E por sermos todos é que a todos recebemos com os braços abertos.
Para o abraço.
Que alguns não conhecem.
São essas cores, todas as cores, que amanhã irão pintar a Aquarela da Bahia.
Ela tem as mesmas cores da Aquarela do Brasil.
Vamos dividir com o Farol toda nossa inquietação e paixão, ansiedade e força, angústia e esperança.
E a ele, que durante séculos iluminou as nossas águas e mostrou aos navios que aqui chegavam os caminhos para o mar calmo e seguro da Bahia de Todos os Santos, vamos pedir que nos ilumine e mostre novos caminhos, sem tantas tempestades e tormentas.
Que voltemos a navegar em mares calmos e seguros e alcancemos por fim a terra firme.
Vamos cantar todas as letras, todos os sons, todas as músicas.
Vamos universalizar o Farol.
Vamos rir e chorar.
É assim que a vida se torna plena.
Venha.
Vamos juntos.
E o futuro é uma astronave Que tentamos pilotar Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar Sem pedir licença, muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar Vamos todos numa linda passarela De uma aquarela que um dia enfim…
Sem uma linha de comentários, do jornalista Luiz Costa Pinto, em seu facebook:
Houve um tempo em Brasília que se reverenciava a Constituição. Senhores da cidade, os parlamentares mereciam respeito por serem os únicos investidos do poder de mexer em seus dispositivos – para aperfeiçoá-la, para adaptá-la ao tempo que não pára. Não, o tempo não pára.
Houve um tempo, em Brasília, que ostentar o broche designativo do mandato parlamentar era uma honra – deferência dada a poucos, àqueles que haviam conquistado esse poder nas urnas combatendo o bom combate: a disputa do voto popular.
Houve um tempo, e ele se passou em Brasília, em que se conspirava à noite a favor da mãe de todas as teses populares: o voto, seu significado, seu peso. E quando raiava o dia deputados e senadores, servos respeitáveis da Constituição que haviam ajudado a escrever, assumindo suas imperfeições e orgulhando-se de seus avanços, eram capazes de virar leões nos plenários e nos corredores do Congresso a fim de velar pelo exercício do poder em nome do povo. Como deve ser.
Já não há mais tempo, em Brasília, para lançar um olhar nostálgico sobre o passado não tão remoto. A conspiração, que se faz à noite e de dia também, é para cassar do povo o poder do voto. É para golpear a Constituição brincando de impedir o prosseguimento de um mandato popular – imperfeito, eivado de erros, permeado de equívocos; mas egresso da vontade popular, saído das urnas com a legitimidade divina – urdindo teses mal costuradas para fazer reinar um grupo sem compromisso popular. Sem legitimidade. Sem voto.
Houve um Abril, em Brasília, em que o Brasil inteiro se uniu para gritar a favor da restauração do poder do voto, para enxotar a ditadura militar e devolver ao povo o direito de eleger presidente. Houve esse Abril, e o tempo que não parou não o deixou tão distante assim que aqueles gritos já não possam mais ser ouvidos.
Agora se vê parlamentar, deputados sobretudo, rasgando a Constituição e golpeando o ar com bonecos de borracha. Soprando apitos nos corredores do Parlamento, travestidos de bandeira brasileira e envergando faixas verdes-e-amarelas sobre os paletós mal cortados, inebriados por um sopro de poder que parece ter contaminado a todos. É o sopro do golpe do impeachment. É só um vento que sopra a partir das catacumbas de uma Brasília que já viu passar muitos outros ventos como esse. Mas a cidade sabe que o tempo é implacável com quem trai a urna para tentar pegar um atalho para a História.
Agora é tempo de ver parlamentar achando que pode tudo porque ergueu uma catedral de papel com os cacos de um governo que não conseguiu defender seu legado de avanços em meio a um bombardeio caótico de fatos e de versões disseminadas com o objetivo de miná-lo. É tempo de assistir a turbas de deputados, qual moleques, fazendo apostas em bolões de votos. Eles vendem seus votos. Agora, brincam de rifar placares. Voto não é mercadoria nem tem preço, moleques. Voto é resultado de um ato solene. E tem consequências.
O tempo não pára. E voltará o tempo em que deputado que organizar bolão de voto será cassado por quebra de decoro. Sim, há deputados e senadores que ainda zelam pelo decoro. Hoje, amanhã, domingo, parecem minoria. Daqui a um tempo talvez se tornem, de novo, maioria. O tempo, que não pára, corre em círculos. Em breve esses moleques que não respeitam nem mandatos, nem votos, cairão um a um no meio do círculo porque o cerco terá se fechado. Em breve, com o tempo, porque ele não vai parar.
Pode-se ser golpista agindo contra a ordem constitucional.
O Congresso Nacional está mostrando como, com um processo de julgamento onde pouco ou nada importa a veracidade ou a legalidade das acusações, mas o gostar ou não do “acusado”. Ou, a esta altura, quase vítima.
Pode-se ser golpista agindo sem mínimos princípios éticos e morais, como faz o vice-presidente Michel Temer, chamando líderes de partido ao Palácio do Jaburu e prometendo nacos do seu natimoribundo Governo.
Existe, porém, outra forma de ser golpista: deixar, por omissão ou retardamento nos seus deveres, que a ordem constitucional seja rompida para só depois disso debater e até proibir – que o martelo quebre o cristal.
A mais forte reação política do Governo Dilma em defesa de sua sobrevivência foi a nomeação de Lula como seu ministro da Casa Civil.
E esta reação – ao contrário dos atropelos e da correria da Câmara – foi impedida pelo Supremo Tribunal Federal. A corte agiu como quem amarra uma das mão de um lutador e espera que, enquanto decide se é justo fazê-lo, pela possibilidade que aquela mão possa desferir um golpe baixo e, enquanto o faz, permite que seu adversário bata, bata e bata.
Sábado, véspera da sessão do Coliseu onde a legalidade democrática será jogada aos leões, enquanto Michel Temer e Eduardo Cunha viram para baixo seus polegares , a nomeação de Lula completa um mês.
E segue impedida. Só no preguiçoso dia 20 vai se analisar se ela é ou não legal, embora tudo o que tenha levado à suspensão da posse já se tenha julgado injurídico e que a alegada fuga à Justiça em que se funda a acusação seja, justamente, colocá-lo sob o julgamento daquela Corte, que se confessaria, assim, leniente e parcial a favor do ex-presidente.
Ou seja, o Supremo julgará se Dilma pode nomear seu ministro só quando, talvez, já nem haja um Governo, quanto mais ministros.
Pode-se argumentar que é assim, pela recente jurisprudência do STF, que proibiu o Habeas Corpus contra decisão, mesmo singular, de qualquer de seus ministros. Numa frase: aquilo que os juristas chamam de “remédio heroico” contra o abuso de autoridade vale para qualquer delas, menos para os ministros do Supremo. Se um deles tornar-se atrabiliário ou, simplesmente, aloprar, ainda assim as consequências continuarão, até que se cumpra o lento rito de pareceres, vistas e, finalmente, o seu exame pelo plenário, que, em tese, restaure a sabedoria e o equilíbrio colegiados.
Não há trocadilho: o “paciente” – termo jurídico daquele que busca o habeas corpus – será examinado apenas quando estiver morto.
No homem comum a procrastinação pode vir de um perfeccionismo tolo, do desejo perfeição se sobrepondo à de consciência realista de seu dever.
No exercício da autoridade, é pior. Denota a fraqueza, a auto-escusa de suas responsabilidade e, em última análise, a capa de invisibilidade do matreiro traidor.
O silêncio dos bons, expressão histórica de Martin Luther King, os converte em maus.
Mas, no Brasil dos canalhas, onde se celebra o traidor e a traição, o golpe e os golpistas, o abuso e o abusador, tudo pode ser pior.
O Supremo julga hoje um Mandado de Segurança contra decisão da Câmara de emendar a Constituição para estabelecer o parlamentarismo como forma de governo. Ou seja, a abolição das eleições diretas para a eleição de um Presidente que governe, restando apenas para um cargo decorativo.
Aquilo que por duas vezes – e mil, se necessário, faria – o povo brasileiro recusou em plebiscito.
Não é preciso muito para avaliar as consequências disso, basta abrir os olhos e ver o que se passa no parlamento.
É tão absurda e abjeta esta ideia que não se pode dizer que vá passar pelo julgamento de hoje.
Mas quando o absurdo e a abjeção já se tornaram cena comum e o Supremo se apequena ao ponto de deixar que os crimes se consumem e lave as mãos como Pilatos, o que dizer?
Mas, embora aqueles senhores e senhoras -quase todos conduzidos aos postos que ocupam pelo governo que agora deixam morrer sob o argumento que este escolhe Lula, como os escolheu, com “desvio de finalidade” (seriam também eles oito “desvios”?) – possam acovardar-se (dói, não é, Ministros?), os brasileiros não são covardes.
Seremos leões, não ratos como os que se atiram ao queijo.
As ruas vão rugir em advertência.
Não queremos a tragédia, mas não viveremos na indignidade.
O “Domínio do Fato” foi usado espertamente por Joaquim Barbosa para condenar José Dirceu e Genoino.
Usando-o como argumento, Joaquim disse que não tinha como eles não saberem de nada sobre o mensalão.
Na mesma época em que acontecia o julgamento, Claus Roxin, o jurista alemão que criou a teoria do Domínio do Fato, esteve no Brasil para fazer palestras e deu entrevista à Folha.
Com elegância, algo que Joaquim Barbosa desconhece, disse que Joaquim tinha usado a sua teoria de forma equivocada.
O que fez a Folha?
Só publicou a entrevista depois das eleições.
Até hoje essa teoria é utilizada, sempre, claro, ao sabor das conveniências das interpretações, como fez Joaquim Barbosa.
Bolsonaro sempre foi um dos mais fervorosos adeptos da interpretação de Joaquim Barbosa.
E a usou para adubar e estimular o “clamor popular” para condenar José Dirceu e Genoino e agora usa para fazer o mesmo com Lula e Dilma.
Bolsonaro, o paladino da moral e da justiça, o capitão da verdade.
Aquele que a todos acusa de corruptos.
Não é tão simples aceitar a existência de protótipos desse tipo numa sociedade que se pretende séria.
Logo ele, que também está na lista de furnas e se defende dizendo que não lembra, “é possível que tenha recebido algum dinheiro”.
Indivíduos desse tipo são desmascarados com grande frequência, mas estão sempre impunes por pertencerem aos grupos que pertencem e terem seguidores com baixo nível mental-intelectual.
Entretanto, ainda que seja assim, quem, com o mínimo de dignidade, pode imaginar que Bolsonaro não sabia de nada sobre o irmão?
No início chegou a dizer que não tinha nada a ver com o assunto e no seu velho estilo de macho disse:
– Ele que se exploda.
Querendo dar a impressão de que era implacável até mesmo com seu irmão.
Imagino o quanto devem ter se arrepiado os seus machos seguidores com frase tão eloquente e digna.
Só mesmo eles para levar “Bolsomito” a sério.
Porém, nem todos são como eles.
Observe o artifício usado por Bolsonaro diante da corrupção que já não o poupa e também aos seus.
Irmão de Bolsonaro é exonerado da Assembleia Legislativa de SP
Renato Antônio Bolsonaro, irmão do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), foi exonerado do cargo de assessor especial do deputado estadual André do Prado (PR), após uma reportagem revelar que ele recebia sem trabalhar na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Segundo matéria do SBT, Renato recebia um salário de mais de R$ 17 mil mensais e é dono de quatro corretoras de imóveis em Miracatu, do interior de São Paulo, onde concorreu ao cargo de prefeito em 2012. Sobre o caso, o deputado federal deu duas declarações diferentes, uma em que defendia o irmão e dizia que ele não cometeu crime, e outra em que dizia que o problema era de seu irmão. “Ele que se exploda”, disse.
Renato Bolsonaro tinha cargo de assessor especial parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo e recebia mensalmente mais de R$ 17 mil.
Mais de 17 mil reais como assessor!
São Paulo – O irmão do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Renato Antônio Bolsonaro, foi exonerado nesta quinta-feira do cargo de assessor especial parlamentar do deputado estadual André do Prado (PR) após ser considerado funcionário fantasma na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Bolsonaro trabalhava com o político havia três anos.
Segundo informações reveladas em uma reportagem exibida pelo SBT, pelo repórter Fábio Diamenta, Renato Antônio recebia mensalmente um salário de mais de R$ 17 mensais sem comparecer à Assembleia. Ainda de acordo com informação da reportagem, Renato era dono de quatro corretoras de imóveis na cidade de Miracatu, no interior do estado, enquanto deveria estar na Alesp.
Em 2012, Bolsonaro concorreu ao cargo de prefeito da cidade de Miracatu. Na época, ele teve apenas 25% dos votos validos e não conseguiu se eleger. A reportagem procurou o deputado estadual André do Prado (PR), no entanto ele afirmou que estava muito ocupado nas atividades da Casa. O deputado Jair Bolsonaro também foi procurado e afirmou que desconhecia a situação do irmão.
“De qual deputado ele é empregado lá em São Paulo?”, perguntou o deputado federal. Ao saber de quem era o político seguiu dizendo: “Pau nele, pau nele pra deixar de ser otário. Se o meu irmão praticar um crime, uma besteira, é problema dele. Não vai ter nenhum apoio meu. Ele que se exploda”, concluiu o deputado.
Renato Bolsonaro, irmão do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), afirmou que fazia assessoria parlamentar de dentro de loja após ser exonerado do cargo de assessor parlamentar do deputado estadual André do Prado (PR-SP) na Assembleia Legislativa de São Paulo nessa quinta (7). Apesar de receber mais de R$ 17 mil por mês do governo estadual, Bolsonaro trabalhava diariamente em uma de suas lojas no interior de SP. Jair Bolsonaro defendeu o irmão: “Ele não cometeu crime. Isso foi só para atingir a minha pessoa”
Comentário do Falando da Vida:
Não são sensacionais os argumentos dos dois irmãos?
Além disso, você observou o “diálogo” entre o repórter e o irmão de Bolsonaro?
Repórter: É gostosa essa cidade, né?
Irmão: O que estraga são os políticos.
E a risadinha.
O interessante é que o irmão de Bolsonaro só largou a assessoria do deputado André do Prado porque vai se candidatar à prefeitura da cidade.
Será também… político!!!
Tal qual Bolsonaro, ele também acha que os políticos não prestam.
O ex-presidente Lula participará nesta segunda-feira do ato ‘Cultura pela Democracia’, na Lapa, no Rio de Janeiro; manifesto idealizado por artistas para rejeitar o golpe contra a presidente Dilma Rousseff tem na linha de frente nomes como Chico Buarque, João Bosco e Eric Nepomuceno; o evento iniciará às 17h, e Lula participará do palco das ruas, nos arcos da Lapa, onde ocorrerão apresentações de mais de 100 artistas; “Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais. Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões”, diz trecho do manifesto
O ex-presidente Lula participará nesta segunda-feira (11) do ato ‘Cultura pela Democracia’, na Lapa, no Rio de Janeiro. O manifesto idealizado por artistas para rejeitar o golpe contra a presidente Dilma Rousseff tem na linha de frente nomes como Chico Buarque, João Bosco e Eric Nepomuceno. O evento iniciará às 17h, e Lula participará do palco das ruas, nos arcos da Lapa, onde ocorrerão apresentações de mais artistas como Jards Macalé, Francis Hime, Otto e Tico Santa Cruz.
Leonardo Boff, Wagner Moura e Fernando Morais subscrevem o manifesto. “Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais. Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões”, diz trecho do ‘Cultura pela Democracia’.
O documento pondera que ‘vivemos em uma democracia incipiente, ainda em construção, que foi conquistada a duras penas e que tem avançado nos últimos anos, reduzindo as desigualdades e injustiças’, chama todos para a reflexão sobre algo que consideram mais valioso que qualquer disputa ideológica e partidária.
‘Estamos reunidos para defender o presente. Para espantar o passado. Para merecer o futuro’, diz o manifesto.
Chico Buarque, Eric Nepomuceno e todos os mais de 100 artistas que assinam o manifesto alertam para ‘as consequências de um transe social que vem conduzindo o Brasil, com intolerância, para o retrocesso’.
O evento na Fundição Progresso será aberto, mas caso atinja a lotação, todos que quiserem acompanhá-lo poderão assistir, ao vivo, por um telão que será montado nos Arcos da Lapa.
Às 19h30, Lula e todos os demais participantes sairão em cortejo para o grande palco da Lapa, que reunirá o colorido dos blocos de carnaval, do samba, do forró e da MPB e a atitude do Hip Hop e do Funk.
Uma vez, numa conversa com Zé Dirceu já nem sei lá exatamente a propósito de que, ele disse o seguinte: “Os políticos têm pavor de 30 segundos no Jornal Nacional.”
Lembrei. Eu falava do vigor florescente da mídia digital e Dirceu retrucou com a força da mídia tradicional, mais especificamente a Globo.
Aquela conversa me veio à cabeça ao ver o Datafolha de hoje.
Lula nas últimas semanas sofreu massacres sucessivos do Jornal Nacional que foram muito, mas muito além dos 30 segundos citados por Dirceu.
Fernando Morais cronometrou 23 minutos num determinado dia.
Era para Lula estar carbonizado. Apartamento, sítio, ações pirotécnicas da Polícia Federal e da Lava Jato, grampos supostamente incriminadores em que conversas de Lula e Dilma foram interpretadas pelos locutores do JN: nada faltou.
Ao assassinato de reputação de Lula pela Globo se somou ainda o trabalho sujo de jornais e revistas como Veja, Época, IstoÉ, Folha, Estadão, Globo, para não falar de inumeráveis colunistas patronais.
A plutocracia jogou bombas atômicas em Lula. Ou o que ela julgava serem bombas atômicas.
Mas.
Eis que Lula aparece na liderança das pesquisas de intenções de voto para 2018.
E Aécio, tão poupado pela Globo, despenca rumo ao cemitério político. Moro, tão bajulado, aparece na rabeira.
Isso quer dizer o seguinte.
Primeiro, e acima de tudo: Lula é muito mais forte do que a plutocracia sonhava. A jararaca está aí. Sozinho, Lula comandou nas duas últimas semanas um formidável movimento popular de reação ao golpe que a direita imaginava ser coisa liquidada.
Segundo, está aí a prova cabal da perda de influência da Globo e da imprensa em geral.
Tanta perseguição do Jornal Nacional e coadjuvantes para Lula, em vez de estar morto, ser líder das intenções de voto?
É um fracasso espetacular.
Se tiver um mínimo de lucidez, a cúpula da Globo vai se reunir para tentar entender o fiasco miserável.
O antijornalismo que a Globo passou a adotar recentemente, claramente inspirado na Veja, já não funciona entre os brasileiros.
O JN parece, hoje, uma Veja eletrônica. A Globo como um todo, aliás. Uma pequena demonstração disso reside num diretor da casa, Erick Bretas, que conseguiu se fantasiar de Moro em sua conta no Facebook. Isso é um acinte, um insulto ao jornalismo decente.
Ao contrário de outros tempos, a internet funciona como um contraponto aos crimes jornalísticos das grandes corporações de mídia.
Quanto mais um veículo perde o pé no antipetismo radical, menos influência tem. A Veja é o exemplo maior. Ninguém exceto seus leitores, e eles mesmos em número sempre menor, a leva a sério.
A Globo tomou o mesmo caminho. Ficou aloprada.
Mas nem seus funcionários parecem acreditar nela mais. Estrelas de suas novelas queixaram-se publicamente, nas últimas semanas, da cobertura do Jornal Nacional, mesmo ao preço de arriscar o pescoço.
Do mar de lama em que se meteu a imprensa emergiu, paradoxalmente, Lula.
Quiseram exterminá-lo, e no entanto o que fizeram foi uma propaganda involuntária de Lula para 2018.
Não adianta tentar transformar Moro em herói. Não é. É um herói de mentirinha. Lula é, ele sim, um herói do povo, quer a plutocracia goste ou não.
Há sempre uma estrada à espera de um bagaço de fruta chupada atirado pela janela.
Um dos mais recentes personagens a ilustrar esse fenômeno é Joaquim Barbosa.
O apartamento de Miami que agora expõe as suas vísceras e o faz confessar que não possui uma off shore, mas duas, não é nenhum fato novo.
No momento em que no mensalão ele condenava José Dirceu e José Genoino, para citar só esses dois, por corrupção, através da off shore, que agora se sabe são duas, ele comprava o apartamento num condomínio de luxo em Miami, o paraíso das mentes pensantes brasileiras.
Existem inclusive suspeitas, documentos sugerem isso, de que na verdade ele teria ganho e não comprado o apartamento.
Joaquim Barbosa já disse que não vai mostrar nenhuma documentação a ninguém.
Contando como sempre contou com os poderosos, que o usaram quando ainda tinha alguma serventia, quem o socorreu agora?
Só está e só ficará.
Ao agir como agiu, negou a sua raça.
Que hoje o vê não como um negro digno como tantos que existem, mas como um preto que negou a luta dos povos negros.
Joaquim Barbosa frustrou a história.
“O menino pobre que mudou o Brasil” só mudou a si mesmo.
Vestiu-se de branco.
Alguém ainda consegue imaginar “o menino pobre que mudou o Brasil” como presidente do país?
Moro está prestes a sentir na pele branca o que Joaquim Barbosa sentiu na pele negra por ter se vendido aos poderosos.
A pesquisa recentemente divulgada para a FIESP mostra que a sua popularidade despenca (aceitação cai de 90% para menos de 60%) justamente por perseguir aquele que, ao contrário, nunca se vendeu aos poderosos.
E aponta para dois momentos em particular.
A prisão coercitiva de Lula e a divulgação ilegal e imoral dos grampos de conversas privadas, particularmente com a presidenta da república.
Moro mostrou ser mais um de visão curta, que não alcança horizontes amplos.
Na sua sanha de Deus enlouquecido e intocável, não conseguiu perceber que não se mexe com mitos.
Assim tentaram fazer aqueles pobres coitados que abordaram Chico Buarque na rua.
Sequer tinham ideia de com quem estavam tendo a honra de falar.
Onde estão eles agora?
Assim fez Moro.
Também não conseguiu dimensionar o tamanho que têm os mitos.
Nunca tendo brigado com nenhum dos poderosos, Lula sempre manteve a altivez e jamais abaixou a cabeça.
Você vê acima a manchete do Estadão, de dois dias atrás.
O que se pode deduzir?
Como o país está submerso num “mar de lama” e de “enorme boa vontade”, você vai dizer:
Pegaram Lula em nova corrupção.
E como muitos só leem as manchetes, esta será a leitura de todos:
“Pegaram Lula em nova corrupção”.
E todos saem por aí, alegres da vida, divulgando a mais nova corrupção de Lula.
Movidos pela ignorância (muitos), e pela absoluta falta de caráter (alguns), compartilham.
Se estivéssemos em outros tempos, em que a ordem de comando não fosse dada pela ignorância e falta de caráter, veriam que a matéria do próprio Estadão nada tem a ver com o que o título pretende mostrar.
A matéria simplesmente diz o que todos sabem; “não há relação da offshore com o apartamento atribuído ao ex-presidente Lula”.
A citação ao nome de Lula é essa.
O que pretende então o Estadão com a manchete “Moro manda para o STF investigação da Mossack que cita Lula”?
Por saber que seus letrados leitores não leem, formam o seu conhecimento dos “fatos” nas manchetes, deixa bem insinuadinho, bem bonitinho, bem mastigadinho, que Lula está envolvido no escândalo da Mossack.
Não sabem eles, os letrados leitores, que envolvida está a Globo.
Não sabem eles que Sérgio Moro (agora já se sabe que não passa de soldado mandado de Rodrigo Janot, Procurador Geral da República), partiu pra cima de Lula na a essa altura esquecida matéria sobre o triplex de Guarujá.
Lá o juiz Moro encontrou a Mossack & Fonseca, empresa envolvida em diversos episódios de corrupção e lavagem de dinheiro espalhada pelo mundo.
O que fez Moro?
Prendeu os envolvidos, imaginando; peguei Lula.
Por que imaginou ter alcançado o objetivo da Lava Jato?
Se a Mossack estava “lá dentro” do edifício do triplex, era ali que ia “encontrar” Lula com a mão na botija.
Não encontrou.
E mais.
O fio da meada foi bater em Paraty, mais especificamente em uma reserva ambiental de Paraty.
E lá estava outro triplex.
Esse sim, além de ilegalmente construído em reserva ambiental, de altíssimo luxo.
E 22 demoradas linhas depois: Não há relação da offshore com o apartamento atribuído ao ex-presidente Lula.
A investigação da Mossack cita Lula em que, então?
Ou a Mossack apareceu na ânsia frustrada de “pegar” o Lula.
Porque os jornais brasileiros não se interessam pela farta documentação, mostrada aqui, no Viomundo e em outros blogs, que mostram que a polêmica mansão irregular de Paraty, objeto de processo na Justiça Federal pertence a um empresa organizada pela Mossack Fonseca?
Por que a tentativa de ligar Lula a ela se, linhas adiante, se dirá que nada têm a ver?
Porque, lamentavelmente, não se faz jornalismo, faz-se uma campanha política de desmoralização que não conhece nem os limites da verdade nem os da ética.
O Datafolha já cometeu vários deslizes em campanha eleitorais, mas talvez nada se compare a essa tentativa de aprovar o impeachment a qualquer preço e que resultou numa forçação de barra sem precedentes na história do Instituto.
Segundo matéria de hoje da Folha de S. Paulo, o Instituto teria ouvido de 21 de março a 7 de abril 291 deputados. E com base nesse universo projetou que o impeachment teria 308 votos na Câmara. Ou seja, que estaria a apenas 34 votos da aprovação.
Esse resultado é uma fraude por vários motivos.
Em primeiro lugar, como já disse Magalhães Pinto, política é como nuvem, você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela está de outro. E o Congresso é a política em estado bruto. Num momento como esses, uma pesquisa que demora 18 dias para ser feita já tem validade próxima de zero.
Nesses 18 dias muita coisa aconteceu. Por exemplo, só para ficar em um deles, o PP voltou a se reaproximar do governo neste período e vários deputados do partido passaram a prometer seu voto contra o impeachment. O Planalto conta hoje com 30 votos da bancada na Câmara. Até dia 21 de março não contava com cinco.
Mas o período pesquisado não é o problema central da pesquisa. O maior problema é que o Instituto faz projeção de votos num ambiente onde o correto é fazer um placar.
Se ouviu 291 e 60% são a favor, isso significa que 175 deles votam pelo impeachment e ponto final. Não dá pra fazer projeções num ambiente desses, porque se isso fosse feito teria de levar em consideração muitas variáveis.
O Datafolha diz que considerou o peso de cada bancada para projetar os 308 a favor. Mas levou em consideração a região do país de cada deputado? Pelo que informa, não. Se não levou isso pode pode levar a maiores distorções do que o peso por bancada.
Da mesma forma que os institutos não fazem pesquisa para candidatos proporcionais, os diretores do Datafolha sabem que num ambiente desses pesquisa mal serve para orientar quem está na operação de convencimento.
O que vale é monitorar a tendência de voto de cada um dos que votarão, um pouco como o Estado de S. Paulo tem feito.
Ou seja, tá valendo jogar a reputação de um instituto como o Datafolha no lixo para criar uma onda de que faltam poucos votos para aprovar o impeachment. E de repente 175 votos viram 308, numa contabilidade absolutamente sem lógica.
Em que momento a onda pró-impeachment começou a refluir?
Olhadas as coisas em retrospectiva, foi nos dias em que Moro colocou no ponto máximo sua perseguição a Lula, primeiro com o depoimento coercitivo e depois com a divulgação, pela Globo, dos grampos.
Isso quer dizer o seguinte: involuntariamente, Moro contribuiu poderosamente para que a tentativa de golpe fosse perdendo força contra todas as expectativas de até pouco tempo atrás.
Moro cometeu um pecado de superavaliação e um pecado de subavaliação. Provou não ser um bom observador.
Ele superavaliou a si próprio e à Globo. Imaginou que a retaguarda da Globo lhe daria salvo conduto para cometer todo tipo de barbaridade.
E ele subestimou Lula. Imaginou que poderia fazer o que quisesse com Lula sem que houvesse resposta da militância petista e, mais que ela, de todos os brasileiros incomodados com abusos policialescos na condução da Lava Jato.
A Globo é menos do que Moro pensava ser. E Lula é mais. Essa combinação explica o começo do fim do golpe.
Moro não estava sozinho.
O experimentado jornalista Elio Gaspari teve uma leitura ridícula das transcrições dos grampos. Disse que eles mostravam um Lula acuado, isolado dos petistas. Gaspari chegou a dizer que Lula gostava de pensar como seria o seu enterro, e teria tido ali um vislumbre. Claro que Gaspari estava falando do enterro de um perdedor.
Como Moro, ele cometeu um monumental erro de avaliação.
Se há um grande vencedor nestes últimos acontecimentos é exatamente Lula. A perseguição selvagem de Moro e da Globo como que despertou o que ele tem de melhor.
É mais ou menos como aquele velho pistoleiro que está em seu canto, interessado em sossego, e a quem as circunstâncias forçam a pegar seus revólveres de novo, com a garra e a paixão dos velhos dias.
Ou, na grande imagem do próprio Lula, é a jararaca que se sente espezinhada e reage.
Vozes insuspeitas se ergueram contra os exageros de Moro. O liberal, conservador Marco Aurélio Mello criticou duramente os métodos de Moro.
Numa passagem memorável, ele reagiu assim à desculpa de Moro de que obrigara Lula a depor para protegê-lo. “Este tipo de proteção eu não quero para mim”, disse ele.
Mitou.
Numa frase, Mello desmoralizou a falácia cínica de Moro.
A reação do velho pistoleiro, ou da jararaca, acabou incendiando o país com manifestações inflamadas contra o golpe. No calor delas, duas coisas ocorreram: uma é que o golpe se consagrou como golpe, ao contrário dos que queriam dar outro nome ao movimento golpista.
A outra foi a diminuição de Moro. O super-herói ficou exposto como nunca estivera. Achou que podia voar e se esborrachou. O que parecia uma unanimidade – burra, catastrófica, mas unanimidade – se esfacelou.
É crescente o sentimento entre os brasileiros não fanatizados pelo antipetismo da mídia de que a Lava Jato deu. Cansou. E Moro também.
De forma simbólica, naqueles dias de depoimento forçado e grampos passados à Globo, travou-se um duelo entre Moro e Lula.