O rebaixamento da inteligência coletiva brasileira

Por Ronaldo Souza

Li “O Ócio Criativo”, livro de De Masi, sociólogo italiano, ali por volta de 2003.

Fascinante.

Ideias arejadas, pensamento ousado, incomum, que me fez despertar para algumas coisas.

De bem com a vida e apaixonado pelo Brasil e pelo povo brasileiro, hoje ele se mostra perplexo com o atual momento que vive o país.

Não é necessário ter uma mente brilhante como a dele para perceber a pobreza que se apossou das mentes de tantos brasileiros, mas, sem dúvida, ele nos ajuda a entender melhor a miséria que nos abateu.

Leia abaixo alguns trechos de recente entrevista de Domenico de Masi.

“Não podemos nos contaminar pela estupidez”

Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador, disse ele, argumentando que Mussolini, Hitler e Erdogan também foram eleitos.

Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras.

Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido. Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população.

É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades. Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo.

Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido. É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa.

É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.

À parte a necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer. Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.

Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar.

Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é ódio e ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los. A cultura competitiva, que estabelece, com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entra nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.

Procura-se um time. E uma diretoria

Por Ronaldo Souza

Já comentei aqui que Guilherme Bellintani não era meu candidato preferido à presidência do Bahia.

Não tive, porém, nenhum constrangimento em dizer já no meu primeiro texto durante os seus momentos iniciais como presidente que estávamos diante de uma gestão bastante animadora. Chamei então a atenção para o fato de ser ele um homem muito inteligente. Brilhante, na verdade.

Desde aquele primeiro momento, todos os meus textos foram sempre na mesma linha; elogios a ele e à sua diretoria.

Os mais recentes, entretanto, já faziam algumas ressalvas, que iam de uma possível falta de humildade, que poderia levá-lo à autossuficiência e soberba, a desconhecimento sobre as coisas do futebol e, por isso, uma gestão que começava a mostrar os seus “pecados”.

Veja trechos de dois desses textos que escrevi:

O Bahia ontem e hoje 30/12/2020

Presidente, não parece provável que Dado Cavalcanti seja a alternativa mais adequada e talvez estejamos cometendo outro grande equívoco.

No entanto, se vamos com ele, nessas horas, é possível que alguém mais ligado nas coisas do futebol enxergue um pouco melhor e também saiba mais o que fazer.

2020, o ano que não quer terminar 14/03/2021

Ouvi há poucos dias alguém da crônica esportiva de Salvador dizer que o Bahia estava se preparando para criar uma  forma de jogar que seria estabelecida para todo o departamento de futebol do clube.

Desde cedo, da base ao time profissional principal, o Bahia jogaria de uma única maneira. Assim, quando o jogador da base chegasse ao profissional, por já saber como este joga, a transição se daria de uma maneira muito mais fácil e rápida.

Algo como fez o Barcelona.

Como se vê, um projeto audacioso.

… Presidente, inteligência e juventude costumam favorecer a audácia e vejo em você esses dois requisitos.

Mas, ao mesmo tempo que me entusiasmo, lembro da sabedoria popular, pela qual tenho enorme respeito. E ela diz que “prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém”.

Muitas coisas, mais do que parece à primeira vista, precisam ser analisadas.

Não que o Bahia não deva ousar, muito pelo contrário. Até porque ele já mostrou que é um dos clubes mais inovadores no atual cenário do futebol brasileiro. Entretanto, tratando-se do tamanho do projeto, do quão ele é ambicioso e do que o envolve, temos que reconhecer que as chances de dar certo são bem maiores no Barcelona do que no Bahia. Sobre isso não deve haver dúvidas.

Outro aspecto, que parece não ter sido devidamente considerado, precisa ser visto com muito carinho.

Quem estará à frente dele?

Sem querer me aprofundar em pesquisas e saber detalhes de como aconteceu todo o vitorioso projeto do Barcelona, sabemos que profissionais do nível de Johan Cruyff, Pepe Guardiola e outros fizeram parte desse projeto.

Como esse projeto já estaria em andamento, imaginá-lo com Dado Cavalcanti à frente me provoca arrepios.

Que não se imagine que Dado Cavalcanti não teve méritos. Teve sim, entre os quais podemos colocar o de que foi ele o grande responsável pela permanência do Bahia na série A, a vaga na Sulmaricana e o título da Copa do Nordeste.

Mas este é um assunto que será abordado na sequência deste texto.

O Bahia está cansando o seu torcedor

Por Ronaldo Souza

Tem sido muito difícil ver Belintanni e sua diretoria cometer muitos dos erros de 2020. Difícil e surpreendente, por considerá-lo um homem muito inteligente.

Algumas coisas precisam ser “conversadas” e dessa conversa, certamente farão parte Dado Cavalcanti e alguns jogadores, particularmente, Rodriguinho.

Entretanto, ando sem vontade de escrever sobre o Bahia.

O cansaço é a maior razão para isso. Não o cansaço físico, mas o de ver a falta de talento (competência?) que vem rondando o time há algum tempo.

Reporto-me mais ao time do que ao clube. Tornou-se lento e repetitivo demais nas tomadas de decisões dentro e fora de campo e, por isso, cansativo.

O time está cansando o seu torcedor.

Esse cansaço não está abrindo espaço para a inspiração e sem ela não vem a vontade de escrever.

Rascunhei o texto aí em cima ontem, segunda-feira, 16/08, para dizer que, ao invés de escrever, ia preferir postar o texto abaixo do ecbahia.com, que está muito interessante.

Hoje, surgiu a notícia do afastamento de Dado Cavalcanti da função de treinador da equipe, o que muda muita coisa.

Por absoluta falta de tempo, somente agora, às 17:55 da terça-feira, sento para “fechá-lo”, dizendo que manterei o inicialmente planejado, ou seja, postar o texto do Sobe e Desce do ecbahia.com.

Já sob outra perspectiva, falarei sobre Belintanni e Rodriguinho assim que o tempo permitir.

Veja o texto do Sobe e Desce (texto original aqui sobe-e-desce).

Com o tradicional ‘Sobe e Desce’, o ecbahia.com analisa quais pessoas, (jogadores, comissão técnica, dirigentes), situações, resultados e ações foram destaque na semana anterior, seja de maneira positiva ou negativa.

Sobe: Gilberto sempre volta aos gols

Gilberto é o responsável direto por uma grande parcela dos gols do Bahia desde que chegou ao clube. E não é diferente neste Brasileirão. No entanto, o camisa 9 também costuma viver momentos de seca de gols em todos os anos, e contra o Atlético-GO ele pôs fim a um período de oito jogos sem balançar as redes.

O mau momento vivido pelo atacante nas últimas partidas coincide com a má fase vivida pela equipe inteira, que já chega a seis rodadas sem vencer no Campeonato Brasileiro.

Mesmo quando esteve em baixa, o centroavante se manteve focado buscando ajudar o Bahia. Na partida deste último domingo, ele voltou a marcar gol.

Em um chute espetacular de longa distância, anotou um golaço que colocou o time em vantagem. No segundo tempo, o time sofreu com falhas coletivas e individuais, levando a virada.

A moral da história é que mesmo se estiver vivendo um momento ruim, Gilberto não vai deixar de tentar em nenhum momento. Ficou claro no gol anotado em Pituaçu, tendo em vista que é preciso ter confiança para arriscar de tão longe.

Desce: O Bahia tem elenco curto, mas não é o único!

Semanalmente, este editorial traz alguma fala da diretoria ou do técnico Dado Cavalcanti como o ponto negativo. Após a derrota para o Atlético Goianiense, novamente o treinador tricolor se apegou a respostas que já foram dadas antes.

Quando perguntado sobre a necessidade de mudar radicalmente o time ou até de substituir Rodriguinho, o treinador afirmou que faltam opções no elenco para alterar a forma de jogar ou simplesmente realizar substituições.

Essas afirmações atingem em cheio os responsáveis pela montagem de um elenco tão curto e que tem se mostrado frágil durante a disputa da primeira divisão.

Por outro lado, o fato de o Bahia ter um elenco com poucas opções não pode servir de muleta para qualquer decepção que o time tenha em campo.

Afinal de contas, basta olhar para os times que recentemente venceram em Pituaçu: América Mineiro, Sport e Atlético Goianiense. Algum desses tem grandes elencos? E o Cuiabá tem? Até mesmo os vizinhos Fortaleza e Ceará, que estão na parte alta da classificação.

Segue a reflexão.

Um aviso à diretoria: a Copa do Nordeste já acabou!

Enquanto Diego Cerri era um diretor que aparecia constantemente para a imprensa, Lucas Drubscky é um executivo que prefere atuar discretamente, sem holofotes. Mas, nesta última semana, ele concedeu entrevista em live ao canal ‘João Bahêa’, no Youtube.

Dentre os pontos da entrevista, ele foi perguntado sobre o motivo de o Fortaleza estar tão bem e o Bahia em queda livre no Brasileirão.

Drubscky ressaltou por algumas vezes que há dois meses, o Bahia havia eliminado o Fortaleza na Copa do Nordeste e conquistado o título da competição. Perto do fim do primeiro turno da Série A, essa avaliação ainda tem algum peso?

Eis um aviso: o Nordestão já acabou e ficou para trás. Dois ou três meses fazem uma enorme diferença no futebol.

Após o regional, o Fortaleza fez contratações e não foram caras. A principal delas foi a vinda do técnico argentino Juan Pablo Vojvoda, que substituiu Enderson Moreira. Ou seja, uma comparação com o mês de maio não faz mais nenhum sentido nos dias de hoje. O que se pode comparar é a diferença entre a análise de mercado feitas por cada um dos clubes.

O Brasil de Bolsonaro é uma república de banana. Diz o The Guardian

Por Ronaldo Souza

Atribuiu-se durante muito tempo a frase “O Brasil não é um país sério” a Charles De Gaulle, ex-presidente da França, que a teria dito em março de 1963.

Em torno dessa questão sempre houve muitas dúvidas, inclusive de que ela teria gerado um estremecimento nas relações diplomáticas entre os dois países.

Segundo o jornalista Paulo Gravina, entretanto, em 1979 o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza publicou um livro em que se assumia como autor da frase.

Ainda segundo Gravina, “havia um reconhecimento geral por parte da maioria da população brasileira de certos absurdos que ocorriam no país em relação ao seu ambiente político, aos casos de corrupção, aos problemas na formação educacional, ao direcionamento dos gastos públicos e à atuação nas relações exteriores”.

Pegue a afirmação acima e você verá que ela se aplica literalmente ao momento atual.

Na verdade, este consegue ser pior ainda. Ao ponto de um dos mais influentes jornais do mundo, o inglês The Guardian, perder qualquer possibilidade de constrangimento e dizer que o Brasil é uma república de banana.

Ratifica-se, assim, a frase de De Gaulle, tenha ela sido dita ou não por De Gaulle.

Para não deixar dúvidas, posto aqui a matéria do The Guardian dedicada ao Brasil.

Hoje, é assim que o mundo nos vê.

Não é de agora que a mídia internacional expõe o tamanho do buraco em que se enfiou o país, mas é fato que matérias com esse teor se tornaram rotina.

Hoje mesmo, quarta-feira, 11/08/2021, o New York Times (veja aqui) não perdoa e humilha o Brasil, publicando uma matéria em que mostra a foto abaixo durante o patético desfile em que o governo pretendeu mostrar sua força e intimidar o país.

Brasil abaixo de todos e o desejo de Bolsonaro acima de tudo!

A humilhação a que Bolsonaro submeteu o Brasil e suas Forças Armadas mostra o desprezo que ele tem por ambos.

Um fiasco desse tamanho jamais passaria despercebido pela imprensa internacional.

Resultado!!!

Um ato patético e o Brasil mais uma vez humilhado!

O ouro que o Brasil da elite sempre desprezou

Por Fernando Brito

Pulei, até agora, qualquer publicação sobre a Olimpíada e nossos atletas. Não sou de “tretas”, nem de cobrar que eles tenham de ter posições políticas e eleitorais, menos ainda que se pegue carona nos seus triunfos esportivos.

Mas, no penúltimo dia dos Jogos, a capa do site da Folha, sobre os sucessos dos atletas do Nordeste em Tóquio, numa estranha remissão antípoda do preconceito que sofrem nordestinos aqui, me trouxeram à mente uma das mais impressionantes imagens do drama que os livros me traziam quando jovem, do O Quinze, de Rachel de Queiroz e as Vidas Secas de meu involuntário e mal-seguido mestre Graciliano Ramos.

Veio também a memória a mesma Folha, nos anos 90, retratando o “homem-gabiru”, o nordestino mirrado como a vegetação do sertão, pela subnutrição crônica, por um darwinismo às avessas, onde ser pequeno, encolhido, parecia ser a chave para sobreviver até que “a terra pouca para o defunto parco” do Severino de João Cabral, o deixasse “mais ancho que estava no mundo”.

O repórter, o grande Xico Sá, dizia que havia gente sugerindo que o nordestino evoluía para uma “nova espécie”, menor mas mais adaptada à pobreza crônica.

Pois não é que, 30 anos depois, mesmo sem ter nunca tido o que têm os moços e moças do “Sul Maravilha”, mas tendo algum dicumê, alguma atenção, um pouco de formação, ao menos, de uma classe média, que pode se dar ao luxo de deixar os filhos se divertirem num esporte, de pegar onda com uma tampa de caixa de isopor e levá-los à praça para se divertirem num skate, eles já ns dão a maioria de nossas medalhas de ouro olímpicas?

Mas os nordestinos não eram indolentes, preguiçosos, conformados? Não eram os que esperavam que as coisas caíssem do céu? Ou do governo, como é comum as classes medias do Sudeste dizerem que os carregam nas costas?

Eu cresci ouvindo que eles eram uma raça menor, os “paraíbas”, gente que se aproximava de animais de tração, a carregar no corpo atarracado as obras de nosso progresso embora, disso, só fossem apreciar do outro lado da calçada, as belas construções, o prédio, a ponte, o viaduto.

Não é que deles fosse ou seja o monopólio da pobreza, mas eles foram e são, na visão de nossas elites, um problema, enquanto nos são, como país, parte de nossa solução. Porque o Nordeste tem um quinto do nosso território e um terço de nossa população. Quem seria louco de enxergar tanta terra e tanta gente como uma carga pesada e não um potencial imenso?

Alguém pode achar indolente quem enterra um remo na água, por um quilômetro, como Isaquias Barbosa? Ou quem enterra os braços na água por 10 km, como Ana Marcela? Ou quem voa sobre as ondas, mesmo feias e espumosas, como Ítalo Ferreira, que aprendeu com uma tampa de geladeira de isopor a brincar com o mar? Ou quem parte para o tudo ou nada como o rapaz do boxe, o baiano Hebert Conceição, que nocauteia o adversário? Ou da guria de Imperatriz que se diverte desde pequena no skate, com uma prata que brilha tanto quanto ouro?

A cegueira da elite brasileira, entretanto, é imune a este brilho. É incapaz de ver que o Nordeste nos pode dar, em curto espaço de tempo, não só atletas, mas doutores, profissionais, consumidores, atividade econômica, emprego, progresso.

Exatamente como se fez com estes nossos campeões olímpicos: um pouco de apoio, um muito de esforço, um infinito de orgulho e fraternidade.

O desespero de Bolsonaro para fugir de Lula e da eleição

Por Moisés Mendes

Bolsonaro não sabe fazer contas, como provou ao pegar uma queda de 4% no PIB, tentar somar a uma alta de 5% e concluir que a economia havia crescido 9%. Mas o sujeito já pode ter calculado e acertado sobre o que pode ser mais vantajoso politicamente para ele nas atuais e dramáticas circunstâncias.

São basicamente três os cenários a serem considerados. Bolsonaro pode sofrer impeachment, pode ser condenado e se tornar inelegível depois das investigações determinadas pelo TSE e pelo Supremo e pode sobreviver e encarar a eleição do ano que vem.

O impeachment é cada vez mais improvável. Mas, se continuar agredindo a Justiça Eleitoral, Bolsonaro pode se complicar no inquérito das fake news. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, hoje o STF o incluiu como investigado por produzir mentiras e atacar as eleições e o Judiciário, na farsa do voto impresso.

Bolsonaro pode ter feito o seguinte cálculo, com a ajuda de militares da engenharia, que são bons em calcular a segurança de estruturas e seus riscos, ou com a colaboração dos coronéis que calcularam os preços das vacinadas superfaturadas.

Eis a equação: vale a pena intensificar os ataques, aumentar a ira do Judiciário e ser condenado, ou o melhor é apenas seguir em frente, com alguma moderação, apostando que não acontecerá nada, para enfrentar uma eleição em que poderá ser goleado?

Bolsonaro vem mostrando que deseja triplicar a aposta no enfrentamento, com a defesa do voto impresso. Ele quer pagar pra ver. É a aposta na desqualificação do TSE, de Luis Roberto Barroso, do voto, das urnas, da eleição e da democracia.

Se for cercado pelas Justiça por todos os lados e cassado – por causa de um combo que, segundo Moraes, envolve calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, associação criminosa e denunciação caluniosa –, poderá ter uma vantagem.

Inelegível e fora da disputa por decisão do Judiciário que ele tanto ataca, Bolsonaro pode se transformar no primeiro mártir da extrema direita brasileira, que é o que está faltando.

Fora do jogo, poderia perambular como um grande zumbi cercado de pequenos zumbis vestidos de verde-amarelo, todos dedicados a aterrorizar as instituições e a democracia.

Qual a vantagem dessa situação, se ele perde poder e terá de se entender com a Justiça? Há apenas uma vantagem, que não é pequena. Tira Bolsonaro da arena, para que ele evite um vexame na eleição que o sepultaria como liderança forte do fascismo, e ajuda a erguer sua estátua de perseguido.

Se continuar, se conseguir ir até o fim e levar 7 a 1 de Lula, Bolsonaro não terá nenhuma chance de manter o argumento das fraudes e da defesa do voto impresso. Se perder de goleada, Bolsonaro perde a desculpa da eleição roubada e estará morto politicamente.

Poderá continuar existindo como voz fina da extrema direita, com muita gente ao seu redor, mas não será mais a expressão política que pretendia ter. Se for goleado e humilhado, Bolsonaro não poderá mais blefar com o golpe.

O homem deve torcer para que o desfecho das investigações o transforme em vítima de perseguição e produza um ambiente capaz de fomentar a seguinte desculpa-bravata: se ele tivesse continuado no jogo, tudo seria diferente.

Bolsonaro precisa calcular a próxima etapa, pensando que pode se transformar em outra coisa, se ficar de fora do jogo. Deve levar a sério a hipótese de que sua única saída talvez seja virar uma outra aberração.

Hoje, Bolsonaro vive do blefe do golpe, que parece não funcionar mais.  Parceiros dele, seus filhos, os generais que ainda o sustentam e até o centrão sabem que, mesmo sem ter feito muitos cálculos, tudo o que Bolsonaro deseja agora é fugir desesperadamente da eleição.

Bolsonaro aceitaria qualquer coisa, talvez até alguns meses na cadeia, que o tirasse da disputa de 2022. Porque sabe que não tem como aplicar o golpe e sabe que o voto impresso, para bagunçar tudo, já é uma miragem.

Bolsonaro é um homem alucinado em busca de uma saída fora da eleição. A realidade hoje é a que confronta sua covardia com a bravura de Lula.

Pedido de Oração

Por Ronaldo Souza

Recebo um pedido de oração por um colega.

Um homem jovem, forte, acometido pela Covid-19 e que se encontra em estado grave.

Elevemos, então, nossos corações e almas numa prece.

Senhor, proteja o nosso querido colega.

Que, na Sua divindade, o Senhor o perdoe dos pecados cometidos, afinal, humanos, somos pecadores, e o proteja com toda Sua bondade e generosidade.

Que na Sua onipresença, onipotência e bondade, o Senhor o cure dessa enfermidade, por si só, cruel e desumana.

Por fim, Senhor, que através das nossas preces também nós possamos ser perdoados, por termos, como sociedade, contribuído para que essa enfermidade tenha se disseminado de forma tão violenta e absurda entre nós.

Como suportar, Senhor, mais de 500 mil mortes sobre os nossos ombros?

Como, Senhor, mesmo presididos por um espírito do mal, nos permitimos chegar a esse nível de indiferença com o sofrimento e a morte de tantos seres humanos?

Portanto, como última súplica, que o Senhor, inspiração de amor, fraternidade e compaixão, ainda possa nos permitir orar pelas nossas almas e pedir perdão, por termos elevado homens, não à Sua altura, mas aos cargos mais importantes desse país, que agonizou e agoniza pelas mortes de tantos outros colegas, amigos, irmãos, pais e familiares, homens que trouxeram e fizeram pairar sobre nós pesadas nuvens de desamor, violência, ofensas, desumanidade e uma estranha e desconhecida morbidez.

Senhor, em nome do colega e de tantos que ainda agonizam, daqueles que não estão mais entre nós e também pelas nossas almas, humildemente, pedimos perdão. 

Amém!

Exército Brasileiro, uma instituição em busca de um rumo

Por Ronaldo Souza

Parte da história do Exército Brasileiro não me estimula a tê-lo como referência. 

Em tempos mais recentes, porém, cheguei a imaginar que as relações das Forças Armadas, em particular o Exército, com a sociedade brasileira tomariam outro rumo. A recente postura de alguns dos seus comandantes mostra que me enganei.

Talvez a maior prova disso seja o general Eduardo Villas Bôas.

Após um momento em que as Forças Armadas tinham sido alvo de atenção especial em termos de respeito, apoio, investimento e crescimento por parte de governos civis (governos Lula e Dilma), como nunca acontecera na história recente desse país, o general Villas Bôas adotou um comportamento inexplicável.

Na passagem do Ministério da Defesa de Jaques Wagner para Aldo Rebelo, os três comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército fizeram os maiores elogios a ambos e ao governo.

E não poderia ser diferente, porque realmente vivia-se aquilo que eles relataram nas suas falas.

Em termos institucionais, portanto, bastaria isso para que, nesse momento, as relações fossem outras.

Além dos aspectos institucionais, o momento pessoal que vive o general Villas Bôas, momento em que o homem costuma fazer uma reflexão e, quem sabe, repensar de maneira mais profunda a sua própria vida, não é isso que vemos ocorrer. O comportamento agressivo contra os governos petistas, aos quais serviram e pelos quais sempre foram respeitados, é absolutamente inexplicável e deplorável.

Teriam sido contaminados pela agressividade selvagem do atual comandante em chefe das Forças Armadas, comandante esse que conhecem muito bem porque o expulsaram do exército?

Perderam-se nas suas ambições pessoais e perderam o compromisso com o país e sua Constituição.

Este seria um problema deles, não fosse antes um compromisso das Forças Armadas com os interesses do país e de seu povo.

A coisa é tão absurda que fez Eliane Cantanhêde (leia abaixo) sair do seu bunker, de onde trava uma eterna batalha contra o PT e Lula, para registrar essa armadilha do salve-se quem puder, tão conhecida pelo instinto humano.

Trata-se de um jogo?

Se for, é um jogo bastante perigoso e não é compatível com um país que se pretende sério.

Eliane Cantanhêde diz que Lula foi um dos melhores presidentes da história para os militares

“Uma das dúvidas que mais incomodam o ex-presidente e pré-candidato de 2022 Luiz Inácio Lula da Silva é por que, afinal, os militares têm tanto ódio dele e do PT. Uma dúvida justa, justíssima, porque os dois mandatos de Lula foram de paz na área militar, com o Ministério da Defesa forte, boas relações entre presidente e comandantes militares e capacitação e reaparelhamento das Forças Armadas. É inegável, é fato”, afirma a jornalista Eliane Cantanhêde, em sua coluna no Estado de S. Paulo.

“Na sua gestão, foram criados a Estratégia Nacional de Defesa, o Conselho Sul-Americano de Defesa e o Comando Conjunto das Forças Armadas. E as três Forças tiveram um recorde de investimentos. Na FAB, foi definido no governo Lula e aprovado no de Dilma o programa FX-2, que renovou a frota com caças suecos Gripen NG, trazendo tecnologia, treinamento e poder bélico”, lembra a jornalista. “Na Marinha, o Prosub, ambicioso programa de submarinos, em parceria com a França, que inclui um submarino de propulsão nuclear e a construção de um estaleiro e uma base em Itaguaí (RJ). No Exército, o blindado Guarani, de tecnologia nacional, e dois sistemas, o de comando e controle e o de guerra cibernética, um orgulho e um sucesso na Olimpíada e na Copa do Mundo”, prossegue.

“Na época de Lula, aliás, não se ouvia falar de coronéis, tenentes-coronéis e generais metidos na Saúde e em confusões. Quando houve sindicâncias sobre desvios de conduta, foram internas, discretas e rigorosas. Ninguém precisou se referir, em nenhum momento, ao ‘lado podre’ militar”, pontua ainda a jornalista.

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Veja também o interessante comentário de Ermelinda Maria Dias Coelho

“Dois comentários já foram publicados. Ambos, com assertivas com as quais concordo inteiramente. Eliane Cantanhede é suspeitíssima, e compõe com Miriam Leitão, Ascânio Seleme, e outros, bem como o Antagonista um “time” de alta periculosidade para os programas de inclusão social, soberania, autonomia e independência dos brasileiros. Portanto, sua matéria ao invés de trazer ventos de diálogo e aproximação, traz suspeita e cautela, bem como alerta. Agora, o tratado não é mais a autocrítica, o “perdão”, mas o reconhecimento de que foram políticas públicas que fizeram a diferença.

Quanto ao ódio irracional, não há o que procurar saber a causa. Não precisa, não tem. Porque as pessoas odeiam os que têm preferência sexuais diferenciadas? Se não as afeta de forma alguma, se não são assediadas e sequer envolvidas? Somente porque são diversas de si mesmas? Será que em seus mais reconditos pensamentos se acham os “certos”, a bússola do comportamento? Porque odeiam os negros e negras? Mesmo alguns negros como é o caso do tal Camargo? Porque odeiam os povos originários, os indígenas? Porque odeiam os que professam outra fé, que não a sua? E, por todo esse ódio, participam de cruzadas de perseguição, tortura e morte.

Então, os militares odiarem e perseguirem o PT e suas políticas públicas, faz parte do mesmo processo. Assim como o ministério público, a magistratura, o sistema de justiça, a mídia da qual a articulista faz parte. E, claro, o empresariado, até o dono do botequim da esquina.

Como é recorrente em afirmar o Lula, nenhum governo se dedicou tanto a sistematizar e dar espaço para o exercício CONSTITUCIONAL DE SUAS FUNÇÕES, como os petistas”.

“Vocês são a razão da existência do meu mandato”

Matéria de Leandro Demori, postada no Brasil 247 

(leia a íntegra no The Intercept)

Bolsonaro publicava cartas em sites nazistas em 2004

Foi por acaso que a antropóloga Adriana Dias encontrou provas de que neonazistas brasileiros apoiam Jair Bolsonaro há pelo menos 17 anos.

Dias estava em casa se preparando para uma palestra e precisou consultar uma parte do vasto material que armazena em Campinas, onde vive e trabalha. Há 20 anos pesquisando a movimentação de grupos neonazistas no Brasil, a professora da Unicamp pediu para que o marido buscasse um site que ela havia fisicamente impresso no longínquo ano de 2006.

Doutora em antropologia social, Dias já imprimiu milhares de páginas de dezenas de sites neonazistas em língua portuguesa – isso antes de derrubá-los para sempre. Adriana Dias é uma caçadora digital de nazistas.

Sempre que encontra um desses sites, ela pede aos provedores para que o conteúdo seja tirado do ar. Antes, no entanto, imprime todas as páginas para arquivar em sua pesquisa e tê-los como prova. “Eu abri em uma página aleatória e ali estava o nome de Jair Bolsonaro”.

O material é uma prova irrefutável do apoio de neonazistas brasileiros a Bolsonaro quando o hoje presidente da República era apenas um barulhento e improdutivo deputado. A base bolsonarista é, há quase duas décadas, composta por neonazistas.

Três sites diferentes de neonazistas trazem um banner com a foto de Bolsonaro – com link que leva diretamente ao site que o político tinha na época – e uma carta em que o parlamentar afirmava: “Ao término de mais um ano de trabalho, dirijo-me aos prezados internautas com o propósito de desejar-lhes felicidades por ocasião das datas festivas que se aproximam, votos ostensivos aos familiares”.

Obs: Em forma de agradecimento, é assustador o que ele diz mais adiante na matéria do The Intercept: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato.”

Obs 2: Percebam um trecho da última frase do presidente da república: votos ostensivos aos familiares”. Mais uma prova da ignorância total desse jumento de duas pernas, como ele chamou os eleitores de Lula. O que se pode esperar de um tenente do Exército Brasileiro que canta errado o Hino Nacional?

A casa que virou rua

Por Ronaldo Souza

Acheia-a diferente, muito diferente.

Tinha outra aparência, a começar pela maçaneta.

Tudo imponente!

Abri e vi a casa como jamais a tinha visto.

Colorida, alegre.

Não sei porque, saí, fui à minha casa, ali ao lado, voltei e entrei novamente.

Contemplei-a outra vez.

Saí novamente.

Quando voltei, já mais familiarizado, ia entrando quando alguém, que do lado de fora conversava com outras pessoas que pareciam esperar por uma inauguração, começou a gritar; “ei, não entre, não pode entrar aí não, vai atrapalhar…”.

Mas eu já estava entrando.

Só aí me dei conta de que a casa não era mais uma casa.

Era uma rua!

Larga, muito mais larga do que a rua que jamais existira ali.

Casas, muitas casas, coloridas e alegres como jamais existiram, de um lado e do outro, faziam uma rua comprida como também jamais fora a rua anterior, que jamais existira.

Mas ela tinha uma coisa familiar.

Lembrava muito as ruas que nos levavam aos alagadiços, assim chamado, creio eu (não tive tempo na infância para saber), porque era o lugar das famosas e “saudosas” enchentes que aconteceram naquele local. Uma delas, vi chegar por essas ruas.

Na rua Antônio Pedro, rua-sonho da minha infância, agora tinha uma casa que não era mais uma casa.

Era uma rua.

Será que aquelas pessoas que estavam ali estavam aguardando a sua inauguração?

Era mais um sonho?

A casa de Dito, o maior amigo de minha infância, não era mais uma casa.

Era um portal!

Um portal que me dava acesso a uma rua cheia de casas coloridas e alegres.

Será que meus pais e irmãos passeiam por ela?

Um sonho vivo e lindo dentro do sonho que foi a minha infância.

Um sonho vivo e lindo que a minha infância permite que o adulto que ela construiu continue sonhando.

Dito está vivo.

Juazeiro! Jamais morrerá.