O STF e a Globo acham que não é golpe. O mundo afirma que é

Dilma e jurita espanhol 2

Juiz Baltasar Garzón, que prendeu o ditador chileno Augusto Pinochet, demonstra em artigo indignação com o que está acontecendo com a democracia brasileira; segundo ele, “a luta contra a corrupção é vital e deve ser prioritária em qualquer democracia, mas é preciso estar atento aos interesses daqueles que pretendem se beneficiar da ‘cegueira’ que supõe a luta em si mesma”; o jurista diz ainda ser “capaz de perceber o espetáculo oferecido pelo procedimento de juízo político que está em curso contra a Presidenta Dilma Rousseff e que guarda semelhanças com outros que foram vivenciados por países como Paraguai e Honduras”

Brasil 247

Ética Política e Justiça no Brasil

Por Baltasar Garzón Real, jurista, magistrado e advogado espanhol

Partindo da consciência crítica de quem pertence a um país que em algum momento histórico exerceu o férreo poder do colonialismo atualmente em debate entre mil contradições e contrariedades, mas também partindo da firmeza democrática e da convicção de defender valores universais como justiça, liberdade e democracia, quero compartilhar com vocês meus sentimentos e algumas reflexões que tenho feito diante da difícil situação que vive institucionalmente o Brasil.

Sinto profundo pesar em observar que pessoas que são referências da boa política, defensores dos direitos sociais, de trabalhadores e daqueles que são os elos mais fracos da cadeia humana estão na mira das corporações que, insensíveis aos sentimentos dos povos, estão dispostas a eliminar todos os obstáculos que se lhes apresentem para consolidar posição de privilégio e controle econômico sobre a cidadania com consequências graves para o futuro. Nessa dinâmica perversa, os grandes interesses não hesitam em eliminar política e civilmente aqueles que o contrariam na defesa dos mais frágeis que sempre foram privados de voz e de palavra para decidir seus próprios destinos.

Mesmo partindo da perspectiva de quem não vive o dia a dia da política brasileira, devo dizer que sou capaz de perceber o espetáculo oferecido pelo procedimento de juízo político que está em curso contra a Presidenta Dilma Rousseff e que guarda semelhanças com outros que foram vivenciados por países como Paraguai e Honduras, forjados institucionalmente por parte daqueles que somente estavam interessados em alcançar o poder a qualquer preço.

A interferência constante do Poder Judiciário com o fim de influenciar nesses processos deve cessar. Por experiência, sei os riscos que representam os jogos de interesses cruzados, não tanto em favor da justiça e sim com o objetivo de acabar como o oponente político instrumentalizando a um dos poderes básicos do Estado e fazendo-o perder o equilíbrio que deve preservar em momentos como este, tão delicados para a sociedade. O judiciário deve prosseguir suas atuações sem midiatização política de nenhum tipo, sem prestar-se a jogos perigosos em benefício de interesses obscuros, distantes da confrontação política transparente e limpa.

A perda das liberdades e a submissão da Justiça a interesses espúrios pode custar um preço excessivo ao povo brasileiro. O Poder Judiciário e seus componentes devem resistir e defender a cidadania frente às tentativas evidentes e grosseiras de instrumentalização interessada. O objetivo não parece ser, como dizem, acabar com o projeto político do Partido dos Trabalhadores e seus máximos expoentes, mas submeter à população de forma irreversível a um sistema vicarial controlado pelos mais poderosos economicamente.

A luta contra a corrupção é vital e deve ser prioritária em qualquer democracia, mas é preciso estar atento aos interesses daqueles que pretendem se beneficiar da “cegueira” que supõe a luta em si mesma. A justiça deve manter os olhos completamente abertos para perceber o ataque ao sistema democrático que é perceptível na realização de uma espécie de juízo político sem consistência nem base jurídica suficiente para alcançar legitimidade e que somente busca tomar o poder por vias tortuosas desenhadas por aqueles que deveriam defender os interesses do povo e não os próprios. Ou ainda daqueles que nunca disputaram eleições e que pretendem substituir a vontade das urnas, hipotecando o futuro do povo brasileiro.

A indignação democrática que sinto ao acompanhar os fatos do Brasil, país pelo qual tenho imenso apreço, me provoca profunda dor e ao mesmo tempo me compele a expressar esses sentimentos diante daqueles que não têm pudor em destruir as estruturas democráticas que tanto tempo levaram para serem erguidas, aqueles que não hesitam em interferir na ação da Justiça em benefício próprio.

Ninguém conquista um reino para sempre e o da democracia deve ser conquistado e defendido todos os dias frente aos múltiplos ataques e isso se faz desde os mais recônditos lugares do país, de uma mina, uma pequena fábrica, do interior da Floresta Amazônica já tão atacada e deteriorada por interesses criminosos, das redações dos periódicos ou plataformas televisivas que servem de tentação à submissão corporativa, das ruas das cidades e dos púlpitos das igrejas, das favelas e dos conselhos de administração das empresas, das universidades, das escolas, em cada casa da família brasileira é preciso lutar diuturnamente pela democracia. E é obrigação de todas e todos fazer isso não somente em seu país, mas também fora, em qualquer lugar, porque a democracia é um bem tão escasso cuja consolidação é missão do conjunto de toda a comunidade internacional.

Tanto o presidente Lula da Silva, a quem conheço e admiro, como a presidenta Dilma Rousseff, com quem nunca estive pessoalmente, representaram o melhor projeto em termos de política social e inclusiva e que, caso tenham incorrido em irregularidades, merecem um juízo justo e direito básico à ampla defesa e não um julgamento ilegítimo em praça pública realizado por quem não tem direito nem uma posição ética para fazê-lo. O povo brasileiro nunca perdoará o ataque frontal à democracia e ao Estado Democrático de Direito.

Madrid, 24 de abril de 2016
(tradução Carol Proner)

“A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, segundo The Guardian

Dilma e The Guardian 1

Corrupção é só um pretexto para os ricos e poderosos que falharam em derrotá-la nas eleições
Para ler este artigo em Inglês, clique aqui

Por David Miranda, no The Guardian

A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.

Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.

Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.

A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.

Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.

É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o Senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.

Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”

Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.

Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.

O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.

Dilma e The Guardian 3

Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido à grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando virem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.

O mais instável de tudo é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.

Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.”

Aleluia recebe reembolso da R$ 120,6 mil da Câmara por cirurgia feita antes de assumir mandato

Aleluia, o probo

Cunha libera R$ 120 mil da Câmara para aliado político

Aleluia, o probo 2

José Carlos Aleluia recebe reembolso por cirurgia feita antes de assumir mandato

Jornal GGN

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizou o pagamento de uma cirurgia de coração, feita na rede particular, pelo deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). Esse tipo de procedimento é comum, parlamentares podem receber o reembolso por tratamentos médicos, porém Aleluia foi submetido à cirurgia antes de assumir o mandato.

Segundo informações trazidas pelo portal Bahia 40 Graus, o corpo técnico da Câmara foi contra o pagamento dos procedimentos médicos, mas Cunha autorizou o pagamento, feito em três parcelas, ao seu aliado político.

Bahia 40 Graus

Aleluia recebe reembolso da R$ 120,6 mil da Câmara por cirurgia feita antes de assumir mandato

Por Geraldinho Alves

Presidente da Câmara, Eduardo Cunha autorizou o pagamento de R$ 120,6 mil, mesmo contra parecer do corpo técnico da Casa.

A Mesa Diretora da Câmara Federal tem que explicar por que o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) autorizou o pagamento de R$ 120,6 mil reais para seu aliado José Carlos Aleluia (DEM-BA) por uma cirurgia de coração, feita na rede particular, em dezembro do ano passado, quando Aleluia ainda não era deputado.

O argumento de que Aleluia já estava diplomado não convence. Significaria dizer que, em um determinado momento, o Brasil teve 736 deputados – os 513 da legislatura 2011 e 2015 e os novos 223, que foram eleitos para o mandato entre 2015 e 2019.

Aleluia apresentou, no total, onze notas referentes ao procedimento a que se submeteu – entre médico, anestesista, nutricionista, internação e outros gastos. O processo 104.916/2015, sobre o ressarcimento, já foi pago, em três ordens bancárias, que totalizam os R$ 120,6 mil. O corpo técnico da Câmara foi contra o pagamento, mas Cunha avocou o processo e autorizou.

Aleluia, até agora, se mantém em silêncio. Eduardo Cunha idem. Quem botou a boca no trombone foi o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). O caso está na coluna do jornalista Lauro Jardim, da revista Veja;

O poder intocável, covarde, pedante e vingativo

Estadão e inércia do STF 2

Por Ronaldo Souza

Nada melhor do que encontrarmos justificativas que nos tragam ilusão e conforto diante de decisões mal ou não tomadas.

Uso o Supremo Tribunal Federal como exemplo.

Sempre que julgamentos clamam por obediência ao ditar das leis, mas que podem comprometer relações com determinados segmentos da sociedade, não é incomum que fatores externos se sobreponham aos aspectos legais. 

É comum em alguns desses momentos entrar em cena, por exemplo, a tão cantada em prosa e verso autonomia entre os três poderes.

Não é a primeira vez, nem será a última, que ministros do STF fazem dela um biombo protetor.

Vejamos.

Dispenso-me enumerar os crimes cometidos pelo deputado Eduardo Cunha. Já de muito tempo são inúmeros os atos praticados pelo deputado que ferem todos os princípios da moralidade pessoal e pública.

Desde dezembro pairam sobre a mesa do ministro Teori Zavascki pedidos de investigação e afastamento de Cunha do cargo de deputado e mais ainda da condição de presidente da Câmara.

Globo e STF 2

E agora, a notícia mais recente, de hoje (24/04).

Golpe Cunha estaca zero

O país merece isso?

O país merece essa postura indecente?

O que fazem o ministro Teori e o STF?

Recorrem à autonomia dos três poderes.

O STF não pode interferir no rito de outro poder.

Pôncio Pilatos não faria melhor.

Mas a vida, como ela é, nem sempre é como desejamos e costuma pregar peças.

Vazam conversas entre o senador Delcídio Amaral, Henrique Cerveró e seu filho.

Nelas são citados nomes de alguns ministros do STF.

Nas conversas Delcídio diz que Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal seriam os interlocutores para um possível habeas corpus de libertação de Nestor Cerveró, ex-dirigente da Petrobras, preso por corrupção.

No outro dia o senador Delcídio Amaral foi preso.

A intocabilidade do Supremo tinha sido violada.

Os nomes imaculados dos ministros tinham sido manchados pela citação de Delcídio e assim não podia ficar. Não importava que quem o tinha feito fosse um senador da república em plena vigência do mandato.

Pela primeira vez um senador era preso nessas condições, em plena vigência do mandato.

Rompia-se com o instituto da imunidade parlamentar e o STF interferia violentamente em outro poder.

Tanto é que os parlamentares reagiram e consideraram uma afronta ao Legislativo.

No dia 18 de março um ministro do STF, Gilmar Mendes, teve um almoço com o senador José Serra (PSDB-SP) e Armínio Fraga (filiado ao PSDB, ex-ministro de FHC e que seria ministro de Aécio caso este tivesse sido eleito).

Naquele mesmo dia ocorriam as maiores manifestações contra o golpe que pretende derrubar a presidenta da república, Dilma Rousseff. Milhares de pessoas foram às ruas em solidariedade a ela e para protestar contra o golpe.

Do almoço, Gilmar Mendes foi ao STF e concedeu liminar suspendendo a posse de Lula como ministro da Casa Civil.

Detalhe. A liminar foi redigida por Dra. Marilda Silveira, coordenadora de Pós-Graduação do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) que, por acaso, é de propriedade do ministro Gilmar Mendes.

Não constitui isso, no mínimo, uma imoralidade?

Calam-se todos.

Gilmar Mendes soberano.

Senhores ministros, esclareçam à população.

  1. Ao proibir a posse de um Ministro de Estado tendo como base as ilações de um dos seus 11 ministros, o Supremo Tribunal Federal não promoveu uma indevida e fortíssima interferência em outro poder, justamente aquele que é o mais importante do regime presidencialista porque único eleito pela maioria dos votos do povo brasileiro?
  2. Sendo o ministro em voga o Sr Gilmar Mendes que, por mais que suas excelências não queiram enxergar, por razões óbvias e jamais escondidas por ele próprio, não tem a menor condição de julgar com o mínimo de isenção qualquer processo que envolva o PT, Lula e Dilma Rousseff, não se levantam sérias dúvidas sobre a imparcialidade do julgamento que por sua vez põe em xeque a própria dignidade dos senhores?

O Supremo preferiu ignorar a gravidade de gravações e vazamentos ilegais feitas pelo juiz Moro em conversas da Presidente da República, aliás reconhecidas como ilegais pelo próprio Supremo, com evidentes prejuízos a Dilma e Lula, como reconhecido pelo próprio Teori,  e resolveu se magoar com o que dissera Lula em uma delas.

Num gesto absolutamente incompatível e patético, o STF optou por se melindrar com o teor da conversa ilegalmente gravada e vazada entre Dilma e Lula, em que este diz que o STF estava acovardado.

Restou-lhes o que fizeram com Delcídio:

Vingar-se.

Adiamentos do julgamento da liminar que concederia ou não o direito de posse de Lula como ministro chefe da Casa Civil são de uma covardia e vingança do mais baixo nível, sem a menor relação com o que se espera de ministros da mais alta corte do país.

As poderosas togas desceram aos porões da indignidade.

Senhores ministros do Supremo, nessa sequência de gestos e ações tresloucados os senhores cometeram um grande e incompreensível pecado.

Diante da razão do melindre de suas excelências, o acovardamento que lhes foi atribuído pelo ex-presidente Lula, condena-lo veementemente ao ponto de assumir reação tão patética lhes deixou que alternativa para explicar esse abandono à Constituição Brasileira, razão de ser da existência dos senhores?

A essa altura, excelências, acredito que atribuir aos senhores a pecha da covardia restará mais suave do que a alternativa que surge no horizonte mais próximo.

E, por fim, o descalabro jurídico que os senhores irão perpetrar é tão absurdo que, certamente expressando todo e qualquer Executivo, nem o governador Geraldo Alckmin se conteve.

Golpe jurídico

Tamanha será a insegurança jurídica desse país que nenhum governante terá mais sossego.

Os senhores não são capazes ou não querem ver que a questão mais importante de todas é de natureza jurídica, por tudo que daí advirá e pelo vazio jurídico que se cria na legislação brasileira?

Poderia clamar por suas consciências, mas não o farei.

Dúvidas aterrorizantes me fazem pensar que seria em vão.

Só me resta lamentar e chorar.

Pelo meu país.

O significado da cuspida de Zé de Abreu

Zé de Abreu 4

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

A cuspida de Zé de Abreu num imbecil que o xingou num restaurante em São Paulo é muito mais que uma mera cuspida.

É um símbolo do Brasil que a plutocracia predadora criou. (Aqui, você pode ver o vídeo.)

Pela imprensa, a voz da plutocracia, milhões de midiotas foram manipulados brutalmente nos últimos anos e estimulados a agredir petistas onde quer que os encontrassem.

Durante mais tempo do que o razoável os ataques ficaram sem resposta.

Mas era absolutamente previsível que, diante do assalto à democracia e a 54 milhões de votos promovido pela direita, a esquerda reagisse.

Era ódio contra perplexidade, até algum tempo atrás. Ódio da direita, perplexidade da esquerda.

Agora, é ódio contra ódio.

O Brasil se transformou no país do ódio por força de sua plutocracia.

É esperado que a mídia que jamais condenou os agressores de direita vá agora criticar fortemente os que enfim reagem, como foi o caso de Zé de Abreu.

Situações de extrema injustiça como a que o país vive geram ódio nos injustiçados, e isso se viu na saliva expelida por Zé de Abreu na direção do biltre que o provocava certo de que nada ocorreria, como tantas vezes num passado recente.

Estamos em pé de guerra, e temos que pelo menos reconhecer isso caso queiramos, um dia, reconquistar a paz perdida. É imperioso que a mídia admita sua total responsabilidade num Brasil em que brasileiros detestam brasileiros.

Os progressistas perderam, e com razão, a paciência.

Num tuíte que viralizou ontem, Marcelo Rubens Paiva – que jamais poderia ser acusado de petismo – deu uma resposta memorável ao patético Toffoli, do STF, um trânsfuga que não merece nenhum respeito.

Entrevistado pelo Globo – que só entrevista tipos como Toffoli –, o eminente pupilo de Gilmar Mendes disse que falar em golpe é “ofender as instituições brasileiras”.

Marcelo explodiu: “Está havendo um golpe e as instituições brasileiras são uma merda. Pronto, ofendemos.”

Foi um ato parecido com a cusparada de Zé de Abreu. As palavras jorraram de Marcelo como o cuspe de Zé de Abreu.

Que outro adjetivo para classificar instituições que permitem a um corrupto como Eduardo Cunha presidir um processo de impeachment?

Não há designação melhor tanto para a Câmara como também para o STF com suas togas e seu palavreado oco e pomposo.

Mais uma vez: a sociedade, caso queira aprimorar suas instituições, deve ter clareza em que elas são exatamente o que Marcelo Rubens Paiva disse que são – uma merda.

Que virá daqui por diante?

Caso o golpe seja consumado, episódios como a cuspida de Zé de Abreu se multiplicarão pelo que foi outrora um “país cordial”.

Agentes do golpe – como a Globo e políticos como Temer, FHC, Aécio e tantos outros – serão forçados a se esconder ou a andar sob escolta para não serem objeto da revolta dos que viram a democracia lhes ser roubada.

Em sua ganância obtusa, os plutocratas sonharam que cometeriam a monstruosidade que estão cometendo e sairiam assobiando sorridentes pelas ruas, em gozo de profunda impunidade.

A cusparada de Zé de Abreu é apenas um sinal de que o final da história não será tão feliz assim para os ladrões da democracia.

Sonhos não morrem

Que horas ela volta

Por Ronaldo Souza,

Já falei sobre Dito aqui mesmo em um texto sobre o Natal.

Negro, pobre, muito pobre, vizinho e maior amigo da minha infância em Juazeiro (BA).

É como se eu a estivesse vendo agora, aqui, na minha frente.

Segunda casa à direita da minha, a de Dito não tinha sanitário.

Era “lá atrás” no fundo do quintal, com um muro de meia altura na frente.

Fazia-se ali.

Àquela época Papai Noel já me conhecia, mas não conhecia Dito.

Nunca foram apresentados.

Brincamos juntos durante anos e aos 9-10 anos de idade, como éramos bons de bola já jogávamos com os “grandes”.

Viemos, eu (11 anos), meus irmãos e meus pais, morar em Salvador, a capital.

Era uma prova de que a vida estava olhando para nós.

A vida nos via e nos aceitava.

Dito ficou.

Eu o vi mais algumas vezes durante as idas a Juazeiro, cada vez menos frequentes.

Até que um dia soube da sua morte.

Morrera afogado.

Na Ilha do Fogo.

Uma ilha entre Juazeiro (BA) e Petrolina (Pe), onde costumávamos ir escondidos com outros amigos tomar banho de rio.

Ilha do Fogo 1

Ilha do Fogo 2

Naqueles tempos já se sabia que tomar banho ali era muito perigoso, a correnteza do rio era mais forte. A ilha fica bem no meio do rio.

Se algum dia Dito teve o direito de sonhar, muito precocemente os seus sonhos se foram com ele.

Lembrei-me dele nesta semana.

Logo após o almoço de segunda-feira (18), dia seguinte a aquela cena dantesca dos deputados federais em Brasília no domingo, vi a troca de mensagens naquela mesma noite no “feicibuqui”.

Maiara 2

Chama-la-ei de Jéssica, para homenagear-lhe nesse momento em que a arte imita a vida.

O triunfo de Jéssica no cinema é a vida real transposta para as telas, mas, ao mesmo tempo, ameaça tornar-se uma tragédia grega.

Ao chama-la de Jéssica mantenho-a na corda bamba da vida e da arte, que sempre nos ensina, mas preservo sua identidade, razão pela qual, mesmo autorizado por ela a usar ambos, pus tarjas pretas no seu nome e nas suas fotos.

De família humilde, também negra, foi o primeiro membro da família a por os pés numa faculdade e, se não me engano, até agora o único.

Jéssica se formou.

Graças a um dos programas do governo.

Trabalha e há pouco tempo comprou o seu primeiro carro.

A vida começava a olhar para Jéssica.

Ela começava a se ver no espelho da vida.

Não, calma, como Dito, Jéssica não morreu.

Mas tenho medo de que deixe que morram as suas perspectivas, a força de continuar lutando.

Ah, essa intolerável e repugnante invisibilidade de seres humanos.

Essa insuportável estupidez humana.

Jéssicas, Danis, Maiaras, Cristinas, Tânias, Tatianas, Marias…

Dificuldades surgirão e não deverão ser pequenas.

Mas nunca se esqueçam.

“Nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos” (Shakespeare).

E sonhos não morrem.

Carta aos Ministros do Supremo

Golpe e estudantes

Por Luís Nassif, no Jornal GGN

Como é que faz, Teori, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Celso de Mello, Luís Barroso, Luiz Fachin? Como é que faz? Não mencionei Lewandowski e Marco Aurélio por desnecessidade; nem Gilmar, Toffoli e Fux  por descrença.
 
Antes, vocês estavam sendo levados por uma onda única de ódio preconceituoso, virulento,  uma aparente unanimidade no obscurantismo, que os fez deixar de lado princípios, valores e se escudar ou no endosso ou na procrastinação, iludindo-se – mais do que aos outros – que definindo o rito do impeachment, poderiam lavar as mãos para o golpe.
 
Seus nomes, reputações, são ativos públicos. Deveriam  ser utilizados em defesa do país e da democracia; mas, em muitos casos, foram recolhidos a fim de não os expor à vilania. 
 
Afinal, se tornaram Ministros da mais alta corte para quê?
 
Os senhores  estarão desertando da linha de frente da grande luta civilizatória e deixando a nação exposta a esse exército de zumbis, querendo puxar de novo o país para as profundezas.
 
Não dá mais para disfarçar que não existe essa luta. Permitir o golpe será entregar à selvageria décadas de construção democrática, de avanços morais, de direitos das minorias, de construção de uma pátria mais justa e solidária.
 
A imprensa mundial já constatou que é golpe. A opinião interna está dividida entre os que sabem que é golpe, e defendem o impeachment; e os que sabem que é golpe e reagem.
 
Desde os episódios dantescos de domingo passado, acelerou-se uma mudança inédita na opinião pública. Reparem nisso. Todo o trabalho sistemático de destruição da imagem de Dilma Rousseff de repente começou a se dissolver no ar.
 
Uma presidente fechada, falsamente fria, infensa a gestos de populismo ou de demagogia, distante até, de repente passou a ser cercada por demonstrações emocionadas  de carinho, como se senhoras, jovens, populares, impotentes ante o avanço dos poderosos, a quisessem proteger com mantos de afeto. Abraçaram Dilma como quem simbolicamente abraça a democracia. E os senhores, que deveriam ser os verdadeiros guardiões da democracia, escondem-se?
 
Antes que seja tarde, entendam a verdadeira voz das ruas, não a do ódio alimentado diuturnamente por uma imprensa que virou o fio, mas os apelos para a concórdia, para a paz, para o primado das leis. E, na base de tudo, a defesa da democracia.
 
A vez dos jovens
 
Aproveitei os feriados para vir para minha Poços de Caldas. Minha caçula de 16 anos não veio. O motivo: ir à Paulista hipotecar apoio à presidente. A manifestação surgiu espontaneamente pelas redes sociais, a rapaziada conversando entre si, acertando as pontas, sem a intermediação de partidos ou movimentos. Mas unida pelos valores da generosidade, da solidariedade, pelas bandeiras das minorias e pelo verdadeiro sentimento de Brasil.
 
São esses jovens que irão levar pelas próximas décadas as lições deste momento e – tenham certeza – a reputação de cada um dos senhores através dos tempos. Não terá o sentido transitório das transmissões de TV, com seus motes bajulatórios e seu padrão BBB.  Na memória desses rapazes e moças está sendo registrada a história viva, tal e qual será contada daqui a dez, vinte, trinta anos, pois deles nascerá a nova elite política e intelectual do país, da mesma maneira que nasceu a geração das diretas.
 
Devido à censura, foram necessárias muitas décadas para que a mancha da infâmia se abatesse sobre os que recuaram no AI5, os Ministros que tergiversaram, os acadêmicos que delataram, os jornalistas que celebraram a ditadura. Hoje em dia, esse julgamento se faz em tempo real.
 
Nas últimas semanas está florescendo uma mobilização inédita, que não se via desde a campanha das diretas.
 
De um lado, o país moderno, institucional; do outro, o exército de zumbis que emergiu dos grotões. De um lado, poetas, cantores, intelectuais e jovens, jovens, jovens, resgatando a dignidade nacional e a proposta de pacificação. Do outro, o ódio rocambolesco aliado ao golpismo.
 
Não permitam que o golpe seja consumado. Não humilhem o país perante a opinião pública mundial. Principalmente, deixem na memória dessa rapaziada exemplos de dignidade. Não será por pedagogia, não: eles conhecem muito melhor o significado da palavra dignidade. Mas para não criar mais dificuldades para a retomada da grande caminhada civilizatória, quando a rapaziada receber o bastão de nossa geração.

A família brasileira está salva

Este texto chegou às minhas mãos desde o dia 18/04, segunda-feira passada. Ocorre que como tive problemas com o computador e a internet, somente agora pude posta-lo.

PMDB 10

Por Moisés Mendes, jornalista gaúcho

Golpistas, recolham suas indignações seletivas e suas panelas. O país está em paz. Encaminhou-se a consumação do golpe. Guardem o que sobra da brutalização das falas e dos gestos para outros momentos, porque daqui a alguns anos teremos outro golpe, e depois mais outro, até o fim dos tempos.

Está tudo dominado. Ninguém mais precisa ter medo das cotas, do ProUni e das fortunas que mantêm milhões de vagabundos viciados em Bolsa Família. Salvaram-se reputações, interésses e brioches. Recolham o medo que um dia sentiram do avanço do comunismo, da nova classe média e do filho da empregada que vai virar doutor e pode ter a petulância de querer tratar dos nossos reumatismos.

A família brasileira, tão exaltada nos discursos do golpe na Câmara, estará em breve sob a liderança do grande chalaça. O líder Michel Temer foi o que sobrou para a direita enrustida. A direita que andou de mãos dadas com Bolsonaro e com Zé Agripino (onde andam Zé Agripino e Aloysio Nunes Ferreira, se já podem sair dos esconderijos?) tem agora a quem seguir.

A direita, tão agarrada a lições bíblicas _ citadas à exaustão na falação na Câmara _, passou trabalho mas venceu, depois de abandonar Aécio e os tucanos avariados pelas pesquisas sobre as eleições de 2018. Vai seguir a orientação do autor de uma carta infantil com queixas de que Dilma nunca olhou direto nos seus olhos e nunca ligou para suas carências afetivas.

Mas o medíocre Michel Temer, Cunha e seus asseclas desmoralizaram o jornalismo brasileiro. Nunca se viu tantos jornalistas sob a saia de golpistas. Vergonhosamente, nunca se viu tão pouco jornalismo.

Desde ontem, os golpistas e seus cúmplices (inclusive os camuflados) podem acalmar suas almas. Já podem até jogar Eduardo Cunha ao mar. Podem dormir em paz porque o Brasil e a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem pedaladas, estarão daqui a pouco sob a austeridade de Michel Temer e de Armínio Fraga.

Liberais, defensores de normas e leis que os favoreçam, adoradores do livre mercado que ontem votaram em nome de Deus e da família, durmam em paz.  Indignem-se com a corrupção e continuem aplaudindo corruptos impunes. Economizem os discursos duplos, as duas caras, a falsa defesa da democracia. Cuidem bem da fala dos seus oráculos adesistas.

Comemorem, abram champanhe, reabram contas secretas, voltem a superfaturar metrôs, roubem a merenda das crianças paulistas e enterrem a Lava-Jato antes que chegue mais perto das suas casas, dos seus governos e dos seus ninhos. Peçam para que os delatores parem de delatar Aécio Neves. Leiam a Constituição onde lhes interessa, declamem o Hino, vistam a camiseta da Seleção dos 7 a 1.

Percorram o Brasil com Janaína Paschoal em sessões de exorcismo. Gritem o nome do procurador-geral da República, de Gilmar Mendes e do juiz Moro. Elejam o japonês da Federal como o mais votado deputado brasileiro de todos os tempos. Reexaminem com cuidado, sabedoria e critério a Previdência Social, o SUS, o FGTS, os direitos trabalhistas. Façam o arrocho sem parcimônia.

O governo será de Michel Temer, do Lobão, do Paulinho da Força, do Caiado, do Abel das Galinhas, dos investidores estrangeiros e dos seguidores dos patos da Fiesp. Eles conseguiram o que velhos protagonistas e figurantes da velha direita do golpe que derrubou Jango nunca imaginaram. A nova direita venceu e tomará o poder sem votos, sem farda e sem tanques.

Golpistas sobreviventes de 64 devem estar espantados com o que viram ontem, enquanto Eduardo Cunha votava pelo golpe e rogava aos céus para que Deus tenha misericórdia do Brasil. Com tanta proteção, não há quem possa conspirar contra a família brasileira.

Os ovos da serpente

Globo e ovos da serpente

Aroeira ovos da serpente'

“O ovo da serpente”

Por Ronaldo Souza

Um dos filmes mais lindos que vi na minha vida foi “Morangos Silvestres”, de (Ingmar) Bergman, premiado cineasta sueco. 

Seguramente está entre os 10 melhores filmes a que já assisti.

Eu devia ter entre 17 e 18 anos de idade e era o segundo ou terceiro filme de arte que via.

Fiquei fascinado.

Narra a história de um professor que faz uma viagem de carro para receber um prêmio pela obra realizada.

Filme em preto e branco, uma verdadeira obra prima.

Por que escrevo isso?

Ontem, antes de terminar a votação da admissibilidade de encaminhamento do impeachment ao Senado, veio a vontade de escrever alguma coisa.

Já tendo tomado um belo banho (peguei uma chuva forte ontem no começo da noite no Farol da Barra), sentei para escrever.

Tomando um vinho…

Um parêntese.

Sim, os petralhas também tomam vinho.

E o pior de tudo.

Gostam.

Voltando a tomar meu vinho, li o texto abaixo de Pablo Villaça que uma das minhas filhas (que tinha ido comigo ao Farol), acabara de me enviar.

Pablo Villaça é um jovem cineasta brasileiro e a associação foi quase imediata.

Lembrei-me de Bergman e seu filme “O ovo da serpente”.

“O ovo da Serpente” é um filme que fala do surgimento do nazismo.

Ia postar direto o texto de Villaça, mas resolvi fazer esse breve comentário por ver uma enorme semelhança entre a obra de Bergman e o momento que estamos vivendo.

Dei-lhe então o primeiro título lá em cima (intencionalmente colocado no plural) e aqui no texto pus o título do filme e postei as duas imagens.

A charge é de Aroeira.

Vamos ao texto de Pablo Villaça, no seu Facebook

No momento em que escrevo este texto, 21h17 do dia 17 de Abril de 2016, o placar da votação na Câmara se encontra 252 a 81 a favor do golpe. Não há como negar o óbvio: perdemos. Eles terão NO MÍNIMO 360 votos.

Até agora, o que as câmeras no plenário exibiram foi um show de hororres: deputados que parecem pregar em um templo e que justificam seus votos dedicando-os a “Deus”, à suas famílias, “aos cristãos”, “aos maçons” (juro), “pelo direito de ir e vir” (hã?!) e, principalmente “contra a corrupção”.

Votam “contra a corrupção” para removerem uma presidenta que não foi acusada de crime algum e para colocarem, em seu lugar, Michel Temer e Eduardo Cunha. Votam “contra a corrupção” ignorando, entre outras coisas, que deveriam estar votando as tais “pedaladas fiscais”.

É sintomático, aliás, que apenas uns cinco ou seis deputados tenha mencionado as “pedaladas” em seus votos; ora, por que deveríamos esperar o contrário? Afinal, eles estavam julgando exatamente isso, não? Teve até deputado que, num ato falho perfeito, disse estar “cassando O BRASIL em nome do Pará”. Teve menção a Olavo de Carvalho. Teve voto contra a “ditadura comunista” (reparem: VOTO contra a DITADURA).

Muito bem… show de horrores à parte, o fato é que perdemos. E agora, o que acontece? Desespero? Pânico? Dores incapacitantes?

Nada disso. Ao contrário do que muitos deputados disseram durante seus votos (indicando seu despreparo para a tarefa), a Câmara não julgou o processo de impeachment, mas a ACEITAÇÃO de que esta seja enviado para o Senado. Quem decide se o processo será ADMITIDO e, então, JULGADO, são os senadores.

Os próximos passos são a formação de uma comissão no Senado para emitir um parecer sobre o processo – parecer que será julgado e terá que obter maioria SIMPLES (ou seja: 41 dos 81 senadores).

Dilma, então, perderia o cargo? Não. Seria afastada por 180 dias enquanto defesa e acusação são preparadas e apresentadas no Senado. A seguir, o processo seria enfim julgado, precisando obter 2/3 de aprovação (54 dos 81 votos) para que Dilma sofra o impeachment.

Em outras palavras: o golpismo venceu uma batalha importante, mas definitivamente NÃO venceu a guerra.

A partir de agora, tomar as ruas se torna ainda mais fundamental. É preciso que se torne impossível, pro Senado e pra mídia, ignorar nossas vozes (embora a mídia certamente vá tentar ao máximo). Além disso, há um elemento positivo na votação de hoje: os discursos dos deputados pelo “sim”. Como apontei acima, ficou transparente que não julgaram as “pedaladas”, mas questões ideológicas, religiosas e financeiras.

Não há mais como negarem a natureza golpista do que fizeram – houve até deputado dedicando seu voto pelo sim aos MILITARES DE 64.

O espetáculo na Câmara hoje foi tão grotesco que o único efeito possível é mobilizar de vez quem luta contra o golpe. Para completar – e isso é MUITO importante -, eles estão ignorando algo fundamental e que representa um elemento perigoso aos seus propósitos golpistas: os movimentos sociais, trabalhistas e das periferias.

E se posso fazer uma previsão é a de que estes se tornarão maiores e mais fortes. Outra coisa impossível de ignorar.

O dia 17 de Abril de 2016 entra pra História do Brasil como uma mancha. Mas tenhamos orgulho por saber que persistimos do lado certo.

Portanto, lindezas, lambam as feridas hoje. Chorem. (Eles não adoram dizer que “o “cholo é livre”? Aproveitemos a generosidade deles.) Esmurrem as paredes. Digam palavrões enquanto tomam banho. Quebrem um prato ou um copo (só um; lembrem-se de que terão que catar os cacos depois e isso é um saco). Só não entrem em brigas ou trocas de insultos, pois isto não é produtivo e somos, afinal, seres racionais.

Em seguida, ergam a cabeça, respirem fundo e olhem adiante. Este caminho que estão vendo à sua frente significa algo fundamental: que a luta continua.

Obs. Este texto foi postado no dia 18/04 e foi removido no dia 20/04 porque estava procurando a causa do problema que surgiu com a internet e a impossibilidade de postar aqui no site. Pensei ser vírus e como esta tinha sido a última postagem resolvi remove-la para conferir. Hoje, 21/04, o problema foi resolvido e esta não era a causa. Como se pode observar, o texto foi republicado.

Idas e vindas de um traidor

Por Ronaldo Souza

Temer já estava em São Paulo, de onde iria monitorar a votação do impeachment amanhã, domingo.

Ocorre que teve que voltar às pressas para Brasília.

Motivo.

A debandada de deputados que votariam a favor do impeachment.

Folha e Temer preocupado 1

Li essa notícia muito cedo hoje na manhã deste sábado. Não “toquei” nela. Preferi aguardar

Vi depois a confirmação na Folha, que usou uma expressão talvez não muito conhecida; defecções.

Folha e Temer preocupado 2

Vamos lá.

Defecção – abandono voluntário e consciente de uma obrigação ou compromisso (em relação a uma pessoa, instituição, doutrina etc.); deserção.

Ou seja, a Folha confirmava que, de fato, os deputados realmente estariam abandonando o barco do golpe.

Bateu o desespero.

E aí veio a terceira matéria.

Folha e Temer preocupado 3

Eduardo Cunha estaria pensando em adiar a votação prevista para amanhã porque não tem mais os votos que precisa para o impeachment.

A essa altura alguém cujos neurônios estejam com um mínimo de sincronia poderia expressar alguma surpresa pela atitude do nobre deputado?

Não acredito.

Qual seria a jogada?

Desacelerar o andamento das discussões no plenário e inviabilizar a votação amanhã.

Eles que tanto correram para acelerar o processo, pelas razões por demais conhecidas, estariam agora pensando em como adiar.

Muito cuidado.

Que eles não têm os votos, todos já sabemos há algum tempo.

Mas tudo é possível e o jogo é pesado nessas horas.

Continuemos atentos, sem baixar a guarda.

E amanhã nada muda.

Todos às ruas.