Duelo de Titãs

Por Ronaldo Souza

Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill, 1959).

Um belo filme de John Sturges, com Kirk Douglas e Anthony Quinn (o ator de chapéu é Kirk Douglas, pai do também ator Michael Douglas).

Assisti ainda garoto, não lembro com quantos anos.

Há pouco tempo voltei a assistir no TeleCine.

Numa das encruzilhadas da vida, Kirk Douglas descobre que o filho de Anthony Quinn, um velho amigo que se tornara muito rico e dono de uma cidade, matara sua mulher e ele resolve, como delegado da cidade vizinha, ir busca-lo para ser julgado.

Assim se desenvolve o filme, um dos clássicos do western americano.

Um confronto entre dois homens, um dos quais desesperado para proteger o filho, mesmo sabendo que este cometera um crime pelo qual tinha que pagar.

A vida imita a arte.

A arte imita a vida.

Um velho dilema.

O Brasil presencia um duelo nesse momento.

O presidente da república briga em público com o seu agora ex-ministro da justiça.

Se naquele duelo de titãs eram dois homens, amigos que naquele momento estavam em lados opostos pelas circunstâncias da vida, nesse, não.

Ao invés de chama-los de homens, prefiro chama-los de figuras públicas, pois isso são.

As suas armas são outras que não aquelas do filme.

Ao invés de balas, tão ao gosto de ambos, a cada tiro sai a podridão de cada um, tiros que atingem os dois ao mesmo tempo.

Tiros que já mataram os dois.

Mortos, continuam excrementando o país via jornais e microfones e câmeras de televisões que, venais que são, protegem ou um ou outro.

Moro não saiu.

Moro caiu.

Já tinha caído enquanto estava no governo, de tantas vezes que foi humilhado por Bolsonaro.

Permanecia no cargo, pois já não era mais nada e precisava daquele emprego porque alimentava dois sonhos já bastante conhecidos; ser indicado por Bolsonaro para o STF ou, sonho dos sonhos, ser presidente.

Por conta disso cometeu todos os pecados que um ministro da justiça pode cometer, como esconder e proteger Queiroz, milicianos, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni…, seria bobagem elencar todos.

Ao mesmo tempo, ao invés de fazer arminhas como o presidente e os demais debiloides, usava outras armas.

Diante da fragilidade e declínio flagrante do mico, começou a querer se soltar.

Incomodado há muito tempo, Bolsonaro foi pra cima dele, inclusive com a propalada demissão.

Com um pé na porta, Moro ameaçou se demitir, mas manteve a porta entreaberta aguardando uma sinalização de Bolsonaro. O ministério da justiça passou aquele dia dizendo que não confirmava a notícia do seu pedido de demissão.

Foi Bolsonaro que, mais uma vez e agora em definitivo, chutou o pau da barraca, a barraca, Moro, o bom senso… e tudo mais que apareceu à sua frente.

Moro é um dedo duro asqueroso, alcaguete ordinário, sem caráter.

Numa briga pessoal por poder com Bolsonaro, vazou conversas particulares com a deputada Carla Zambelli para o Jornal Nacional (que novidade!).

Por pior que seja o caráter da deputada, e isso parece ser consensual, a conversa era privada entre ela e Moro.

Mesmo sendo ele, sem caráter e já viciado em vazamentos seletivos, não podia violentar a privacidade de uma conversa com quem quer que seja, ainda mais que se tratava de, segundo ele próprio, “uma guerreira…, que mereceria uma medalha”, de quem ele é padrinho de casamento.

https://www.youtube.com/watch?v=NJwZmWe0JgU

Um ser asqueroso.

Usa as pessoas para dedurar (ele prefere delatar) outras, nesse caso a sua própria afilhada, de um casamento que ocorreu há simplesmente dois meses.

Moro marca a sua volta aos braços da Globo (na verdade, nunca saiu) com uma delação premiada.

Delação; entregar Bolsonaro, agora abertamente, de bandeja à Globo.

Prêmio; sua blindagem e início da campanha rumo à presidência da republica.

Por sua vez, a Globo deixa de ser comunista e volta a ser a menina dos olhos de parte da reserva selvagem de Bolsonaro, a que agora irá com Moro.

Quem ainda tinha dificuldades em entender o que é ser comunista, agora ficou fácil; comunista é todo aquele que não está com Bolsonaro.

Moro, portanto, não pode reclamar por ser taxado de comunista.

Você conhece o clássico de Alexandre Dumas, os Três Mosqueteiros (que na verdade eram quatro)?

Essa definição de comunista também já virou um clássico, só que do folclore brasileiro.

E ela é fruto da imaginação (meu Deus!) dos três mosquiteiros!

Que na verdade, também são quatro.

Registre-se que no caso aqui, mosquiteiros são aqueles que andam com insetos.

Moro nunca deixou de estar nos braços da Globo. Era, na verdade, um agente duplo, o que mais incomodava a Bolsonaro.

Fonte certa de vazamento.

Moro é a personificação da traição.

Nesse cenário de excrementos voando de um lado a outro, a Globo, particularmente o Jornal Nacional, reconstruirá Moro diariamente.

Entre as tantas coisas que mostrei dele aqui ao longo dos últimos anos, eu disse que ele estava no governo, mas era todo o tempo um traidor e que Bolsonaro sabia que estava “dormindo com o inimigo”.

A Globo agora vai tentar reergue-lo a qualquer preço, pois será o candidato dela. Se isso se sustentar, adeus Luciano Huck, Dória, Witzel.

O gado?

Agora dividido em dois rebanhos, seguirá sendo conduzido para onde o levarem.

Já foram todos Aécio.

Já foram todos Cunha.

Já foram todos Temer.

Já foram todos Bolsonaro.

Agora serão todos… é melhor esperar o que a Globo vai dizer.

Kennedy Alencar:

“Moro é a figura mais perigosa para a democracia”.

“Com mais diálogos, fotografia de Moro piora. Ele queria o monopólio do uso político da PF. Exerceu esse poder pra proteger Bolsonaro e minimizar Vaza Jato. Não é o santo que pintam de modo irresponsável. Só abriu a boca pq perderia mais poder. Não prevaricou, não?

Luis Nassif:

“Em sua declaração, de ontem, Sérgio Moro disse que a única exigência a Bolsonaro, para aceitar o Ministério da Justiça, seria uma garantia de pensão para sua família, caso alguma coisa acontecesse com ele, já que abriu mão de sua carreira de juiz.

Não bate. Ele tem formação de advogado, a esposa é sócia de escritórios de advocacia. A alegação de que seria para amparar a família cabe em qualquer proposta de suborno. Basta o sujeito alegar que fez aquilo para garantir a família. O que houve, de fato, é que Moro vendeu seu passe de avalista do governo Bolsonaro. Quanto foi? Quem pagou?”,

Moro, uma farsa viva.

George Orwell termina assim o seu famoso livro, “A Revolução dos Bichos”:

Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.

Ignorância exuberante

Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela
arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma…
Clarice Lispector

Por Ronaldo Souza

Na década de 1990 li um pequeno texto e lá estava uma expressão que eu via pela primeira vez; “ignorância ativa”.

Nunca mais a esqueci.

Muitos anos depois, vi em uma entrevista Oscar Niemeyer falar de “mediocridade ativa”.

Mais adiante, um filme.

“Revelações”, o excelente filme de Robert Bentom, com roteiro de Nicholas Meyer, estrelado por Anthony Hopkins, Nicole Kidman, Ed Harris, Gary Sinise…

Lançado em 2004, como diz o título original, “The Human Stain”, o filme aborda uma das maiores manchas, quem sabe a maior, da raça humana; o racismo.

Mas há um momento, uma das cenas finais, em que a personagem mãe de Anthony Hopkins diz uma frase lapidar: “as pessoas estão ficando cada vez mais burras e cheias de opinião”.

Essa frase não está solta no filme, pelo contrário.

O roteirista Nicholas Meyer sabia o que estava fazendo.

Ele põe em destaque a preocupação com a burrice das pessoas no roteiro de um filme que tem como tema o racismo.

Há muitos anos entendo que o preconceito é o grande guarda chuva dos males do mundo, particularmente no Brasil.

O racismo é apenas uma das pontas.

E, queiramos ou não, entendamos ou não, aceitemos ou não, a ignorância é a razão de tudo.

O conhecimento seduz, encanta, apaixona.

O conhecimento eleva.

Sempre o vi se impor.

Apesar das incompreensões que se manifestam com frequência sobre o tema, falo de conhecimento e cultura, mas também de inteligência e sensibilidade.

Conhecimento se adquire e certamente é o caminho para se evitar escolhas que não permitem ao homem que ele se desenvolva e evolua.

Mas inteligência e sensibilidade farão com que ele vá mais longe.

E inteligência e sensibilidade não se adquirem.

Inteligência, sensibilidade e conhecimento trazem beleza à vida.

Há tempos, porém, que a vida desanda.

Parece haver uma ciclicidade em que desarranjos e desencontros dominam a cena.

De tempos em tempos alguém abre a porta de algum lugar maldito onde hiberna a ignorância.

Latente, ela desperta e exibe toda sua exuberância.

“A inteligência humana tem limites, a estupidez não”.
Nietszche

A história registra vários casos desse tipo, em que tudo é puro reflexo de distúrbios afetivo-emocionais graves e que por um desses momentos cíclicos de desencontros da vida, vem a calhar com uma conjuntura de grande fragilidade psicológica e consequente vulnerabilidade.

Surge então o messias, o salvador, ele próprio muitas vezes alguém que se perdeu no vazio da sua existência medíocre e cheia de frustrações pessoais.

No seu desequilíbrio, arrasta multidões de carentes e desesperados que, sem a devida estrutura psicológica, também estão perdidos no imenso vazio das frustrações pessoais e das insatisfações reprimidas, inclusive sexuais.

Pela ignorância, tornam-se presa fácil.

Advém muitas vezes o fanatismo, que não escolhe segmento social.

Isso explica porque entre os fanáticos, entre os fundamentalistas, encontram-se diversos membros que tiveram acesso à informação e por isso deveriam ser imunes, como doutores e professores.

Em momentos assim, a sedução conhece outras maneiras de ser.

Há exemplos em toda a história universal.

O maior deles, Hitler.

Dispensa comentários.

Num exemplo menor, Jim Jones, pastor e fundador americano do Templo Popular, uma seita pentecostal cristã, que chocou o mundo ao levar  918 pessoas a cometerem suicídio, o maior suicídio coletivo de que se tem conhecimento.

É quando o homem se encontra com o que há de mais primitivo e a vida se torna uma encruzilhada.

Não há respostas, só incertezas e frustrações, que se manifestam de diversas maneiras.

Sim, há exuberância na ignorância.

São os novos tempos.

Estamos vivendo um desses tempos.

É aí que a inteligência e a sensibilidade fazem a diferença.

Mas inteligência e sensibilidade apresentam uma dificuldade difícil de se contornar.

Não são encontradas em vitrines.

São gestos simples que nos fazem vivos e fortes.

Dar as mãos tem uma força enorme nessas horas.

Moro, um anão no jardim de Bolsonaro

“O que teria rebaixado Moro à terceira divisão da política nacional? Moro preferiu isolar-se
no servilismo dos omissos, que, sem opinião própria, não debatem e muito menos
discordam – mesmo diante de aberrações legais e éticas”

Por Ricardo Bruno, jornalista

O ministro Sérgio Moro sucumbiu ao vírus. Não que esteja acometido pela Covid-19. O seu mal não é exatamente patológico, embora guarde semelhanças com enfermidades habituais da vida política brasileira. Na verdade, o ex-juiz foi acometido por uma espécie comum de afecção moral que contamina grupos encastelados no poder: a sabujice virótica que se alastra como praga nos altos escalões, aviltando caráteres e personalidades. Agarrado ao cargo, o ex-juiz se entregou exclusivamente à adulação ostensiva ao chefe, o que o fez menor, irrelevante e, talvez, descartável.

Antes pomposo e falastrão em nome do suposto propósito de redimir o país de todos os males, hoje Moro pouco se manifesta; tornou-se uma autoridade opaca, sem brilho, uma estrela de segunda grandeza, perdida na constelação de egos esdrúxulos que povoam o ministério bolsonarista.

Nem mesmo a crise por que passa o país, com discussão de competências entre o governo federal, estados e municípios, o anima a tentar dirimir conflitos com a autoridade que o cargo lhe confere. Imerso num espantoso silêncio, perde relevância ou, para usar as palavras de Gilmar Mendes, comporta-se como o piloto que fugiu da cabine de controle.

Nos últimos meses, fez apenas menção crítica à possibilidade de presos serem soltos por conta do coronavírus. Reafirmar valores policialescos parece sua exclusiva preocupação. Mostrar-se à nação como um xerife brabo tem sido seu único propósito, como se o Ministério da Justiça abarcasse apenas as competências de uma delegacia distrital. “Nós estamos na Champion League, mas ele parece preocupado coma terceira divisão”, define com ironia e precisão o ministro Gilmar Mendes.

O que teria rebaixado Moro à terceira divisão da política nacional? As denúncias do Intercept que desnudaram a criminosa parcialidade de seus atos na Lava Jato; as desconfianças recorrentes de Bolsonaro em relação a sua lealdade? Ou receio de despertar no chefe a ira insana que fulmina a todos que – como Mandetta – fogem ao figurino terraplanista ditado pelo bruxo Olavo de Carvalho?

Entre seguir com o mínimo de coerência e altivez ou capitular diante do obscurantismo doentio tal qual Damares e Weintraub, Moro preferiu isolar-se no servilismo dos omissos, que, sem opinião própria, não debatem e muito menos discordam – mesmo diante de aberrações legais e éticas. Vez por outra, aplaudem, apenas para reafirmar a submissão pública ao chefe.  E quem sabe, mais à frente, ser retribuído com a sonhada indicação ao Supremo.  

Para o Brasil, a saída Moro da Lava Jato fez bem. Livrou-nos de um juiz exibicionista e parcial. Para Moro, a ida para o Ministério da Justiça fez mal. Ele que em Curitiba se imaginava gigante, em Brasília tornou-se anão. Um anão decorativo no jardim de tipos excêntricos que dão vida ao bolsonarismo raiz.

Respeitem a loucura

A elite brasileira encontrou um interlocutor para legitimar suas violências de classe, para sofismar a liberdade de expressão como um recurso legítimo para perpetuar seus mandos históricos e amordaçar vozes que começavam a se emancipar.  E esse interlocutor não é um louco. Respeitem a loucura!

Por Cynthia Ciarallo

Não a ofendam.

Não justifiquem nem reifiquem manicômios por atos vis de um tirano.

Não, ele não é um louco.

Ele não representa a desrazão.

Ao contrário, ele representa uma racionalidade que por pouco tempo, com algum pudor, ocultava-se nas cordialidades cotidianas e, hoje, sente-se livre, sem qualquer controle institucional e/ou moral que interrompa o avanço do seu desprezo à humanidade para além de si e dos seus.

Não, não invoquem a loucura para ocultar a racionalidade forjada em uma sociedade violentamente capitalista, individualista, racista, machista, heteronormativa, de classes, autoritária.

A loucura não pode ser mais uma vez violentada para ser usada como álibi para proteger decisões operadas, na verdade, pela racionalidade da destruição, do extermínio da diferença entre nós para sustentar privilégios.

A elite brasileira encontrou um interlocutor para legitimar suas violências de classe, para sofismar a liberdade de expressão como um recurso legítimo para perpetuar seus mandos históricos e amordaçar vozes que começavam a se emancipar.  E esse interlocutor não é um louco. Respeitem a loucura!

Despatologizemos a ausência de reverência a alteridade. Até porque a loucura – enquanto subversão dessa racionalidade historicamente hegemônica – seria amar, solidarizar-se, reconhecer a diversidade de existências e respeitá-la, sacralizar a mãe-terra e seus guardiães, dividir o pão em uma sociedade que faz do mérito a justificativa  para a manutenção da desigualdade.

Patologizar os princípios que ancoram o capital é seguir colonizando o imaginário com a falácia de que o desrespeito à alteridade não seria humano. Infelizmente, é humano desumanizar.

Se há um protagonista, há uma trama que o mantém e um público cativo que o financia: a elite brasileira não pode, mais uma vez ser absolvida por seguir aplaudindo o espetáculo. Ela cria loucos para não se ver – nem ser vista – com suas ambiguidades de oportunidade.

Chamá-lo de louco, além de ocultar as razões que operam o jogo de forças em uma sociedade dissimulada na figura do cidadão do bem, é também legitimar a manutenção de manicômios – já nos dizia o alienista machadiano.

O Rei não está louco.

Ele está nu e alguém precisa gritar.

*Cynthia Ciarallo
Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia, Professora Universitária e ativista DH. Integra Coletivo PsiDF, tendo atuado como Conselheira de Direitos Humanos no DF e na Coordenação de Combate à Tortura na Secretaria de Direitos Humanos.

Pessoa nefasta

Por Gilberto Gil

Tu, pessoa nefasta
Vê se afasta teu mal
Teu astral que se arrasta tão baixo no chão
Tu, pessoa nefasta
Tens a aura da besta
Essa alma bissexta, essa cara de cão
Reza
Chama pelo teu guia
Ganha fé, sai a pé, vai até a Bahia
Cai aos pés do Senhor do Bonfim
Dobra
Teus joelhos cem vezes
Faz as pazes com os deuses
Carrega contigo uma figa de puro marfim
Pede
Que te façam propícia
Que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia
A polícia de cima de ti
Basta
Ver-te em teu mundo interno
Pra sacar teu inferno
Teu inferno é aqui
Pessoa nefasta
Tu, pessoa nefasta
Gasta um dia da vida
Tratando a ferida do teu coração
Tu, pessoa nefasta
Faz o espírito obeso
Correr, perder peso, curar, ficar são
Solta
Com a alma no espaço
Vagarás, vagarás, te tornarás bagaço
Pedaço de tábua no mar
Dia
Após dia boiando
Acabarás perdendo a ansiedade, a saudade
A vontade de ser e de estar
Livre
Das dentadas do mundo
Já não terás, no fundo, desejo profundo
Por nada que não seja bom
Não mais
Que um pedaço de tábua
A boiar sobre as águas
Sem destino nenhum
Pessoa nefasta

Bonner e o Lula Lá

Por Ângela Carrato, no Vi o Mundo

Alguns estudiosos da mídia brasileira localizam nas Jornadas de junho de 2013 o início do golpismo que desembocou na vitória de Bolsonaro.

Considero adequado, no entanto, recuar mais e ir a 2005, quando da denúncia dos dois mensalões, um do PT e outro do PSDB.

O do PT foi julgado e condenado. O do PSDB, se não caducou, está prestes e ninguém fala mais no assunto, apesar das toneladas de provas contra os tucanos.

Quem não se lembra também das transmissões diretas e de todo o espetáculo que a mídia brasileira, Globo à frente, fez desses julgamentos?

Quem não se lembra do estigma de corrupto que passou a pesar sobre a maior parte da esquerda brasileira?

Estigma que a Operação Lava Jato, com a inestimável parceria da mídia, soube em muito ampliar, a ponto do ex-presidente Lula ter sido julgado, condenado sem provas e preso sob o aplauso de comentaristas e colunistas dessas emissoras.

Mesmo tendo passado a receber a visita de estadistas, políticos nacionais e internacionais, artistas, intelectuais e sindicalistas, essa mídia nunca se dignou, nos 580 dias em que Lula esteve em uma cela em Curitiba, a dar qualquer notícia sobre ele e nem a entrevistá-lo.

Ao contrário dos principais veículos da mídia internacional, que fizeram fila para ouvir Lula, a brasileira, Globo à frente, continua fingindo que ele não existe.

Nada foi dito sobre a viagem que Lula fez a Paris, para receber o título de cidadão honorário e nem de seus encontros com os principais estadistas europeus.

Nenhuma crítica de Lula ou de quem quer que seja que questione os princípios ultraliberais do governo Bolsonaro na economia vai ao ar na Globo.

A emissora da família Marinho igualmente impede que as propostas do PT e de governadores como Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus cheguem ao conhecimento público.

Quem sabe, por exemplo, que o PT está propondo um seguro quarentena de R$1.045,00 para todos os beneficiários do Programa Bolsa Família, para inscritos no Cadastro Único do governo federal e todos os trabalhadores informais?

Quem sabe que vários pedidos de impeachment de Bolsonaro já foram protocolados na Câmara dos Deputados e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), insiste em não dar andamento a eles?

Apesar disso, a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), lobby empresarial que tem como presidente Paulo Tonet Camargo, executivo de Relações Institucionais do Grupo Globo, veio a público na semana passada para criticar as agressões do governo federal contra a mídia e reafirmar o compromisso de seus associados com “a imparcialidade” da notícia e denunciar que “desinformação mata”.

Daí a situação quase cômica vivida pelo âncora do Jornal Nacional, Willian Bonner, na sexta-feira (18/03), quando pediu desculpas aos telespectadores por um áudio com o jingle “Lula Lá” ter ido indevidamente ao ar.

Melhor seria se ele tivesse pedido desculpas por Lula estar proibido, pela direção do Grupo Globo, de ir ao ar num veículo que se diz  “imparcial”.

Bolsonaro, o inadjetivável

“Em 31 de maio de 2019, quando o mundo era outro, publiquei a primeira coluna em que perguntava se Bolsonaro era um sujeito inteligente, que se vale de estratégias mais ou menos elaboradas para alcançar seus objetivos, ou apenas um oportunista que teve duas ou três intuições corretas e muita sorte. À época, admitia que as duas leituras eram possíveis. Penso que hoje já é possível responder à questão de forma mais assertiva e concluir, quase definitivamente, que Bolsonaro é burro mesmo

Por Ronaldo Souza

Faço aqui minhas críticas não só ao jornalista Hélio Schwartsman, autor desse texto, mas a muitos, muitos outros, jornalistas ou não.

Em primeiro lugar, Bolsonaro não é burro.

Ele é muito burro.

No tempo de meus avós, chamava-se de “cavalo batizado” a aquelas pessoas muito burras, grosseiras.

É pouco.

Ele é um burro que pertence ao mesmo tempo a outras categorias.

Ele é idiota.

Mais do que isso, um completo idiota.

Abestalhado, concordo.

Porém, mais do que isso, é um demente.

Louco, também.

Não porque Merval Pereira, esse desastre, acha.

A imprensa internacional, como The Guardian, jornal britânico, diz que ele é um ‘perigo para os brasileiros’.

The Economist, também britânico e uma das bíblias da economia internacional, vê Bolsonaro ‘como alguém que mostra sinais de insanidade’.

Mas aos Williams Bonner, Mervais Pereira, Mírians Leitão, Datenas, Ratinhos e muitos, muitos mais, a todos falta dignidade.

“Jornalistas” a serviço de uma imprensa da pior espécie e qualidade.

Mas, interessante, esses mesmos jornalistas e imprensa sempre foram gurus e referência dessa mesma reserva selvagem de Bolsonaro, desses completos idiotas.

Quem os fez vestir luto contra Dilma?

A Globo!

Ou será que já esqueceram?

Eles já foram tudo.

Já foram todos Serra.

Já foram todos Aécio.

Já foram todos Cunha.

Já foram todos Temer.

Agora são o inadjetivável.

Serão quem em breve?

Dória, Witzel… ou qualquer ouro que apareça (apostas abertas).

Na verdade, nada são além de uma única coisa:

Anti-Lula!

E por isso é plenamente compreensível que carreguem tanta amargura e ódio.

Você acha que deve ser fácil passar toda a vida sendo somente anti alguma coisa?

Nada mais?

A pobreza é inimaginável, como inimaginável é viver assim.

Quem fez dessas cabecinhas as aberrações que são hoje?

A Globo!

É claro que com a ajuda da Veja, Estadão, Folha, IstoÉ…

De que são taxados todos esses órgãos de imprensa hoje?

Comunistas!!!

Ou seja, os próprios membros da reserva selvagem são também… inadjetiváveis.

Completos idiotas, agora são definitivamente “idiotas confessos”, como diria Nelson Rodrigues.

Como conseguem???

Meu Deus, como conseguem?

Não há em toda a história do Brasil um único STF, um só, que possa ser chamado de algo que se aproxime do que poderia ser algum tipo de simpatia pelo comunismo.

Nada, nada, qualquer proximidade, por menor que seja.

É absolutamente o contrário e tem sido assim ao longo da história.

Repito, de toda ela.

Esses idiotas confessos que, como seu líder, adoram expor a sua mais absoluta mediocridade, são fontes inesgotáveis de estupidez.

Todos os STFs têm tradição de conservadores, todos são o que eles matam e morrem para ser: elite.

Afora algumas não muitas exceções de grandes ministros e também algumas aberrações que sempre passam por lá, são conservadores da elite brasileira, da direita brasileira.

Chamar a Rede Globo, um ícone do capitalismo, de comunista é dizer-se: sou um completo tapado!

Um parêntese.

Na apresentação do livro “O ódio como política”, Esther Solano Gallego (Cientista Social, Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)) narra um episódio interessante.

Ela diz.

“Durante minha pesquisa com simpatizantes de Bolsonaro, lembro-me de um jovem bolsonarista que, depois de várias horas de conversa, disse em tom de crítica: ‘Professora, vocês da academia estudam tanto e parece que ainda não entenderam muitas coisas. Tratam a gente como se fôssemos todos burros. Não somos…’.”

Fecho o parêntese.

Não percebem, mas são.

Mas pelo menos já reconhecem como são vistos, o que é um avanço.

Eu poderia dizer; se eles não percebem, é problema deles.

Entretanto, dizer isso me tornaria também um idiota.

Mais do que “deles”, o problema é nosso.

O problema é do Brasil.

Um problema sério e irreversível a curto e médio prazo.

Idiotas não são donos de si.

 

Esse é o presente e o futuro desse país.

Um preço alto demais a ser pago.

Essa conta será paga pelos nossos filhos e netos.

Mas, lembre, a reserva selvagem nada percebe, tudo ignora.

Não será nesse mundo que também viverão seus filhos e netos?

Quem não percebe, não sente a dor.

O grande líder não cabe num adjetivo.

Nem em vários.

Ele não cabe em nada.

Completamente desequilibrado, ele se consome na sua própria existência.

Como uma excrescência que ganhou vida própria.

Que se consome e se retroalimenta.

Realidade paralela

Por Ronaldo Souza

Eu já ia postar a crônica abaixo de Nelson Rodrigues.

Já estava engatilhada.

Escrita em 1968, parece que foi para o momento atual.

No entanto, sem ter porque ter pressa, poderia ser postada qualquer dia.

A noite de ontem (terça-feira, 14.04), entretanto, mudou os meus planos.

Fiquei em estado de choque.

Como diria o homem simples, fiquei matutando.

E cheguei à conclusão de que realmente há pessoas que vivem uma realidade paralela.

Uma realidade paralela pode significar algumas coisas e ter origens diversas.

É possível que tenha origem, por exemplo, em algo que se viveu ou se vive e que gera distúrbios emocionais-afetivos, alguns difíceis de serem contornados.

Olhe para Brasília que você encontrará o melhor exemplo para o que falo.

Pode estar associada também à dificuldades de cognição.

Da mesma maneira, também à busca de objetivos inatingíveis.

O eterno desejo de ser.

Se eu ainda tinha alguma dúvida sobre realidades paralelas, a noite de ontem a levou.

Ontem, às 20:00, uma live de Endodontia me deixou atônito.

Sem sentido.

Nada com nada. 

Desconexão total.

Ao final, muitos fogos em forma de elogios ao “liveiro”.

O que me fez lembrar de um trecho de Nelson Rodrigues no próprio texto aí embaixo.

“Outrora, os imbecis faziam platéia para os ‘superiores’. Hoje, não. Hoje, só há platéia para o idiota”.

Como “coachs” que ensinam a encher os consultórios de pacientes sem jamais terem tido essa experiência, as lives invadiram o país.

Espelho meu, espelho meu, há alguém nesse mundo que não faça live?

Tempos estranhos.

“Eles venceram e o sinal está fechado pra nós”.
Belchior

Leia Nelson Rodrigues. É sempre bom.

Os idiotas confessos

Por Nelson Rodrigues

Antigamente, o idiota era o idiota. Nenhum ser tão sem mistério e repito: — tão cristalino. O sujeito o identificava, a olho nu, no meio de milhões. E mais: — o primeiro a identificar-se como tal era o próprio idiota. Não sei se me entendem. No passado, o marido era o último a saber. Sabiam os vizinhos, os credores, os familiares, os conhecidos e os desconhecidos. Só ele, marido, era obtusamente cego para o óbvio ululante.

Sim, o traído ia para as esquinas, botecos e retretas gabar a infiel: — “Uma santa! Uma santa!”. Mas o tempo passou. Hoje, dá-se o inverso. O primeiro a saber é o marido. Pode fingir-se de cego. Mas sabe, eis a verdade, sabe. Lembro-me de um que sabia endereço, hora, dia etc. etc.

Pois o idiota era o primeiro a saber-se idiota. Não tinha nenhuma ilusão. E uma das cenas mais fortes que vi, em toda a minha infância, foi a de uma autoflagelação. Um vizinho berrava, atirando rútilas patadas: — “Eu sou um quadrúpede!”. Nenhuma objeção. E, então, insistia, heróico: — “Sou um quadrúpede de 28 patas!”. Não precisara beber para essa extroversão triunfal. Era um límpido, translúcido idiota.

E o imbecil como tal se comportava. Nascia numa família também de imbecis. Nem os avós, nem os pais, nem os tios, eram piores ou melhores. E, como todos eram idiotas, ninguém pensava. Tinha-se como certo que só uma pequena e seletíssima elite podia pensar. A vida política estava reservada aos “melhores”. Só os “melhores”, repito, só os “melhores” ousavam o gesto político, o ato político, o pensamento político, a decisão política, o crime político.

Por saber-se idiota, o sujeito babava na gravata de humildade. Na rua, deslizava, rente à parede, envergonhado da própria inépcia e da própria burrice. Não passava do quarto ano primário. E quando cruzava com um dos “melhores”, só faltava lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada. Nunca, nunca o idiota ousaria ler, aprender, estudar, além de limites ferozes. No romance, ia até ao Maria, a desgraçada.

Vejam bem: — o imbecil não se envergonhava de o ser. Havia plena acomodação entre ele e sua insignificância. E admitia que só os “melhores” podem pensar, agir, decidir. Pois bem. O mundo foi assim, até outro dia. Há coisa de três ou quatro anos, uma telefonista aposentada me dizia: — “Eu não tenho o intelectual muito desenvolvido”. Não era queixa, era uma constatação. Santa senhora! Foi talvez a última idiota confessa do nosso tempo.

De repente, os idiotas descobriram que são em maior número. Sempre foram em maior número e não percebiam o óbvio ululante. E mais descobriram: — a vergonhosa inferioridade numérica dos “melhores”. Para um “gênio”, 800 mil, 1 milhão, 2 milhões, 3 milhões de cretinos. E, certo dia, um idiota resolveu testar o poder numérico: — trepou num caixote e fez um discurso. Logo se improvisou uma multidão. O orador teve a solidariedade fulminante dos outros idiotas. A multidão crescia como num pesadelo. Em quinze minutos, mugia, ali, uma massa de meio milhão.

Se o orador fosse Cristo, ou Buda, ou Maomé, não teria a audiência de um vira-lata, de um gato vadio. Teríamos de ser cada um de nós um pequeno Cristo, um pequeno Buda, um pequeno Maomé. Outrora, os imbecis faziam platéia para os “superiores”. Hoje, não. Hoje, só há platéia para o idiota. É preciso ser idiota indubitável para se ter emprego, salários, atuação, influência, amantes, carros, jóias etc. etc.

Quanto aos “melhores”, ou mudam, e imitam os cretinos, ou não sobrevivem. O inglês Wells, que tinha, em todos os seus escritos, uma pose profética, só não previu a “invasão dos idiotas”. E, de fato, eles explodem por toda parte: são professores, sociólogos, poetas, magistrados, cineastas, industriais. O dinheiro, a fé, a ciência, as artes, a tecnologia, a moral, tudo, tudo está nas mãos dos patetas.

E, então, os valores da vida começaram a apodrecer. Sim, estão apodrecendo nas nossas barbas espantadíssimas. As hierarquias vão ruindo como cúpulas de pauzinhos de fósforos. E nem precisamos ampliar muito a nossa visão. Vamos fixar apenas o problema religioso. A Igreja tem uma hierarquia de 2 mil anos. Tal hierarquia precisa ser preservada ou a própria Igreja não dura mais quinze minutos. No dia em que um coroinha começar a questionar o papa, ou Jesus, ou Virgem Maria, será exatamente o fim.

É o que está acontecendo. Nem se pense que a “invasão dos idiotas” só ocorreu no Brasil. Se fosse uma crise apenas brasileira, cada um de nós podia resmungar: — “Subdesenvolvimento” — e estaria encerrada a questão. Mas é uma realidade mundial. Em que pese a dessemelhança de idioma e paisagem, nada mais parecido com um idiota do que outro idiota. Todos são gêmeos, estejam uns aqui, outros em Cingapura.

Mas eu falava de que mesmo? Ah, da Igreja. Um dia, ao voltar de Roma, o dr. Alceu falou aos jornalistas. E atira, pela janela, 2 mil anos de fé. É pensador, um alto espírito e, pior, uma grande voz católica. Segundo ele, durante os vinte séculos, a Igreja não foi senão uma lacaia das classes dominantes, uma lacaia dos privilégios mais hediondos. Portanto, a Igreja é o próprio Cinismo, a própria Iniqüidade, a própria Abjeção, a própria Bandalheira (e vai tudo com a inicial maiúscula).

Mas quem diz isso? É o Diabo, em versão do teatro de revista? Não. É uma inteligência, uma cultura, um homem de bem e de fé. De mais a mais, o dr. Alceu tinha acabado de beijar a mão de Sua Santidade. Vinha de Roma, a eterna. E reduz a Igreja a uma vil e gigantesca impostura. Mas se ele o diz, e tem razão, vamos, já, já, fechar a Igreja e confiscar-lhe as pratas.

Cabe então a pergunta: — “O dr. Alceu pensa assim?”. Não. Em outra época, foi um dos “melhores”. Mas agora é preciso adular os idiotas, conquistar-lhes o apoio numérico. Hoje, até o gênio se finge imbecil. Nada de ser gênio, santo, herói ou simplesmente homem de bem. Os idiotas não os toleram. E as freiras põem short, maiô e posam para Manchete como se fossem do teatro rebolado. Por outro lado, d. Hélder quer missa com reco-reco, tamborim, pandeiro e cuíca. É a missa cômica e Jesus fazendo passista de Carlos Machado. Tem mais: — o papa visitará a América Latina. Segundo os jornais, teme-se que o papa seja agredido, assassinado, ultrajado etc. etc. A imprensa dá a notícia com a maior naturalidade, sem acrescentar ao fato um ponto de exclamação. São os idiotas, os idiotas, os idiotas.

“Quando o navio afunda, os ratos são os primeiros…”

Por Ronaldo Souza

“Por que será que toda vez que a coisa aperta Moro some? Sem a toga, vão embora algumas coisas. A valentia é a primeira. O recurso é sempre se esconder…

Esse é um trecho de um brevíssimo comentário que fiz no dia 30/03 no FaceBook.

No dia 31/03, um dia depois, leio que “Moro confronta Bolsonaro e autoriza uso da Força Nacional pelo Ministério da Saúde”.

Perdi as contas de quantas vezes já falei aqui (há anos faço isso) sobre o ex-juiz que desonrou a sua categoria, o país, mas que desonra acima de tudo a raça humana.

Já tive oportunidade de dizer que ele é o pior caráter que existe entre os ministros do governo.

Bolsonaro sabe disso. Aliás, o que também já disse aqui.

Bolsonaro, também covarde e oportunista (eles se identificam como iguais, por isso são naturalmente assimiladas as rasteiras e traições entre eles), sabe disso mais do que ninguém.

O tempo todo Bolsonaro soube que tinha um traidor dormindo com ele.

A mulher de Moro agora anda dizendo que apoia o ministro da Saúde

A traição do ex-juiz, “conje” dela, agora se manifesta abertamente e por diversos canais.

Natural.

Ratos pegam o que está ao alcance.

Como ratos que farejam à distância o queijo que surge de repente, Moro observou a fragilidade de Bolsonaro nesse momento.

Percebendo que estava fora da mídia e que a grande estrela agora é Mandetta, o ministro da Saúde, promoveu o espetáculo do esquema do Ministério da Justiça à disposição do ministro estrela.

Não é hora de falar do político Mandeta, que goza da popularidade que Moro um dia experimentou.

A sua história política não o recomenda, mas há uma diferença fundamental entre ele e Moro, colega seu na Esplanada dos Ministérios.

Até pelo momento que vivemos, dispenso-me de qualquer comentário sobre o homem e o político e me atenho à sua condição de ministro da Saúde.

Apesar de suas fraquejadas, expressão que o Capitão Corona que ocupa a cadeira presidencial já utilizou para se referir à sua própria filha e característica pessoal dele, talvez seja difícil acusar Mandeta como médico à frente do ministério da Saúde nesse momento.

Até que se prove o contrário.

Bateu de frente com o Capitão Corona, manteve as ações que estavam determinadas pelo seu ministério, enfim, vem tendo um comportamento que em nada se assemelha à covardia e oportunismo do “conje” de Rosângela Moro.

Covarde, frio, calculista, carreirista e de olho em uma cadeira do STF, prometida pelo homem que “não é presidente mais” (segundo o filósofo haitiano), todo esse tempo Moro agiu como um capacho de péssima qualidade do presidente que nunca governou e não será agora que vai governar.

Até porque, como disse o filósofo haitiano, ele “não é presidente mais”.

Agora como ministro da justiça, tal qual como foi como juiz federal, Moro acobertou todas as jogadas e falcatruas do maior pesquisador da cloroquina, depois de Trump.

Acobertou tudo dos filhos, particularmente Flavio Bolsonaro, do nosso mais recente pesquisador e profundo conhecedor de substâncias químicas na área da saúde, protegeu Queiroz (por onde anda?), milicianos…

Mas, será que vislumbrou que é chegada a hora de pular do barco?

Estará sendo orientado outra vez por alguém?

Seria pelas “câmaras” de televisão? (como do alto de sua cultura ele chama Câmara [dos Deputados] de câmera, é possível que também faça o contrário, chamar câmeras de câmaras de televisão).

Estaria sendo orientado por determinado setor da imprensa? (já notou como estava desaparecido e de repente começou a aparecer nas coletivas de Mandeta?).

Percebendo o momento de extrema fragilidade e novo surto de desequilíbrio mental do Capitão Corona, Moro aproveita para emitir opiniões e tomar atitudes contrárias às do chefe.

E o que acontece com quem não engole os vômitos do nosso mais recente pesquisador?

Porrada nele!

Agora, o nosso herói nacional está sendo fuzilado (opa, é um perigo usar figuras de linguagem para determinados segmentos da sociedade) pela reserva selvagem do Capitão Corona.

Ou recua, como Bolsonaro faz todo dia, ou vai apanhar mais.

E mais do que ninguém, Moro sabe do que é capaz a reserva selvagem do Capitão Corona.

Trair não representa só um verbo para o ex-juiz.

É algo mais.

Alguma novidade?

Só para os idiotas.

Moro é isso.

Nada mais que um covarde oportunista.

Diretor do Eisntein desabafa: “Estamos na época da medicina BBB, feita por votação”

Brasil 247

“Estamos na época da medicina BBB, feita por votação. Medicina e pesquisa de rede social. Você não consegue mais não dar cloroquina para um paciente meio grave. A família pressiona e, se você não der, no dia seguinte você não é mais o médico.” O desabafo é do médico Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein

O diretor superintendente de pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Vicente Rizzo, desabafa sobre o desastre causado por Jair Bolsnonaro na medicina no Brasil: “Estamos na época em que a medicina está sendo feita por votação. Medicina e pesquisa de rede social. Você não consegue mais não dar cloroquina para um paciente meio grave. A família pressiona e, se você não der, no dia seguinte você não é mais o médico.”

Ele relatou à jornalista Cláudia Collucci da Folha de S. Paulo a pressão que as instituições médicas estão sofrendo para ampliar o uso da hidroxicloroquina em pacientes com coronavírus.

Rizzo ainda desmentiu afirmações da médica Nise Yamaguchi, que atende no hospital, e o virologista Paolo Zanotto, da USP, que defendem e disseram haver o uso da cloroquina no início da doença. De acordo com Rizzo, o Einstein só indica a substância para pacientes graves, internados na UTI.

“Nenhuma dessas pessoas [Yamaguchi e Zanotto] que está falando de protocolo do Einstein participa de protocolo nosso. Nem de Covid nem de nenhum dos 711 projetos de pesquisa no hospital. Uma coisa é ser médico no Einstein; outra coisa é ser médico do Einstein”, afirmou.

O diretor médico e superintendente do hospital, Miguel Cendoroglo Neto, logo nos primeiros casos um consenso de especialistas do Einstein aprovou o uso do medicamento em pacientes graves. Ele adverte, entretanto, “que essa proposta terapêutica é dentro do que a gente chama de off label, não está na bula desses medicamentos, não está nos ‘guidelines’ das sociedades médicas”. Por isso, defende ele defende que “a família precisa ser informada sobre o risco de complicação, de efeitos adversos.”

Ele ainda disse que 70% dos 30 pacientes internados na UTI estão fazendo uso da cloroquina isolada ou associada ao antibiótico azitromicina, os outros não usam por terem alguma contraindicação (como problemas cardíacos).

O médico afirma também que outros medicamentos estão sendo estudados e usados para pacientes graves, como anticoagulantes, anticorpos monoclonais e plasma. “Tudo isso a gente está estudando ainda”, reforçou.