FHC ADMITE: NÃO TEM COMO EXPLICAR CASO BRASIF

FHC e Mírian Dutra 2

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou por meio de nota, nesta quinta (18), não ter condições de se manifestar sobre a acusação de que teria se utilizado de um contrato fictício com a empresa Brasif S.A. Exportação e Importação para enviar ao exterior recursos para ajudar a jornalista Mirian Dutra, com quem manteve um relacionamento nos anos 1980 e 1990, a pagar despesas do filho Tomás Dutra Schmidt; “Com referência à empresa citada no noticiário de hoje, trata-se de um contrato feito há mais de 13 anos, sobre o qual não tenho condições de me manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos que considerar necessários”, informou; a Brasif foi concessionária da Infraero, uma empresa federal, tendo o monopólio dos free-shops nos aeroportos do País

Brasil 247

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou por meio de nota, nesta quinta-feira (18), não ter condições de se manifestar sobre a acusação de que teria se utilizado de um contrato fictício com a empresa Brasif S.A. Exportação e Importação para enviar ao exterior recursos para ajudar a jornalista Mirian Dutra, com quem manteve um relacionamento nos anos 1980 e 1990, a pagar despesas do filho Tomás Dutra Schmidt.

A transferência foi feita, segundo Mirian, por meio da assinatura de um contrato fictício de trabalho, celebrado em dezembro de 2002 e com validade até dezembro de 2006.

FHC afirma que vai esperar a empresa se manifestar. “Com referência à empresa citada no noticiário de hoje, trata-se de um contrato feito há mais de 13 anos, sobre o qual não tenho condições de me manifestar enquanto a referida empresa não fizer os esclarecimentos que considerar necessários”, informou.

O ex-presidente negou a informação de que teria bancado Tomás por meio de uma empresa. Ele admite manter contas no exterior, ter mandado dinheiro para Tomás e ter lhe presenteado recentemente com um apartamento de € 200 mil em Barcelona, na Espanha.

O ex-presidente diz que os recursos enviados a Tomás provêm de “rendas legítimas” de seu trabalho, depositadas em contas legais e declaradas ao Imposto de Renda.

William Wack e a Zika que precisa te contaminar

William Waack coveiro'

Por Nêggo Tom, no Brasil 247

Ser mensageiro nem sempre é uma tarefa das mais fáceis, principalmente se a mensagem a ser transmitida não for das melhores para quem a receber. Mas existem pessoas que se superam nessa arte de levar a informação até o seu receptor. Seja a notícia boa ou ruim. Alguns assumem o papel de mensageiro do apocalipse com tanta propriedade, que deixam transparecer a sua satisfação em anunciar o fim. Mesmo que o fim ainda não esteja tão próximo.

Estamos vivendo uma epidemia de zika que vem causando certo pânico na população, em especial nas mulheres grávidas. Mas parece que não é só o mosquito que pode nos contaminar com o tal vírus. Um dia desses assistindo ao jornal da globo, quase peguei uma zika só de ouvir o apresentador da atração falar. Eu não sabia se ele estava informando ou se estava rogando praga. Tanto é, que de agora em diante só assistirei ao citado telejornal (se eu assistir novamente) devidamente banhado em repelente, sal grosso e água benta.

O misto de informação, previsão e desejo de que algo de ruim aconteça transmitidos pelo apresentador, são mais assustadores do que a descrição bíblica do fim do mundo. O jornalista William Waack tenta a todo custo criar uma revolta na população, tentando nos convencer de que a besta descrita por São João no livro do apocalipse como o símbolo do final dos tempos é a presidente Dilma Roussef. Tal comportamento me fez suspeitar de duas possibilidades. Ou ele pretende se candidatar nas próximas eleições ou pretende montar uma igreja, o que seria bem mais nocivo a sociedade e eu nem preciso explicar o porquê, né? Imagine como seria o evangelho segundo William Waack?

Apesar de a palavra evangelho significar “boas novas”, com certeza ele arrumaria um jeito de transmitir as mensagens de Cristo com o mórbido pessimismo que lhe é peculiar. Consigo imaginá-lo falando sobre a volta de Jesus com aquela cara de desânimo e em seguida questionando a seus fiéis com a seguinte pergunta: “Será que ele volta mesmo? Os índices econômicos dizem o contrário. Mas vou esperar pra ver” A forma com que ele se expressa no vídeo e a sua entonação ao falar do atual momento político do país, é absurdamente partidária. Penso que um jornalista não deva se posicionar dessa forma. Qualquer dia desse ele vai encerrar o jornal da globo batendo panela ou comendo uma coxinha.

Eu não sou um militante petista, como sugeriu há um tempo em minha página do facebook, o grande ator Carlos Vereza. Muito embora tenha me sentido honrado em ser questionado por ele, que é um gênio da dramaturgia nacional e foi ao perfil virtual desse simples mortal me confrontar politicamente em função de um artigo que escrevi. Também não mamo nas tetas do governo, como certamente irão sugerir nos comentários. Mas não sou nenhum idiota a ponto de enxergar crise em tudo e de não enxergar nada de bom nesse governo. E também não sou ingênuo o suficiente para não saber a diferença entre um triplex e um aeroporto e o que desembarca num e noutro. Porque se for para declarar o apocalipse, que se revelem todas as bestas e os falsos profetas responsáveis por ele.

Alguns segmentos da mídia estão tendenciosos demais. Tanto na questão política, quanto na questão da Zika. Ambas as situações inspiram atenção e cuidado, mas não é tocando o terror que as coisas se resolverão. A história do país mostra que nunca vivemos no céu, mas sempre estivemos perto de um inferno de corrupção, opressão e injustiça social. Opressão e injustiça que ainda estão presentes em nossa sociedade e que muitos querem perpetuar. O PT não acabou com a injustiça social, mas contribuiu para que a diferença não permanecesse tão grande. Está sendo o suficiente? Não! Mas o que fez o governo anterior a nível de inclusão social? Vai pensando aí! Até o dia do juízo final você lembra.

O Lula não é o homem mais honesto desse país, como ele declarou, mas está longe de ser o mais corrupto. Talvez ele saiba o que muitos outros sabem e também sempre fingiram não saber. Nós é que nunca saberemos da missa um terço. Então não deixe nem água e nem a sua mente parada. Em água parada pode se criar um foco do mosquito transmissor da Zika e em mente parada a manipulação da mídia golpista causa microcefalia política. E tanto a zika, quanto a manipulação da mídia, querem te pegar. Previna-se!

Vai um repelente aí?

QUANTO CUSTOU O SILÊNCIO DA HISTÓRIA DE FHC COM MÍRIAN DUTRA?

FHC e Real

Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

A história do “exílio” de Mirian Dutra, ex amante de Fernando Henrique Cardoso, não deixa muito a dever aos relatos de como a máfia siciliana lidava com seus “problemas”.

Mirian diz que ficou 35 anos na Globo, os últimos 18 congelada no exterior. Segundo ela, nunca conseguiu trabalhar nesse último período — e o que produziu antes disso desapareceu dos arquivos da emissora.

Sua aparição tem sido uma saraivada de diretos no fígado do ex-namorado. Aos 84, dono de uma vaidade que nunca fez questão de esconder, o ex-presidente vê sua imagem desmoronar.

Não tanto pelo drama do romance em si, mas pelo grau de manipulação de FHC, que usou toda a companheirada da mídia e da política para limpar o terreno para seu projeto de poder.

Quanto custou esse “apoio”? Quanto ele deu de retorno à Editora Abril pela nota na Veja dizendo que o filho com Mírian era de um biólogo?

Quanto custou em publicidade oficial a fraude perpetrada em conluio com o ex-diretor de redação Mario Sergio Conti (o mesmo que em 2014 entrevistaria um sósia de Felipão achando que se tratava do original)?

Depois da Brazil com Z, Mirian voltou à carga na Folha, hoje, em entrevista a Natuza Nery. Em 1994, lembra que tentou retornar ao Brasil, mas “não permitiram”.

Quem não permitiu? Antonio Carlos Magalhães, então senador, e seu filho Luís Eduardo, declara.

“Diziam para ficar longe. Diziam ‘deixa a gente resolver essas coisas aqui’. Aí eu pensei e achei que, para os meus filhos, era melhor eu ficar, pois eles seriam muito perseguidos no Brasil.”

“Eu tinha que ter metido a boca no trombone no começo. Eles não aceitaram porque estavam em plena história da reeleição. Isso foi quando Fernando Henrique estava tentando mudar a Constituição”.

Continua: “É uma coisa estranha porque eu lembro que quando Sarney quis ficar cinco anos, ele estava na minha casa jantando e deu um baile: ‘como este homem pode ficar cinco anos? O poder tem que ser quatro anos, e renovável’. E aí tem uma história muito cabeluda nisso tudo, que ele, por meio de uma empresa, mandava um dinheiro para mim.”

Ela diz que tem esses “contratos”. “Tudo guardado aqui. É muito sério. Por que ninguém nunca investigou isso? Por que ninguém nunca investigou as contas que o Fernando Henrique tem aqui fora?”, pergunta.

“Claro que ele tem contas. Como ele deu, em 2015, um apartamento de € 200 mil para o filho que ele agora diz que não é dele? Ele deu um apartamento para o Tomás”.

Mais: “Eles fizeram contrato comigo como se eu fosse funcionária deles [da empresa], só que eles nunca me permitiram trabalhar e aí eu ganhava.”

O episódio é uma aula para entender como um clube protege seus sócios. FHC e congêneres estão na cota de intocáveis, evidentemente que por um preço. Em alguns casos, o prazo de validade acaba.

À Brazil com Z, Mírian falou ainda que tem “cartas”. O acordo de Fernando Henrique com seus amigos expirou. Mírian, ao que tudo indica, não vai ficar calada. O medo de alguém manda-la dormir com os peixes — como os mafiosos fizeram com Luca Brasi em “O Poderoso Chefão” — passou.

Como FHC enganou o país

FHC e Mirian Dutra

Por Palmério Doria, no Brasil 247

Muito antes das expressões “bullyng” ou “assédio moral” se tornarem corriqueiras, pude comprová-las na pele. Inicialmente na forma de sutis consultas, telefonemas despretensiosos, convites para almoços ou cafés.

Eu, o saudoso Sérgio de Souza, o grande editor de Caros Amigos, e todos os colegas envolvidos na apuração da histórica matéria que revelaria ao Brasil a proteção da imprensa a Fernando Henrique Cardoso no caso de seu filho de 8 anos com Miriam Dutra, jornalista da Rede Globo.

Era o verão de 2000. Entre a definição da pauta, em fevereiro, e a publicação da reportagem que entrou para a história do jornalismo independente em nosso país, em abril, meu caráter foi submetido a leilão. Reportagem, aliás, classificada pelo jornalista Ricardo Setti ainda outro dia no Roda Viva como “irresponsável”, sem qualquer contestação dos colegas ali reunidos.

Instalado, durante todo o mês de março, num hotel de luxo dos Jardins, o lobista Fernando Lemos ofereceu dinheiro, empregos, sinecuras e distribuiu ameaças. Tudo para que a tal reportagem não fosse publicada. Eu (ou meus companheiros de Caros Amigos) poderia ter ficado rico, me tornado alto funcionário da Petrobras (como propuseram, e hoje “defendem” a Petrobras), resolvido os crônicos problemas de caixa de Caros Amigos ou o que pedisse. Tudo me foi oferecido, sem rodeios.

Contei tudo isso em detalhes no livro “O Príncipe da Privataria” com Mylton Severiano, outro mestre soberano (Geração Editorial, várias edições), responsabilizei o lobista Fernando Lemos, cunhado de Miriam Dutra e “operador” de FHC, em inúmeras matérias aqui e acolá. Uma delas, em 27 de junho de 2011, no Brasil 247, sob o título A Última Exilada, com o qual Miriam Dutra hoje se apresenta. De nada.

Nem Lemos (morto em 2012), nem FHC, nem Miriam me processaram. Fernando Lemos morreu biliardário e não se deu ao trabalho de gastar um mísero centavo para tentar provar que seu comportamento, por mim relatado, não havia sido nefasto e corruptor. Enfim, faz 16 anos e estou sentado, na cadeira de balanço, debaixo da jaqueira, na curva do rio e sequer uma interpelação judicial.

Com um atraso de exatos 15 anos e 10 meses, Miriam Dutra resolve contar o que revelamos no outono de 2000. Antes tarde do que nunca.

Hoje, nas páginas da Folha – que à época, em discreta nota na coluna Painel justificou seu tumular silêncio, apelando para a surrada tese de que seria uma questão relativa à vida pessoal de FHC e de sua ex-amante – explode a entrevista bombástica de Miriam. Está tudo lá. Um repeteco ampliado e pormenorizado do que há 16 verões publicamos diante do silêncio indecente da grande imprensa.

E há acréscimos importantes: aparece uma das tais empresas nas Ilhas Cayman que arrepiam as penas do tucanato; o nome da Brasif, empresa detentora do negócio bilionário dos Free-shop nos aeroportos fazendo favor financeiro ao presidente da República (imaginem se fosse o Lula); as contas recheadas de FHC em bancos no exterior; a bolsa família paga com dinheiro arrecadado pelo lobista entre empresários que tinham relação promíscua com o governo de FHC; a relação lodosa com o filho que ele teria reconhecido e não teria reconhecido; um apartamento de milhares de euros na cara Barcelona presenteado ao filho que é filho e não é filho; a grave declaração de Miriam de que houve fraude no exame de DNA (quem comprou um Congresso Nacional para se reeleger não compraria um funcionário de laboratório? Entra na dança Mario Sergio Conti, aquele que entrevistou o sósia do Felipão como se fosse o próprio treinador em plena Copa do Mundo, que em 2000 me brindou com impropérios pelo telefone. Agora como o jornalista que usou sua condição de diretor de redação de Veja para lançar um cortina de fumaça sobre a gravidez da jornalista, em conluio com Fernando Henrique, além engavetador-geral de matérias.

Resta uma pergunta à própria imprensa, aos justiceiros do Ministério Público, aos irrequietos delegados da Polícia Federal, aos plutocratas de São Paulo que viajam em seus jatinhos até Nova York e vestem seus smokings cheirando naftalina em regabofes cafonas organizados pelo João Dória (pausa para sonora e gostosa gargalhada) para louvar o presidente que quebrou o Brasil três vezes; às “senhoras” de Higienópolis; aos Marinho, aos Frias, aos Saad e aos falidos Civita e Mesquita, além dos patéticos paneleiros de todo o Brasil:

Vocês não se envergonham de dizer que não sabiam de tudo isso?

Lembra aquela foto do FHC pedante, imperioso, deslumbrado. “Umbigo delirante” (licença, Millôr). Retrato em branco e preto de alguém que não amadureceu. Apodreceu. Muito longe do cicerone de Sartre no Brasil dos anos 50, ou do exilado no Chile, ou do aplicado professor auxiliar do mestre Florestan Fernandes.

Não se pode negar que FHC enfim caiu na boca do povo. Não enganou só Dona Ruth. Nem só a amante, por ele abandonada. Ele enganou todo um país.

A doce vida do PSDB. Após 10 anos, lista de Furnas ainda está paralisada na Justiça

Furnas 1

Jornal GGN

Depois de 10 anos desde as primeiras informações sobre o esquema de corrupção na estatal Furnas, e quase quatro anos nas mãos da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o caso ainda permanece sem avanços na Justiça. O Ministério Público Federal apresentou uma denúncia contra 11 acusados, entre empresários, lobistas e funcionários da companhia, que da Justiça Federal passou para a do Estado do Rio, em março de 2012. O principal apontado em depoimentos e investigações como beneficiário do esquema é o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Do Estado de S. Paulo

Denúncia do MPF sobre Furnas volta à fase de inquérito

Por ALFREDO MERGULHÃO

Suspeita de desvios na central de energia estatal, citada por lobista Fernando Moura na Lava Jato, se arrasta na Polícia Civil do Rio

RIO – Passados dez anos do surgimento das primeiras informações sobre um esquema de corrupção semelhante ao mensalão montado na companhia estatal Furnas Centrais Elétricas em benefício de políticos e partidos, a ação judicial ainda está longe de apontar culpados. Responsável há quase quatro anos pelas investigações, a Polícia Civil do Rio ainda não apresentou conclusões ao Ministério Público do Estado.

Inicialmente atribuição da Justiça Federal, a ação passou para a Justiça do Estado do Rio após a apresentação pelo Ministério Público Federal de denúncia contra 11 acusados, entre empresários, lobistas, dirigentes e funcionários da estatal vinculada ao sistema Eletrobrás. A remessa do processo ao Judiciário fluminense ocorreu em 26 de março de 2012, por determinação do juízo federal.

O caso ficou conhecido como “lista de Furnas” e envolvia políticos supostamente beneficiados com dinheiro desviado da estatal com sede no Rio. O esquema reproduzia o praticado no mensalão, segundo a procuradoria. A corrupção em Furnas foi citada nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do lobista Fernando Moura, na Operação Lava Jato. Ambos apontam o senador Aécio Neves (PSDB-MG) como beneficiário de desvios. Ele nega.

Os documentos do MPF foram enviados à Justiça Estadual e ao Ministério Público Estadual dois meses após a procuradora da República Andréa Bayão ter denunciado 11 pessoas à 2.ª Vara Federal Criminal do Rio, em 25 de janeiro de 2012, entre elas o ex-diretor Dimas Toledo, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e o lobista Nilton Monteiro. O juiz Roberto Dantes de Paula, da Justiça Federal no Rio, entendeu que a análise da denúncia competia à Justiça estadual, pelo fato de Furnas ser uma empresa de capital misto. Daí a transferência para a Justiça local.

Desde então, a apuração se arrasta. O caso está na Delegacia Fazendária do Rio desde 4 de outubro de 2012, mas o inquérito – com 26 caixas de documentos – ainda não foi remetido ao MPE. A delegada Renata Araújo disse que aguarda um depoimento, provavelmente em março, para finalizar a investigação. O procurador-geral de Justiça no Estado, Marfan Martins Vieira, não respondeu ao Estado sobre a demora na conclusão do caso.

O desvio de recursos públicos, conforme o MPF, ocorreu na contratação de empresas para realizar obras nas Usinas Termoelétricas de São Gonçalo e de Campos (RJ) e para prestar serviço de assessoria técnica à Furnas. Os valores desviados – R$ 54,9 milhões, segundo o MPF – seriam usados para abastecer campanhas eleitorais.

Furnas 2

Pressão. Para a Procuradoria, os desvios eram comandandos por Dimas Toledo, então diretor de Planejamento de Engenharia e Construção de Furnas. Em 2003, sob risco de perder o cargo, ele teria elaborado uma relação com nomes de políticos beneficiados pelos desvios, como forma de pressionar o governo a mantê-lo no cargo.

Constam na lista os nomes de 1.556 políticos que fizeram campanha eleitoral em 2002. A autenticidade, contudo, sempre foi contestada pelos citados. O documento veio a público pelo lobista Nilton Monteiro, que chegou a ser preso em Belo Horizonte acusado de estelionato.

Duas versões da lista foram apresentadas à PF, para perícia. A Procuradoria da República, ao oferecer a denúncia, se baseou nos relatórios policiais. Um trecho do laudo da PF diz que a lista original não tem evidências de montagem ou alterações e que foram “constatadas diversas convergências” entre a assinatura contida no documento e as fornecidas por Toledo para comparação. Mas a PF faz uma observação sobre a assinatura: “Não se pode afirmar isso com certeza”. Em 2006, o relatório final da CPI dos Correios concluiu que a lista é falsa, com base na análise de dois institutos de perícia.

A lista de Furnas voltou a ser mencionada em delações da Lava Jato. Youssef e Moura afirmaram que Aécio teria recebido propina proveniente da estatal. Youssef disse ter ouvido do ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, que parte dos recursos desviados de Furnas seria dividida com o senador.

Moura afirmou à Justiça que Aécio receberia um terço da propina de Furnas. Disse ainda ter ouvido do ex-ministro José Dirceu, logo após as eleições de 2002, que o diretor de Furnas era “o único cargo que o Aécio pediu pro Lula”, quando este foi eleito presidente. Lula e Aécio mantinham boa relação à época.

Em nota, o PSDB qualificou a lista de Furnas como fraude. Sobre as citações dos delatores, a equipe de Aécio considerou como “declarações absurdas e irresponsáveis que se baseiam apenas em ‘ouvi dizer’ e já foram desmentidas pelos próprios citados”. A assessoria de Aécio acrescentou que ele entrará com pedido de interpelação de Moura para que confirme a citação a seu nome para tomar as medidas legais cabíveis.

Em relação a Youssef, disse que o próprio já afirmou nunca ter tido contato ou relação com Aécio, “não havendo, portanto, no que diz respeito ao senador, sequer do que se defender”.

A Procuradoria-Geral da República, responsável pela denúncia de políticos com foro, não informou se a apuração iniciada pelo MPF no Rio teve continuidade. O Supremo Tribunal Federal não confirmou se há processo em tramitação neste caso.

Recessão emocional

Globo e Recessão emocional'

Por Paulo Nogueira Batista Jr., em O Globo, retirado de Viomundo

Estou passando algumas semanas no Brasil, leitor, e constato horrorizado: pior do que a recessão econômica, só a recessão emocional.

O país, que há poucos anos era um sucesso internacional, parece ter perdido a autoconfiança definitivamente.

Esquece seus pontos fortes e proclama aos quatro ventos seus pontos fracos.

E, pior, demonstra satisfação masoquista em proclamá-los.

Em outras palavras, o complexo de vira-lata voltou com força total. Era de se esperar.

Um complexo assim secular não se supera num passe de mágica, em poucos anos de sucesso.

Mesmo nos nossos anos de prestígio internacional, o vira-lata estava ali, à espreita, pronto para voltar à cena.

Afinal, como dizia Nelson Rodrigues, subdesenvolvimento não se improvisa — é obra de séculos.

A recessão emocional alimenta a econômica, e vice-versa.

O colapso da confiança prejudica inevitavelmente o investimento e o consumo.

A retração da demanda agregada doméstica derruba a produção e o emprego. E o aumento da capacidade ociosa e do desemprego deprime ainda mais o investimento e o consumo, jogando a economia numa espiral descendente.

Nesse ambiente, as políticas monetária e fiscal não podem continuar sendo pró-cíclicas, como foram em 2015.

Não há dúvida de que o espaço monetário e fiscal é limitado. Mas é possível moderar a política de juros e espaçar o ajuste fiscal ao longo do tempo.

É o que parece estar tentando a equipe econômica.

Sob protestos da turma da bufunfa, o Banco Central interrompeu o ciclo de alta de juros.

O Ministério da Fazenda anunciou medidas de ampliação do crédito, centradas na atuação dos bancos federais, e mudanças na política fiscal que tendem a torná-la mais sensível ao ciclo econômico.

Foi apresentado ao mesmo tempo um programa de ajustamento estrutural das contas públicas.

A direção tem que ser essa mesmo.

Ou alguém imagina que num quadro de queda acentuada do gasto privado o papel da política econômica possa continuar sendo o de aprofundar a recessão com juros ascendentes e uma política fiscal pró-cíclica?

Mais do que nunca, o setor público deve desempenhar um papel compensatório.

A recessão emocional nos impede de ver os pontos positivos do quadro macroeconômico?

Alguns são tão evidentes que nem o mais tenaz dos vira-latas é capaz de negá-los. Por exemplo: a dimensão e velocidade do ajuste das contas externas, consideradas surpreendentes por analistas da economia brasileira.

A combinação de queda da demanda interna com acentuada depreciação do real produziu grande melhora da balança comercial e da conta corrente do balanço de pagamentos em 2015, que só não foi maior porque o quadro internacional foi adverso em termos de demanda externa e de troca.

Somado às elevadas reservas em moeda estrangeira, que o Brasil ainda não precisou utilizar, o fortalecimento do balanço de pagamentos nos dá condições de enfrentar as turbulências internacionais que devem ocorrer em 2016.

A desvalorização do real funciona, além disso, como estímulo à recuperação da atividade e do emprego.

As exportações de bens e serviços já começaram a responder ao câmbio mais favorável.

Ao mesmo tempo, a produção nacional se mostra capaz de substituir importações em vários setores.

Ainda que o setor externo da economia seja relativamente pequeno, como costuma se verificar em países continentais, o impulso cambial ajudará a estabilizar os níveis de atividade e de emprego.

Portanto, deixo aqui o meu apelo veemente: sossega, vira-lata!

Paulo Nogueira Batista Jr. é vice-presidente do  Novo Banco de Desenvolvimento, mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal.

Pensa Brasil

Homer Simpson cérebro

Por Ronaldo Souza

Já sabia da existência do portal “Pensa Brasil” há algum tempo.

Lembro que a primeira vez que o visitei fiquei tão chocado que nunca mais voltei.

Um horror.

Defini-lo em uma palavra?

Estupidez no mais alto nível.

Tudo bem, sei que você pediu para defini-lo em uma só palavra, mas não cabe somente em uma.

Mas os dias passam e a vida continua.

E aí, ao “entrar” no face para fazer uma postagem, vi uma que dizia mais ou menos assim:

“Moro pede apoio à população para prender Lula”.

Não li os comentários (não sei nem se tinha algum), caí fora.

Recomendações médicas.

O homem cuja dignidade desMoronou há muito tempo (na verdade, desde o escândalo do Banestado), apesar do cinismo que o caracteriza, também há muito tempo vem tentando prender Lula.

Mas não consegue e agora mais do que nunca joga não mais para a torcida, mas com a torcida.

Mesmo no seu obstinado desespero acho que ele não disse dessa forma ainda, mas não demora muito. Em breve, usará as câmeras e microfones dos Marinho e fará esse pedido ao povo verde-amarelado paneleiro do Brasil.

Prevê-se que nesse dia o prêmio Faz Diferença dos Marinho, que o distinguiu como Homem do Ano em 2015, não fará nenhuma diferença.

O alvo será o prêmio de Homem da Década.

Na sequência outros maiores virão.

Mostrou-se então um dia difícil, pois logo depois vi uma postagem que me fez desobedecer às recomendações médicas.

Tive que ir ao portal novamente.

Aquele.

Precisava ir lá, tinha que ir lá, para não correr o risco de vocês dizerem que eu estava mentindo.

Não sem antes fazer meditação por 1 hora e tomar três comprimidos de um ansiolítico.

Aí está o resultado da minha profícua visita ao portal.

Dilma e suicídio

Peço perdão por não fazer nenhum comentário.

O ansiolítico parece que não é dos bons e a meditação acho que desaprendi a fazer.

Só pode ser isso.

Além disso, meu desejo mesmo era só mostrar o nível do portal a vocês.

Tem como levar a sério?

Só me vem à cabeça a frase de Nietzsche:

“A inteligência do ser humano tem limites, a estupidez não”.

Pensa Brasil.

Continue pensando.

Mais do que a nossa vã filosofia pode imaginar, há gente que pensa igualzinho a vocês.

Vou corrigir.

Mais do que a nossa vã filosofia pode imaginar, há gente que não pensa, igualzinho a vocês.

Bahia, terra da magia e da felicidade. A alegria mora aqui

Salvador

Por Ronaldo Souza

Bahia de Todos os Santos.

De todos os homens.

De todas as mulheres.

De todas as crianças.

De todos os brasileiros.

De todos os gringos.

Bahia de todas as ladeiras, de todas as igrejas, de todas as religiões, de todos os pecados.

Sagrada, profana, como nenhuma outra terra sabe ser.

Bahia, onde tudo começou.

Bahia filha de Portugal, irmã da África.

Mãe de todos os brasileiros.

Bahia, onde tudo se explica.

Bahia da música, do folclore, da culinária única.

De um povo único.

Que outra terra é tão tudo?

Venha.

Como sempre a Bahia lhe recebe de braços abertos.

Não me levem a mal, mas não resisto.

Todo o amor à Bahia.

Quem pode, pode; quem não pode fica na mira da Lava Jato

“Se, supostamente, FHC tem um imóvel num condomínio de luxo podemos concluir que ele se apropriou de bens públicos”?

Trancoso Terravista Golf 10

Por Yuri Carajelescov, no Jornal GGN

O rapaz que nos leva de Trancoso ao aeroporto de Porto Seguro nasceu no interior de São Paulo e morou por vinte anos em Curitiba, onde se formou em turismo.

Há pouco mais de dez anos mudou-se com a família para o sul da Bahia e arrendou uma pousada. Depois montou com a irmã uma empresa de turismo.

Pergunto dos negócios. “Vão bem, obrigado”, diz ele. Não se arrepende de ter fugido do frio da capital do Paraná para o calor intermitente da Bahia.  Ao longo da estrada de terra Trancoso – Arraial que percorremos com certa dificuldade, vamos conversando sobre diversos assuntos.

Questiono por que ainda não asfaltaram aquele trecho. Ele me diz que o pessoal do condomínio “Terravista Golf” se opõe. “Vai juntar muita gente por aqui e esse pessoal gosta de exclusividade”.

O condomínio de mansões é o mais luxuoso e exclusivo desse badalado litoral. A localização – sobre uma falésia com vista para o mar – é mesmo privilegiada. Passamos por ele à beira da estrada. O empreendimento, segundo o nosso guia, foi construído por um alemão de nome Michael, dono de uma das maiores empresas de cerâmicas de São Paulo, e conta com Campo de golfe de 18 buracos, além de um aeroporto privativo.

No mesmo espaço estão as instalações do Club Med/Trancoso e do resort Txai em fase de acabamento.  “Fernando Henrique e seus familiares têm uma casa nesse condomínio e vivem por aqui no verão”, me informa o guia sem ser perguntado.

“Eles vêm de jato privativo e não pegam essa estrada de terra” e sem complementar a frase afirma em um tom entre jocoso e conformado: “quem pode, pode…”

Também o Constantino, não o blogueiro mas o dono da Gol, costuma frequentar uma casa no local.

Claro que não saí confirmando os fatos; não fui à imobiliária local para saber qual o preço do metro quadrado construído no condomínio “Terravista Golf”; não conversei com porteiros ou camareiras para saber se, de fato, FHC é habitué; não andei nas lojas de materiais de construção próximas pesquisando se casas foram reformadas e quem e como pagou cada reforma. Nem me cabia…

Supondo verdadeira a história que o guia me relatou, a pergunta que se faz é: “e daí?”.

Do fato –  suposto – de FHC frequentar ou ter um imóvel em um condomínio de luxo na Bahia e ser vizinho de Constantino, o dono da Gol não o blogueiro, podemos concluir que o ex-presidente se locupletou ou se apropriou de bens públicos? Que assaltou o erário? Que obteve favores indevidos em troca de medidas que tomou dentro de sua margem de discricionariedade administrativa de um presidente da República? Que se corrompeu? Que prevaricou?

Qualquer pessoa de bom senso, que preze o Estado de Direito, a democracia, o princípio da presunção de inocência, o princípio da dignidade humana etc. diria que não.

Substitua agora FHC por Lula e esse relato banal, corriqueiro, história frívola de fim de viagem, certamente ganharia as manchetes dos principais diários e revistas do País.  Se uma canoa de 4 mil reais, cotas de um apartamento no decadente Guarujá ou a reforma de um sítio “usado” por Lula e familiares em Atibaia geram esse estardalhaço, fácil imaginar o que ocorreria se Lula frequentasse o exclusivo “Terravista Golf” de Trancoso, pois não? Pior do que isso.

Não apenas a imprensa se ocuparia do tema de manhã, de tarde e de noite, em seguidas e seriadas matérias, mas seriam mobilizados os órgãos de repressão do Estado.

Provavelmente o caso se desdobrasse em mais uma fase da Lava Jato e ganhasse até um nome para ser marchetado no inconsciente coletivo: “operação 18 buracos”, em alusão ao campo de golfe; “operação capeta ou xiboquinha”, em referência aos drinques da região, quiçá do agrado de Lula?

É que no Brasil de hoje, a investigação parte da pessoa para o fato.  Alguém deve ser criminalizado, então os agentes da repressão, como bons perdigueiros, saem a caça do crime.  Trata-se de uma inversão da ordem racional das coisas, que não chega a ser uma invenção genuinamente nossa.

Outros regimes (e nós mesmos em outros contextos históricos) já adotaram esse ‘modus operandi’ para perseguir seus “desviantes”. Todos eles nada tinham de republicanos.  A novidade aqui é a criação de ilhas de exceção dentro do Estado de Direito, o que parece mais sutil, ainda que igualmente deletério.

Ao decolar de Porto Seguro, o avião da Gol faz uma curva à direita e sobrevoa o litoral de Trancoso rumo ao sul.  Sentado na poltrona próximo à janela da aeronave, reconheço o condomínio “Terravista Golf”. Avisto o campo de golfe, a pista do aeroporto privado, as piscinas recortadas nos jardins das mansões. Penso comigo: “quem pode, pode…”

* Yuri Carajelescov possui graduação em direito pela USP (Universidade de São Paulo – 1994) e mestrado em ciências jurídico-políticas pela Universidade de Coimbra (2006).

Miolo

Deus e cérebro

Por Ronaldo Souza

Em uma aula de anatomia, com um cérebro nas mãos o professor pergunta:

– O que é isso?

– Miolo.

Antecipando-se aos colegas, foi a resposta de um dos alunos.

Não precisa dizer que a partir daí ficou conhecido como “miolo”.

A vida não é um mar de rosas.

Bela, belíssima.

Mas não um mar de rosas.

Mesmo diante dos mistérios que rondam a criação e existência do homem, acredito que na sua essência o ser humano é dotado de muitas virtudes.

O ser social não.

Não o vejo da mesma forma.

Para começar, poucas vezes consegue ser autêntico. As normas da sociedade não permitem.

Há certos hábitos que não são permitidos em público, diante de pessoas iguais.

Pessoas iguais. Você conhece algo mais sangue azul?

Pertencer ao time das “pessoas iguais” é objeto de desejo que entre tapas e beijos se busca alcançar.

Fã de pão francês e sem me permitir renunciar ao prazer, muitas vezes tiro o seu miolo antes de comer. Reduzindo as calorias, ajudaria a “não engordar”.

Há exatamente 15 anos (para ser mais preciso completa agora em agosto) fui “flagrado” por um colega fazendo isso, o que motivou um comentário dele. É claro que não tenho como saber o que estaria por trás do comentário.

Foi em um lanche informal entre colegas durante um evento numa cidade do interior da Bahia. Enquanto conversávamos e tomávamos café, cometi esse pecado social, para alguns imperdoável.

Viver em sociedade é a melhor e mais fácil maneira de se violentar. Os reféns dos bons modos costumam sofrer muito.

Em casa feijão com macarrão, no restaurante jamais. A imprensa tá de olho.

Por falar nisso, se nunca comeu, experimente.

Às vezes a vida se torna hilária.

Existe sopa de feijão com macarrão, que é uma delícia e todos adoram.

Mas feijão com macarrão é pecado.

A sociedade é simplesmente cruel com essas pessoas, frequentemente tirando delas o que há de mais sagrado; a sua individualidade.

Como órgão atrofiado por desuso que vai perdendo as funções e “desaparece” com o tempo, na verdade a perda da individualidade já não é mais tão facilmente observável porque as novas gerações já crescem sem ela.

Os tempos atuais já não comportam mais o indivíduo.

“Vocês que fazem parte dessa massa

Que passa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar

E dar muito mais do que receber”, diz Zé Ramalho.

E dar muito mais do que receber sem perceber.

É isso que caracteriza mais fielmente o homem gado do “Admirável Gado Novo” de que fala Zé Ramalho em sua música.

Não deve ser difícil imaginar que a perda da individualidade gera essa massa “que passa nos projetos do futuro”.

Futuro sobre o qual ela não terá nem influência nem importância.

Uma massa que jamais saberá o que é fazer a hora.

Marcada pelo ferro da alienação e embevecida com o que lhe dizem ser, seu destino é ser conduzida.

É assustador observar uma realidade tão chocante, saber que ainda tende a se acentuar por algum tempo e nada poder fazer.

A convicção de que você não sofrerá nenhuma sanção ou de que não se autopunirá porque terá tentado fazer alguma coisa talvez conforte, mas não elimina a desconfortável sensação de impotência.

Mas Deus, não.

Ele não terá perdão.

Tendo em vista que a Ele é atribuída a criação do homem, certamente não faltará quem O culpe pela criação de muitos homens sem miolo.

Perdão.

Sem cérebro.