As planilhas estavam com Moro há um mês. Ele não as vazou antes para permitir o fechamento de acordo entre o PMDB e o PSDB para o golpe final contra Dilma
A divulgação, na terça-feira 22 de março, das planilhas com mais de 200 políticos financiados pela Odebrecht, foi uma nova farsa do juiz Sérgio Moro para esconder o fracasso de um plano golpista que teve de ser abortado.
Aos fatos:
1. estas planilhas estavam em poder do juiz Moro há um mês. Elas foram obtidas no dia 22 de fevereiro, por ocasião da 23ª fase da Lava-Jato, denominada “Acarajé”;
2. Moro não as vazou antes para permitir o fechamento de acordo entre o PMDB e o PSDB para o golpe final de derrubada da Presidente Dilma. A divulgação dos nomes de políticos que estão na linha de frente do golpe naturalmente inviabilizaria a empreitada golpista;
3. com o crescimento do apoio popular ao governo e a reversão de vários abusos da Lava-Jato, o plano ficou comprometido, e então Moro ficou com a batata-quente na mão: a única lista que não tinha sido vazada, por ser justamente aquela que implica os generais do golpe;
4. Moro usou a blitz feita na Odebrecht no dia 21 de março para divulgar como novidade e confundir como descoberta da ação, as listas que na verdade já estavam em seu poder desde o dia 22 de fevereiro. O sigilo da lista, decretado de maneira surpreendente algumas horas depois, é apenas cortina de fumaça e diversionismo;
5. se especula que, com o espalha-merda dos nomes de políticos, Moro tente favorecer uma nova saída golpista: salvam-se todos os políticos citados – muitos dos quais corruptos e envolvidos na corrupção da Petrobrás – às custas da expiação da inocente sobre a qual não pesa nenhuma acusação, que é a Presidente Dilma.
O condomínio jurídico-midiático-policial domina a iniciativa política no país. O sistema político brasileiro está esfarelado, virado de cabeça para baixo, e o país paralisado. Tanto o Poder Executivo como o Legislativo são coadjuvantes no xadrez político controlado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato.
Governo e Congresso estão de mãos atadas. Quando tentam agir, suas iniciativas são surpreendidas e neutralizadas por ardis jurídicos e policiais. A anulação da posse do ex-Presidente Lula na Casa Civil, que é parte desta realidade, interdita o esforço da Presidente Dilma de recompor a estabilidade política e institucional para recuperar o crescimento.
O Brasil é refém de um jogo maquiavélico que assume características fascistas com a destruição do ordenamento jurídico que fere mortalmente o Estado Democrático de Direito.
O juiz Sergio Moro é um incendiário, um personagem maligno determinado a destruir o país para concretizar sua obsessão justiceira de eliminar inimigos ideológicos.
A continuidade dele à frente da Lava-Jato pode ser funcional à lógica golpista do condomínio jurídico-midiático-policial, mas é um fator de enorme instabilidade e crise que mergulha o país no caos e na violência.
A Globo Comunicações e Participações divulgou seu balanço de 2015. A receita vinda dos anúncios despencou 6,1% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, o lucro líquido da empresa aumentou astronômicos 30%. Motivo? Operações no mercado financeiro, sobretudo com o dólar.
O fato coloca os responsáveis por vazamentos da Lava jato, no mínimo, em desconforto. Pois os vazamentos e pirotecnia da operação tem causado reboliço nas cotações do dólar e da Bolsa – e o Grupo Globo, que recebe vazamentos em primeira mão, lucrou muito com o dólar.
Vamos desenhar um cenário: uma empresa jornalística qualquer passa a ter acesso antes de todo mundo a vazamentos que afetam a cotação do dólar. Sabe antes de outros investidores que o dólar vai subir ou descer quando publicar tais vazamentos. Se essa informação sair da redação antes de ser publicada e for parar nas mãos de quem opera o dinheiro da empresa com dólar, estaremos diante do uso de informação privilegiada.
É ganhar dinheiro tão fácil como roubar o doce de criança.
Virou um bom negócio investir na cobertura na Lava jato e operar no mercado financeiro. Os lucros podem ser potencializados controlando-se o que publica ou não, o momento de soltar as notícias, o tamanho do sensacionalismo, sempre de olho no efeito sobre as cotações.
O vazamento de informações protegidas, se feito por funcionário público, já é por si só crime de violação de sigilo funcional. Se usado como troca de vantagens indevidas, outro crime se consuma. Se usado para obter lucros, ainda que por terceiros, através da manipulação do mercado ou uso de informações privilegiadas, a coisa ganha dimensões bem piores.
Voltando à Globo, a Lava Jato parece que virou um grande negócio da emissora. Não para aumentar a audiência e anunciantes – ambos estão em queda. Mas para obter lucros no mercado financeiro, sem precisar vender anúncios.
Sem investigação, de nada se pode acusar. Mas crimes de vazamento são fatos que ocorreram indiscutivelmente. Falta investigar e descobrir a autoria e motivação. E, como já dissemos em nota anterior, já passou da hora de investigar se está ocorrendo a prática criminosa de inside information, ou seja, informação sigilosa vazada clandestinamente, sabe-se lá por quem, para investidores saberem de antemão a hora de comprar e de vender dólar e ações, fazendo fortunas em poucas horas.
Curiosamente, em escala bem menor do que o lucro obtido com o dólar, a Lava Jato também ajuda a cortar custos nas empresas jornalísticas através de demissões. Fornece “gratuitamente” conteúdo. As pautas que deixaram de ser produzidas por jornalistas demitidos são preenchidas por textos jurídicos da Lava jato, sejam os divulgados por ofício, sejam os vazados clandestinamente. O trabalho dos procuradores, policiais e juízes – remunerado com dinheiro público – substitui a mão de obra para empresas jornalísticas a custo zero. Para os patrões. Bom para os empresários da mídia corporativa, ruim para os trabalhadores que perdem seus empregos. E, no mínimo, suspeito para o contribuinte, que acredita estar bancando uma estrutura republicana…
Balanço
Para a TV Globo manter a mesma performance financeira de 2014, considerando a inflação medida pelo IGP-M, teria de ter uma receita líquida de R$ 13,14 bilhões em 2015. Teve de R$ 11,16 bilhões. Encolheu 15,1%.
Em termos nominais, mesmo sem considerar a inflação, a TV Globo perdeu R$ 730 milhões na receita líquida de um ano para o outro.
O Grupo Globo, que inclui as outras empresas, como a programadora de TV por assinatura Globosat, teria de ter a receita líquida de R$ 17,96 bilhões em 2015 para manter a performance do ano anterior. Teve R$ 16,04 bilhões. Encolheu 10,7%.
Sem considerar a inflação, o Grupo Globo perdeu R$ 204 milhões na receita líquida em 2015.
As demissões fizeram os custos operacionais caírem R$ 50 milhões, de R$ 7,11 bilhões em 2014 para R$ 7,06 bilhões.
Mesmo com o encolhimento na receita, o lucro líquido cresceu quase 30%, ajudado pelas aplicações financeiras em dólar e pelos juros mais altos.
Autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes – vida e obra; Florestan Fernandes – um mestre radical; e O Outro Lado do Real
Ninguém, no Brasil, foi agraciado com tantos títulos de Doutor Honoris Causa, das mais importantes universidades do mundo quanto Lula, como reconhecimento por tudo que ele fez pela melhoria da vida de milhões de pessoas, pela democracia, pela cidadania, pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento do país e pela paz entre os povos. Isso é reconhecido internacionalmente.
No entanto, talvez nenhum ex-presidente da República Federativa do Brasil tenha sido tão desrespeitado, humilhado, achincalhado e injustiçado quanto Lula por certas autoridades e pela mídia senhorial. Esquisito, não? As razões razões de tudo isso vêm de raízes profundas, varando séculos, por mais de 500 anos de colonização.
Impossível olhar o Brasil nesse momento e não ver na paisagem política os conflitos ancestrais emergindo da história, desenhando a crise que solapa as instituições da República.
Aqui, o apartheid social foi instalado nas famílias ainda na infância do Brasil e perdura até hoje. E é lá no aconchego do lar das famílias de classe média e das abastadas onde tudo começa.
A dita “arquitetura moderna” até se encarregou de anexar a “dependência de empregados” (senzala) às residências, um cubículo onde são enfiados os trabalhadores domésticos remanescentes da escravidão que lavam, passam, arrumam, e cuidam dos filhos dos patrões.
O Brasil é o país com o maior número de empregados domésticos do mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT/ONU).
Uma casa sem empregados domésticos no Brasil parece incompleta, tão forte é essa composição familiar na nossa cultura.
Em famílias brasileiras de classe média e média alta crescem filhos e filhas com códigos de convivência forjados na desigualdade, no forno do “nós e eles”, temperados com preconceitos de toda ordem contra os de baixo. Preconceitos latentes nas relações sociais e reforçados por meios de comunicação.
A propósito, nesses tempos bicudos, fico a imaginar como deve ser difícil para certos procuradores, juízes, policiais federais, “jornalistas”, aceitarem Lula, por ser de origem operária, ter sido presidente da República, ter feito valer direitos dos pobres, melhorado a vida de milhões de pessoas, e, como o brasileiro que tem o maior número de títulos de Doutor Honoris Causa, sem ter diploma de curso superior. Difícil engolir, não é?
Autoridades, muitas delas, quando crianças, criadas com serviçais dentro de casa. E, dentro de casa, sabe-se muito bem como são tratados os empregados, principalmente os negros.
Autoridades que, para alçar-se a postos desse nível na estrutura do Estado, no mínimo, estudaram inglês em boas escolas e tiveram uma formação universitária com dedicação exclusiva, enquanto trabalhadores domésticos lavavam, passavam, cuidavam das residências e serviam-lhes refeições à mesa a tempo e a hora.
Postos nas carreiras de Estado, até o governo Lula, proibitivas para filhos de empregados domésticos, porteiros de edifícios, frentistas de postos de gasolina, e outras categorias, ou seja, gente que o patronato e seus descendentes sequer costumam cumprimentar.
Negros, nessas carreiras, podem ser contados nos dedos.
Lula, o maior líder popular da história do Brasil, está sendo vítima de uma perseguição senhorial de juízes, procuradores, policiais federais e “jornalistas” como se ele fosse o inimigo público número 1 da elite branca patronal, um estrangeiro de classe, um usurpador, um “marginal de periferia” que precisa ser escorraçado da política, porque “o lugar dele é na senzala”, numa fábrica, de macacão, lambuzado de graxa.
Esse tipo de preconceito está entranhado nas células do senhorio e de seus descendentes sem cidadania, aflorado recentemente no país numa onda fascista sem precedentes.
Muitos deles até votaram em Lula em algumas eleições, porque ele representa o ideário do vencedor, um pobre que saiu do Nordeste num pau-de-arara e chegou à Presidência da República.
O vencedor tem seu lugar na escala de valores dessa gente. Porém, ele promoveu a inclusão social, o maior impacto na estrutura tradicional de classes do Brasil. Esse é o crime de Lula. E, por isso, deve ser vingado.
Ele está sendo tratado por juízes, procuradores, policiais federais como são tratados os empregados domésticos no Brasil, com desdém, com desprezo, como ser humano inferior.
Não o reconhecem como ex-Presidente da República eleito duas vezes por milhões de votos e por ser considerado pelos brasileiros como o melhor presidente da história do país.
As cenas que o Brasil presenciou nos últimos meses promovidas por autoridades judiciárias e “jornalistas”, nas bancadas de telejornais, rádios, revistas, jornais e redes sociais, principalmente na Globo, são cinematográficas. Merecem um filme. William Bonner certamente levaria o oscar de melhor ator, seguido de outros da equipe de jornalismo da emissora.
A decretação da condução coercitiva de Lula pelo juiz Sérgio Moro, o arrombamento, a quebra de móveis e utensílios, do Instituto Lula, e a retirada das senhas dos computadores, são a mais fiel representação da discriminação e do ódio de classe aos de baixo.
Seguramente eles não fariam o mesmo com o Instituto Fernando Henrique, por ser ele um autêntico representante da elite paulistana, ” gente acima de qualquer suspeita”, digamos.
Aliás, apesar de o Instituto ter sido citado em delações premiadas como receptor de recursos das mesmas empreiteiras que contribuem com o Instituto Lula, nada, absolutamente nada foi investigado no Instituto Fernando Henrique. A mídia tratou logo de esconder o assunto.
O Instituto Lula sofreu uma violenta devassa. As contribuições ao Instituto Lula são chamadas pelas autoridades e por jornalistas de “propina”. As contribuições ao Instituto Fernando Henrique são chamadas de “contribuições”.
O ódio de classe que aflorou nas ruas parece ser o mesmo de certas autoridades da Operação Lava Jato e de certos “jornalistas” a Lula. Esse ódio se retroalimenta.
A causa pode ser os títulos de Doutor Honoris Causa.
Mais uma vez Gilmar Mendes atropelou princípios elementares das normas jurídicas.
Concedeu liminar a uma solicitação do PSDB de suspensão da posse de Lula como Ministro da Casa Civil do governo Dilma.
Além disso, enviou o processo de volta ao juiz Moro.
Até aí, tudo bem.
Há, porém, dois detalhes.
O relator do processo é o Ministro Teori Zavascki, portanto caberia a ele qualquer decisão.
A outra questão diz respeito ao fato de que a liminar foi concedida sobre solicitação encaminhada pela Dra. Marilda Silveira, advogada subordinada a Gilmar Mendes e coordenadora da Pós-Graduação do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro.
Se o ministro Fachin recusou um parecer sobre a referida liminar alegando ser suspeito por ser amigo de um dos advogados de Lula, pode-se imaginar o grau de suspeição de Gilmar Mendes nas condições descritas.
Estranhou-se muito a demora do STF para se manifestar, mas ao fazê-lo, através do ministro Teori, exigindo a devolução do processo, as coisas tomaram outro rumo.
Ferida nos seus interesses, algo sempre inimaginável e inaceitável por ela, a ameaça da Globo, via editor da revista Época, foi imediata, desrespeitosa e fascista.
Entretanto, não é a primeira vez que a Globo faz isso.
No julgamento do mensalão (o do PT), o ministro Lewandowski já acusara que o STF julgou com a faca no pescoço.
A faca foi identificada como peça do faqueiro da Globo.
Se essa é a Democracia de que tanto fala a Globo, assusta a possibilidade de ela se estabelecer no Brasil.
Se o conceito de liberdade de expressão da Globo é esse e alcança um ministro do Supremo Tribunal Superior, assusta mais ainda imagina-lo pairando sobre a cabeça de um simples mortal.
Ou seja, do homem brasileiro.
O estímulo à violência da Globo não poderia ter outros resultados.
O mundo gira, a Lusitana roda e o ministro Gilmar Mendes tem dois pesos e duas medidas, conforme o coeficiente de “tucanismo” ou de “petralhagem” do caso.
Via nota do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, citando o trecho do memorial dos advogados de Lula citando duas reclamações já julgadas por Mendes e fui assuntar, como se diz na roça.
Vejam que interessante aReclamação 2.186, julgada em 2008, da qual transcrevo trechos:
“Trata-se de reclamação ajuizada por Pedro Sampaio Malan, Ministro de Estado da Fazenda, Pedro Pullen Parente, Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República e José Serra, Senador da República, tendo em vista ações de improbidade administrativa contra eles ajuizadas perante a 20a e 22a Varas Federais da Seção Judiciária do Distrito Federal.
Tais ações visavam a que:
sejam os réus solidariamente condenados a ressarcirem o erário das verbas alocadas em favor do Banco Econômico S.A., em conseqüência da assistência financeira que lhe foi prestada e do saque a descoberto na conta das reservas bancárias, no valor total de R$ 2.975.935.704, 62 (dois bilhões, novecentos e setenta e cinco milhões, novecentos e trinta e cinco mil, setecentos e quatro reais e sessenta e dois centavos), nos termos do art. 12, II, da Lei nº 8.429/92, bem como nas verbas de sucumbência;e) sejam os réus, pessoas físicas, condenados, também, à suspensão de seus direitos políticos e, conseqüentemente, proibidos de exercerem qualquer função pública, e, ainda, neste caso incluída a pessoa jurídica do Banco Econômico S.A.
Numa delas, a da 20a. Vara Federal – vara igualzinha à do Dr. Moro – já havia até sentença a condenar:
os reclamantes foram condenados na Ação nº 96.00.01079-0, em primeira instância, a ressarcir ao erário público verbas alocadas para o pagamento dos correntistas dos bancos sob intervenção (art. 12, II, da Lei nº 8.429/92), em face do PROER, nos seguintes termos:Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE, em parte, o pedido do Autor MPF, para condenar os réus PEDRO SAMPAIO MALAN, JOSÉ SERRA, PEDRO PULLEN PARENTE, GUSTAVO JORGE LABOISSIÉRE LOYOLA, ALKIMAR ANDRADE, GUSTAVO HENRIQUE DE BARROSO FRANCO, FRANCISCO LAFAIETE DE PÁDUA LOPES, ao ressarcimento do erário das verbas alocadas para o pagamento dos correntistas dos bancos sob intervenção (art.12, II, da Lei nº8.429/92).
As ações foram propostas quando estes eram ministros e presidentes do banco Central, que tem status idênticos, nas a que resultou em sentença condenatória foi decidida muito depois de que deixassem os cargos e, logicamente, perdessem o foro privilegiado.
Quer dizer, perdessem, mas não para Gilmar Mendes, relator da reclamação que tascou lá, em caráter liminar a “suspensão imediata de todos os atos decisórios praticados nos processos (…) bem como de quaisquer outros atos processuais a eles relacionados e a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal.
Para em seguida “estender”, por vários anos, o foro privilegiado dos já condenados (vejam que Lula sequer é denunciado, apenas investigado) e anular, por isso, uma sentença judicial, sem apelação:
E não se diga que o fato de os reclamantes não mais estarem ocupando os cargos políticos, que ocupavam à época do ajuizamento das ações de improbidade, desloca a competência desta Corte, pois não é possível modificar a situação fático-histórica de se estar julgamento supostos crimes de responsabilidade, os quais são de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal. Não há outro juízo competente para processar e julgar os reclamantes pela prática de crime de responsabilidade, já que os atos supostamente ilícitos a eles imputados referem-se à época em que ocupavam cargos de agentes políticos.Outrossim, houve o deferimento de medida liminar na presente reclamação, diante da plausibilidade jurídica da tese da nulidade absoluta das decisões reclamadas, em face da incompetência absoluta dos juízes federais para processarem e julgarem as referidas ações de improbidade, de modo que a superveniente perda dos cargos políticos então ocupados não pode ter como conseqüência, simplesmente, o reconhecimento de efeitos às decisões que foram proferidas por juízes manifestamente incompetentes.
Veja você. O foro privilegiado que se perdeu há seis anos serve para anular uma sentença.
Mas não pode ser aceito por quem nem sequer é formalmente acusado de qualquer crime.
A balança no Gilmar, se estivesse na feira, ia ser apreendida pelos fiscais do “pesos e medidas”.
1 – E se Dilma tivesse 22 processos por corrupção, como Eduardo Cunha (PMDB)?
2 – E se Dilma tivesse 18 processos por corrupção, como José Serra (PSDB)?
3 – E se Dilma colocasse sob sigilo, por 25 anos, as contabilidades da Petrobras, Banco do Brasil e BNDES, como Geraldo Alckmin (PSDB) colocou as do Sistema Ferroviário paulista, das Sabesp e da Polícia Militar, após se iniciarem investigações da Polícia Federal, apontando desvios de muitos milhões?
4 – E se Dilma tivesse comprado um apartamento no bairro mais nobre de Paris e, dividindo-se o valor do imóvel pelos seus rendimentos, se constatasse que ela teria que ter presidido este país por quase trezentos anos para tê-lo comprado, caso de FHC (PSDB)?
5 – E se a filha da Dilma tivesse tido um único emprego, de assessora da mãe, e a revista Forbes a colocasse como detentora de um das maiores fortunas brasileiras, como no caso do Serra(PSDB) e sua filhinha?
6 – E se Dilma tivesse dado dois Habeas Corpus, em menos de 48 horas, a um banqueiro que lesou o sistema financeiro nacional, para que ele fugisse do país; desse um Habeas Corpus a um médico que dopava a suas clientes e as estuprava (foram 37 as acusadoras), para que ele fugisse para o Líbano; se fizesse uso sistemático de aviões do senador cassado, por corrupção, Demóstenes Torres (DEM); se tivesse votado contra a Lei da Ficha Limpa por entender que tornar inelegível um ladrão é uma “atitude nazi-fascista” (sic), tendo a família envolvida em grilagem de terras indígenas, como Gilmar Mendes (Ministro do STF)?
7 – E se Dilma tivesse sido denunciada seis vezes, por seis delatores diferentes, na operação Lava Jato, e fossem encontradas quatro contas suas, secretas, na Suíça, alimentadas por 23 outras contas, em paraísos fiscais, e o dinheiro tivesse sido bloqueado pelo Ministério público suíço, por entendê-lo fruto de fonte escusa, e tivesse mandado toda a documentação para o Brasil, com a assinatura dela, como aconteceu com Eduardo Cunha (PMDB)?
8 – E se Dilma tivesse vendido uma estatal, avaliada em mais de 100 bilhões, por apenas 3,6 bilhões, como FHC (PSDB) fez com a Cia Vale do Rio Doce?
9 – E se Dilma tivesse construído dois aeroportos, com dinheiro público, em fazendas da família, como fez Aécio Neves (PSDB)?
10 – E se Dilma tivesse sido manchete de capa no New York Times, por suspeição de narcotráfico internacional, gerando diversas reportagens na televisão norte americana e agentes do DEA (Departamento Anti Drogas dos EUA) tivessem vindo ao Brasil para investigá-la e um helicóptero com quase meia tonelada de pasta de cocaína fosse apreendido em uma fazenda de um amigo pessoal e sócio dela como ocorreu com Aécio Neves (PSDB)?
11 – E se Dilma estivesse na lista de Furnas, junto com FHC, Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves (todos do PSDB…) entre outros?
12 – E se Dilma estivesse acusada de receber propinas da Petrobrás, como Aloysio Nunes (PSDB)?
13 – E se Dilma estivesse sendo processada no STF, por ter recebido propinas da empreiteira OAS e ter achacado o Detran do seu estado, em 1 milhão de reais, como fez Agripino Maia (DEM)?
14 – E se Dilma tivesse sido denunciada como beneficiária do contraventor Cachoeirinha, além de estar sendo processada, por exploração de trabalho escravo, em sua fazenda, como Ronaldo Caiado (DEM)?
15 – E se Dilma estivesse sendo investigada na Operação Zelotes, por ter sonegado 1,8 milhão de reais e corrompido funcionários públicos, para que essa dívida sumisse do sistema da Receita Federal, como Nardes (Conselheiro do TCU, ligado ao PSDB)?
16 – E se a filha de Dilma fosse assessora do presidente da CPI da Petrobrás e lobista junto a Nardes, um conselheiro do TCU, e tivesse uma conta secreta no HSBC suíço, por onde passaram milhões de dólares, como Daniele Cunha, a filha de Eduardo Cunha (PMDB)?
17 – E se Dilma tivesse sido presa em 2004, por fraude em licitação de grandes obras, no Amapá, e tivesse sido condenada por corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, como Flexa Ribeiro (PSDB)?
18 – E se Dilma, quando prefeita de Belo Horizonte , tivesse sumido com 166 milhões das obras do Metrô, como Antônio Imbassay (PSDB)?
19 – E se Dilma tivesse sido governadora e, como tal, cassada, por conta de compra de votos na campanha eleitoral, corrupção e caixa dois, como Cássio Cunha Lima (PSDB)?
20 – E se Dilma, em sociedade com Mário Covas (PSDB) tivesse comprado uma enorme fazenda no município mineiro de Buritis, em pleno mandato, e recebesse um aeroporto de presente, construído gratuitamente, de uma empreiteira, constatando-se depois que foi essa empreiteira a que mais ganhou licitações no governo FHC (PSDB), sócio de Covas?
21 – E se Dilma declarasse à Receita Federal e ao TRE ter um patrimônio de 1,5 milhão e a sua filha entrasse na justiça, reclamando os seus direitos sobre 16 milhões, só parte do seu patrimônio, como aconteceu com Álvaro Dias (PSDB)?
22 – E se Dilma estivesse sendo acusada de ter recebido 250 mil de uma empreiteira, na Operação Lava Jato, como Carlos Sampaio (PSDB)?
23 – E se Dilma fosse proprietária da maior rede de televisão do país, devendo quase um bilhão de impostos e mais dois bilhões no sistema financeiro, e tivesse o compromisso de proteger corruptos e derrubar a presidente, em troca do perdão da dívida com o fisco e financiamento do BNDES, para quitar as dívidas da empresa, como ocorreu no passado, caso dos irmãos Marinho, proprietários da Rede Globo de Televisão?
Certamente Dilma, investigada noite e dia, em todas as instâncias, sem um indiciamento, sem sequer evidências de crimes, no dizer do promotor da Lava Jato e de um dos advogados dos réus, “uma mulher honrada”, não estaria com os citados pedindo o seu impeachment.
O seu crime? Chegou o dia de pagar os carentes do Bolsa família e o tesouro não tinha dinheiro. A Caixa Econômica Federal pagou e recebeu três dias depois. Isto é pedalada e por isso todos os citados acima a querem fora do governo.
Porque é desonesta ou porque é um risco para os desonestos?
Para apressar a tramitação dos processos em curso ou para arquivá-los?”
O que você diria se visse o ministro Ricardo Lewandowski (STF), o senador Lindbergh Faria ou qualquer outro senador do PT e o ministro da fazenda do governo de Dilma sentados à mesma mesa em um almoço?
Quantos escândalos fariam a Globo e os seus periféricos?
Como seriam as manchetes de toda a imprensa?
Quantos minutos e por quantos dias o Jornal Nacional se dedicaria a esse tema?
O que fariam com o ministro?
Que escândalo fariam indivíduos como Aécio Neves, FHC, Ronaldo Caiado, Aloysio Nunes, Carlos Sampaio…?
Você consegue imaginar?
A foto que você vê aí em cima mostra um almoço entre o ministro do STF Gilmar Mendes (1), Armínio Fraga (2) e José Serra (3), senador pelo PSDB.
Só para esclarecer, Armínio Fraga seria o ministro da fazenda de Aécio. É do PSDB.
Percebe como eles têm a certeza da impunidade?
A certeza de que nada vai acontecer?
E fazem isso à luz do dia!
Sabe em que dia foi esse almoço?
No dia 18/03, sexta-feira, dia das manifestações do PT.
Sabe o que ocorreu depois desse almoço?
O ministro Gilmar Mendes concedeu liminar suspendendo a posse de Lula como ministro da Casa Civil e enviou seu processo de volta a Moro.
Ainda me chegam à memória algumas cenas da campanha presidencial de 2014.
As manifestações, as ofensas, xingamentos, agressões e os debates atingiram níveis inimagináveis, assustadores.
Foi ali, particularmente nos debates, onde Aécio finalmente iniciou a sua queda.
Todos eles vibravam nos debates. Não perceberam o que estava bem claro, menos para eles.
Houve um em particular. Foi quando, ao final, Dilma pediu um copo d’água. Não estava passando bem.
O caminho mais fácil é sempre o mais procurado. No outro dia manchetes e comentários de “jornalistas” experientes e de grande inteligência e sensibilidade, como Merval Pereira, não conseguiram conter o inescondível sorriso:
“Aécio nocauteou Dilma”.
O bom senso, no entanto, apontava para outra direção.
Frente a frente com um cínico profissional, há de se ter uma estrutura muito sólida para se controlar. Mesmo aquela mulher que enfrentara e resistira aos porões da ditadura acusou a dureza do golpe.
Às vezes as circunstâncias falam mais alto e nos obrigam a calar, ou pelo menos a ponderar. Muitos não entendem.
Dilma se viu diante de um desses momentos. Não usou as armas que uma mulher guerreira dispõe para situações como aquela, em que se viu diante daquele protótipo de homem que a agredia seguidas vezes.
O consumo de energia foi muito grande.
Refez-se, como se refazem as grandes mulheres no dia-a-dia e foi adiante.
O resultado aí está, as pessoas vaiaram Aécio nas manifestações de 13/03, alimentadas por ele e seu partido.
Aquele sorriso se foi. Hoje é um protótipo assustado, tenso, que se esgueira pelas esquinas da vida.
O olhar, seu eterno delator, diz que sua carreira política está chegando ao fim.
Ainda que continue a aspirar alguma coisa, sabe que ficará na poeira da História.
Outros políticos, como Alckmin, também foram vaiados na avenida que se imaginou a mais brasileira de todas. Também em outras espalhadas pelo Brasil.
Até os anões da política baiana foram vaiados no Farol da Barra.
Aleluia!
Nem tudo está perdido.
E para comprovar isso, vieram as manifestações de 18/03.
Ali não estavam os helicópteros transmitindo imagens ao vivo na TV, conclamando as pessoas a comparecerem. O estímulo constante anunciando que chegavam milhares de pessoas a todo instante, jovens, idosos, senhoras, famílias inteiras. Quatro redes de televisão unidas na conclamação.
As pessoas iam simplesmente chegando.
Só consegui chegar às 16:30.
Fui só.
E uma coisa já me chamou a atenção.
A cerca de 30 metros, não mais que isso, da corrente humana, um rapaz de seus 25 anos passou do meu lado vestindo a camisa amarela representativa do combate à corrupção, atual ícone da respeitabilidade; a camisa da CBF.
Ninguém lhe fez nada, como também nada foi feito a outro, esse com seus 45 anos, que do outro lado da rua provocou; “sou muito mais Moro”. Como estavam, ficaram.
E naquela multidão de gente que ainda não tinha saído do Campo Grande já tínhamos a notícia de que a turma da frente do cordão humano já estava na Praça da Piedade, na Av. Sete, a charmosa avenida dos meus maravilhosos primeiros carnavais de Dodô e Osmar. Armandinho só existiria alguns anos depois.
Confesso que me emocionei e quando comecei a digitar uma mensagem para minha mulher e nossas filhas, chorei.
Fui até a Praça Castro Alves, a praça do povo, como canta a música; “a praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião…”
Mais uma vez o povo da Bahia se encontrava com a sua praça e seu poeta, como fizemos anos seguidos no carnaval.
Gente, foi bonito demais.
Depois de tudo isso, quando voltei para casa, encontrei a minha mulher e as meninas e, ainda emocionado, narrei tudo.
Foi quando elas me mostraram as fotos do que tinha ocorrido nas demais cidades do Brasil. Já tinha visto algumas, mas ali via outras com calma. Em todos os estados a festa foi maravilhosa.
Mal sabia que algo especial ainda estava por vir.
Foi quando vi a foto lá de cima; Bete Mendes e Letícia Sabatella.
Duas belas e maravilhosas mulheres num momento de força indescritível; a certeza da luta jamais abandonada.
Antes que alguém estranhe chamar Bete Mendes de bela mulher (todos sempre associam à beleza externa), fique sabendo que ela já foi uma das mulheres mais bonitas da televisão brasileira.
Por conta disso, cheguei até a pensar em postar aqui, além dessa, uma foto dela ainda jovem, mas não. Seria trair a mulher Bete Mendes, que aceita e vive a sua idade e por isso continua bela.
Leticia Sabatella, de uma beleza estonteante, cada dia se mostra mais bonita e mais plena.
É a grande beleza interior que se manifesta na sua ainda juventude, deixando-a mais bela ainda.
Duas mulheres de tempos diferentes que se encontram no mesmo tempo, o da paixão por uma causa.
A despeito da notoriedade pelo reconhecimento do que são, não estão ali para produzir cenas e frases de efeito.
Há algo de uma força indescritível nesse encontro.
Meu Deus, como essas duas mulheres conseguiram produzir um momento de tamanha expressividade, beleza e paixão!!!
Diante disso, como poderia ainda imaginar que outro poema me esperava?
E ele veio.
Na forma de outra imagem.
Sim, essa mesmo.
Essa imagem dispensa qualquer comentário. Não ouso tentar descreve-la.
Fez lembrar o que disse um motorista de táxi na sua singeleza há poucos dias a um amigo;
“Doutor, eu e mais 12 colegas já combinamos ir juntos para as manifestações. Nós já sentimos que tá todo mundo contra Lula. Ele só tem a gente e Deus do lado dele”.
Posso ver essas pessoas nos barcos e nas pequenas canoas dizendo algo parecido.
“Vamos minha gente, defender quem fez alguma coisa por nós”.
E com suas embarcações fizeram uma procissão rumo a Belém. A procissão da esperança, da fé, como se ali estivessem carregando um andor com o seu santo protetor.
E quem duvida que tenha sido?
Fomos chegando, chegando, nos olhando, nos cumprimentando, sorrindo (o cumprimento mais exercitado) e viramos um mundo, um mundo de gente espalhado por todo o país.
Sim, até na quantidade de participantes em todo país ganhamos e ganhamos bonito.
Quer saber!
Pusemos sim mais gente nas ruas de TODO o país.
Não importa o que digam os Datafalhas (não houve erro de digitação) da vida.
Mas fizemos mais, muito mais.
Fomos com uma energia impressionante. Ouvia-se o bater dos milhares de corações.
Sem ódio, xingamentos, provocações, só alegria.
E foi isso que nos deixou com uma convicção inabalável.
A convicção de que vencemos.
Vencemos porque lutamos por causas, com a força de quem ama, de quem se apaixona por elas.
De quem agride mas só com a força das palavras que exprimem essa esperança, que insiste em não morrer e que nos diz que dias melhores sempre virão.
Acredito que muitos devem ter percebido que raramente trato de números quando estes saem das pesquisas eleitorais realizadas no Brasil.
Mesmo no auge da campanha presidencial de 2014 poucas vezes me reportei às pesquisas como instrumento de discussão válido. E nessas poucas vezes não deixei de registrar a minha incredulidade, pelo tratamento que é dado aos números nesses momentos.
Sim, números são confiáveis, fazem parte das ciências exatas, não o tratamento que é dado a eles.
Para não citar outros, frequentemente vergonhosos, fiquemos nos dois mais conhecidos institutos de pesquisa; Ibope e Datafolha.
E para não perdermos tempo, lembremos das muitas vezes em que foram literalmente desmascarados pelos resultados das eleições.
Já aconteceu em diversos estados e a Bahia é pródiga nisso. São três eleições consecutivas em que os institutos dão como certa a derrota do PT para governo do estado no primeiro turno e o PT vence no primeiro turno.
Nesse sentido, o Ibope já perdeu a credibilidade há muito tempo. O Datafolha, ainda que numa escala menor pelo seu tamanho e importância quando comparado ao Ibope, não fica muito atrás.
Assumo não gostar dessas pesquisas e sempre as observo com alguns cuidados. Não seria eu, portanto, quem iria se preocupar em mostrar a inconfiabilidade delas no campo político. Se a obviedade mais óbvia (permito-me o pleonasmo) em outros campos não é percebida, imagine neste.
Relembremos o que já deve ser do conhecimento de todos.
As ligações do Ibope com a Globo dispensam comentários e o Datafolha pertence à Folha.
Precisa ser mais claro?
A novidade parece ser o fato de que vivemos um momento muito especial, em que o homem se perde com extrema facilidade. E isso acontece por razões diversas.
Antes das manifestações do dia 13/03, com patrocínio dos segmentos mais nobres e dignos da sociedade brasileira, como a Globo (maior símbolo de austeridade e dignidade desse país, um verdadeiro ícone), judiciário, Ministério Público, Polícia Federal e a oposição, o Brasil foi trabalhado para o grande momento.
As televisões (toda a mídia) fizeram convocações ostensivas para as manifestações e no dia transmitiam ao vivo diretamente dos locais onde iam ocorrer. Um trabalho, sem dúvida, bem feito.
A voz das ruas foi então galgada à condição de fator determinante para o golpe.
E o povo atendeu. Foi às ruas.
Camarotes com ar condicionado, grades de isolamento e proteção, champagne, doces especiais…
Ambientes definidos como áreas VIP.
Uma grande festa. De fato, uma típica festa do povo.
Os maiores inimigos da coerência e do bom senso são a vaidade e a ambição. No entanto, preconceitos exacerbados também têm participação nesse processo. Nesse sentido, racismo e homofobia ganham papel de destaque.
Não parece sensato negar a existência dessas características em escala acentuada em boa parte da sociedade brasileira nos tempo atuais.
E é para ela que trabalha a imprensa.
Dito assim pode parecer que a imprensa estaria a serviço dela.
Não, não faça essa leitura.
A imprensa trabalha para um público que ela própria formou e agora, sem esforço, conduz.
Ao lhe negar informações e manipular as que não podem ser negadas, leva-a correnteza abaixo.
Nada, porém, justifica o absurdo cometido pela Folha.
A única razão que pode explicar, mas não justifica, o desatino do jornal é o desespero.
Já foi demonstrado por cálculos de entendidos no assunto (perdoe-me por não dizer expert) que seria impossível abrigar determinadas quantidades de pessoas naquela avenida, como já foi dito algumas vezes pelo Datafolha.
As manchetes foram unânimes (já reparou como ultimamente as manchetes são iguais e conduzem à unanimidade?) em anunciar que era a maior manifestação de todos os tempos.
Quinhentas mil pessoas.
Fui pego de surpresa e fiquei meio tonto.
Já tinham colocado 2 milhões em outra manifestação e agora uma de 500 mil pessoas era a maior de todas!!!
Mas eles podem e isso não vem ao caso.
O que vem ao caso, isso sim, é a perfeita sintonia entre o judiciário brasileiro e a nossa gloriosa imprensa.
Ao ver a maior manifestação de todos os tempos, Moro não se conteve e entrou em contato direto com os superiores; mandou uma mensagem para a GloboNews.
E disse lá algumas coisas, mas uma chamou a atenção:
“Ouçam as vozes da rua”.
Pronto. Bastou isso.
Lembra da ‘perfeita sintonia entre o judiciário brasileiro e a nossa gloriosa imprensa’?
Bingo.
“Captei a vossa mensagem, amado, idolatrado e iluminado mestre”.
Baixando o espírito de Rolando Lero, foi o que a Globo disse ao juiz Moro. A mensagem sub-liminar (por falar em liminar, já percebeu que agora é liminar a todo instante?), todas as manchetes se voltaram para a importância da participação popular, a voz das ruas.
O povo exige mudanças.
E aí os 500 mil se tornaram o maior feito da história
“Duvido que façam uma igual à nossa”.
Houve quem achasse que ali não tinha 500 mil.
Ora, ora, esse pessoal da esquerda é muito chato, insuportável.
Se a Globo já colocou ali, naquela mesma avenida, 2 milhões de pessoas, porque a Folha, mais modesta e com menos recursos, não pode colocar 500 mil?
Me poupe.
Mas aí vieram as manifestações do dia 18/03.
Fraquinha, muito fraquinha.
Como pode ser visto na matéria de primeira página aí em cima, a Folha afirma que 95.000 pessoas participaram das manifestações do PT, PCdoB, partidos de esquerda e movimentos sociais na Av. Paulista no dia 18/03.
Não sei porque, mas voltou aquela sensação desconfortável com os números; foram trabalhados?
Mas, o que fazer?
Eles podem tudo e algo mais.
Quando vi as imagens, porém, tudo clareou.
Somente o desespero poderia responder pela insanidade cometida dessa vez.
A Folha diz que na figura à esquerda existem 500 mil pessoas e na da direita 95 mil.
Não acreditei. Fui conferir.
E não é que estavam certos? Na da esquerda tem exatamente (eles são precisos, não falham) 500 mil mesmo.
O que me deixou um pouco, só um pouquinho, intrigado foi a da direita. Tem 501 mil e não 95.
E olha que na hora em que fiz os cálculos alguns tinham ido fazer xixi, tomar umas cervejinhas, comer coxinhas (eles adoram), fazer selfies com a polícia militar de São Paulo (se dão muito bem) e aí não entraram na contagem.
Mas deixa pra lá, não precisa mais.
Como ela foi fortíssima não só na avenida Paulista como em todo o Brasil (quem podia esperar que aqueles infelizes fossem conseguir aquilo em todos os estados), mudou toda a programação.
A Globo já disse no editorial do dia seguinte, 19/03, que “legitimidade é do congresso e não das ruas”.
Aí entendemos melhor o “ouçam a voz das ruas”.
Depende de quem está nas ruas.
Como já tinham reativado a amizade com Eduardo Cunha (eles têm vários amigos guardados para horas de aperto), agora, mais do que nunca, voltaram a ser amigos de infância.
Cassaram o povo.
Eles se perderam.
E perderam.
Agora podem ganhar o que ganharem, mas perderam.
Criadores e criaturas.
Quando se perde a dignidade, nada mais resta.
A tristeza é grande.
Amizades não resistiram.
Algumas já se foram e outras ainda irão, por conta do preconceito e ódio que foram implantados nos corações.
Percebe-se em todos uma amargura, como em Wagner Moura.
Veja o semblante carregado e sombrio de quem se sente derrotado e impotente, que para mim atinge o ápice a 1 min e 08 seg do vídeo.
O alerta veio pelo twitter de Alvaro Larangeira: @larangeira.
O inconsciente falou mais alto entre os redatores da Folha? Ou teria sido uma mensagem cifrada, passada por um jornalista rebelde?
Na pesquisa eleitoral (em que, sofregamente, ajuda a embalar o impeachment) divulgada neste fim-de-semana pela Folha, aparecem simulações eleitorais com vistas a 2018. Numa delas, a Folha resolveu testar um cenário com “os três tucanos”: Aécio, Serra e … Moro!
Finalmente, alguém disse a verdade: Moro é PSDB. E o PSDB é Moro.
Viva a Justiça brasileira: imparcial, impoluta.
Viva o juiz das camisas negras, agora filiado oficialmente ao PSDB.
Falando da Vida – O jornalista Rodrigo Vianna começa o seu breve texto apresentando duas possibilidades. Fico com a segunda. É mais provável que tenha sido “uma mensagem cifrada, passada por um jornalista rebelde”. Afinal, alguns jornalistas da Globo têm assumido essa postura, enviando a colegas “de fora” (Paulo Nogueira, que já foi da Globo, tem abordado os relatos recebidos) informações de como o momento vem sendo manipulado pela emissora. Pedem somente, claro, que não sejam identificados.