Moro e o futebol chinês

Futebol chinês 10

Por Ronaldo Souza

Para alguns jogadores brasileiros a China atualmente é o centro do futebol.

Muitos já estão lá e outros deverão ir assim que surgirem as oportunidades.

As propostas são definidas como irrecusáveis. É muito dinheiro.

Mas há um custo a pagar.

Explica-se.

Um dos problemas é que esses jogadores passarão a jogar para plateias bem menos exigentes.

Com todo respeito ao povo chinês, dispensa-se falar sobre o seu futebol.

E é aí que está o problema.

Entendo que para quem ganha muito dinheiro falar que “há um custo a pagar” não deve significar muita coisa.

Mas significa.

Por uma razão bem simples.

“O custo a pagar” não significa que estamos necessariamente falando de dinheiro.

Uma vez que esses jogadores irão enfrentar adversários fracos e se exibir para plateias bem menos exigentes, é natural, aliás, muito natural, que negligenciem com algumas coisas, como por exemplo, a condição física.

Qualquer exibição dos nossos craques causará momentos de grande êxtase ao público chinês.

Parece inevitável, porém, que percam a capacidade de auto avaliação e com isso a noção do que é exercer a profissão com qualidade.

A tendência é que caia o rendimento físico, técnico e tático.

Sem falar em coisas como a perda da visibilidade para o mercado internacional do futebol, é provável que torne também mais difícil justificar uma eventual convocação para a seleção brasileira.

O juiz Moro padece do mesmo problema.

Acostumou-se ao êxtase do seu público e se descuidou.

O seu rendimento mental-intelectual e jurídico caiu muito.

Importam menos as homenagens recebidas da imprensa como prêmios pelas suas boas atuações anteriores.

Sob intenso bombardeio da sociedade brasileira, inclusive de inúmeros advogados, juristas, ministros, ex-ministros e intelectuais, sentiu a repercussão negativa de mais uma estripulia jurídica.

E neste sábado divulgou esta pérola para explicar por que ordenou a condução coercitiva do ex-presidente Lula.

“Como consignado na decisão, essas medidas investigatórias visam apenas o esclarecimento da verdade e não significam antecipação de culpa do ex-Presidente. Cuidados foram tomados para preservar, durante a diligência, a imagem do ex-Presidente“.

Nada mais pode explicar uma declaração tão medíocre e ridícula além do fato de que o juiz se acostumou demais a jogar para plateias menos exigentes.

Certamente o juiz Moro pensou estar participando de um daqueles jogos de torcida única.

O jurista José Gregori, ministro da Justiça e secretário de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso, disse:

“Na realidade o que parece é que esse juiz (Sérgio Moro) queria era prender o Lula. Não teve a ousadia de fazê-lo e saiu pela tangente”.

Amarelou.

Mas o juiz Moro está em paz consigo mesmo.

Como assim estão os jogadores que estão no futebol chinês, pelo menos aqueles que já não veem o horizonte como algo que nos faz caminhar sempre em busca do inatingível, como dizia Eduardo Galeano falando de utopia.

Para muitos, coisas como um belo tríplex em local paradisíaco protegido por leis que visam preserva-lo é bem mais importante do que sonhos.

Esporte Interativo vai pagar 9 vezes mais. Mesmo assim os presidentes dos nossos times vão escolher a Globo?

EI X Globo

Cotas de TV e a contrarrevolução da Globo: um avanço estagnador

Por Emanuel Júnior, em seu blog

Quebrar paradigmas é um ato revolucionário. A entrada do Esporte Interativo na disputa pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na TV fechada foi, portanto, o ato mais revolucionário do futebol brasileiro nos últimos anos: sua proposta representa uma profunda transformação do contexto atual no mercado do esporte mais popular do Brasil.

Ameaçada, a Rede Globo partiu para o contra-ataque. Ou seja, desencadeou sua própria contrarrevolução, no intuito de frear os avanços da investida de sua concorrente.

Não é por acaso que, pela primeira vez, a empresa que até hoje monopoliza os direitos de transmissão do futebol nacional decidiu propor aos clubes um modelo de divisão das “cotas de TV” menos desigual.

O formato proposto pela Globo, semelhante ao da Itália, entretanto, representa um avanço estagnador. Isso porque ao mesmo tempo em que não promove uma igualdade tão ampla quanto à divisão da Inglaterra, tem o efeito danoso de travar um movimento coletivo dos clubes. Ou seja, é uma reforma e não uma revolução.

Em “Algumas propriedades dos campos”, Pierre Bourdieu mostra que em um campo se encontram relações de poder.

O que implica dizer que há desigualdade e que dentro de cada campo existem lutas entre aqueles que pretendem garantir sua participação e a classe dominante que busca manter a ordem e sua supremacia.

No campo do mercado do futebol, como demonstro em meu livro “Cotas de televisão do campeonato brasileiro: apartheid futebolístico e risco de espanholização”, também se verificam estas lutas.

E se há clubes que pretendem garantir sua participação e outros que pertencem a uma classe dominante e, portanto, procuram de todo o modo manter o poder desportivo (através da obtenção de maiores recursos financeiros), o mesmo se aplica na disputa pelos direitos de transmissão.

O Esporte Interativo busca se tornar sujeito ativo deste mercado, enquanto a Rede Globo trata de assegurar seu status dominante.

Envolto a mistérios quanto aos valores, com suas cláusulas de confidencialidade que tiram da esfera pública o direito ao conhecimento dos reais contornos dos acordos (vamos ao tema logo adiante), um outro ponto negativo da contrarrevolução reformista da Globo, além do obscurantismo das negociações, é a premissa individualista e não coletiva de sua investida.

Em “Cotas de televisão do campeonato brasileiro…”, eu argumento que é a negociação coletiva que se aproxima mais do ideal de “cooperação social” preconizado por John Rawls.

Afinal, é através da negociação coletiva que se pode obter um acordo em que haja “vantagem mútua” entre todos envolvidos.

Desde que a divisão dos recursos trate todos intervenientes de modo equitativo, não permitindo “que alguns tenham mais trunfos do que outros na negociação”. Os clubes brasileiros, infelizmente, estão divididos e seguem negociando cada um por si as vendas dos direitos de transmissão, o que enfraquece, por conseguinte, o todo.

Somada à falta da busca pelo fortalecimento coletivo dos clubes, a ausência de transparência nas negociações – traço que, infelizmente, domina o mercado da comunicação (vide o recente escândalo da Fifa, que envolve, exatamente, as vendas de direitos de transmissão) – evidencia o caráter conservador (de quem busca conservar seu status quo) da empresa que monopoliza atualmente o mercado.

Quais os valores envolvidos nas negociações da Rede Globo com os clubes? Em nome da “confidencialidade”, ninguém sabe.

Immanuel Kant escreveu que “todas as ações relativas aos direitos de outros homens, cuja máxima não é suscetível de se tornar pública, são injustas” (Resposta à pergunta: “Que é o Iluminismo?”).

Injustas porque retira, ao que Jürgen Habermas viria a denominar de “esfera privada do público”, o direito de conhecer as informações. Afinal, para que a “opinião pública” possa discutir e criticar os atos que lhes dizem respeito, é preciso que haja publicidade dos debates.

O argumento de que se trata de relações privadas não se sustenta. Primeiro porque os clubes de futebol não são empresas privadas, mas sim associações – ou seja, pertencem aos seus quadros de sócios e a eles têm a obrigação de revelar suas movimentações financeiras.

Segundo, porque as televisões são concessões públicas, ou seja, prestadores de serviços públicos (Art. 21, XI e XII; Art. 223, ambos da Constituição da República de 1988).

Como vivemos em um sistema republicano e democrático (e não oligárquico, como a relação do futebol brasileiro faz parecer), aqueles que gerenciam dados do interesse da coletividade não são os detentores destas informações, mas sim a “esfera pública”.

O pouco que sabemos dos valores envolvendo as negociações da Rede Globo com os clubes chega à “opinião pública” através de sua concorrente, o Esporte Interativo.

Este último, por sinal, adota uma postura republicana que merece ser exaltada, ao trazer para o mercado do futebol brasileiro uma prática até então pouco vista: a de tratar suas discussões com total transparência, permitindo aos torcedores – interessados diretos – o acesso às informações necessárias para formularem seus posicionamentos acerca do tema.

E neste contraste entre o “poder visível e o poder invisível” (Norberto Bobbio), é o Esporte Interativo que nos traz o iluminismo, clareando as trevas que nos afasta do conhecimento de parte dos negócios.

Foi este canal que nos revelou, através de nota pública, que a proposta da SporTV (Globo) para os direitos da TV fechada é de R$ 98 milhões, apenas 18% dos R$ 550 milhões oferecidos pelo próprio Esporte Interativo.

A oferta do Esporte Interativo apenas para a TV fechada, por sinal, corresponde a 65% dos R$ 840 milhões que a Globo deve pagar aos clubes pela transmissão da TV aberta do Campeonato Brasileiro de 2016.

O que se sabe, também, é que a Globo ofereceu um bônus aos clubes. Mimo que, segundo o próprio Esporte Interativo e alguns dirigentes (como o presidente do Sport, Humberto Martorelli, em almoço com a imprensa pernambucana), seria coberto pela concorrente.

O que, portanto, justifica os clubes aceitarem um acordo com a Rede Globo? Segundo matéria do UOL, alguns cartolas temem uma eventual retaliação da Globo no futuro. Aqueles que não negociarem seus direitos da TV fechada com a SporTV sofreriam uma possível redução no valor de um contrato futuro pela TV aberta, bem como poderiam “sumir da grade de programação” da emissora carioca. Mas, isto faz algum sentido?

Alguém realmente acredita que a Globo assumiria o risco de não poder mostrar uma partida decisiva do Campeonato Brasileiro envolvendo, por exemplo, Internacional (que negocia com o Esporte Interativo) e Corinthians?

Entretanto, é interessante notar como grandes associações de massa deste país, representantes da maior paixão do povo brasileiro, temem uma emissora de televisão. E se existe o temor, é porque os dirigentes dos clubes – pelas décadas de relação entre o canal de TV e o futebol nacional – devem ter plena consciência de como a Globo se comporta. O que denota, no mínimo, um caráter pouco republicano e democrático, ao não aceitar conviver com a livre concorrência – fundamento básico de um Estado Democrático de Direito Liberal.

Dúvidas que só são suscitadas, a propósito, devido à falta de transparência nos valores que envolvem os negócios.

Do “risco de espanholização” à “italianização”

Em entrevista à ESPN Brasil logo após a aprovação do acordo do São Paulo com a Rede Globo por parte do Conselho Deliberativo tricolor, o vice-presidente do clube, Ataíde Gil Guerreiro, comemorou o que classificou como uma divisão “mais racional”, igual ao “modelo inglês”. O dirigente são-paulino, entretanto, equivoca-se quanto à inspiração do formato de divisão das cotas.

Segundo o próprio: 40% igual entre os clubes, 30% pelo mérito esportivo e 30% de acordo com a exposição na TV.

Essa divisão se assemelha mais ao da Serie A italiana do que a da Premier League inglesa.

E está aí o ponto fulcral que torna este acordo um avanço (claro que sim), mas um passo curto se comparado ao que é proposto pelo Esporte Interativo (este sim “inglês”, com seus 50% iguais, 25% pelo mérito e 25% de acordo com a audiência). Ou seja, passamos do “risco de espanholização” à “italianização” do futebol brasileiro.

No já citado “Cotas de televisão do campeonato brasileiro…”, eu recordo o caso da Serie A italiana e do relatório da autoridade antitruste do país, de 2007.

“Na Itália, entre 1999 e 2011, os clubes estiveram livres para negociar os direitos de televisão individualmente. Preocupado com o desequilíbrio orçamentário entre os clubes da Serie A, o Ministério do Esporte italiano determinou que as cotas de televisão voltassem a ser negociadas coletivamente. Em janeiro de 2007, a autoridade antitruste da Itália recomendou, em um relatório de 170 páginas, que o sistema de negociação coletiva fosse utilizado novamente para garantir maior competitividade ao campeonato italiano. Foi necessária uma intervenção estatal, via Ministério do Esporte, para que se procurasse um modelo de negociação coletiva com regras estabelecidas para uma divisão mais equânime destes recursos.”

Na Itália, entretanto, a divisão ficou: 40% igual entre todos, 30% pelo mérito esportivo e 30% baseado no tamanho da torcida (em “Cotas de televisão do campeonato brasileiro…” específico os detalhes).

Por não dividir metade do valor integral de forma igualitária entre todos os clubes, a Serie A italiana se tornou – após o Real Decreto-ley5/2015 espanhol – a liga europeia mais desigual entre as cinco maiores (em faturamento) competições nacionais do Velho Continente.

Na Premier League inglesa, por exemplo, os valores obtidos pelas vendas para o mercado externo (£3 bilhões) são distribuídos de forma 100% igualitária, já o montante auferido das negociações para o mercado interno — £ 5,136 bilhões é o que a Sky Sports (£4.2 bilhões, por 126 jogos ao vivo) e BTsports (£960 milhões, por 42 jogos ao vivo) vão pagar a partir de 2016/17 –, são distribuídas de acordo com três critérios: 50% divididos igualitariamente entre todos os clubes; 25% baseados na classificação final da temporada anterior (o campeão recebendo 20 vezes mais o valor que recebe o último clube da lista); 25% variáveis de acordo com o número de jogos transmitidos na televisão.

Na Espanha, o Real Decreto-ley 5/2015 passou a regulamentar a negociação centralizada dos direitos televisivos. E a distribuição passou a ser da seguinte forma: 50% igualitariamente entre todos os clubes; 25% levando em consideração os rendimentos desportivos nas últimas cinco temporadas; 25% dividido em duas partes – um terço será determinado pela média de vendas de bilhetes e lugares anuais nas últimas cinco temporadas e outros dois terços correspondentes à participação de cada clube na geração de recursos na comercialização dos direitos de transmissão.

E o que isto representa na prática? Vejamos, abaixo, a diferença entre o topo e o fundo da tabela das cinco ligas de maior faturamento na Europa e do Brasileirão.

Inglaterra – 1,5:1

Alemanha – 2:1

Espanha – 3:1

França – 3,8:1

Itália – 4,8:1

Brasil — 6,5:1

Podemos concluir, portanto, que enquanto a proposta do Esporte Interativo buscava nos aproximar do modo de distribuição dos recursos mais equânime que existe, que é o modelo inglês, o acordo que a Rede Globo tem celebrado com os clubes (pelo pouco que se é permitido chegar à opinião pública) nos coloca mais perto do que acontece na Itália, que após o Real Decreto-ley espanhol passou a ser a liga mais desigual entre as maiores da Europa.

Em suma, o novo acordo da Globo além de ainda seguir encoberto pela bruma da “confidencialidade”, carecendo de maior transparência para uma melhor avaliação, representa um avanço estagnador.

Avanço porque deverá diminuir a desigualdade de 6,5:1 para algo perto de 4,5:1. Estagnador porque se trata de uma reforma e não uma revolução, como propunha o Esporte Interativo.

Estagnador porque impede um passo mais largo que poderia ser dado pelos clubes brasileiros caso se unissem e, coletivamente, optassem por um modelo que, ao invés de apenas amenizar a desigualdade, promovesse uma maior equidade.

Pesquisadora da Fiocruz dá um passa-moleque na Globo

Globo e SUS

Conversa Afiada republica surra que o Globo tomou de uma pesquisadora da Fiocruz sobre “notícia” da falência do SUS no Rio.

É uma surra histórica, que demonstra a irresponsabilidade do “jornalismo” da Globo.

A pesquisadora foi gentil, e se ofereceu para responder um e-mail que a Globo queira enviar com suas dúvidas.

Como a Luiza Trajano fez quando desmoralizou aquele que, na GloboNews, chama nordestino de “bovino”.

É que a pesquisadora deve ser uma pessoa bem educada.

Se não fosse, se referiria ao chefe (sic) da redação do Globo como Ascanio Semleme, que é como se referem a ele nos corredores. (O nome é Seleme, aquele todo de preto, que deu o Prêmio da Diferença ao Moro…)

Veja-o, à esquerda na imagem abaixo, entregando o prêmio da Globo ao simpático e sorridente juiz Moro. À direita o dono da Globo.

Moro e Globo prêmio

RESPOSTA ENVIADA PELA PESQUISADORA DA FIOCRUZ LIGIA GIOVANELLA AO REPÓRTER DO JORNAL ‘O GLOBO’, AUTOR DA MATÉRIA ‘RIO TEM MAIOR TAXA DE MORTALIDADE NO SUS EM TRÊS DÉCADAS’

Prezado Eduardo,
Hoje no café da manhã ao ver as manchetes de capa e ler a reportagem da página 4 do jornal o Globo que vc redigiu, fiquei muito surpresa com a incompreensão de dados estatísticos simples como a taxa de mortalidade por grandes grupos de causas. Escrevo para que vc entender melhor os dados que tentou difundir e emplacou como manchete de capa, e possa melhorar em próximas análises. Eu não sou especialista neste tema, não sou epidemiologista, mas este é um conhecimento básico de saúde pública.

1.Em primeiro lugar: é impossível afirmar que 12,76 / 100 mil hab de mortes por causa mal definidas correspondem à maioria dos óbitos como vc afirma três vezes – inclusive no título da matéria na página 4. Somente podemos escrever maioria quando nos referimos a uma proporção maior de 50%. Neste caso vc poderia ter dito a maior taxa com 12,76 mortes por cem mil hab (caso fosse correta). Estranhei imediatamente ao ler a manchete pois sei que as mortes por causas mal definidas tem diminuído no país. Desculpe o tom professoral mas sou mesmo professora e estou acostumada a corrigir dissertações de mestrado e doutorado. Veja por exemplo, os dados de mortes para 2013 no estado do RJ: em 2013 morreram 130.032 pessoas no ERJ, destas mortes 7.088 foram pelo Capítulo XVIII Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte; o que corresponde a 5,5% das mortes. A principal causa são mortes por doenças do aparelho circulatório, Cap IX, com 38.172, o que corresponde a 29,4% dos óbitos em 2013 no ERJ. Assim é errado afirmar que a maioria dos óbitos não teve diagnóstico (como aparece no título/manchete p 4): somente 5,5% não teve diagnóstico claro…. bem longe de ser maioria!

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def

Veja outro exemplo: em 2011 a taxa de mortalidade específica no ERJ para doenças do aparelho circulatório foi de 229 mortes por cem mil habitantes: 17 vezes maior do que a taxa que vc refere para causas mal definidas!

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/c08.def

2. Em segundo lugar, e mais grave, é o desconhecimento de que não se tratam de “mortes no SUS” (afirmado em duas manchetes, ou pior ainda “pelo SUS” como afirmado mais adiante). As estatísticas se referem a todas as mortes do país/estado – a fonte são todos os atestados de óbitos do país/estado colhidos nos cartórios – não são mortes nas emergências dos hospitais do SUS como vc dá a entender no terceiro parágrafo da primeira coluna da p. 4.

3. Está correto dizer mortes registradas no país ou no estado pelo Datasus ou pelo SUS, uma vez que se trata de um órgão do Ministério da Saúde – o que está incorreto é afirmar que são mortes no SUS ou pelo SUS – induzindo o/a leitor/a a concluir que o SUS mata! Que os serviços do SUS do ERJ são os piores do país etc, etc…

4. Vc acredita mesmo que a população do Maranhão tem melhor condição de saúde do que a do Rio de Janeiro? Ou melhores serviços de saúde do que o RJ? Certamente vc sabe que é um dos estados mais pobres do país. Não ficaste intrigado? Neste caso de comparação entre estados deveria utilizar a taxa padronizada (como aparece nos indicadores e dados básicos IDB até 2012) ou se poderia talvez utilizar taxas por faixa etária o que permitiria uma comparação.

5. Quem calculou a taxa de mortalidade? Ela foi padronizada? qual a população? Em geral não se comparam taxas brutas de mortalidade pois a estrutura etária influencia sobremaneira os resultados. Uma população mais velha apresenta evidentemente taxas mais elevadas de mortalidade.

6. Veja que as observações da professora entrevistada assim como dos órgãos públicos se referem à evolução da mortalidade e suas causas em geral, e, não a mortes do SUS, pois este tipo de indicador não existe. O que se calcula são taxas de mortalidade hospitalar, por exemplo.

A informação jornalística clara e transparente é um elemento crucial para a democracia. Todos nós estamos preocupados em melhorar a qualidade de serviços no SUS para que se torne efetivamente um serviço nacional de saúde público, universal de qualidade garantindo o direito cidadão de acesso aos serviços de saúde de qualidade. Boas reportagens podem contribuir para isto.
Se vc quiser pode me enviar o texto de onde vc coletou os dados e me ligar p gente compreender melhor o que aconteceu. Também posso sugerir especialistas p vc entrevistar.

Cordialmente
Ligia Giovanella
Pesquisadora titular
Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz
Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz

O DIA EM QUE MORO FINALMENTE PISCOU

Moro e Globo prêmio'

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

E Moro piscou.

Não existe expressão melhor: Moro piscou.

Há outras, mas não tão boas. Por exemplo: sair pela tangente.

Foi assim que o jurista José Gregori, insuspeito de petismo, se referiu ao triste papel de Moro nesta sexta.

“Na realidade o que parece é que esse juiz queria era prender Lula. Não teve a ousadia de fazê-lo e piscou”, disse à BBC Gregori, ministro da Justiça de FHC entre 1997 e 2000.

Antes, com a mesma clareza, Gregori afirmou o que você não leu e nem vai ler em nenhum editorial das grandes empresas jornalísticas. “Não existe na nossa legislação a figura da condução coercitiva sem que tenha havido antes a convocação. A praxe tem sido essa: você convoca a pessoa a comparecer e, se ela não comparecer, então na segunda vez vem a advertência de que ela poderá ser conduzida coercitivamente.”

Mas ficou claro: a Lava Jato não opera com praxe, para usar a palavra de Gregori. Opera com exceção.

Moro piscou em algum momento na manhã de sexta, quando já não havia dúvidas de que havia o risco de que a situação fugisse do controle e corresse sangue de brasileiros.

A prisão de Lula não seria aceita de forma passiva não apenas pelos petistas – mas por todos aqueles que já não suportam mais serem tratados como débeis mentais pela aliança entre Globo, Moro, PF e MPF.

Não estranharia se na piscada de Moro houvesse havido a intervenção da Globo. Porque também para a Globo a situação começou a se deteriorar.

As redes sociais explodiram em ódio e indignação contra a Globo. No Twitter, hashtags anti-Globo viralizaram. Nas ruas, repórteres da emissora enfrentaram hostilidade e escárnio.

Num dos melhores momentos, um manifestante aproveitou que uma repórter da Globonews estava no ar e se colocou atrás dela para que a câmara mostrasse um cartaz que falava da Paraty House, a mansão criminosa que a Globo alega não ser dela a despeito de todas as evidências de que é.

A sequência de fatos – Jornal Nacional-tuíte de um jornalista da Globo se gabando na quinta de que na sexta Lula seria detido-e a condução coercitiva determinada por Moro – foi mais que do milhares e milhares de pessoas poderiam engolir.

A Globo voltou a ser vista como o que sempre foi: como um instrumento da plutocracia para manipular os brasileiros e afastar, por golpe, governantes populares.

Na Era da Internet, em que as informações circulam sem o controle das empresas jornalísticas, as consequências dessa repulsa à Globo seriam imprevisíveis caso a prisão de Lula fosse efetivada.

Moro piscou, ou saiu pela tangente, como disse Gregori. E a Globo, ao que tudo indica, também.

A Globo claramente está aloprada, mas isso não significa que queira se suicidar. Numa demonstração do desequilíbrio avassalador de seus executivos de jornalismo, o diretor de novas mídias Erick Bretas colocou como avatar no Facebook, ontem, a foto de Sérgio Moro.

Isso depois de dizer, sem pudor e sem noção da gravidade do que afirmava como diretor da maior empresa de mídia do país, que Dilma tinha que ser deposta e Lula preso.

Se Bretas está postando este tipo de conteúdo desvairadamente golpista sem que ninguém lhe chame a atenção, você pode avaliar a temperatura no jornalismo da Globo.

Graças à internet, e não apenas a ela, o Brasil de 2016 não é o Brasil de 1954 e nem o Brasil de 1964, ocasiões em que a Globo teve uma contribuição abjeta para a destruição de dois regimes consagrados pelos votos – sem pagar depois o preço por isso.

Foi o que se viu ontem, quando a reação ao golpe fez Moro piscar – e com ele sua aliada Globo.

Ou, se preferem Gregori, saírem pela tangente.

FOLHA CONFESSA TER SIDO BENEFICIÁRIA DE MAIS UM VAZAMENTO DA LAVA JATO

O óbvio “escondido”

Por Ronaldo Souza

Representa alguma novidade “descobrir” que os vazamentos para esses órgãos da imprensa existem desde o início da Lava Jato?

Claro que não.

Todos sabíamos disso, mas o cinismo e a hipocrisia que reinam há muito tempo na imprensa brasileira também se incorporaram ao dia-a-dia de parte da população.

Quem, de sã consciência, não sabe que a Lava Jato nada tem a ver com o que se diz dela?

Quem não percebeu que o juiz Moro há muito tempo já dava sinais claros de que frustraria o desejo de milhões de brasileiros, que imaginaram que poderiam ver finalmente a diminuição da corrupção?

Diminuição sim, porque, por razões óbvias, jamais deixará de existir.

E combate-la nunca foi desejo deles.

Quem não percebeu que não há nenhuma intenção de combater a corrupção?

Quem não percebeu (em alguns casos com surpresa) que os patriotas jogadores da CBF (aqueles que vão para as avenidas fantasiados de verde-amarelo) também não estão interessados no combate à corrupção?

Quem não percebeu que aquele colega picareta está ali, agora, ao seu lado, brindando a alegria de combater a corrupção em um belo domingo de sol.

Abraçados na mesma causa!

Alguém se viu como ele o vê?

“Esse aqui também compra DVD pirata”; “esse aqui também compra carteira de estudante”; “esse aqui já me roubou paciente”; “esse aqui também dá um jeitinho na hora de preencher a…”

– Vamos tirar esse governo corrupto. Só tem ladrão. PTralha é tudo corrupto. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante, e o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da Pátria nesse instante…”

– Tamo junto.

O circo está aí.

Mais evidente, impossível.

FOLHA CONFESSA TER SIDO BENEFICIÁRIA DE MAIS UM VAZAMENTO DA LAVA JATO

Folha confessa vazamento

Em reportagem publicada neste sábado, repórteres da Folha relatam ter chegado ao apartamento de Lula às 5h15 da manhã de ontem, quase meio hora antes da chegada dos primeiros carros de polícia; eles só não revelam quem os avisou da operação

Brasil 247

Em reportagem publicada neste sábado, repórteres da Folha relatam ter chegado ao apartamento de Lula às 5h15 da manhã de ontem, quase meio hora antes da chegada dos primeiros carros de polícia.

Eles só não revelam quem os avisou da operação. Confira abaixo um trecho:

Às 5h15, quando a Folha chegou ao endereço em que Lula mora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, a rua estava tranquila. No começo de manhã ainda fazia frio, e a reportagem esperava por sinais de alguma movimentação estranha dentro de um carro estacionado do outro lado da rua.

Por 25 minutos, não houve sinais de que algo iria acontecer: nada de carros de polícia, sirenes ou agentes. As operações da Polícia Federal costumam ser executadas muito cedo.

Então, às 5h40, um utilitário preto sem marcas distintivas estacionou em frente ao prédio e permaneceu de portas fechadas. Após alguns minutos, três homens à paisana saíram do veículo, olharam para os lados e sacaram do bolso o que se assemelhavam a distintivos, pregados no peito.

O “mau passo” de Moro

Moro fascista

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Talvez por ser muito jovem, o Dr. Sérgio Moro tenha acreditado que o mundo real é igual ao mundo que a mídia constrói.

Sim, parece muito, mas não é.

Animado pelo bombardeio da “Operação Choque e Terror” dos meios de comunicação, fez seu lance mais ousado, embora não ao ponto que, intimamente, desejava.

Foi aquém do que queria, mas além do que devia.

Um depoimento civilizado de Lula e, até, uma medida de força, a de busca e apreensão no seu Instituto teriam desgastado mais o ex-presidente sem, contudo, permitir a reação de alguém que é vítima de uma violência travestida de rigor legal.

Mas Moro acreditou que podia mais, ainda que não tinha forças para o ato final: a prisão de Lula e sua condução às masmorras de Curitiba, para dali só sair com a confissão que é a única chave a abrir aquela cadeia.

Jogou com os conceitos mentais que cultiva – e que a mídia faz vicejar – de que a “meia-prisão”, representada pela “coação coercitiva” (já de si, um absurdo, que deixo para o juristas comentarem) seria a desmoralização, a execração social, a qual multidões de “coxinhas” sairiam as ruas para comemorar.

E seria isso mesmo o que qualquer marqueteiro – ele poderia até consultar o João Santana, que está ali, preso, à sua disposição – ou analista da grande imprensa lhe diria. A pesquisa, fresquinha, do Datafolha estava à mão para confirmar a conclusão: só 15 ou 20% achavam que Lula não tinha culpa no cartório.

O que deu errado, porém, e fez do todo poderoso juiz dar um tiro no pé e, aparentemente, ter despertado a primeira reação capaz de fazer a mídia gaguejar e o “sequestro” – é o nome que merece a condução injustificada por policiais, ainda que por ordem judicial  arbitrária – voltar-se contra o sequestrador, sempre aplaudido?

Sérgio Moro é um homem descolado da realidade social.  É natural que assim seja, ao se tornar juiz com apenas 24 anos, um dos giudici ragazzi nos quais confessadamente se inspira em seu delírio de uma Operação Mãos Limpas tropical.

É, no voluntarismo próprio dos que acham que basta um homem honrado, duro e implacável para mudar o mundo, um destes que crê que as massas servem para uivar de prazer diante da destruição dos “inimigos da moral” e as reduz àquilo a que as conduzem.

O Dr. Moro não é capaz de compreender que existe um processo social que, embora conformado ao leito que lhe desenham os meios de comunicação, o mais poderoso aparato de controle social, é um rio profundo e suas reações podem fazer com que rompa as barreiras com as  quais se pretende canalizá-lo.

O povo, aparentemente tolo e dirigível, tem suas profundezas.

É por isso que ontem Moro deu seu mau passo.

Tocou no apego à democracia que remanesce no Brasil, tocou na única identidade política que sobreviveu à entrada do século 21.

Pessoas neutras e até críticas – e com muitas razões – ao PT se chocaram com a violência de seu ato e a prova disso é que já se percebe – finalmente! – reações no STF aos desbordamentos que ele pratica. (Observação en passant: não se iludam com a decisão de Rosa Weber, Moro é seu enfant gâté)

E fez muitas delas saírem de sua passividade.

Por incrível que pareça, até mesmo Lula saiu da passividade e partiu para o combate.

E as tropas transtornadas do impeachment e do “pixuleco”?

Tirando algumas dúzias de transtornados e  moleques pixadores de São Paulo, não apareceram para a esperada “festa nas ruas”.

A semana será de uma tentativa desesperada de criar fatos novos e de mobilização para as manifestações do dia 13.

Não parece, porém – salvo se Lula não seguir com a disposição demonstrada ontem – que vá sair conforme o planejado.

Moro errou e seu erro pode ter sido o início do fim de seu delírio de poder.

Os golpes, embora se desenvolvam lenta e progressivamente, têm muito mais chances quando se desfecham rápida e decididamente.

Do contrário, o que parecia morto vive e desperta com uma força insuspeitada.

Se isso se fez até com um cadáver, como o de Vargas, que dirá com um morto muito vivo, como é Lula.

‘OPERAÇÃO CONTRA LULA É CONFISSÃO DE MEDO DA ELITE’

Bandeira de Mello

O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello avalia diz ter ficado “muito aborrecido como cidadão” diante da condução coercitiva de Lula; “Não passa de um absurdo. Porque quem não se recusa a depor, quem não resiste a colaborar com a autoridade, não pode receber nenhuma condução coercitiva”, ressalta; para ele, falta ao juiz Sérgio Moro “o elementar para um magistrado, que é o equilíbrio”, avalia; “Quando o país voltar à normalidade, esse juiz é capaz de sofrer, viu? Porque ele pode ser punido pelos seus desmandos”, diz

Rede Brasil Atual – Como todos os cidadãos que, independentemente das cores partidárias, têm apreço pela democracia, pelo Estado democrático de direito e pelas garantias individuais inscritas na Constituição de 1988, o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello acordou hoje (4) com uma notícia chocante para muitos. O cerco, pela Polícia Federal, à casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cumprimento de ação deflagrada na operação Lava Jato. “Eu fiquei muito aborrecido como cidadão”, diz, em entrevista exclusiva à RBA.

Numa análise mais fria, Bandeira de Mello acredita que tudo a que o país está assistindo, e que chegou hoje ao clímax da espetacularização midiática, do ponto de vista jurídico não é respaldado por nenhuma lei. “A condução coercitiva do Lula, juridicamente, não passa de um absurdo. Porque quem não se recusa a depor, quem não resiste a colaborar com a autoridade, não pode receber nenhuma condução coercitiva.”

Politicamente, Bandeira de Mello não hesita em dizer, com um tom que poderia vir das páginas da melhor literatura, que a atitude contra o ex-presidente da República “é um ato que equivale a uma confissão de medo, de pavor”, da elite brasileira. Para o constitucionalista, o medo é de que, apesar de tudo, Lula seja candidato e ganhe a eleição em 2018.

Ele diz que se sente à vontade para abordar o tema e defender Lula. “Eu nem sou um eleitor habitual do PT. O meu candidato a deputado não é do PT.”

Lembrando a filósofa Marilena Chaui, Bandeira de Mello aponta a classe média como o principal aliado da imprensa tradicional do país, que tem “um certo peso”. “Mas esse peso se restringe à chamada classe média, sobretudo a classe média alta, que é uma gente, eu diria, lamentável. A classe média alta é invejosa”, diz. “Não se satisfaz em estar bem. Ela quer que os outros estejam mal para se sentir superior.”

“Já pensou o sujeito que faz universidade, consegue título de mestre, de livre-docente, de titular, e vê que para o mundo ele vale muito menos do que um operário? É humilhante, não é? Eles se sentem humilhados com a presença do Lula”, acrescenta.

O advogado também comenta a operação Lava Jato e o juiz que a comanda em Curitiba. “Falta para esse juiz, Sérgio Moro, o elementar para um magistrado, que é o equilíbrio”, avalia. “Quando o país voltar à normalidade, esse juiz é capaz de sofrer, viu? Porque ele pode ser punido pelos seus desmandos.”

Em sua opinião, está faltando uma postura mais afirmativa do governo Dilma Rousseff em relação a tudo o que está acontecendo no país. “Mas acho que vai começar a aparecer (uma postura do governo). Porque o ministro da Justiça dela (José Eduardo Cardozo) não coibiu, a meu ver, os abusos que já vinham se sucedendo”, diz Bandeira de Mello. “Apesar do muito respeito e amizade que eu tenha – porque eu tenho – pelo professor Zé Eduardo.”

Como o sr. avalia o momento grave a que o país chegou?

Eu acho que estamos sinalizando o fim da democracia. A condução coercitiva do Lula, juridicamente, não passa de um absurdo. Porque quem não se recusa a depor, quem não resiste a colaborar com a autoridade não pode receber nenhuma condução coercitiva. Um homem com endereço certo e sabido, um homem de prestígio mundial. Condução coercitiva é para quem não quer colaborar, e não para quem se dispôs a colaborar. Logo, trata-se de um ato puramente político, um gesto para tentar humilhar e desmoralizar o ex-presidente. Para resumir numa palavra, quando você toma uma sova no campo e tenta ganhar no tapetão, é sinal que você está desesperado. Eles têm medo do Lula. A condução coercitiva dele é um ato que equivale a uma confissão de medo, de pavor. Eles têm medo que o Lula venha a ser candidato e ganhe a eleição. É isso.

Falta para esse juiz, Sérgio Moro, o elementar para um magistrado, que é o equilíbrio, isso ele não tem. Ele parece um desses vingadores de televisão que a gente vê. Eu ouvi dizer que a família dele é a fundadora do PSDB no Paraná. Dizem, não sei se é verdade. Mas se for, dá para entender a conduta dele. Tudo o que ele faz, parece, é alguma coisa sem serenidade, sem equilíbrio, com um partidarismo muito grande. Quando o país voltar à normalidade, esse juiz é capaz de sofrer, viu? Porque ele pode ser punido pelos seus desmandos. Hoje temos um juiz muito desmandado como ele, um Ministério Público do Paraná que não merece a menor consideração, e mesmo a Polícia Federal. É uma lástima.

O sr., que sempre apontou para os perigos de certas medidas legais, como vê o Estado de direito e os direitos individuais neste momento?

Tudo está indo embora. Mas eu diria que o começo de tudo foi o julgamento do chamado mensalão. José Dirceu foi condenado sem que existisse uma única prova contra ele. Muitas vezes repeti que quem disse isso foram duas pessoas absolutamente insuspeitas. Aquele tributarista da direita, Ives Gandra, e o ex-governador de São Paulo e ex-presidente de um partido da direita, um constitucionalista respeitado, Cláudio Lembo, cuja dignidade nunca ninguém pôs em dúvida. Quem mais precisaria dizer para que isso ficasse evidente? Aquele foi o começo do fim, na minha opinião, do Estado de direito.

Essa operação chega a um limite de espetacularização midiática que joga fora o Direito por uma questão política. Até onde vai o país nessa direção?

Olhe, eu acho que isso vai ter um efeito positivo, ao contrário do que eles queriam. Porque o Lula ficou indignado, como não poderia deixar de ficar. E vai começar a reativar a militância que ele tinha. O próprio PT, que estava como que dormindo, vai acordar. Isso significa que nós vamos ter uma intensificação dos movimentos democráticos no país. É isso que significa. O que vai resultar disso é impossível saber. “O Lula ficou desmoralizado.” Quem vai dizer isso? São os jornais? Mas o que vale a opinião dos jornais do ponto de vista, digamos, eleitoral? Nada. A imprensa, o chamado PIG, o partido da imprensa golpista, que abrange todos os grandes meios de comunicação do Brasil, vai tomar isto como uma grande vitória. E é claro que não vão apresentar as pesquisas de opinião, quando vierem as eleições, com honestidade.

O outro lado não tem razão para ser veraz, nenhuma razão. O interesse deles é desmoralizar, e é isso que vêm tentando fazer. Eu nem digo que eles não consigam. Eu acho até que num país subdesenvolvido, onde a única fonte de informação são os jornais e as revistas, eles têm um certo peso. Mas esse peso se restringe à chamada classe média, sobretudo a classe média alta, que é uma gente, eu diria, lamentável, com respeito aos pontos de vista de outros. A classe média alta é invejosa, não suporta ver quem está embaixo subir, não se satisfaz em estar bem. Ela quer que os outros estejam mal para se sentir superior. A grande imprensa fala pra esse tipo de gente. Basta ver uma coluna que existe na Folha de S.Paulo, “Opinião do Leitor”, qualquer coisa assim. Você lê aquelas coisas e fica espantado, e fica pensando que está vivendo em um dos países mais atrasados do mundo. Não, é a classe média alta que é assim.

Como recebeu a notícia da operação?

Eu fiquei muito aborrecido como cidadão, muito humilhado como cidadão, com muito temor. Mas acho que isso tudo vai passar, viu?

Então o sr. não está pessimista como algumas pessoas que acham que estamos à beira de uma conflagração social?

Eu acho que uma conflagração social não vai chegar a ocorrer. Porque eles anunciam uma maioria que não existe. Porque essa gente que eles invocam é a classe média, e a verdadeira maioria está no povão. Na hora em que o PT recomeçar, digamos, o seu progresso, o que vai acontecer? Os meios conservadores vão ter que se mancar, pra usar um termo popular. Porque é o operariado que sustenta a riqueza e o andamento do país. Uma hora o operariado vai resolver fazer uma greve geral – que não está para acontecer logo, mas que pode acontecer se a provocação dos coxinhas continuar.

O sr. não acha que estaria faltando uma atitude mais afirmativa do governo Dilma em relação ao que está acontecendo?

Está, mas acho que vai começar a aparecer. Porque o (ex) ministro da Justiça dela (José Eduardo Cardozo) não coibiu, a meu ver, os abusos que já vinham se sucedendo. Então, a coisa foi num crescendo e chegou a esse extremo. O que dói para essa gente é que um homem simples como Lula é recebido por reis e rainhas, homenageado por eles, por primeiros ministros, chefes de estado, presidentes. Como os outros não o são, eles ficam aborrecidos. Já pensou o sujeito que faz universidade, consegue título de mestre, de livre-docente, de titular, e vê que para o mundo ele vale muito menos do que um operário? É humilhante, não é? Eles se sentem humilhados com a presença do Lula. O Lula é uma humilhação viva para as pessoas que se acham grande coisa.

A mudança do ministro da Justiça pode mudar esse estado de coisas?

Eu acho que pode mudar, porque como o ministro da Justiça parece que não coibia nada, então a vinda de um novo sempre desperta uma certa atenção, um certo temor por parte dos desmandados. Apesar do muito respeito e amizade que eu tenha – porque eu tenho – pelo professor Zé Eduardo, eu acho que ele foi um pouco leniente com a Polícia Federal. Ele alega que não queria interferir. Sim, é uma atitude muito bonita, mas eu acho que eles passaram da conta, que eles precisavam de alguns apertões. Lembra como a Polícia Federal fazia e desfazia até chegar um indivíduo chamado Nelson Jobim? Ele enquadrou essa gente. Talvez essa gente precisasse ser enquadrada. Eu acho isso.

Mas eu tenho esperança de que nas próximas eleições o Lula ganhe, e ganhe bem, com muita vantagem, ao contrário do que as pessoas pensam. De maneira que, ele vindo, eu acredito que todos esses desmandados vão ter uma lição. Inclusive a imprensa.

Não que eu seja contra a liberdade de imprensa, eu sou inteiramente a favor. Mas para isso é preciso instituir a liberdade de imprensa. Quando só existem quatro ou cinco famílias que dominam os meios de comunicação, como eu posso falar em liberdade de imprensa? Seria como se no Brasil existissem quatro ou cinco pessoas que tivessem propriedade. Aí você diz: “Eu sou a favor do direito à propriedade. Eu defendo esses quatro ou cinco”. Bom, então você não está defendendo o direito à propriedade, está defendendo quatro ou cinco proprietários. É isso que se passa, ao meu ver, com a chamada liberdade de imprensa no Brasil.

O que poderia ser feito para se começar de fato a investigar o PSDB da maneira como se espera?

Acho que não seria muito complicado, não. É só aplicar a lei uniformemente para todos, e não seletivamente contra o PT ou quem é ligado ao PT, ao Lula etc. E, olhe, eu estou falando à vontade, porque eu nem sou um eleitor habitual do PT. O meu candidato a deputado não é do PT. Estou falando porque é uma análise fria dos acontecimentos. Se você não tiver nenhum fanatismo, você vê as coisas do jeito que eu estou lhe dizendo. Porque é verdade. E é comprovável. Como você leva numa condução coercitiva uma pessoa quer não se recusou a depor?

Quem poderia aplicar a lei, já que aparentemente ninguém aplica?

Eu espero que isso aconteça quando Lula voltar à presidência. Eu acho que tudo se resolve em termos políticos, e não em termos jurídicos. As pessoas têm a ilusão de achar que o Direito pode tudo. O Direito não pode. O Direito é apenas uma superestrutura. Ele reflete o que existe na sociedade. Se a sociedade estiver agachada, de cabeça baixa, o Direito vai ser semelhantemente agachado e de cabeça baixa. Quando a política mudar, aí muda tudo.

Ah, Dr. Moro, o senhor não tem ideia da merda que fez

lulacampanha

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Quem ouviu a fala de Lula, agora há pouco na quadra do Sindicato dos Bancários, percebeu.

Moro operou um milagre.

Despertou um Lula que andava adormecido.

Mexeu-lhe com os brios.

O ex-presidente, pela primeira vez, há muito tempo, está feliz.

Feliz como pinto no lixo, como dizem os cariocas.

Sem “paz e amor”. Língua solta.

Falando a linguagem do povão, a do botequim.

Mandando chamar “a mãe deles” para depor.

“Hoje, para mim, foi o fim”, disse Lula, “porque me ofenderam”.

Esse Lula é indestrutível, por mais que o governo Dilma vá mal, cercado e manietado.

O Dr. Sérgio Moro despertou o que não tem ideia da força que tem

Não é o Lula ofendido e magoado.

É alguém que possa, como no livro de Dostoiewski, despertar os “humilhados e ofendidos”.

Moro, como um Hércules ao inverso, recolocou Anteu em contato com sua mãe, a Terra, sua mãe, que o tornava invencível.

Acabaram as pequenas questões.

Agora é a grande.

É botar o retrato do velho outra vez, botar no mesmo lugar.

A Globo se desmoraliza mais e mais a cada instante

Golpe do PIG

A Globo sabe que está desmoralizada, mas para ela não vem ao caso.

Sabe muito bem para qual arquibancada joga.

Pesquisadora da Fiocruz dá um passa-moleque na Globo

Conversa Afiada  republica surra que o Globo tomou de uma pesquisadora da Fiocruz sobre “notícia” da falência do SUS no Rio.

É uma surra histórica, que demonstra a irresponsabilidade do “jornalismo” da Globo.

A pesquisadora foi gentil, e se ofereceu para responder um e-mail que a Globo queira enviar com suas dúvidas.

Como a Luiza Trajano fez quando desmoralizou aquele que, na GloboNews, chama nordestino de “bovino”.

É que a pesquisadora deve ser uma pessoa bem educada.

Se não fosse, se referiria ao chefe (sic) da redação do Globo como Ascanio Semleme, que é como se referem a ele nos corredores. (O nome é Seleme, aquele todo de preto, que deu o Prêmio da Diferença ao Moro…)

RESPOSTA ENVIADA PELA PESQUISADORA DA FIOCRUZ LIGIA GIOVANELLA AO REPÓRTER DO JORNAL ‘O GLOBO’, AUTOR DA MATÉRIA ‘RIO TEM MAIOR TAXA DE MORTALIDADE NO SUS EM TRÊS DÉCADAS’

Prezado Eduardo,

Hoje no café da manhã ao ver as manchetes de capa e ler a reportagem da página 4 do jornal o Globo que vc redigiu, fiquei muito surpresa com a incompreensão de dados estatísticos simples como a taxa de mortalidade por grandes grupos de causas. Escrevo para que vc entender melhor os dados que tentou difundir e emplacou como manchete de capa, e possa melhorar em próximas análises. Eu não sou especialista neste tema, não sou epidemiologista, mas este é um conhecimento básico de saúde pública.

1.Em primeiro lugar: é impossível afirmar que 12,76 / 100 mil hab de mortes por causa mal definidas correspondem à maioria dos óbitos como vc afirma três vezes – inclusive no título da matéria na página 4. Somente podemos escrever maioria quando nos referimos a uma proporção maior de 50%. Neste caso vc poderia ter dito a maior taxa com 12,76 mortes por cem mil hab (caso fosse correta). Estranhei imediatamente ao ler a manchete pois sei que as mortes por causas mal definidas tem diminuído no país. Desculpe o tom professoral mas sou mesmo professora e estou acostumada a corrigir dissertações de mestrado e doutorado. Veja por exemplo, os dados de mortes para 2013 no estado do RJ: em 2013 morreram 130.032 pessoas no ERJ, destas mortes 7.088 foram pelo Capítulo XVIII Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte; o que corresponde a 5,5% das mortes. A principal causa são mortes por doenças do aparelho circulatório, Cap IX, com 38.172, o que corresponde a 29,4% dos óbitos em 2013 no ERJ. Assim é errado afirmar que a maioria dos óbitos não teve diagnóstico (como aparece no título/manchete p 4): somente 5,5% não teve diagnóstico claro…. bem longe de ser maioria! http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def

Veja outro exemplo: em 2011 a taxa de mortalidade específica no ERJ para doenças do aparelho circulatório foi de 229 mortes por cem mil habitantes: 17 vezes maior do que a taxa que vc refere para causas mal definidas! http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/c08.def

2.Em segundo lugar, e mais grave, é o desconhecimento de que não se tratam de “mortes no SUS” (afirmado em duas manchetes, ou pior ainda “pelo SUS” como afirmado mais adiante). As estatísticas se referem a todas as mortes do país/estado – a fonte são todos os atestados de óbitos do país/estado colhidos nos cartórios – não são mortes nas emergências dos hospitais do SUS como vc dá a entender no terceiro parágrafo da primeira coluna da p. 4.

3.Está correto dizer mortes registradas no país ou no estado pelo Datasus ou pelo SUS, uma vez que se trata de um órgão do Ministério da Saúde – o que está incorreto é afirmar que são mortes no SUS ou pelo SUS – induzindo o/a leitor/a a concluir que o SUS mata! Que os serviços do SUS do ERJ são os piores do país etc, etc…

4.Vc acredita mesmo que a população do Maranhão tem melhor condição de saúde do que a do Rio de Janeiro? Ou melhores serviços de saúde do que o RJ? Certamente vc sabe que é um dos estados mais pobres do país. Não ficaste intrigado? Neste caso de comparação entre estados deveria utilizar a taxa padronizada (como aparece nos indicadores e dados básicos IDB até 2012) ou se poderia talvez utilizar taxas por faixa etária o que permitiria uma comparação.

5.Quem calculou a taxa de mortalidade? Ela foi padronizada? qual a população? Em geral não se comparam taxas brutas de mortalidade pois a estrutura etária influencia sobremaneira os resultados. Uma população mais velha apresenta evidentemente taxas mais elevadas de mortalidade.

6.Veja que as observações da professora entrevistada assim como dos órgãos públicos se referem à evolução da mortalidade e suas causas em geral, e, não a mortes do SUS, pois este tipo de indicador não existe. O que se calcula são taxas de mortalidade hospitalar, por exemplo.

A informação jornalística clara e transparente é um elemento crucial para a democracia. Todos nós estamos preocupados em melhorar a qualidade de serviços no SUS para que se torne efetivamente um serviço nacional de saúde público, universal de qualidade garantindo o direito cidadão de acesso aos serviços de saúde de qualidade. Boas reportagens podem contribuir para isto.

Se vc quiser pode me enviar o texto de onde vc coletou os dados e me ligar p gente compreender melhor o que aconteceu. Também posso sugerir especialistas p vc entrevistar.

Cordialmente
Ligia Giovanella

Pesquisadora titular

Nupes/Daps/Ensp/Fiocruz

Escola Nacional de Saúde Pública / Fundação Oswaldo Cruz

A Globo cospe no nosso acarajé

 Globo e acarajé

Por Ronaldo Souza

Nada melhor do que um acarajé quentinho com pimenta e vatapá.

Como tira gosto, cortado em pequenos pedaços, com a pimenta e o vatapá do lado e uma cerveja bem gelada é o manjar dos deuses.

De dar água na boca.

Pelo menos aos baianos.

Para muitos deles, entretanto, o acarajé não é uma simples iguaria, vai muito além disso.

Se para muitos comer um acarajé representa um momento de puro prazer, para outros não é só isso. Há sentimentos maiores por trás desse patrimônio da Bahia.

A Bahia, tão rica em artes de um modo geral e no seu folclore, possui manifestações de grande riqueza e diversidade e todas elas guardam em si profundas ligações com o que há de mais sagrado nas pessoas; a religiosidade e a fé.

Dessa grande riqueza fazem parte hábitos e costumes que vieram da África e aqui encontraram o terreno mais próprio e fértil para se estabelecerem.

A Bahia é o maior pedaço da África fora daquele continente.

Isso a torna uma terra única.

É daí que vem, entre outras coisas, a nossa força musical, o nosso talento para as artes.

Por essas razões não posso deixar de lançar o meu protesto à matéria de capa da revista Época (Globo).

Ainda que a insensatez tenha se tornado uma das maiores características da Rede Globo nos últimos tempos, há de se ter um limite.

A Globo jamais poderia fazer qualquer tipo de associação entre o patrimônio cultural de um estado e seu povo e a sujeira que se vê em diversos segmentos sociais e políticos do país, entre os quais se encontram alguns dos órgãos de comunicação, com relevante participação dela própria, Globo.

A Bahia foi desrespeitada.

O seu povo foi tremendamente insultado, particularmente os descendentes mais diretos dos povos africanos, que cultuam seus hábitos religiosos.

Para estes, o acarajé não é somente uma iguaria, um quitute.

Ele faz parte do ritual de homenagens à Iansã.

Não importam os motivos que levaram a maior rede de comunicação do Brasil a cometer tamanho desatino

A necessidade de armar um grande circo  para alcançar os seus objetivos, sejam eles quais forem, não dá a quem quer que seja o direito de agir de forma tão desrespeitosa com um povo.

Nem mesmo à Globo, que não pode se colocar acima do bem e do mal porque lhe faltam os mínimos predicados para isso.

A Bahia repudia esse lamentável episódio, que em nada a diminui e ao seu povo, mas ratifica o absoluto descompromisso e desprezo da Globo por um estado, um país e seu povo.