem perder o significado, os detalhes ou a profundidade. É algo bem-vindo.

Simplismo é a falta de cuidado e seriedade ao tratar das coisas.

A Endodontia não está errada

E se me fizessem uma pergunta parecida com a que fizeram a Olga Soffer?

– E o que está errado?

– Não é a Endodontia. Alguns professores é que são arrogantes e se esquecem da mera condição de ser humano.

Arrogância é válvula de escape da estupidez e muitas vezes escudo para a insegurança dos fracos sem argumentos.

E, ao contrário do que se pode imaginar, se há algo difícil de controlar é a arrogância.

Por uma razão bem simples; a vaidade que a alimenta é incontrolável.

Ah, a boa e velha conselheira humildade.

É ela que nos leva à constante reflexão.

Mas reflexão tem um grave defeito.

Não vende.

Os limites na Endodontia

Limite apical

Por Ronaldo Souza

Observe na tabela acima as medidas determinadas aquém do ápice radicular como comprimento de trabalho.

Não poderia colocar nela todos os autores que desempenharam papel relevante no desenvolvimento da Endodontia brasileira. Estão autores nacionais que também desempenharam esse papel e, como foram pioneiros no lançamento de livros importantes para a nossa Endodontia, tiveram mais condições de disseminar as suas concepções.

Além deles, um estrangeiro que se tornou referência para o mundo todo.

Todos sabemos o quanto esse tema é complexo e polêmico. Olhando para a tabela podemos ver que há uma considerável diversidade de comprimentos sugeridos e que eles variam a depender do autor e da condição tecidual.

Daí podemos “tirar” muitos pontos para discutir, mas, antes de qualquer coisa, a tabela deixa uma coisa bem clara.

Ninguém sabe onde é!

Se soubéssemos não haveria tanta diversidade de CTs.

É claro que toda discussão científica é bem-vinda, mas a tabela também mostra que de uma certa forma tornam-se quase que inconcebíveis as discussões, muitas vezes verdadeiras brigas, que já foram travadas ao longo dos anos em nome da precisão absoluta que sempre se exigiu e se exige do aluno e do endodontista na determinação do comprimento de trabalho.

O dogmatismo sempre ocupou lugar de destaque na Endodontia e não foram tão poucas as vezes em que o maniqueísmo também teve espaço; ou é assim ou está errado.

De acordo com a literatura, o limite CDC, local onde se encontram a dentina e o cemento, representaria o ponto de maior constrição do canal e ali deveria ser determinado o comprimento de trabalho.

Em outras palavras, limite CDC e constrição apical seriam a mesma coisa.

Veja o que dizem alguns autores.

  1. Wu e colaboradores O Sugery, O Medicine, O Pathology

“Na polpa viva, o limite ideal para instrumentação e confecção da matriz apical parece ser de 2 a 3 mm aquém do ápice e não de 0 a 2 mm.

Quando os procedimentos endodônticos são feitos mais do que 2 mm aquém do ápice há uma redução de cerca de 20% do padrão de sucesso.

A instrumentação deve ser feita em um nível suficientemente profundo para remover ou pelo menos reduzir significantemente os microrganismos”.

  1. Spironelli, CA e Bramante, CM. Odontometria-Fundamentos e Técnicas, 2005

“O comprimento de trabalho ideal, acordado entre a unanimidade dos autores desde os estudos de Grove, situa-se no limite CDC. Aparelhos eletrônicos promovem a detecção exata da constrição apical”.

  1. Hassanien e colaboradores Journal of Endodontics

Os nossos resultados indicam que o limite CDC e a constrição apical são dois pontos distintos e que o diâmetro do canal no CDC é sempre maior do que o da constrição apical”.

Façamos uma análise crítica das colocações acima.

Na primeira delas, Wu e colaboradores dizem que o limite ideal… parece ser de 2 a 3 mm aquém do ápice”. Depois dizem quequando os procedimentos endodônticos são feitos mais do que 2 mm aquém do ápicee finalmente quea instrumentação deve ser feita em um nível suficientemente profundo.

O que foi definido?

Absolutamente nada.

O que significa um nível suficientemente profundo?

Qual é esse nível?

Se os autores falam de até 3 mm aquém, seria esse um nível suficientemente profundo?

Na segunda, os autores dizem; o comprimento de trabalho ideal… situa-se no limite CDC. Aparelhos eletrônicos promovem a detecção exata da constrição apical”.

Depreende-se que limite CDC e constrição apical seriam a mesma coisa. Chamo a atenção também para a detecção exata da constrição apical.

E na terceira os autores dizem que o limite CDC e a constrição apical são dois pontos distintos.

Precisão dos localizadores

Ângelo CT 1

“Agora, com os localizadores eletrônicos o comprimento de trabalho é determinado com precisão!”

É o que ouço dizer e leio há alguns anos.

Canta-se em prosa e verso, cada vez mais, a precisão dos localizadores e da sua importância na determinação dos limites apicais de instrumentação e obturação.

100%.

Digamos que a absurda e descabida pretensão fosse possível.

Ótimo.

Para que?

Ângelo CT 2'''

Confesso a minha dificuldade de entender o que significa dizer que, seja no aspecto físico (?), seja no geográfico (?), “a ampliação do forame apical não interfere na fisiologia do elemento dental”.

O que posso garantir a você é que quando se faz a ampliação do forame fica absolutamente evidente que há uma interferência marcante na anatomia apical.

Como diria Nelson Rodrigues, é o óbvio ululante.

Aqui, o óbvio não só ulula como dá saltos.

Mortais.

E a primeira coisa que salta aos olhos é que, aceitando-se a existência do limite CDC/constrição apical, quando você amplia o forame apical você arrebenta o que?

Justamente o limite CDC/constrição apical.

Dá para imaginar o contrário???

Forame apical menor e maior pontilhados6

Na figura acima, o forame apical maior, ou simplesmente forame apical, é representado pelo espaço correspondente à linha preta pontilhada e o forame apical menor, onde seria o limite CDC/constrição apical, pela linha amarela.

Você concorda comigo se eu disser que um instrumento que tenha o mesmo calibre do espaço correspondente ao da linha preta não consegue passar pelo espaço correspondente ao da linha amarela?

Concorda ou não?

Ótimo.

Você concorda comigo se eu disser que para chegar lá no forame apical com um instrumento que tenha o mesmo calibre do espaço correspondente ao da linha preta, você precisa ampliar bastante o que seria o limite CDC/constrição apical, o da linha amarela?

Beleza.

Então você ampliou o limite CDC/constrição apical, de tal maneira que agora consegue chegar ao forame apical (linha preta) com uma lima de calibre correspondente ao seu espaço.

Parabéns.

Agora, claro, você vai ampliar aquele espaço.

???

Não vai fazer a ampliação do forame?

Então!

Se você faz ampliação foraminal tem que ampliar o forame, não é verdade?

E ali é o forame.

Você sabe quantos instrumentos precisaria usar para ampliar o limite CDC/constrição apical para conseguir um calibre igual ao do espaço do forame, a linha preta?

Agora que chegou lá, você sabe quantos instrumentos deve usar para ampliar o forame apical?

Você se incomoda se eu deixar aqui o link de um artigo que talvez possa ajudar a entender um pouquinho essa questão? Clique nele que vai direto para o artigo.

Relationship between Files that Bind at the Apical Foramen and Foramen Openings in Maxillary Central Incisors – A SEM Study. Braz Dent J 2011;22(6):455-459

Ampliação foraminal

Dá para imaginar quanta coisa sem pé nem cabeça tem sido dita sobre esse tema?

Olha, me perdoe se pareço sei lá o que, mas é para perder a paciência.

É um tal de ampliar forame, só se fala nisso e muitos não sabem sequer do que se trata.

 Surplus

Vamos lá.

Se entram no canal sem nenhuma preocupação, fazem ampliação foraminal e destroem a ‘constrição apical’ em qualquer situação (polpa viva, polpa necrosada sem lesão, polpa necrosada com lesão, retratamento, reabsorção apical…), obturam o canal com guta percha plastificada e cimento obturador extravasando sem restrições e desafiando qualquer limite, inclusive o do bom senso, eu pergunto.

Por que e para que ter precisão no localizador???

Percebe a contradição?

Eles não percebem o contrassenso no que dizem.

É incompreensível a promessa de precisão na determinação do CT

Façamos agora um exercício de raciocínio.

Sempre foi dito que os localizadores apicais (como foram inicialmente chamados e muitos ainda chamam assim) determinavam com precisão o limite CDC/ponto de constrição.

Ótimo!

Constrição apical

Sabendo que o limite CDC não é como se ensinava, isto é, que ele não existe, como também não existe um ponto de constrição apical, como imaginar os localizadores como aparelhos de precisão para detectar o limite CDC/constrição apical?

Limites

As setas vermelhas e verdes na figura acima apontam para os vários limites CDC que existem nesses canais.

Uma vez que não existe um limite CDC, mas sim alguns, e que também não há um ponto de constrição apical, como imaginar que o localizador eletrônico dará essas medidas com precisão?

Como ele pode nos dar “uma segurança de 100% na localização do limite CDC”?

Como detectar com essa precisão o que não existe?

Entenda-os como localizadores foraminais e não apicais.

Isso muda a compreensão de muita coisa, inclusive do que fazem os localizadores.

Não se deve usá-los para buscar o que seria o limite CDC/ponto de constrição, mas sim para buscar o forame apical, o local onde “termina” o canal. Dele, recua-se para “dentro do canal” uma medida conforme o CT que cada um costuma usar.

Para uns 0,5 mm, para outros 1,0 mm, ou 1,5, outros tantos 2,0 ou 3,0…

Se é assim, são medidas precisas ou as clássicas preestabelecidas, já bastante conhecidas e que estão na tabela lá em cima na primeira imagem deste artigo?

“A constrição do canal só pode ser observada na secção adequada de um corte histológico e este é o único método que permite a determinação do comprimento de trabalho”.
Langeland, K. 1995 – Blaskovic-Subat, V. et al. 2006 – Wrbas et al. (2007)

Esta afirmativa serviria bem às minhas ponderações, entretanto, uma visão crítica mais apurada mostra que mesmo ela pode e deve ser vista com restrições.

Trabalhos como o de Ponce e Vilar Fernández na figura acima demonstram que é justamento na peça histológica que se observa o contrário, ou seja, que não há um só limite CDC. 

Observe como muda o sentido quando as duas expressões, localizador apical e localizador foraminal, são usadas.

Patência apical é o que?

Quando você fazia ou faz recapitulação na técnica escalonada, o que é que você está fazendo?

Patência no comprimento de trabalho?

Sendo assim, a rigor patência apical pode ser patência em qualquer ponto do terço apical, é ou não é?

Localizador apical me diz o que?

Nada, ou, se você quiser que eu mude para amenizar o impacto, quase nada.

O que desejam e exigem os professores de Endodontia?

Que os alunos trabalhem no canal dentinário, “campo de ação do endodontista”, como ficou conhecido.

Ora, quem “diz” onde termina o canal dentinário?

A constrição apical.

Ela diz; aqui termina o canal dentinário e começa o canal cementário.

Você, endodontista, termina o seu trabalho aqui.

Aqui é seu “campo de ação”.

O canal cementário é intocável, é sagrado.

Não ouse ir lá.

Não ouse passar desse limite.

Resultado?

Necessidade de estabelecer um limite apical de trabalho!!!

Imaginou-se inicialmente, e muitos disseram, que o localizador apical determinava com precisão a constrição apical, portanto, o limite apical de trabalho.

Já conversamos, se não existe ponto de constrição apical, como é que nós podemos querer precisão para localizar o que não existe???

– Ah, mas eu não estou preocupado com esse negócio de limite CDC, constrição apical, coto pulpar, extravasamento de material obturador, não estou preocupado com nada disso. Eu faço endodontia moderna.

Lá vou eu de novo.

– Então me perdoe, que mal não lhe faça.

  1. O localizador é para instrumentar o canal?
    Não.
  2. O localizador é para irrigar o canal?
    Não.
  3. O localizador é para colocar medicação intracanal?
    Não.
  4. O localizador é para obturar o canal?
    Não;
  5. O localizador é para estabelecer com mais precisão o limite apical de trabalho?
    Sim.

Por favor, não se aborreça comigo porque eu vou repetir a pergunta, combinado?

Se o localizador tem a função de estabelecer com mais precisão o limite apical de trabalho e você não está preocupado com esse negócio de limite CDC, constrição apical, coto pulpar, extravasamento de material obturador, com nada disso, para que você usa?

Estou negando a importância do localizador foraminal eletrônico?

Claro que não.

Agora mesmo compramos mais três para os nossos cursos na ABO-BA.

Recomendo seu uso. É mais uma ferramenta importante para se fazer um bom tratamento endodôntico, sem dúvida.

Discordo, isso sim, da precisão absoluta atribuída a eles e chamo a atenção para a contradição que existe entre o que dizem muitos professores e o que realmente acontece.

A imaginação é mais importante do que o conhecimento

Ciência não tem limites.

Ciência não tem limites porque ciência é imaginação e esta não tem limites.

Quando posta dentro de limites, quando protocolam a ciência, não há desenvolvimento, não há crescimento real.

É lamentável ver os rumos que a Endodontia está tomando.

Como diz o Prof. Spangberg, agora tudo se limita a fazer canal.

É deplorável a atitude de alguns professores que, possuidores de um conhecimento limitado, como é todo conhecimento, entregam-se ao descompromisso.

Vejo-os cá da minha janela com enorme tristeza e, facilmente identificáveis, a todos repudio.

Tornaram-se meras peças de uma engrenagem, nada mais.

O preço a pagar por isso cai na conta dos mais jovens e inexperientes.

Observe que o título deste artigo não é “Os limites da Endodontia”.

A Endodontia não tem limites.

Como ciência, ela não se permite limites. O seu limite é a imaginação.

Quando Einstein diz que “a imaginação é mais importante do que o conhecimento” bate de frente com o mundo acadêmico que tenta engessar a ciência, como se vê nos tempos atuais na Endodontia.

Não deve ser difícil entender que em qualquer especialidade em que há ato operatório, como é o caso da Endodontia, seria tolice negar a importância da técnica operatória.

Se assim é, a habilidade manual, que se adquire e se aprimora com o tempo, assume papel fundamental.

Mas também é fundamental entender que os maiores limites na Endodontia não estão nas mãos do endodontista.

Estão na sua cabeça.

Onde ficou a Universidade como centro de excelência?

Em que momento a Universidade perdeu o seu papel de estímulo à reflexão?

É dessa universidade que estamos saindo.

Nela, os limites são bem claros.

Estão à vista.

Darwin, Copérnico, Galileu, Igreja e… Endodontia

Pensar

Por Ronaldo Souza

Durante um jantar em evento de Endodontia há 12 anos, em conversa com um colega de turma a quem não via há algum tempo ele me disse:

– Fulano acabou de me dizer que não lhe leva à cidade dele porque você “derruba” tudo que ele e o grupo dele ensinam.

Já tinha percebido isso.

De fato, apesar de já ter ido inúmeras vezes ministrar cursos na cidade dele e em outras do mesmo estado, em nenhuma delas tinha sido a convite dele e do seu grupo, do qual faz parte a professora que “em algum lugar do passado“ quase me agride.

Natural? Não.

Compreensível? Sim.

Qual a razão da dificuldade do convite que jamais chegaria?

A minha abordagem sobre particularmente dois temas sobre os quais falo há muitos anos; instrumentação do canal cementário (favor não confundir com ampliação foraminal) e o real papel da obturação.

Vivesse eu à busca de convites para dar cursos em “todas” as cidades, teria que ser mais esperto.

Bastaria entender a conveniência de alguns professores.

E aí, falando o que querem ouvir, agradaria e seria convidado.

Dizer o que querem ouvir é dizer o que todos dizem.

Dizer o que dizem nos torna iguais.

Entramos na corrente.

Entramos na igreja.

Por não concordar com o Criacionismo, teoria adotada pela Igreja que diz que Deus criou o homem e o universo, (Charles) Darwin criou o Evolucionismo, através do seu livro “A Origem das Espécies” (1859).

“Toda a vida teve origem espontânea e a evolução é a chave para a existência e a variedade entre as espécies”.
Evolucionismo x Criacionismo

Copérnico inicialmente e Galileu em seguida se opuseram à teoria também oficializada pela Igreja de que era a Terra e não o Sol o centro do Sistema Solar.

Apesar de todas as resistências e de “não serem convidados para palestras”, a Teoria Evolucionista de Darwin é hoje a mais aceita. Também não parece haver mais nenhuma dúvida sobre o que defenderam Copérnico e Galileu.

Mas ninguém é inocente a ponto de desconhecer a força da Igreja.

Ir no sentido oposto ao que ela diz faz tudo ser mais difícil.

E o universo se torna menor.

As igrejas, e aí já estou no universo da Endodontia, exercem muita influência no que deve ou não ser divulgado.

A igreja tem os seus compromissos. Ela diz o que lhe dizem pra dizer.

A igreja bola o que rola.

O céu não é azul

“Continuamos a acreditar que, apesar de haver fortes indícios de que o condicionamento ácido da polpa é uma alternativa viável e, algumas vezes, vantajoso em casos bem selecionados, ainda é cedo para abandonar totalmente o uso do hidróxido de cálcio nestas situações e recomendar a técnica como procedimento de rotina. Pelo contrário, acreditamos que para a maioria dos clínicos é prudente utilizar o hidróxido de cálcio”.
Baratieri, LN. Odontologia Restauradora – Fundamentos e Possibilidades 2001

O condicionamento ácido da polpa, algo que não tinha sido devidamente investigado, foi amplamente divulgado e colocado como verdade clínica. E foi adotado por muitos professores de Dentística, quem sabe a maioria.

Ao perceber que aquilo que vinha preconizando já há algum tempo não tinha apresentado os resultados esperados por ele e seu grupo, Baratieri fez esse “pedido de desculpas” no seu livro.

Dá para imaginar quantas polpas devem ter sido sacrificadas pela divulgação dessa concepção?

Dá para imaginar quantos pacientes foram tratados de forma indevida?

Dá para imaginar quantas pessoas foram prejudicadas?

Considero esse “depoimento” do professor Baratieri uma das iniciativas mais interessantes, provavelmente única nesse sentido, que vi nos últimos tempos.

Não terá sido um ato de grandeza?

O que acontece no momento atual da Endodontia não faz ninguém pensar além do jardim?

Acostumei-me a ver o céu azul.

Para quem mora no Nordeste, como eu, o céu é azul.

No Farol da Barra, em Salvador, ele é mais azul.

E mais bonito.

Foto 2

Mas o céu não é azul.

No mesmo Farol da Barra me acostumei a vê-lo assumir outras cores, no mais belo pôr do Sol do mundo.

Por do Sol no Farol da Barra

É o olho que faz o horizonte

Já tinha escrito outras vezes sobre o Prof. Larz Spangberg, como em abril de 2012, e voltei a fazê-lo em fevereiro deste ano.

Faço um convite a você. Não deixe de ler o texto no qual traduzi e incorporei o editorial escrito por ele em julho de 2011, portanto, há 6 anos. Clique aqui Prof Larz Spangberg (e uma endodontia que não existe).

Trago alguns trechos daquele texto.

Ronaldo
As novas técnicas serão sempre bem-vindas em Endodontia, pelo que de bom podem trazer, mas, sem nenhum receio de como posso ser interpretado, arrisco-me a dizer que, neste momento, do que menos precisamos é de técnicas novas. Precisamos, isso sim, consolidar os princípios estabelecidos e consagrados que deveriam reger a Endodontia. Assim, saberemos ver o real valor do que já existe e do que ainda virá. Caso contrário, veremos cada vez mais profissionais serem induzidos por caminhos no mínimo duvidosos.

É cada vez mais comum jovens profissionais “escolherem” esses caminhos, devidamente auxiliados pelos novos donos da verdade que, mesmo sob o manto da humildade e de um altruísmo tão sólido quanto uma geleia, frequentemente deixam vir à tona a sua arrogância e prepotência cada vez que se sentem contrariados nas suas sábias e doutas opiniões.

Prof. Spangberg
Na maioria das vezes, os avanços em anos recentes têm sido associados ao desenho dos instrumentos e materiais
, o que tem resultado em melhora onde o tratamento pode ser feito com o menor sofrimento para o paciente em menor tempo. Entretanto, há pouca evidência de que o resultado do tratamento seja melhorado de forma significante.

todas essas informações se perdem nos consultórios, onde o conhecimento tem sido brutalmente ignorado num processo chamado de “fazer um canal”

A despeito desse conhecimento, a maioria dos dentistas usa somente uma forma de tratar o canal, superficialmente conhecida como “fazer um canal”.

Por essa razão, as associações de especialistas, como a Associação Americana de Endodontia, devem olhar além do seu interesse paroquial e político.

Haverá sempre alguém resistindo a esses movimentos de mercantilização do ensino.

Spangberg sempre foi um desses.

“Essa teoria é ensinada até hoje em muitas escolas nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil”.

Do que falo quando reproduzo a frase acima?

Ela foi retirada do mesmo texto que referenciei lá em cima quando falo de Evolucionismo e Criacionismo, mas pode ser usada exatamente da mesma maneira no momento atual da Endodontia.

Poucas vezes se viu tão forte quanto agora a influência de autores estrangeiros entre nós. Eles deixaram de ser somente referenciados. Agora são reverenciados.

Quem você pensa que está dizendo a você quais e quantos instrumentos usar?

São eles.

Quem você pensou que era?

A endodontia brasileira perdeu o filtro que somente os verdadeiros mestres possuem.

Como Darwin, Copérnico e Galileu, a geração de ouro ousou pensar e construir a Endodontia Brasileira.

Alguém pode traze-los de volta?

O futuro roubado de si mesmo

Futuro abortado

Por Ronaldo Souza

Não é incomum ouvir-se dizer “já vi de tudo na vida”.

É uma forma de falar, não se pretende ser literal.

É claro, porém, que as pessoas que já viveram um pouquinho mais já viram muita coisa, o que pode nos levar a crer que elas não se surpreendem mais com o que veem. Não é exatamente assim.

Eu, que já tenho alguns bons meses de vida, ainda me surpreendo. Surpreendo-me principalmente com o fato de como nos perdemos tão facilmente.

Não vai muito tempo que alguém me disse que ouviu falar de um curso que ensina a fazer tratamento endodôntico para convênios.

Como não ficar chocado?

Vi uma vez na Internet, terra de todos e de ninguém, a propaganda de um curso que me deixou mais uma vez… surpreso.

“Apesar dos diversos cursos que participamos, continuamos praticando a mesma endodontia!! Alguns pacientes se queixando de dores pós-operatória, às vezes não conseguimos atingir o nosso limite de trabalho (forame) e os tratamentos são feitos em muitas sessões causando desconforto e perda de tempo”.

Pelo visto haverá sempre alguém dizendo que ‘continuamos praticando a mesma endodontia!!’.

Sob a ótica do marketing deve ser bem interessante, afinal querem fazer crer que o mundo precisa viver sob a perspectiva tirânica do novo.

Como você reagiria a um médico que com frequência muda o que faz e diz que “agora” está fazendo um tratamento revolucionário? “Não faço mais daquele jeito, está ultrapassado”.

Então quer dizer que tudo que o senhor fazia estava errado?

E aí, você, que parece ser um cara inteligente, continua confiando nesse médico?

Depois de tantos anos, tanto estudo, tanta pesquisa, tanta experiência clínica acumulada, abandonam-se os conceitos estabelecidos pura e simplesmente?

A Endodontia apoiada em conceitos que foram se estabelecendo ao longo dos anos, sob o respaldo de pesquisas e experiências clínicas não serve mais?

Se serve, o que ela diz?

Você sabe, por exemplo, quantos instrumentos devem ser usados para fazer um bom preparo de canal?

Se sabe, parabéns.

Eu não sei.

Conhece aquela “regrinha” antiga que diz que na polpa viva deve ser 1+3 e na necrosada 1+4?

Ela está certa?

Não seria suficiente instrumentar um pouco menos, na polpa viva 1+2 e na necrosada 1+3?

Ou seria necessário instrumentar mais, na polpa viva 1+4 e na necrosada 1+5?

Quer que eu lhe diga uma coisa?

Não faço a menor ideia.

Alguém sabe?

Vou mudar a pergunta.

Tem como saber?

Os canais são todos iguais?

Mesmo grau de curvatura?

Estão igualmente infectados?

Então, gente, tem como saber?

Tem como pretender fazer tudo da mesma maneira?

A despeito de não se saber exatamente quantos instrumentos são, pelo conhecimento existente e pela experiência clínica acumulada você concorda comigo se eu disser que deve haver um mínimo necessário para cada canal para que sejam atingidos os objetivos desejados?

Aí vem alguém e diz.

Basta um.

Baseado em que?

É assim na tora, como se diz aqui no Nordeste?

Você não acha que para avançarmos de forma consistente é necessário que as novas propostas sejam analisadas antes?

A Endodontia sempre foi uma especialidade que se permitiu modificar e avançar como resposta a novos conhecimentos e tecnologias.

Mas precisamos entender que a fisiologia tecidual, a microbiologia e a patologia não se modificam pelo nosso desejo. Podem sofrer mudanças conceituais e de interpretação pelas descobertas que novos conhecimentos proporcionam. São esses conhecimentos que levam ao surgimento de novos instrumentos e técnicas operatórias. Estes existem em função daqueles.

Em outras palavras, não é o surgimento de novos instrumentos que leva ao conhecimento. É o contrário.

É o conhecimento que faz surgir o novo instrumento.

Observe como cada vez mais os instrumentos são melhores.

Que bom, mas eles são apenas ferramentas que permitem pôr em prática o conhecimento adquirido.

As mudanças não são instrumento dependentes.

O instrumento não constrói o conhecimento.

É ferramenta dele.

O conhecimento é senhor da tecnologia.

Volto a aquela professora que por pouco não me atirou pedras. Veja o que ela diz ao anunciar o novo curso de imersão com o mesmo professor convidado em sua cidade:

“Você sabia que aproximadamente 90% dos primeiros molares superiores apresentam 4*canal e que atualmente existe uma lima, a …, da …, de fabricação alemã, capaz de auxiliar você no preparo biomecânico desses dentes de maneira previsível? Venha imergir no mundo da Endodontia Contemporânea. Serão dois dias de grandes inovações. Esperamos você de braços abertos”.

Meu Deus do Céu!

Isso é uma tentativa absurda de induzir as pessoas a pensarem que agora terão a certeza de que o 4º canal será, finalmente, bem preparado.

Previsibilidade.

Esta é uma palavra recentemente descoberta por alguns endodontistas, que a repetem à exaustão.

Tornou-se um mantra.

Mas não pense na palavra “previsibilidade” como você costumava pensar. Algo previsível, que se espera acontecer.

Não.

Já há algum tempo deram a ela um significado muito próprio em Endodontia.

Previsibilidade é a certeza antecipada de sucesso.

E você só a terá com ‘aquele’ instrumento, ‘daquela’ marca.

É venda explícita de instrumento!

Só com aquele instrumento você terá a previsibilidade que é objeto do seu “sonho impossível e assim romper a incabível prisão e ter fim a infinita aflição”. Que me perdoe Miguel de Cervantes, no seu “Dom Quixote de La Mancha”.

Como conceber que alguém mude o conhecimento estabelecido sem oferecer evidências mínimas para isso?

“O tratamento endodôntico é fundamentalmente o manejo clínico de um problema microbiológico” (Figdor D. 2002).

Não é uma questão de natureza mecânica.

E, por favor, não argumente dizendo que a ação mecânica do instrumento é a mais importante.

Não zombe da inteligência das pessoas.

A ação mecânica dos instrumentos é de fundamental importância no ato operatório que representa o tratamento endodôntico e esta, por si só, já deveria ser uma razão forte para não ser negligenciada pelo uso de um único instrumento, seja ele qual for.

Mas essa ação não pode ser vendida como exclusividade ‘daquele’ instrumento.

Estamos acuados e com medo de falar do óbvio?

Existe algum tipo de pressão?

Está se formando uma avalanche pressionadora para que todos falem de um jeito só, mesmo que não sejam tantos assim os que de fato fazem dessa forma?

Ninguém resistirá?

Ninguém se colocará contra essa corrente que se forma com prejuízos evidentes para a formação dos jovens profissionais?

É a ditadura do jeito único?

Tendo em vista que entre nós é hábito venerar autores estrangeiros, vejamos o que diz Martin Trope através de um slide igual ao que ele projetou no Circuito Nacional de Endodontia em Curitiba.

Martin Trope

“Uma lima, uma hora, uma sessão. Como matar uma especialidade”

Isso deveria nos fazer pensar.

Uma vez Chico Buarque disse numa entrevista;

“Não quero o novo pelo novo, mas pelo que de bom ele pode me trazer”.

O novo só porque é novidade?

Recorro ao que disse a nossa professora.

“Venha imergir no mundo da Endodontia Contemporânea”

Professores estão se tornando geradores de necessidades para plateias cada vez mais alheias.

Estão se tornando ilusionistas. 

Como ficou fácil encantar serpentes.

“Ainda que as cobras possam ouvir, são surdas aos sons envolventes mas sentem as vibrações do solo. A flauta do encantador seduz a cobra pela sua forma e movimentos, e não pela música que emite”.
(Encantamento_de_serpentes)

Para onde estamos indo?

Não se discute aqui a qualidade dos instrumentos. Esta é incontestável. Deixemos essa questão de lado, pelo menos neste momento.

Mas vamos observar que a Ciência sempre trabalhou com o tempo.

É impressão minha ou andaram elogiando a Medicina por apresentar estudos epidemiológicos consistentes e não ser esse o caso da Odontologia, particularmente da Endodontia?

Falamos tanto de estudos clínicos randomizados, estudos prospectivos, estudos…

Não precisamos mais deles para propor mudanças tão fortes?

Por não sabermos quantos instrumentos usar para preparar bem o canal, alguém pode simplesmente chegar e dizer “basta um”?

Amém, amém!

Esta é a nossa resposta?

Esta é a Endodontia?

As quebras de paradigmas agora são feitas assim, a golpes de facão?

A lamentar nisso tudo é que há professor que parecia ser um pesquisador em potencial, que falava em necessidade de comprovação científica, mas se deixou levar por cantos estranhos.

Conhecidos, mas ainda assim estranhos.

Sem dúvida, uma postura mais confortável e rentável, mas incompatível com a Endodontia.

Ocorre que muitos já estão percebendo.

E estão comentando pelos corredores da vida.

E dos eventos.

Os holofotes não se apagam de repente e podem manter por tempo indeterminado sob a sua luz aqueles a quem cegam.

Mas como pode ser cruel a ilusão da notoriedade.

Confesso que esperava mais, bem mais.

Esperava, torcia até, que se confirmasse o pesquisador sério que parecia surgir.

Lamentavelmente, porém, tornou-se mais um que se deixou seduzir pelo canto da sereia.

A sedução provocada pelas sereias era através do canto. Os marinheiros que eram atraídos pelo seu canto e se aproximavam o bastante para ouvir seu belíssimo som, descuidavam-se e naufragavam.
Mitologia grega

Em algum lugar do passado

Dúvidas e ideias

Por Ronaldo Souza

Em 2000 ministrei o curso principal de Endodontia em um congresso.

Antecipo o meu carinho por aquele estado, até por razões familiares. Parte da família de meu pai morava lá.

Pelas pessoas da capital, onde ocorreu o congresso, também há algumas razões para me sentir à vontade. Sempre fui muito bem tratado e até com carinho por muitas pessoas.

No outro dia após o meu curso (carga horária de 8 horas, como era comum à época), encontrei uma professora nos corredores do congresso.

Tomei um susto.

Parecia que a qualquer momento a agressão física poderia ocorrer, tendo em vista que a verbal, pelo tom empregado nas afirmativas e contestações, já estava acontecendo.

A indignação da professora tinha origem em dois temas abordados por mim; a importância e necessidade da instrumentação do canal cementário, que à época era chamada de limpeza do forame, e a questão do limite apical da obturação.

Particularmente por conta deste último, era forte a impressão de que a qualquer momento eu seria apedrejado.

Respirei fundo 355 vezes e me controlei.

Aliás, acho que sou até bom nessa arte.

Dois meses depois fiquei sabendo que na hora em que eu dava aula no referido congresso, outra professora, rodeada por seus alunos e alunas da pós-graduação, levantou-se e disse:

“Não estou aqui para ver esse imbecil não”.

E saiu do auditório.

Apesar de ter voltado a aquela bela e acolhedora cidade algumas vezes para ministrar outros cursos, não me lembro de ter visto outra vez a agressiva professora. A das pedras.

Vejo-a 17 anos depois através da divulgação de um recente curso de Endodontia, desses chamados de imersão, na sua bela cidade:

Uma oportunidade para se aprender dentre outras coisas que a técnica de obturação de cone único oferece resultados tão bons quanto as que utilizam equipamentos de custos elevados; que o quarto canal pode ser instrumentado com limas… com eficácia. Que novas limas como a… possibilitam tratamentos endodônticos mais previsíveis e com índices quase nulos de fratura”.

A reflexão parece continuar não fazendo parte das preocupações da professora.

O que me causa certa perplexidade, haja vista que geralmente as pessoas que têm alguma ligação com as áreas básicas, particularmente a Patologia, costumam refletir.

Deixemos de lado as maravilhas do instrumento e foquemos em algo mais.

Para usar a expressão utilizada por ela, também afirmo que a técnica de obturação de cone único (e aqui incluo a técnica da condensação lateral) oferece resultados tão bons quanto as que utilizam equipamentos de custos elevados…”.

O professor de Endodontia pode dizer o que quiser nas suas aulas. Que a obturação com “equipamentos de custos elevados” é isso, é aquilo, que é mais sofisticada, que tem “surplus”, que extravasa material obturador pelos poros do paciente, o que ele quiser.

Mas não pode continuar dizendo a seus alunos que os resultados são melhores do que as técnicas que não usam “equipamentos de custos elevados”.

A literatura não conseguiu apresentar trabalhos que respaldem tal afirmativa.

Por outro lado, equivoca-se também o professor que reza pela cartilha do vedamento hermético e preconiza a técnica do cone único.

Falar de vedamento hermético em Endodontia já é um equívoco por si só, no qual alguns insistem. Por quanto tempo não sei.

Mas, sob a perspectiva do vedamento hermético, se há uma técnica que não deveria ser preconizada é justamente a do cone único.

Ela apresenta possibilidade maior de selamento apical mais pobre do que outras propostas.

E isso não é difícil de se comprovar.

E aí volto à professora.

Tendo em vista que o grupo do qual ela se tornou seguidora incondicional “está revendo o papel da obturação”, depois de ter rejeitado abertamente a ideia, é bem possível que em breve a veremos fazer a divulgação de um curso de imersão assim:

Uma oportunidade para se aprender dentre outras coisas que a técnica de obturação, seja ela qual for, oferece resultados tão bons quanto as que utilizam equipamentos de custos elevados…”.

Estarei na primeira fila para aplaudir e dar as boas-vindas pela chegada à Endodontia que ainda está por ser entendida e não somente executada com os bons instrumentos que tanto a encantam.

Mesmo sabendo que há 17 anos ela e sua colega me atiraram pedras por tentar fazer exatamente isso, um convite à reflexão sobre o que significa de fato cada etapa do tratamento endodôntico.

Só não pode, professora, é querer lançar com o time do “estamos repensando o papel da obturação” como se fosse algo próprio e a descoberta mais importante desde que Copérnico tentou mostrar (e Galileu confirmou) que o Sol era o centro do Sistema Solar e não a Terra, como se imaginava antes.

Até porque, por ironia do destino, tenho a senhora como testemunha (e sua colega também) de que a verdadeira história não é essa.

Assumir a paternidade com a falácia do “estamos repensando o papel da obturação”, não.

Aí também estarei na primeira fila.

Mas não para aplaudir.

Não atirarei pedras.

Só porei os pingos nos is.

Pra não dizer que não falei de flores

Abordado por um professor nos corredores do mesmo congresso, percebi que ele também não concordara com meus pontos de vista.

A maneira de fazer as críticas, porém, foi bem diferente.

Final de tarde, num stand que já estava vazio (será que ele vai lembrar dessa conversa?), discutimos, trocamos ideias, argumento vai, contra-argumento vem, um papo legal.

Já tínhamos boa relação, que só fez melhorar com o tempo e tenho por ele respeito e carinho. Sei que é, com justiça, muito querido na terra onde mora (não é a mesma em que nasceu).

Anos depois terminou sendo personagem de outro episódio, sobre o qual nunca comentei com ninguém. Nem com ele.

Diante da não citação do meu nome em nenhum momento numa discussão sobre ampliação foraminal (como alguns chamam) ocorrida num desses fóruns de Endodontia na internet, ele foi um dos dois únicos (o outro é de São Paulo) a fazer uma intervenção citando o meu nome:

“A bem da verdade, a primeira vez que ouvi falar de limpeza do forame foi com meu amigo da Bahia, Ronaldo Souza”. Disse ele.

“A primeira vez que ouvi falar desse procedimento foi com o professor Ronaldo de Souza (esse de não existe no meu nome) da Bahia”. Disse Alex Otani, de São Paulo.

Peço desculpas por não citar o nome do primeiro. Se o fizesse, a identificação da cidade onde ocorreu o congresso acima referido e consequentemente das professoras seria imediata.

Não devo e não há porque fazer isso.

Entretanto, não há como não reconhecer e elogiar a elegância da postura assumida por eles a meu favor no episódio da discussão sobre ampliação foraminal. Por isso, a minha gratidão.

Só para ilustrar, nesse episódio em que o meu nome foi, digamos, por um lapso de memória inadvertidamente esquecido, colegas da Bahia que aprenderam o procedimento comigo foram acometidos por uma amnésia temporária e por isso permaneceram calados, nesse interessante e nobre jogo de esconde-esconde.

Um deles diz por aí que aprendeu com um protocolo atribuído a uma famosa faculdade (por sinal uma importante faculdade, com bons professores), que ele faz questão de citar, como se dela tivesse sido aluno de pós-graduação.

Talvez eu deva entender que ele não está errado por não dizer que aprendeu comigo, pois, de fato, jamais ensinei a fazer ampliação foraminal, por considerar um grande equívoco.

Ensino a fazer instrumentação do canal cementário, com objetivo bem definido.

Torço para que ele consiga perceber que há uma diferença considerável entre os dois procedimentos.