Paradigmas da Endodontia. 2ª parte

Por Ronaldo Souza

Nele explico a diferença entre patência apical e limpeza do forame (como eram conhecidos) e
que o objetivo da patência apical (foraminal) é basicamente mecânico e não biológico

Assim terminei a primeira parte do texto “Paradigmas da Endodontia“.

O nele se refere ao artigo The Importance of Apical Patency and Cleaning of Apical Foramen on Root Canal Preparation, que espero você tenha lido. Se não, é só clicar no link aqui em cima.

Publicado há treze anos, veja o que digo na segunda página dele:

“Entretanto, deve-se levar em consideração que a manutenção da patência apical não limpa o forame; só evita que haja bloqueio por entulhamento de raspas de dentina. O forame apical deve ser instrumentado para realmente ser limpo. Em outras palavras, um forame patente não está necessariamente limpo porque patência apical e limpeza do forame são procedimentos diferentes”.

Na sequência, também na segunda página, digo:

“A patência apical é estabelecida durante o preparo do canal com o objetivo de manter o acesso ao forame (objetivo mecânico), mas é importante que após a instrumentação o forame não esteja só patente mas também limpo (objetivo biológico). A lima de patência, que deve ter um diâmetro menor que o forame, provavelmente não fará essa limpeza de maneira adequada. O uso de um instrumento ajustado ao forame e que toque nas paredes do canal certamente será mais bem indicado. Por esta razão, a melhor abordagem seria assegurar a patência apical com um instrumento de menor diâmetro durante a instrumentação do canal e depois limpar o forame com uma lima ajustada às suas paredes”.

Mesmo tendo escrito alguns antes, foi a partir daí que fizemos uma sequência de publicações sobre esse tema, sob a visão da microscopia eletrônica de varredura. Você pode ver pelo menos três deles.

1. Location of the apical foramen and its relationship with foraminal file size – na seção Publicações deste site.

2. Relationship between Files that Bind at the Apical Foramen and Foramen Openings in Maxillary Central Incisors – A SEM Study – clique aqui www.scielo.br/pdf/bdj/v22n6/v22n06a03.pdf

3. Influence of Apical Foramen Lateral Opening and File Size on Cemental Canal Instrumentation – clique aqui  www.scielo.br/pdf/bdj/v23n2/v23n02a06.pdf

Mais recentemente, iniciamos trabalhos com experimentos em animais nessa mesma linha e o primeiro artigo publicado (abril de 2019) foi o de Paula Brandão, minha orientanda no mestrado.

Você pode ler aqui www://link.springer.com/article/10.1007/s00784-018-2628-2

Perceba que no título do artigo consta a expressão “foraminal enlargement”, mas, como se pode ver abaixo no título original na dissertação consta “instrumentação do canal cementário”.

O titulo original da dissertação foi modificado porque alguns periódicos rejeitaram a expressão “instrumentação do canal cementário”, por não constar na literatura endodôntica, numa clara demonstração das idiossincrasias que existem na literatura.

Por conta disso, mais uma vez, uma expressão equivocada, ampliação foraminal, foi adotada e difundida como consequência do desconhecimento e leitura incorreta das particularidades anatômicas do terço apical, especialmente na sua porção final.

Veja no vídeo abaixo do meu canal no YouTube, o Falando de Endodontia, porque considero ampliação foraminal uma expressão inadequada, como já tive oportunidade de dizer em diversos momentos.

Para dificultar ainda mais o conhecimento desse tema, erros grosseiros são ditos e “ensinados”, particularmente nas redes sociais e em vídeos que proliferam no YouTube, onde salta aos olhos o desconhecimento sobre aquilo de que se fala.

Ampliação foraminal é um procedimento com evidentes equívocos desde a sua concepção, que numa considerável quantidade de vezes é inviabilizada na sua execução pela forma como é “ensinada”.

Onde estão as discussões sobre temas tão importantes e pertinentes à Endodontia como esse?

Por que não são vistas em lugar nenhum?

Porque os eventos se transformaram em desfile de palestras, quase todas falando dos “mais recentes e avançados sistemas de…”.

Vamos lá.

Não é razoável a compreensão da necessidade de preparo do canal para efeito de controle de infecção nos casos de necrose pulpar e infecção?

Claro que sim.

O  canal com necrose pulpar e infecção precisa ser instrumentado para que a infecção seja “eliminada” .

Mas você acha sensato que após tantos anos de conhecimento adquirido, que demonstra claramente a infecção do canal cementário nos casos de necrose pulpar e infecção, particularmente nas situações de lesão periapical, que a instrumentação desse canal para efeito de controle de infecção seja desconsiderada?

Não é razoável que, sendo assim, as evidências que podiam “aprovar” a concepção que recomenda a instrumentação do canal cementário não existiam porque engessaram a Endodontia em ideias e conceitos que eram compatíveis com o conhecimento da época, mas que hoje se mostram fracas como evidências?

Como pode ser evidência científica uma ‘evidência’ (a redundância é intencional) que nega a necessidade de tratamento de um órgão infectado?

Em que área da Medicina isso seria possível?

E por que é na Endodontia?

Deixar intencionalmente material cariogênico infectado permanentemente no corpo é único na prática da Medicina e da Odontologia.
Hasselgren, G  In: Ørstavik, D e Pitt Ford, TR. Fundamentos da Endodontia  2004

Deixar intencionalmente material cariogênico infectado permanentemente no corpo é único na prática da Medicina e da Odontologia.

A sutil modificação da frase de Hasselgren acima não seria uma representação do que ocorre quando não se instrumenta o canal (cementário) infectado?

Quando será que os endodontistas vão perceber que a Endodontia não pode ser uma ilha isolada nas ciências da Saúde?

Quando irão perceber que algumas vezes a Endododontia bate de frente com conceitos clássicos, consagrados pela ciência e importantes da fisiologia humana?

Quando irão perceber que as “evidências” iniciais estão na imaginação de autores que não se deixaram contaminar pela conveniência das evidências dos pensamentos e procedimentos consagrados pelo tempo e ousam avançar e ir além, muito além do jardim?

O que é mais importante?

  • A imaginação, a percepção, o ver o que não se viu, a ideia e o consequente surgimento de uma eventual nova concepção
  • Publicações repetidas sobre determinados assuntos

E o que é que mais se vê hoje em dia?

Entende-se a necessidade de se estabelecer alguns critérios que “reconheçam” o valor do artigo e estimulem os pesquisadores, mas são notórias as distorções.

Urubus e sabiás

Por Rubem Alves

Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam… Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás… Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.

– Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente…

– Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás…

MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.

Assim, vejo a “necessidade” da instrumentação do canal cementário como um conceito a ser compreendido, como ocorre com a instrumentação do canal dentinário.

A razão de ambas, instrumentação do canal cementário e instrumentação do canal dentinário, é uma só: controle de infecção.

Talvez agora fique mais claro mostrar porque algumas evidências, como muitas vezes se imagina e se diz, não são evidências.

Como a que existiria, por exemplo, a partir de artigos como “Success of maintaining apical patency in teeth with periapical lesion: a randomized clinical study“, sobre o qual estamos tratando desde a primeira parte deste texto, Paradigmas da Endodontia.

Por tudo isso que foi dito aqui é que escrevemos o artigo abaixo, que está sendo publicado agora em dezembro de 2019.

Como já comentei anteriormente, publico-o junto com Julian Webber, endodontista inglês que fez parte da criação e desenvolvimento de alguns instrumentos endodônticos que são utilizados nos dias de hoje, como o Wave One Gold, instrumento reciprocante da Dentsply.

Deixo aqui o link para você ler o artigo na íntegra aqui no nosso site.

Cemental canal instrumentation: a new concept – http://localhost/wp/endo2/publicacoes/

Continuaremos a conversa no próximo texto, abordando outro tema com nova visão dentro desse mesmo contexto.

Paradigmas da Endodontia

Por Ronaldo Souza

Como nasce um paradigma

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o enchiam de pancada. Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas. Então os cientistas substituíram um dos macacos.

A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada. Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:

“Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…”

Se determinadas profissões ou especialidades perdem a capacidade de refletir, de discernir e, pior, de discutir os problemas inerentes a elas, tornam os seus membros vítimas da massificação do pensamento e do comportamento.

Isso ocorre geralmente no sentido de manter o que está estabelecido.

Para isso, criam-se argumentos que nada mais são do que maneiras de preservar o “status quo”.

Criam-se então coisas como a “incontestável” necessidade de evidências.

Sem o suporte delas, qualquer ideia nova tenderá a ser reprovada pelos doutos daquela especialidade.

Qualquer ideia nova que venha a alterar o estado atual ou, status quo.

Quem ousa enfrentar e contestar a necessidade de evidências?

Entende o porquê da “incontestável” necessidade de evidências?

É triste ver o mundo acadêmico se perder com alguma frequência no emaranhado da “necessidade” das evidências.

…com frequência, se processa uma separação definitiva entre o falado e o vivido, e a ciência se torna um jogo de conceitos… Malabarismo verbal, virtuosismo conceitual.
Rubem Alves

Como conceber uma ideia, uma nova concepção, algo que acabou de nascer, apoiada em evidências?

É aí que se perde o direito à imaginação.

Diante disso, a derrubada de paradigmas se torna impossível, ou pelo menos bem mais difícil.

Diante de qualquer possibilidade de se mudar o que está consagrado pelos anos de prática, o que fazem os professores que se tornaram especialistas, mestres e doutores em formar correntes do não pensar?

Apelam para as evidências.

Na verdade, escondem-se atrás delas.

Evidências às quais recorrem mas que, quando conveniente, eles próprios apontam para a inconsistência ou até mesmo inexistência delas em muitas situações.

Ou você nunca observou as entrelinhas das conclusões de alguns artigos e viu o que pode estar contido na “necessidade de mais pesquisas clínicas bem delineadas, bem conduzidas, estudos clínicos randomizados, que forneçam suporte adequado que permitam esclarecer melhor…”?

Li no sábado o artigo acima, recém publicado.

Veja a conclusão do resumo:

“Dentro das limitações do presente estudo, a manutenção da patência apical não afetou os resultados do tratamento endodôntico”.

Este é um estudo clínico randomizado, reconhecido na escala de importância dos estudos.

Um periódico importante.

Dirão então que aí está uma evidência forte.

Como evidência forte, é uma daquelas “que fornecem suporte adequado que permitem esclarecer melhor…”.

E esclarece, dizendo que a patência apical não melhora os resultados.

Como iremos vê-la?

– Como não há evidências que justifiquem a realização da patência apical, para que faze-la? –

Assim ela será mostrada nos eventos de Endodontia.

Se lá chegar.

Hoje não falta quem fale daquele instrumento, daquele sistema de instrumentação, daquele sistema de obturação, dos novos cimentos obturadores…

Quem fala de Endodontia?

Qual evento você conhece que promove a discussão dos temas pertinentes à Endodontia?

Não parecem um desfile de palestras, quase todas falando dos “mais recentes e avançados instrumentos e sistemas de…”?

Do auditório para o stand.

Nunca foi tão curto esse caminho.

Como seria interessante se alguns professores falassem um pouco sobre Endodontia.

Assim, muitos entenderiam o que é Endodontia e aí, quem sabe, até melhoraria a qualidade do ensino no Instagram.

Muitos perceberiam, por exemplo, por que a evidência forte aí em cima não tem força.

Por uma razão bem simples.

O trabalho partiu de uma premissa equivocada.

Veja o que dizem os autores já na primeira página:

“Define-se patência apical como uma técnica que permite a eliminação de debris na porção apical do canal pela recapitulação com uma lima fina através do forame apical. A lima de patência deve ser de pequeno calibre e flexível usada com movimentos passivos através do término do canal sem estar ajustada ou ampliando a constrição apical.

Por favor, volte e leia lá em cima o objetivo do trabalho.

Se desconsiderarmos a análise da dor pós-operatória, como estou fazendo, lá diz que “o objetivo foi avaliar o efeito da patência apical no reparo periapical”.

Quando prepara um canal com lesão periapical, você usauma lima fina…  de pequeno calibre e flexível usada com movimentos passivos…  sem estar ajustada ou ampliando“?

Claro que não.

Você usa limas ajustadas da melhor maneira possível às paredes do canal para que possam, por ação mecânica efetiva de desgaste e consequente ampliação, entre outras coisas remover o seu conteúdo.

Como podem autores e professores, sejam eles quem forem, pretender observar “o efeito da patência apical no reparo” de lesões periapicais com limas finas, de pequeno calibre, folgadas no canal, usadas com movimentos passivos, sem ação de desgaste e, portanto, de ampliação???

O trabalho está errado porque o conceito de patência, que há muitos anos chamo de foraminal e não apical, não é bem entendido e como consequência é mal interpretado.

No entanto, por preencherem alguns “requisitos”, como o fator de impacto do periódico em que são publicados, muitos artigos ganham o certificado de evidência.

E “derrubam” aquela nova forma de pensar porque ela evidencia os equívocos das evidências (a redundância é intencional) do que está consagrado.

Apesar de já falar sobre esse tema há muitos anos, foi somente em 2006 que publiquei o artigo acima (se desejar lê-lo, clique aqui www.scielo.br/pdf/bdj/v17n1/v17n01a02.pdf).

Nele explico a diferença entre patência apical e limpeza do forame (como eram conhecidos) e que o objetivo da patência apical (foraminal) é basicamente mecânico e não biológico.

Obs: Conheci a história de “Como nasce um paradigma” há alguns anos através de um grande amigo, o Prof. Pécora.

Obs 2: Continuaremos esse tema no próximo texto.

Cemental canal instrumentation: a new concept

Ampliação foraminal, quem faz?

Por Ronaldo Souza

Em setembro de 2018 postei aqui no site alguns artigos sobre a questão do coto pulpar na ampliação foraminal.

O primeiro deles foi O que fazer com o coto pulpar?

Na sequência vieram O que fazer com o coto pulpar? Parte 2 O que fazer com o coto pulpar? Parte 3 e O que fazer com o coto pulpar? Final

É claro que em outros momentos o tema ampliação foraminal foi abordado, mas esses textos foram direcionados para determinada situação, no caso o coto pulpar.

Ampliação foraminal é um equívoco, principalmente como é “ensinada” por alguns ministradores de cursos e/ou Dador de curso.

Porque considerar ampliação foraminal um equívoco pode ser visto em alguns vídeos do meu canal no YouTube, o Falando de Endodontia (clique e vá direto ao canal).

No Falando de Endodontia você verá vídeos sobre temas pertinentes à Endodontia e alguns especificamente sobre a grande diferença que existe entre ampliação foraminal e instrumentação do canal cementário.

A diferença de conceito que existe entre ambos também é o tema do artigo cuja “capa” está exibida aí em cima.

Publico-o junto com Julian Webber, endodontista inglês que fez parte do desenvolvimento de alguns instrumentos endodônticos que são utilizados nos dias de hoje, como o Wave One Gold, instrumento reciprocante da Dentsply.

Ele foi editor do Endodontic Practice por 21 anos, mas deixou de ser em 2018, quando me disse que pretendia passar mais tempo com a família.

Tínhamos em mente escrever juntos alguns artigos sobre determinados temas em Endodontia. Não sei se teremos condições de fazer isso. Muitas coisas interferem em projetos assim, vamos ver.

O artigo será publicado agora em dezembro, mas já tenho o PDF dele e em breve postarei aqui.

Relationship between the apical limit of root canal filling and repair

Relationship between the apical limit of root canal filling and repair

Por Ronaldo Souza

Aqui no site temos vários textos falando sobre obturação do canal. Um deles foi dividido em cinco partes.

Clicando nos links, você terá acesso a cada um dos textos: 1ª parte, 2ª parte, 3ª parte, 4ª parte, 5ª parte.

Eles falam de obturação de maneira bastante informal, como sempre fazemos aqui, mas além disso também explicam porque o artigo acima foi publicado no Endodontic Practice.

Ocorre que quando postei o artigo aqui no site era uma versão de quando estava sendo editado pelo periódico e por isso fiquei de muda-lo depois, o que terminou não acontecendo.

Agora, ainda no mês de dezembro, será publicado outro artigo, mas já recebi o PDF dele (sobre o qual falarei muito em breve).

Lembrei-me então de fazer a referida mudança, o que fez apagar a quantidade de downloads que já tinha sido feita.

O que está postado agora é o mesmo que consta no periódico. 

Clique no título para ler Relationship between the apical limit of root canal filling and repair.

Quando você clicar, ele é logo o primeiro artigo.

Professor Figueiredo

FINK4987

Por Ronaldo Souza

Um colega costumava dizer que a Endodontia é uma especialidade que deixa você super alegre pela manhã e joga pra baixo à tarde.

Trocando em miúdos, você faz um caso maravilhoso e depois o outro sai “feio”.

Hoje, parece que não é mais assim.

Explico.

Como negar que hoje todos os casos parecem sair bonitos, bem tratados?

Ah, como nos tem ajudado a tecnologia, não é verdade?

Como tem ficado mais fácil preparar e obturar, por exemplo, canais curvos.

Como já foi uma tarefa muitas vezes árdua “faze-los” com a qualidade técnica com que fazemos hoje, não é mesmo?

Que me respondam principalmente os que já têm alguns anos a mais de formados.

E o tempo gasto para isso?

Mínimo!

Divulgam-se palestras e cursos (também os de especialização e atualização) que anunciam e ensinam a “fazer molar” em 40 minutos.

Já diminuiu?

“Que m****, hein, sabia não!”, como diria Marinho, o jogador de futebol;

O tempo se tornou um fiel aliado, um amigo.

Fazemos bem e rápido.

Tornou-se bem mais fácil encher os auditórios dos eventos, cada vez mais cheios de endodontistas ávidos por tecnologia.

A tecnologia redentora.

Quem não quer o instrumento que faz ter o domínio da anatomia?

Quem não quer o cimento obturador que promove a cura?

Abreviou-se o tempo entre as salas e auditórios e os stands.

Há pontes e atalhos que levam mais rápido e direto de um para o outro.

O professor

Esteve entre nós nesta semana que termina hoje, o professor José Antônio Poli de Figueiredo.

O professor Figueiredo.

Como sempre, encantador como figura humana.

Veio dar aulas durante dois dias no Curso de Especialização em Endodontia da ABO Bahia, algo que faz desde a primeira turma, em 2000.

Excepcionais!

É como posso definir as aulas.

Como professor de Endodontia e Histologia e endodontista de muita qualidade, mostrou a Endodontia que explica porque o tratamento endodôntico dá certo.

Ao fazer isso, fica mais fácil para o aluno entender porque muitas vezes o tratamento falha.

Ao longo desse tempo, tem mostrado como poucos as virtudes e limitações da instrumentação, seja ela manual ou mecanizada, as características e como agem as soluções irrigadoras, os sistemas de obturação, enfim, o que é e como fazer um tratamento endodôntico de qualidade.

Voltou para Porto Alegre e eu, no dia seguinte, para a turma.

Conversei com os alunos.

Estavam encantados.

Conhecimento, seriedade e simplicidade juntos como poucas vezes se vê.

Foi como me passaram a impressão deixada por Figueiredo.

Veio-me à mente uma questão que me inquieta há bastante tempo; por que não vemos muitos professores Figueiredos viajando pelo Brasil mostrando essa Endodontia?

Por que eles não cortam os ares do país como convidados para os eventos de Endodontia?

Será porque eles falam de Endodontia e não de…?

Obs. Na foto lá em cima não estão três alunos; Isabele Calheira, Sandra Oliveira e Tahynanda Rios.
Da esquerda para a direita: Manuela Lobo, Mateus Passos de Souza, Marcos Cook, Katharina Maia, Prof. Figueiredo, Laís Sampaio, Viviane Borges, Taline Bianque, Rodolfo Barros, Thais Ribeiro e Humberto Dias Filho.

A essência do ser professor

Professor

Por Ronaldo Souza

Sempre que ouço falar em sucesso, de alguma forma ele está atrelado ou é atribuído a materiais ou instrumentos.

Para usar como exemplo, o grande objetivo do tratamento de um dente com rizogênese incompleta deve ser permitir que ele complete a sua rizogênese.

O conhecimento e prática da Endodontia no tratamento de casos de rizogênese incompleta com polpa viva pedem que procedimentos que visem a preservação do tecido pulpar na sua plenitude ou o mais próximo possível disso sejam os escolhidos. 

Oferecer as condições mais favoráveis para que a polpa desempenhe o seu papel, no caso específico, formação de dentina radicular, é o grande papel do profissional da Odontologia, particularmente do endodontista.

Nos casos de rizogênese incompleta com polpa necrosada, a apicogênese não mais será possível.

O objetivo do tratamento deverá ser então o controle de infecção para que se dê a apicificação (fechamento apical), impossibilitada de ocorrer pela paralisação da rizogênese.

Dessa vez, isso se dará às expensas dos tecidos periodontais.

É da maior importância que o aluno de Odontologia aprenda que em uma ou na outra situação, tratamento da rizogênese incompleta com polpa viva ou polpa necrosada, cabe aos próprios tecidos do organismo desempenhar esses papeis.

Será da polpa o grande papel de permitir a continuação da rizogênese.

Nenhum material fará isso por ela.

Da mesma maneira, cabe aos tecidos periodontais promover o processo de reparo da patologia periapical.

Nenhum material fará isso por eles ou, pior ainda, melhor do que eles.

Tecidos do corpo humano são formados por células do corpo humano.

E em nenhum momento essas células deixam de existir e desempenhar seu papel; elas são continuamente formadas e não param de trabalhar.

Mas ainda que sejam continuamente formadas, elas podem ser “impedidas” de cumprir os seus papéis pelo trinômio -morte celular, necrose tecidual, infecção.

Cabe ao bom endodontista, ao remover o conteúdo necrótico através de um bom preparo do canal, exercer o controle de infecção

Tendo recuperado as melhores condições para que as suas células continuem formando os tecidos, será o organismo do paciente o grande responsável pela resolução da patologia instalada.   

Alguém poderá dizer que é assim que se ensina.

Não é.

De forma velada ou não, mecanismos de indução são acionados nesses momentos.

Não será, por exemplo, o MTA, ou qualquer outro material, o responsável pela formação de tecidos do corpo humano.

Não será, portanto, o MTA, ou qualquer outro material, o responsável pela formação do tecido que irá entrar em processo de mineralização e na sequência dos acontecimentos promover o fechamento apical.

Da mesma maneira, não será o cimento obturador, seja ele qual for, o responsável pelo reparo nos tratamentos endodônticos.

Não será.

A nenhum material cabe esse papel.

Determinados materiais podem, isso sim, contribuir, mas, deles, não depende esse processo.

Professores que viajam de um canto ao outro desse país deveriam ter mais cuidados.

Sair por aí, por esse Brasil afora fazendo a apologia de materiais e instrumentos não é conduta recomendável ao professor.

Afinal, eles são professores.

Por mais sedutor que seja o mundo que pode se descortinar à sua frente, o ser professor o torna diferente.

Referência, sem dúvida.

Mas é justamente o tornar-se referência que o deixa muito exposto, ainda que não o perceba.

Invertendo a ordem do que se costuma dizer, não há bônus sem ônus.

A apologia de materiais, sejam eles quais forem, não deveria ser a matéria prima do professor.

É o conhecimento técnico/científico que gera a boa informação.

Mas é o objetivo de vida de cada professor e de cada professora que gera a verdadeira formação.

Os nossos alunos são o que de melhor podemos oferecer à sociedade para a qual trabalhamos, nessa nobre missão de ser professor.

Sociedade que caminha para o aprendizado da observação mais astuta, como resposta às tantas vezes em que é enganada.

Não podemos perder isso de vista.

Se não tiverem alguns cuidados, professores, não demorará muito e serão identificados como mercadores.

E isso não será bom.

O que estamos fazendo?

Ampliação foraminal 2

Por Ronaldo Souza

Às vezes tenho a nítida impressão de que estamos cedendo demais e é daí, pelo menos assim vejo, que vem a perda de qualidade de muito do que estamos fazendo.

Fala-se muito hoje de uma geração que…

Fala-se muito, mas, paradoxalmente, de forma velada.

A verdade é que isso mostra outra faceta desse processo; estamos todos com medo.

Medo de desagradar ao amigo, ao colega, ao professor, ao aluno…

As instituições estão com medo, inclusive as de ensino.

O medo ronda e reina.

Há um que se impõe a olhos vistos; desagradar às novas gerações.

Todos dizem baixinho, sussurrando, para que ninguém ouça, que a geração atual não lê. O seu descomprometimento, impaciência, dispersão, tudo é falado.

Não para eles.

Medo.

Calamos.

Ninguém mais quer ler, ouvir, saber.

Mas tudo agora é sermão.

Traga técnica, não riqueza de conhecimento, para a aula.

E aí percebeu-se que vídeos eram a ferramenta adequada.

Práticos, confortáveis, não exigem esforço.

Daí essa grande enxurrada existente hoje.

ATENÇÃO!!!

Não podem ser longos.

Exigem esforço.

Tornam-se cansativos.

Dão hoje ao professor 20 minutos para falar nos eventos!!!

O que dizer em 20 minutos?

O que fazem eles?

Aceitam.

“Navegar é preciso, viver não é preciso”.

A vitrine é necessária, o ensino não.

O fragmento, não o contexto.

A informação incompleta e medíocre, não o pleno.

Ah, quase esqueço.

Tudo isso me veio, numa rapidíssima viagem com origem na mente, no momento em que sentei para dizer “duas ou três palavras” sobre o vídeo que tinha acabado de postar no YouTube (está aí embaixo).

“Duas ou três palavras”, rapidinho, para falar de um vídeo que tem muito mais que “duas ou três palavras”.

Sei que todos dizem que vídeos longos são contraindicados para a Internet, perdem o poder de sedução.

Praticidade, rapidez, pragmatismo, come rápido, vamos embora.

Sem que eu percebesse, quando me dei conta estava escrevendo “coisas” que estavam em algum canto da mente há algum tempo.

Desejo contido?

Medo?

Talvez.

Mas não costumo ter medo de satisfazer aos meus desejos.

Talvez um defeito da minha geração.

Que sempre lutou por seus sentimentos e pela liberdade de pensamento e expressão.

Um dia (especial) com a Endodontia

Por Ronaldo Souza

Um dia que virou uma tarde que não coube em uma tarde.

Foi assim.

Inicialmente foi previsto que teríamos “Um dia com a Endodontia”.

Entretanto, por questões já explicadas, o “Um dia com a Endodontia” virou “Uma tarde com a Endodontia”.

Mas aquela tarde já se anunciava grande, plena.

Haveria o curso com o professor Estrela, a inauguração do Laboratório de Microscopia, um coquetel… e, pairando sobre tudo isso, o entusiasmo, a motivação, a perspectiva.

A perspectiva de um novo momento muitas vezes sai do controle das definições e se transforma em sentimento e nem sempre sentimentos podem ser definidos, categorizados.

Quando o coração faz a festa tudo pode se tornar um pouco mais difícil.

Os riscos são maiores.

Caso ocorra, maior será o fracasso.

Mas quando as coisas funcionam bem, a alegria será incontida.

Nós e a ABO'''

Não sei se deu para ler o entusiasmo que estava escrito no corpo dos que estavam “por trás” daqueles momentos.

Os gestos do corpo, o rosto, a fala e o sorriso se escancararam e tomaram conta de tudo.

Falhas?

Certamente ocorreram.

Mas não para aquelas pessoas.

Os pequenos imprevistos não encontraram espaço para interferir na força daquela tarde.

Tão plena que não cabia nela própria.

Tinha havido a manhã.

Turma da Especialização'''

Manhã em que o professor Estrela se deu à turma do Curso de Especialização em Endodontia (e alguns convidados) da ABO Bahia

Ali, concentrados, somente eles, mais ninguém.

Entre eles, conhecimento, envolvimento, doação, comprometimento e conquistas foram, não palavras, sentimentos.

Manhã plena.

Só assim, manhã e tarde que se complementaram, poderia haver espaço adequado para caber a Endodontia.

A Endodontia que desconhece desvios e atalhos, que segue sempre pela estrada principal.

A Endodontia que não se perde em desvios que abandonam a estrada principal e a ela insistem em não querer voltar.

Foi essa Endodontia sobre a qual se conversou.

Foi ela que fez um dia virar uma tarde que não coube em si.

Foi sim, um dia especial com a Endodontia.

E para ela.