É preciso agir

Vivi a minha infância em Juazeiro (da Bahia). Tempos maravilhosos. Da pré-adolescência até hoje, Salvador.

Os ídolos chegando, Elvis Presley, Beatles, Renato e seus Blue Caps, Hayley Mills, soldados nas ruas, Chico Buarque, Edu Lobo, Gil, Caetano, festivais de música da Record, sentimentos se misturando.

Uma imagem marcante. Garoto ainda, vi nas ruas toda aquela movimentação por conta dos primeiros momentos da revolução de 64. Pessoas correndo, a polícia batendo. Livros sendo jogados fora, queimados, é preciso se esconder. Depois, filhos, irmãos, pais, presos, torturados, exilados. Tempos difíceis.

Hoje, tempos diferentes, mas ainda difíceis. O que, você não acha? Respeito a sua opinião, mas são sim, tempos difíceis.

A começar pela “ausência” da juventude de determinados momentos do país. Não, não precisa ir às ruas brigar com ninguém, muito menos com a polícia. Inteirar-se um pouco dos assuntos que interessam à sociedade já está de bom tamanho. Tudo bem, eu sei que participam ativamente do Big Brother Brasil, mas estou tentando falar de outra coisa.

Este é um ano muito importante. O país do futuro, o gigante adormecido, parece que finalmente despertou e vive um presente que pela primeira vez é prenúncio de algo bom e consistente, uma realidade um pouco menos injusta, como nunca antes na história desse país.

Vivemos hoje numa sociedade, ainda que muito longe do que se deseja, onde as desigualdades econômicas se tornaram um pouco menores, onde alguns “sem tudo” passaram a ter um pouco.

Não tenho a menor idéia do que é isso. Não sei o que é dificuldade para sobreviver. Tenho o privilégio de viver longe desses problemas. Por que me preocupar com algo que não me atinge. Será?

É PRECISO AGIR
Bertold Brecht (1898-1956)

Primeiro levaram os comunistas
Mas não me importei com isso
Eu não era comunista

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os sindicalistas
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou sindicalista

Depois agarraram uns sacerdotes
Mas como não sou religioso
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.

O país passará por momentos de decisão importantes neste ano e você será protagonista, você decidirá se ele avança mais ou retroage. Não veja só a grande mídia. Busque alternativas, e conheça mais o momento atual.

Feliz 2010.

É simples

Sucesso, fama, fortuna, poder. Alvos constantes dos homens. E geradores de muita ansiedade e frustração.

Essa busca frequentemente leva a muitos desencontros. O jogo de interesses sempre entra em cena. Já vi uniões desastrosas entre homens e mulheres, geralmente patrocinadas pelo interesse financeiro, o famoso golpe do baú. Acredito que em alguns até há alguma atração inicialmente, em outros nem isso. De uma forma ou de outra, o que existirá anos depois? Como serão os filhos? Terão saúde afetiva/emocional?

A maneira mais fácil de ver alguém é pelo “sucesso profissional”, pelo menos é assim na sociedade contemporânea. Os modelos de felicidade são cada vez mais estereotipados, e passam pela posição que se ocupa na sociedade, o destaque que se tem na mídia, e aí a televisão assume uma importância enorme. O frequentar bons lugares perde espaço e valor para o ser visto nos bons lugares. O ter boas coisas perde espaço e valor para o mostrar que tem boas coisas. Um bom restaurante, um bom vinho, só têm valor se puderem ser vistos, ou ditos. Resultado, é um profissional bem sucedido, um vencedor.

Tornou-se um lugar comum, todos dizem: “hoje as pessoas não querem ser, só ter”. Ter não só para curtir, para mostrar. Você conhece alguém que queira mostrar que é um fracassado, um infeliz, um perdedor?

Como medir se um homem é realmente feliz? Você conhece alguma fórmula? Não há. Mas, talvez existam algumas maneiras de se “medir” a felicidade do homem. Será que você vai achar um disparate se eu disser que uma delas é o chegar em casa.

Chegar em casa, ver a família, mulher, filhos, apesar de ser algo que se repete todos os dias, pode ser um momento único. Tudo se mistura; amor, paz, segurança, conforto, alegria, harmonia… O Master Card pode comprar muita coisa, isso não.

Seja no casamento, forma mais tradicional e utilizada, ou qualquer outra maneira em que duas pessoas vão se unir e passar a viver juntas, que saibam: não há fórmula mágica, como qualquer relacionamento pode dar certo ou não, mas busque alguém em quem você possa ver chances disso acontecer. É possível que nem todos tenham, ou sequer tenham pensado nisso. Aquele que tem sabe. Ele é feliz.

Essência é essencial

Há um filme muito interessante chamado “Encontro Marcado”, com Anthony Hopkins (como sempre fantástico, interpretando um magnata da mídia), Brad Pitt e Claire Forlani (meu Deus do céu, ela é linda). A morte (Brad Pitt) vem buscar Anthony Hopkins, mas antes resolve passar algum tempo convivendo com ele e a sua família. Na festa de seu aniversário de 60 anos (se não me engano), sabendo que naquela noite a morte o levaria, num pequeno discurso ele diz; “60 anos, como foi rápido”.

Costumamos não ter noção de muita coisa. Do quão rápida é a vida é uma delas. Graças a essa insensatez, nos aborrecemos e nos consumimos com pessoas e coisas bobas, pequenas. Consumimos a nossa energia por tão pouco, quando devíamos buscar viver melhor. Não faz nenhum sentido, mas é assim. Quantas vezes vemos exemplos, lemos mensagens (hoje em dia então com a Internet), nos conscientizamos de que não vale a pena, mas, dali a dez minutos, estamos de volta à indignação por quem não merece.

Olhe em volta. Muita pobreza de espírito, mediocridade, egos fora de controle. Mas, o que é que você tem com isso, não é da sua conta. Vá viver o tempo que lhe resta, esqueça “esses caras”. Você consegue?

Já sentiu perda de tempo em algumas discussões? A coisa num nível superficial, sem qualquer tipo de compromisso, dizer por dizer. Não tenho mais tempo para isso. Afasto-me.

Deparei-me com um pequeno texto, de autor desconhecido, que diz tudo. Vejam.

Quando se tem 50 anos ou mais

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Há alguns anos atrás li vários livros de Roberto Freire *, entre os quais “Sem tesão não há solução”. Vou roubar esse título dele.

Sem essência não há solução.

* Roberto Freire (1927-2008) – Escritor, dramaturgo, jornalista, médico, psicanalista, criou a Soma, uma terapia anarquista, baseada nas idéias revolucionárias do psiquiatra austríaco Wilhelm Reich.

A subjetividade do homem

Desde a minha infância, ouvi dizer: “homem não tem medo, homem não chora”.

O homem foi criado para ser objetivo. Tenho a impressão de que não foi uma opção inteligente. O homem se trancou nos seus sentimentos, que ele imagina não ter, ou que não deveria. Como sofre.

Sensibilidade, emoção!!! Você está brincando. Pragmatismo, objetividade, essas são as palavras de ordem.

Esqueceram de dizer (esconderam ou não conhecem?) que existe uma coisa chamada subjetividade e esta o permite ter medo, chorar, porque não há outra maneira de ser homem, o homem que a mulher (de verdade) deseja ter ao seu lado; um homem pleno, também de verdade, que ri e chora.

Há alguns anos estava com três amigas na fazenda do pai de uma delas. Momentos maravilhosos de se lembrar. Fui por causa de uma delas, uma ex-namorada, que eu perdera por ser homem, e como tal, inseguro (acredite, o homem é inseguro nas coisas do amor). Apaixonados um pelo outro, mas, eu, homem, estúpido, perdera e tentava reconquistar.

Todos jovens, conversávamos sobre tudo e a certa altura surge a música Pai e mãe, de Gilberto Gil. Veja a letra:

Eu passei muito tempo aprendendo a beijar
Outros homens como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo pra saber que a mulher
Que eu amei, que amo, que amarei

Será sempre a mulher como é minha mãe
Como é, minha mãe? Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não se aborreça comigo

Quando me vir beijar outro homem qualquer
Diga a ele que eu quando beijo um amigo
Estou certo de ser alguém como ele é
Alguém com sua força pra me proteger

Alguém com seu carinho pra me confortar
Alguém com olhos e coração bem abertos
Para me compreender

Não consegui convence-las de que Gil não era viado (o que, ficou chocado? talvez seja melhor dizer gay) por causa da música. Tempos depois, Gil lança Super-homem (clique aqui para ouvir). Aí ficou impossível.

Todos sabemos que homem e mulher são bem diferentes (que coisa boa). Sempre se atribuiu à mulher uma sensibilidade muito superior à do homem, uma verdade, até porque ele não só nega te-la como diz que não é coisa de homem, é coisa de viado, perdão, gay.

Mas, já na minha juventude, talvez pelas primeiras dores do amor (ou você pensa que tudo é um mar de rosas?), permitia que os meus sentimentos se manifestassem, mas também já começava a perceber que nem todas as mulheres estão preparadas para ter esse tipo de homem. Naquele momento, era compreensível, afinal, como disse, éramos todos muito jovens e há coisas que a juventude não permite saber. Muito natural.

Quando a mulher se queixa que o homem não lhe abre mais a porta do carro, ela lembra que já houve isso. Ele fazia quando ainda era o momento da conquista, e é interessante como nessa hora ele explora bem esse lado, a subjetividade aparece. Quantas mulheres devem existir que bem no fundo, se ressentem disso? Não era bem com aquele, ele não consegue entrar no mundo dela.

No sexo, momento de encontro e prazer absolutos, o velho macho latino-americano. Come a mulher. Dá duas, três, e o mundo está resolvido. Pobre homem. Não percebe que ao ser assim perde a mulher todos os dias. Vem alguém, e a faz sentir-se mulher. Não penetra na vagina, penetra na alma dela. Não deve ser fácil resistir. Ela sabe disso, ele não.

Está lembrado que falei lá em cima que o homem é inseguro nas coisas do amor? Custei a perceber (acho que na verdade a aceitar). A mulher é mais segura. Ela tem a subjetividade que ele não tem. O amor não conhece as coisas objetivas. Que o digam os poetas e filósofos.

Repito Nietzsche*, “somente sendo homem consegue um homem liberar a mulher em uma mulher”.

 

* Friedrich Nietzsche – (15/10/1844 – 25/08/1900) Filósofo, dos mais importantes do mundo, e filólogo alemão, que mais tarde adotou a nacionalidade suíça.

O professor (des)homenageado

Segundo Aristóteles, “a grandeza não consiste em receber honras, mas em merece-las”. Aristóteles estava errado. Algumas honras devem ser de tamanha importância que se faz o inimaginável para recebe-las.

Compor uma mesa, por exemplo, deve ser muito importante. Há quem não dê a menor importância a determinados eventos, mas, convidem-no para fazer parte da mesa. Podem ter certeza, não há a menor chance de ele faltar.

Compor uma mesa de formatura (patrono, paraninfo, professor homenageado, etc) é algo de importância vital. Voce acha que não? É porque não sabe o que se faz para conseguir. Voce nem imagina. Nas faculdades são conhecidos, e comentados (muitas vezes pelos próprios alunos), os professores que fazem esforços “sutis” para serem homenageados.

Até que ponto vai a nossa vaidade? Que caminhos percorremos na busca de que?

Confesso a minha vontade de falar um pouco mais sobre esse tema, mas acredito que melhor do que qualquer coisa que poderia escrever é mostrar um texto que recebi por e-mail há algum tempo. Ele é reproduzido aqui exatamente como recebi, mas, por questões éticas, foram omitidos os nomes do professor e da instituição.

“Desconvite
Data: 02/12/2005
Excelentíssimo Dr. Professor …
Nós da comissão de formatura 2005/2 dos cursos de Administração, Turismo, Jornalismo e GSI da faculdade…, vimos por intermédio desta, comunicá-lo de uma situação que nos deixa muito constrangidos e de certo modo frustados: Há alguns meses, em visita pessoal entre os membros da comissão de formatura à Vossa Senhoria, solicitamos e fomos  prontamente atendidos e correspondidos na solicitação do convite, que muito nos honraria, para homenageá-lo como Patrono das turmas acima mencionadas. Até então, também foi abordado a possibilidade de um auxílio para amenizar os custos referentes a formatura. Hoje pela manhã, fomos informados formalmente que o auxílio que poderia ser repassado aos formandos seria de R$ 1.000,00, que entendemos que esteja dentro das suas atuais possibilidades financerias. Ao repassar esta informação, a comissão e os demais formandos ficaram em uma situação delicada em face da dificuldade em completar o orçamento. Os mesmos reagiram e sugeriram o auxílio de outra pessoa, que era também cogitado a ser homenageado, cujo valor disponibilizado amortizará o custo relativo ao local da colação de grau, pois contávamos com a disponibilidade do novo auditório da Estácio. Então, diante desta situação extremamente complicada, nós da comissão acatamos o que a maioria dos formandos optou, que é de homenagear como Patrono a outra pessoa que fará uma contribuição mais elevada. Gostariamos de agradecer o aceite e o comprometimento, nos desculpar pela alteração e pelo não cumprimento do convite que fora gentilmente aceito pelo senhor, mas diante dos fatos, a maioria decidiu que seria mais justo homenagear a pessoa que se propos a fazer a maior contribuição para com os formandos. Ficamos no aguardo de um retorno do recebimento deste.
Atenciosamente; Alex (ADM), Sabrina (TUR), Deise (JOR), Rafael (ADM), Juliana (TUR), Mônica (GSI ) Comissão de formatura 2005/2

Resposta do professor:
Prezados Acadêmicos da Comissão de Formatura dos Cursos de Administração, Jornalismo e Turismo 2005-2, Vocês não devem se sentir constrangidos. Frustados sim. Constrangidos nunca! Quem sabe este constrangimento não se trata de vergonha! Ou falta de caráter!  Ou ainda falta de ética! Entendo que estou "desconvidado" para ser Patrono. Em minha vida de quase 30 anos como professor, devo ter sido patrono, paraninfo, nome de turma e homenageado – dezenas de vezes. Jamais imaginei que formandos convidassem e "desconvidassem" patronos por dinheiro! Enfim, sempre há uma primeira vez para tudo. Se eu utilizasse a mesma moeda (literalmente) é uma pena não ter sido comunicado antes… Neste caso, por idêntico critério não teria pago minha parte como "patrono" na última festinha de confraternização dos formandos. Meus queridos ex-futuros afilhados: Eu é que me sinto constrangido. Decepcionado. Surpreso.Triste mesmo! Constrangido porque pensei que o convite realizado fosse uma homenagem ao Ex-Diretor Geral da… pela sua capacidade de administrar e levar adiante um projeto que em cinco anos tornou-se a maior escola de administração de… Todos os cursos que ora estão se formando obtiveram a nota máxima de avaliação do MEC Patrono é isso: uma pessoa que os formandos entendam deva ser exemplo na área de atuação dos cursos. Decepcionado porque pensei que nossos alunos honrassem o título de Bacharel após quatro anos muita de luta e sacrificio. Patrono é isso: uma pessoa que dignifica a profissão. Surpreso porque jamais imaginei ter sido "comprado" como Patrono. Isto é, fui "eleito" pelos formandos somente porque iria dar dinheiro para a formatura. Patrono não é isso. Patrono não se vende. Triste porque vejo que não consegui – após quatro anos de curso superior – mudar os valores de alguns alunos da… Patrono é isso: uma pessoa que possui valores que prezam pela  ética,moral,honra e palavra. Sinto-me aliviado. Dormirei melhor… Não consegui comprá-los por R$ 1.000,00. Obviamente a honraria de ser patrono vale muito mais que isso. Tivesse eu as qualidades de um patrono acima citadas – talvez me sentisse"enojado" com a situação. Como não as possuo, sinto-me aliviado em ter poupado um dinheirinho que seria gasto com pessoas das quais me envergonho ter sentido alguma consideração de relacionamento. Assim sendo, e como não resta alternativa com muita alegria aceito o "desconvite". Entendo que outros formandos não devem compartilhar da mesma opinião dessa Comissão. À estes desejo sucesso e sorte. À Comissão de Formatura e aos outros que trocaram o patrono por dinheiro o meu desprezo. Seguramente a vida lhes ensinará o que a faculdade não conseguiu! Por último, desejo à todos a felicidade da escolha de um Patrono bem rico! Que ele possa pagar todas as despesas e contas… Seguramente a maior qualidade do homenageado! Que tenham uma excelente formatura. Estarei lá presente na qualidade de professor da… Digam ao acadêmico orador que em seu discurso não fale em qualidades dignas do ser humano. Muito menos em decência, honra, moral e ética. Se assim o fizer irei aparteá-lo e chamá-lo de mentiroso!
Atenciosamente, Prof., Dr… Ex-futuro Patrono dos Cursos de Adm, Jor e Tur da…”

Que loucura!

A discussão como fonte de luz

Nelson Rodrigues* dizia que toda unanimidade é burra. Acho que vou concordar. Por que “acho” e não concordar logo de uma vez? Porque não gosto muito de coisas definitivas, e essa afirmativa não deixa muito espaço para quem é assim.

Por exemplo, Chico Buarque é uma unanimidade e não vejo como haver burrice aí. Aliás, abro um parêntese para dizer que ambos, Chico e Nelson Rodrigues, não se davam bem. É uma outra história, sobre a qual Chico e Nelsinho Rodrigues (como é conhecido o filho de Nelson), como amigos que são, já conversaram e tudo ficou esclarecido. Posicionamentos políticos diametralmente opostos levaram a essa “inimizade” entre eles. Devo confessar que a minha posição política pende inteiramente para o mesmo lado da de Chico.

Eu teria uma boa razão para concordar mais abertamente com a frase de Nelson Rodrigues: a inteligência dela. Afinal, a unanimidade impede a discussão e é dela que vem a luz. Ele era brilhante, e isso não é muito comum. Nada melhor que a discussão entre oponentes inteligentes. A inteligência de um oponente o torna perigoso, sem dúvida, mas os dois crescem na discussão, e todos ganham.

Por isso, as discussões travadas em qualquer segmento da vida são sempre bem-vindas. Ainda mais com o manancial de informações à nossa disposição nos dias atuais. O conhecimento nunca esteve tão ao alcance de todos. Em qualquer área do conhecimento humano há um mundo de informações à disposição que chegam instantaneamente. Todas as condições para discussões ricas.

Você assistiu ao filme Revelações, com Anthony Hopkins, Nicole Kidman, Ed Harris e Gary Sinise. Muito bom. No final, há uma cena bem interessante protagonizada por Gary Sinise e a irmã do personagem de Hopkins (não sei o nome da atriz), em que ela diz; “as pessoas estão mais burras e cada vez mais cheias de opinião”.

Você já teve essa sensação alguma vez? De, em uma discussão, perceber opiniões absolutamente inconsistentes ditas como a última palavra? Percebeu que nesses momentos é comum a opinião não vir de forma simples e sim com um ar professoral? Há quem já tenha definido isso como ignorância ativa.

Como explicar esse paradoxo, riqueza e instantaneidade de informações à nossa disposição e discussões tão pobres? Às vezes a complexidade de uma situação é só aparente, e tão simples quanto ela pode ser a sua solução, mas, não parece muito provável que problemas realmente complexos do homem encontrem solução em explicações muito simples. Talvez estejamos diante de um desses momentos.

Em primeiro lugar, é possível que exista uma questão que não é tão facilmente percebida. Realmente sabemos ou o nosso conhecimento é muito superficial, raso mesmo, mas que externado em determinados ambientes não encontra contra-argumentação a altura, pela fragilidade do(s) interlocutor(es)? Uma aula ou conferência, por exemplo. Acredita-se, e o ministrador pode estar contando com isso, que ali sabe-se menos do que ele. Isso o deixa solto, sem perceber o risco que pode estar correndo.

Mas há um outro fator que julgo muito importante. Apesar de muitas vezes estarem associados um ao outro, não podemos imaginar que conhecimento e inteligência são irmãos siameses. Um pode existir sem o outro, em outras palavras, pode-se ser culto sem ser inteligente e vice-versa. Quando há conhecimento sem inteligência, tende a se manifestar a soberba. Quando há um pretenso conhecimento sem inteligência é comum manifestar-se a ignorância ativa, é um horror. É a inteligência, acompanhada da sensibilidade que só ela parece permitir, que traz sabedoria. É esta que nos ensina a humildade, uma coisa cada vez mais difícil nos dias de hoje. É a falta de humildade que faz manifestar-se, muitas vezes com veemência (por isso adquire o ar professoral), a ignorância ativa.

Quantas vezes você já participou de uma discussão um pouco mais acirrada, onde não há consistência, simples desejo de contestar, de professar, de vomitar o que não tem? Você identifica a ignorância ativa, se irrita, a discussão toma rumos imprevisíveis. O que você faz? Sai dali prometendo se controlar na próxima.

Outra vez, não conseguiu. A vida ensina. Saia. Se não pode sair do local, saia da discussão. Melhor, não entre.

É sábio.

* Nelson Rodrigues – nascido em Recife (PE), antes de completar 4 anos foi morar com os pais no Rio de Janeiro, onde fez carreira como dramaturgo, jornalista e escritor. Um homem muito inteligente e, como Chico Buarque, torcedor do Fluminense do Rio.

A Rede Globo perdeu a noção

A história contemporânea do nosso país registra momentos que a imensa maioria da sua população, por razões conhecidas, sequer imagina. Em alguns desses momentos, a participação de setores do que se chama hoje a grande mídia assusta e nos deixa bastante preocupados quanto à possibilidade de que o Brasil apresente a curto prazo um real processo de desenvolvimento como nação democrática, com participação e crescimento do povo, como deveria ser.

Preocupa, mas não elimina as esperanças de que esse desenvolvimento terminará acontecendo, ainda que em prazo maior do que o país já tem condições de promover. E por uma razão bem simples. Sempre, isso mesmo, sempre existirão aqueles que aos olhos de alguns não passam de uns pobres idealistas.

São homens e mulheres que, apesar de tudo ser feito de maneira intencional para gerar desesperança, estarão sempre, pública ou anonimamente, imbuídos de um sentimento maior. Ao longo da história sempre existiram. E não se engane. Apesar da aparente impotência, eles podem muito. Segundo Capra* “nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo; de fato, sempre foi somente assim que o mundo mudou”. E há um dado novo. O mundo nunca foi tão favorável à disseminação das idéias desses Dom Quixotes, graças à Internet. Ela está mudando o mundo.

Por algumas razões, não cabe a mim e neste espaço, até porque me faltam as condições mais apropriadas, descrever os riscos que setores da assim chamada grande imprensa representam para o real desenvolvimento do povo desse país. Mas, sem dúvida, é uma manipulação perversa e muito bem conduzida a serviço de uma minoria privilegiada.

Há muito tempo perdi completamente a esperança, e aí posso dizer, sem qualquer possibilidade de vir a recupera-la, de que a Rede Globo, possivelmente a maior empresa de comunicação do Brasil, possa ter qualquer participação nesse processo de desenvolvimento, que virá, com ou sem a participação dela. Cedo na minha vida reconheci isso.

Ela agora, porém, extrapolou todos os limites que permitem a preservação do mínimo de respeito pelo ser humano. Sei que ela faz isso há muito tempo e o fez outra vez ao nos impingir essa coisa que se chama Big Brother Brasil. Não quero falar sobre isso outra vez, já o fiz anteriormente (clique aqui para ler), mas aproveito e trago daquele texto o que disse José Wilker há algum tempo: “É um programa de indigentes mentais. As pessoas que estão ali não têm nada a oferecer, são de uma pobreza mental que dá dó”. Só que com isso eles arrastam toda uma sociedade.

Mas a Rede Globo agora se superou. Passo pela sala e vejo a minha filha caçula assistindo ao Vídeo Show, que estava apresentando os vídeos das pessoas que se candidataram a participar do Big Brother Brasil. Não bastassem as cenas exibidas pelos vídeos, grotescas por si só, o locutor, sem qualquer pudor, sem o menor constrangimento, pelo contrário, dando à voz o tom de galhofa, lê textos que de forma escancarada ridicularizam os candidatos. Lembro que em um deles aparece um candidato como que em posição de Yoga, com a voz ao fundo; “mas também tem candidato zen… noção de nada”. Concordo inteiramente, sem noção de nada, porque se tivesse a mínima, não desejaria participar daquele programa.

É a humilhação total, é a degradação do ser humano, de pessoas simples, humildes, postas no mais fundo dos poços da ausência de dignidade humana, mas que, a rigor, em pouco diferem (será que diferem? José Wilker deve achar que não) daquelas que se classificam e participam do programa.

Reflexos do processo de idiotização da sociedade proporcionado pela televisão brasileira, achamos graça do que vemos, quando na verdade não vemos nada.

 

* Fritjof Capra – Doutor em Física pela Universidade de Viena e filósofo.

Assim caminha a humanidade

Assim caminha a humanidade *

Passamos vários carnavais juntos, eu e Sérgio, médico, radiologista, sem dúvida, o maior amigo que já tive. Constituímos o que se costuma chamar de amigo-irmão. É aí que muitas vezes a vida, se não é cruel, tem momentos de crueldade. Ela nos leva por diversos caminhos, o que com alguma freqüência separa os amigos. Apesar da ausência de convivência, acho que ele será sempre o maior amigo que pude ter.

Ficávamos sempre no que chamávamos de QG (quartel general), um apartamento que era, como o nome diz, o nosso quartel-general durante todo o carnaval. Ali, desde a sexta-feira (o carnaval de Salvador ainda começava no sábado), ficávamos até a quarta-feira de cinzas. Tinha pão, queijo, presunto, leite, ovos, um pequeno arsenal para recompor as energias, e muita, muita cerveja e whisky.

Lá nos abastecíamos para ir para a avenida. Durante alguns belos anos saímos no Bloco do Jacu (se não me engano, apenas em um carnaval) e depois no Amigos do Barão, blocos inesquecíveis do carnaval de Salvador. À noite íamos para os bailes nos clubes (ainda existiam), principalmente o Clube Bahiano (com h mesmo) de Tênis, e quando voltávamos destes, geralmente pelas 6 da manhã, dormíamos, para recomeçar tudo por volta das 10 ou 11 horas, lógico que também da manhã. Bom demais. Em alguns desses carnavais outros amigos também ficaram e outros tantos por lá circulavam o tempo todo. Por lá também passaram algumas amigas. Uma maravilha.

Foi em dois ou três desses carnavais que também ficou um dos nossos amigos, um engenheiro. No mesmo esquema, durante cerca de três carnavais ele foi membro do QG. Em uma dessas vezes, depois de acordarmos, já naquela faixa de tempo em que reaquecíamos os motores, entre as 11 e 15:00, estávamos na janela do apartamento conversando. Décimo quarto andar, edifício Serra do Crepúsculo, Ladeira da Barra, com o mar do mundo todo à nossa frente e ao fundo a Ilha de Itaparica (será que existe algo melhor?), ele disse: “um dia ainda vou ser rico, não sei como, mas vou ser, nem que tenha que casar com mulher rica”. E arrematou; “meu sonho é ter uma construtora como a …”.

Conseguiu os dois. Tornou-se um importante empresário, dono de grande construtora, um homem poderoso. E, é lógico, não podia ser diferente, bajulado, paparicado.

Uma vez, durante o coquetel de inauguração da sede de um clube social que a sua empresa tinha construído, eu o vi com toda a sua diretoria, ou pelo menos boa parte dela. No mundo contemporâneo, onde tudo é possível, onde tudo se faz, onde se faz qualquer coisa para atingir os objetivos, a minha estúpida ausência de contemporaneidade me tortura. Vender a alma sempre foi demais para mim. Não consegui ir até ele e cumprimenta-lo, não fui capaz. Fiz de contas que não vi.

Há alguns anos soube que, percebendo a pobre relação entre ele e os filhos, começava a leva-los à Fonte Nova para ver o Bahia jogar (quando ainda valia a pena, e agora começa a valer outra vez). Quantos desejariam e desejam ser ele. Por outro lado, em quantos momentos ele deve ter sentido um vazio enorme e buscou o conforto no reencontro com os filhos. Que bom esse reencontro, melhor seria se fosse algo tão forte que o fizesse repensar os valores da vida.

Acredito que muitos conhecem histórias parecidas com essa. Conheço algumas. Quantas vidas perdidas, vazias, uniões desastradas (a rigor, algumas nunca existiram), por interesse. Apesar dos óbvios reflexos (será que não são tão óbvios assim?), vemos os filhos demonstrarem comportamentos semelhantes ao visualizarem "bons partidos”. Uma loucura.

A vida tem ou não tem momentos de crueldade? Deu saudade dos tempos de carnaval. Por falar nisso, Sérgio, um grande abraço, um abraço de amigo-irmão.

* “Assim caminha a humanidade” é o título de um antigo e belo filme com Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean, cujo título original é Giant.

Uma grande farsa (mais uma)

Existem duas cidades fortemente marcadas pela presença do negro no Brasil; Salvador e Rio de Janeiro. Não se pode ter nenhuma dúvida que graças a esse detalhe, elas se destacam em vários setores e chegam a ser únicas. A riqueza na culinária, religiosidade, dança, música, só para citar alguns, dessas cidades salta aos olhos. Salvador, a cidade mais negra do Brasil.

Os historiadores confirmam as diferenças existentes entre os negros que vieram da África para Salvador e Rio de Janeiro. Famílias diferentes, costumes, traços pessoais e até condições financeiras diferentes.

Nessas cidades nasceu o samba (a origem primeira é Salvador), “o ritmo nacional por excelência”, a música mais universal brasileira. A presença, a batida, o gingado, a musicalidade do negro, exercendo influência em vários dos maiores músicos do mundo.

O carnaval sempre foi definido como festa de intensa participação popular. Nessas duas cidades, os carnavais mais fortes do Brasil, e como tal uma enorme força para atrair os grandes interesses comerciais. Foram se modificando com o tempo.

O carnaval de Salvador, como aliás as coisas de Salvador, não é estático, tem uma dinâmica muito própria. Sofre críticas, entre elas a ausência de participação popular, já que os blocos ocupariam as ruas, impedindo que o povo brinque. Grande bobagem, uma crítica com outras intenções e qualquer hora falaremos mais especificamente sobre isso.

Carnaval do Rio, samba do início ao fim, ótimo. A cada ano, novas sambistas se destacando. Chego na sala e vejo uma reportagem da Rede Globo mostrando a Miss Brasil, uma nova sambista que pintava no pedaço, sambando. Uma das cenas mais grotescas que pude ver, absoluta, flagrante, completa ausência de sintonia entre ela e o samba. Para quem? Por que?

Todos cedem à presença de figuras que nunca tiveram, não teem (a nova ortografia diz que deve ser assim) e jamais terão qualquer ligação, por menor que seja, com o samba, com o negro, ou com os brancos/negros. A serviço de quem?

Abro um parêntese. Olá pessoal do Filhos de Gandhi, está a mesma coisa aí, uma brincadeira de mau gosto, gente que não tem nada a ver com o afoxé, um horror. Convidem logo Brad Pitt, George Clooney, Beckhan, é melhor e entra mais dinheiro.

Luma de Oliveira, Adriane Galisteu, Luiza Brunet, Juliana Paes, e tantas outras (parece que também até os intelectuais do Big Brother Brasil, ou é Brazil? sempre esqueço) de menor importância. O que teem a ver com o carnaval? Absolutamente nada. Para elas, uma belíssima oportunidade para aparecer. Chegam a ser rainha de uma escola em um carnaval e de outra em outro, numa grande demonstração da ligação umbilical com a escola. O espaço que antes era dos passistas, mestres sala, do homem e da mulher do morro, esses sim, com o amor pela escola de samba correndo sem controle pelas veias, agora é delas.

O morro passa o ano entregue ao trabalho da escola. Você vai lá? Muito menos elas. Chegou janeiro, verão, academia, ensaio das escolas, televisão em cima, as grandes sambistas aparecem e sobem o morro, outra vez numa grande demonstração da ligação umbilical com a escola. E tome aula de como sambar.

Chegou o carnaval. Os melhores momentos das câmeras da televisão agora são dispensados a ela, a grande sambista do Brasil; Luma Galisteu Brunet de Paes. Com sua roupa (?) deslumbrante e o samba no pé como ninguém mais, encanta a todos.

Quase esqueço. Onde está o povo? Onde está a intensa participação popular? Nas arquibancadas, aplaudindo.

Deveria causar estranheza a grande mídia alardeando aos quatro ventos a originalidade do carnaval carioca. Há muito tempo a grande mídia brasileira não surpreende mais ninguém que tenha mais de dois neurônios funcionando.

Você já amou realmente uma mulher?

Hoje, dia 08 de março de 2009, é o Dia Internacional da Mulher. Poderia tentar escrever algo a respeito, mesmo sabendo que jamais terei a capacidade de escrever alguma coisa que esteja a altura da mulher. Mesmo assim, poderia escrever. Poderia também aproveitar um texto que escrevi há poucos dias falando do homem, das suas dificuldades para amar realmente a mulher. Este texto está pronto e qualquer dia será postado aqui no site.

Não vou fazer nada disso agora. Vou fazer algo muito melhor. Vou reproduzir um texto que recebi há poucos dias pela internet. No e-mail consta que o autor é desconhecido, mas que seria um fotógrafo e que ele teria dito isso numa exposição de fotografias.

Não conseguiria escrever algo assim, sensível e forte, terno e seco (no sentido de direto), tão verdadeiro que deve doer aos corações mais sensíveis. Resta-me o consolo de que em alguns momentos ele usa as mesmas expressões que uso no texto ao qual me referi acima. Neste texto, de um autor desconhecido, vai o meu desejo, o desejo de um homem que insiste todos os dias em querer aprender a amar a mulher.

Gostar de mulher

Para fotografar nu feminino, é preciso gostar de mulher. Não se trata de gostar de mulher no sentido sexual, ter tesão por mulher nua, essas coisas. Isso pode ter também. Mas se trata de gostar de mulher em um sentido mais profundo.

Gostar do universo feminino. Observar que cada calcinha é única, tem uma rendinha diferente e ficar entretido com isso.

Não basta ser heterossexual, o machão latino. Para gostar de verdade de uma mulher são necessários outros requisitos que são raros. Por isso a mulherada anda insatisfeita.

Sensibilidade é fundamental. Paciência também. O homem que não tem paciência para escutar a necessidade que a mulher tem de falar, a sensibilidade para cativa-la a cada dia, não gosta de mulher. Pode gostar de sexo com mulher, o que é bem diferente. Gostar de mulher é algo além. É penetrar em seu universo, se deliciar com o modo com que ela conta todo o seu dia, minuto por minuto, quando chega do trabalho. Ficar admirando seu corpo, ser um verdadeiro devoto do corpo feminino, as curvas, o cabelo, seios. Mas também cultuar a sagacidade feminina, sua intuição, admirar seu sorriso, que é muito mais espontâneo que o nosso. Gostar de mulher é querer faze-la feliz. Levar flores sem nenhum motivo, a não ser o de ver o seu sorriso. É escutar pacientemente todas as queixas.

O homem que gosta de mulher não está preocupado em quantas mulheres ele comeu durante a vida, mas sim, com a qualidade do sexo que teve. Quantas mulheres ele realizou sexualmente, fazendo-as se sentirem desejadas, amadas, únicas, deusas, na cama e na vida.

O homem que gosta de mulher não come mulher. Ele penetra não só no corpo, mas na alma, respirando, sentindo, amando cada pedacinho do corpo, e, é claro, da personalidade.

“Para viver um grande amor é necessário ser de sua dama por inteiro”, afirmou Vinícius de Moraes no poema; Para amar verdadeiramente uma mulher, o homem deve ser totalmente fiel… traí-la, jamais! Ama-la até a raiz dos cabelos. Admira-la, se deixar apaixonar todo dia pelo seu sorriso ao despertar… e principalmente conquista-la, seduzi-la, como se fosse a primeira vez.

O homem que não tem paciência, nem tesão, nem competência para lhe seduzir várias e várias vezes, esse, não se iluda… não gosta nem um pouco de mulher. Conquistar o corpo e a alma de uma mulher é algo tão gratificante que tem que ser tentado várias vezes. Só que alguns homens, os que não gostam de mulher, querem conquistar várias mulheres. Os que gostam de mulher é que conquistam várias vezes, a mesma mulher.

E isso nos gratifica, nos fortalece e nos dá uma nova dimensão. A dimensão da poesia, do amor e em última instância, do impenetrável universo feminino. Gostar de mulher e penetrar em seu universo não é torna-las cativas e sim liberta-las, admira-las em sua insuperável liberdade.

Uma das músicas com que mais me identifico é uma inglês, por incrível que pareça. “Have you really ever loved a woman”. É do cantor Bryan Adams. A música foi tema do filme Don Juan de Marco, e em uma tradução livre quer dizer “você já amou realmente uma mulher?”. Em toda a música o cantor fala sobre a necessidade de se conhecer os pensamentos femininos, sonhos, dar-lhe apoio, para amar realmente uma mulher. Essa música é perfeita.

Como se vê, gostar de comer mulher é fácil. Agora… gostar de mulher, é dificílimo.

Permito-me acrescentar uma frase de Nietzsche* “Somente sendo homem consegue um homem liberar a mulher em uma mulher”.

O filme a que o texto se refere é estrelado por Marlon Brando, Johnny Depp e Faye Dunaway, um dos mais belos que já assisti. É um hino ao amor entre homem e mulher, esse amor de que fala o texto. Acho que todas as mulheres e homens, particularmente estes, deveriam assisti-lo. Homem e mulher se amando como deveria ser, uma sinfonia perfeita.

A música, também lindíssima, serve como pano de fundo ao e-mail que recebi com o texto. Na verdade, o nome correto é “Have you ever really loved a woman”. Está aqui, como um presente para os ouvidos, mas, sobretudo para o coração. Clique aqui  e curta essa delícia.

* Friederick Nietzsche – filósofo alemão do século XIX, uma das mentes brilhantes da humanidade.