O esvaziamento de Marina Silva

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho

O dado mais impressionante observado na pesquisa Ibope divulgada ontem é o acelerado esvaziamento das intenções de voto em Marina Silva.

A ex-ministra tinha 21% das intenções de voto em outubro do ano passado (na mesma época, Dilma tinha 39%), caiu brutalmente par 14% em novembro, e agora tem 12%, situando-se abaixo de Aécio Neves.

A íntegra da pesquisa Ibope pode ser lida aqui.

Vale a pena também dar uma olhada nessa tabelinha montada por Maurício Dias, para sua coluna na Carta Capital, comparando pesquisas dos diferentes institutos. Observe que Dilma tem acima de 62% dos votos válidos em todos.

Outro fator intrigante na pesquisa é a estagnação de Eduardo Campos. Todos os analistas políticos achavam que, ao se unir a Marina Silva, suas intenções de voto iriam disparar. Tanto é que o próprio entregou à Marina um certo poder de “veto” às alianças que ele mesmo, Eduardo, vinha costurando há meses, quiçá anos. Aconteceu o contrário. Em outubro de 2013, mês no qual apareceu com grande destaque na mídia, em virtude da filiação de Marina Silva a seu partido, o PSB, Campos tinha 10% das intenções de voto. No mês seguinte, contrariando as expectativas de que iria “herdar” os votos de Marina, o pernambucano caiu para 7%. E agora, na pesquisa de março de 2014, se mantém em 7%.

A pesquisa é péssima para a oposição, porque mostra Dilma pairando olimpicamente na liderança, elegendo-se tranquilamente no primeiro turno, e com uma base eleitoral consolidada nas regiões mais pobres, nas cidades menores e junto às camadas mais humildes da população. Esse eleitorado é muito menos volúvel que a classe média ou público de grandes cidades.

Entretanto, Dilma também voltou a liderar na classe média, no sudeste e nas grandes cidades. Repare que Dilma tem 32% junto àqueles que ganham mais de 5 salários, contra 24% de Aécio e 10% de Eduardo Campos.

Marina, a farsa em estado puro

Por Ronaldo Souza

Marina hoje leva uma vida que lembra a dos morcegos, esconde-se durante o dia e aparece à noite.

Durante as manifestações de junho de 2013, quando ninguém conseguia captar o real significado do que estava acontecendo e as suas eventuais consequências, praticamente todos os políticos se esconderam.

Durante os dias mais duros do movimento, Eduardo Campos, aparentemente pouco afetado pelo movimento, falou muito pouco.

Aécio Neves, o candidato cambaleante, quando falou disse as abobrinhas de sempre.

Geraldo Alckmin, governador do estado que deu origem às manifestações, através da sua polícia só cometeu desatinos e disse as coisas de sempre que a classe média gosta de ouvir; “coibir a violência custe o que custar”, “botar ordem na casa”, aquelas coisas. Ir no problema mesmo, nem pensar.

Mas, ela, a doce e evangélica Marina não. Ninguém, ninguém a viu ou ouviu a sua voz; sumiu. Ficou escondida.

Quando chegou aquele momento em que todos “dominam” o tema e passaram a emitir conceitos filosóficos e sócio-políticos das causas das manifestações, eis que surge fulgurante, com brilho intenso, Marina Silva.

Com os seus conhecimentos, que possuem a profundidade de uma piscina para bebês, passou a falar do inconformismo, dos políticos (ela não é política), da velha política e dos velhos partidos (por isso ela não fundou um partido, mas uma rede, cuja composição será de governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais, vereadores, mas, ressalve-se, nenhum deles é político).

Resultado; desaprovação geral da classe política. Os governadores caíram nas pesquisas.

Mas isso não importava, tanto que só foi divulgada tempos depois. O que então importava? Dilma despencou nas pesquisas.

Ali estava a única coisa que importava; Dilma tinha despencado. Então, tome manifestação.

Contra o calor que estava muito forte, contra a frente fria que estava chegando, contra o preço do tomate, PEC 37… o que? PEC 37, o que é isso? Não sei, foi a Globo que mandou. Foi? Foi. Então vamo na PEC 37 também, onde é que fica?

A população percebeu a jogada. Dilma começou a recuperar a posição perdida.

Aécio ficou mais tonto ainda e voltou ao seu estado natural; não entender o que se passa no país. Foi passar uns dias nos Estados Unidos, aquilo sim é que é um país. Na volta, para não perder o hábito, uns fins de semana no Rio, tudo resolvido.

O Brasil pode mais, o que temos hoje é sempre o mais do mesmo, aos meus amigos banqueiros garanto que a economia precisa de um choque de gestão (opa, é Aécio ou Eduardo Campos? Não sei, eles combinaram que iam dizer a mesma coisa).

Mas temos aí as manifestações populares para expressarem o inconformismo do povo na inexorabilidade do misticismo verde caótico dos nossos tempos onde os bagres estão morrendo… Era Marina de volta.

Mal começou o ano de 2014… mas temos aí as manifestações populares para expressarem o inconformismo do povo na inexorabilidade do misticismo verde caótico dos nossos tempos onde os bagres estão morrendo e vão morrer muito mais por causa da Copa, por isso não vai ter copa… Mas vai ter mais manifestações se não Dilma se elege…  Era Marina de volta.

Recolheu-se outra vez durante o dia. E, na noite que parecia chegar com o “blocão” de Eduardo Cunha, ela bate asas para mais um voo noturno e anuncia aos quatro cantos:

‘Governo Dilma é a prova do fracasso político’.

Será que não existe entre os urubólogos e morcególogos um mais inteligente, pelo menos mais prudente, para dizer; calma, não diga nada agora, espere um pouco mais?

Agora, diante da noite que insiste em não chegar, Marina se apaixona por quem detesta o sol.

Marina está “encantada” com os Bornhausen

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Leio na imprensa que Marina Silva está jogando duro com Eduardo Campos, numa tentativa de influenciar a escolha dos candidatos do PSB nas eleições para governador.

Em São Paulo, Marina não quer aliança do PSB com Alckmin, nem com o presidente do PV, Marcio França. Até aí tudo bem. Palmas para ela.

Mas aí eu me deparo com a seguinte informação, no jornal O Globo:

“Marina se encantou com o herdeiro político da família Bornhausen, o deputado Paulo Bornhausen (…) e quer lançá-lo a candidato ao governo (…)”

Vou repetir o que disse o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, quando Joaquim Barbosa respondeu que o “móvel” do sigilo do inquérito 2474 era para “o bom andamento do processo”.

“Aí não! Aí não vinga!”

O bom senso nos manda duvidar dos jornais, mas dessa vez abrirei uma exceção, porque não é novidade. Aliás, a foto acima não mente. O olhar de Marina na direção de Paulo Bornhausen é, de fato, o de uma pessoa “encantada”. O próprio Bornhausen é que parece não acreditar nisso, de tão incrível que é. Ele parece desviar olhar, como quem pensa: “não é possível que esta mulher me apoie, depois de tudo que eu já falei sobre sua ‘raça’; o que será que ela quer?”

Ela quer o poder, Paulinho.

Paulo Bornhausen sempre foi do DEM, onde seu pai, Jorge Bornhausen, foi presidente do partido. O velho Bornhausen ficou famoso durante o processo do mensalão quando falou que o escândalo serviria para “acabar com essa raça”. Marina Silva pertencia à “raça” petista na época.

Paulo Bornhausen ganhou notoriedade ao liderar o movimento “Xô CPMF!”, que terminou vitorioso, se é que se pode chamar de vitorioso um movimento que já tirou, desde 2008, primeiro ano sem o imposto, até 2014, quase R$ 300 bilhões da Saúde Pública, além de constituir um importante instrumento para combater a lavagem de dinheiro e a sonegação.

Depois ele migrou para o PSB, o que é uma escolha curiosa para alguém que passou a vida falando mal do socialismo, e até hoje faz discursos contra os governos de esquerda da América Latina.

Paulo também fez oposição ao Plano Nacional de Direitos Humanos do governo federal, e hoje integra essa nova ala do PSB que vem ganhando cada vez mais espaço no partido: os socialistas de extrema-direita, que são contra os “bolivariano”, mas adoram as alianças com PSDB e DEM.

Diante de Paulo Bornhausen, eu até penso com simpatia em Ronaldo Caiado, que é ao menos um direitão franco e assumido; não migrou para um partido “socialista” para engambelar seus eleitores e o Brasil.

Na mesma reportagem do Globo que menciona seu encantamento com Paulo Bornhausen, leio que Marina atacou violentamente o governo Dilma dizendo que “governo tem que ser programático”.

Pois é, esta “nova política” promete. 

O linchamento de José Dirceu

Por Ricardo Melo, na Folha

É difícil encarar com naturalidade a cobertura dispensada a presos do chamado mensalão

Irritados com o que consideram manipulação da mídia, vários interlocutores afirmam ter deixado de ler a publicação x ou y. Trata-se de um luxo vedado a jornalistas. Concordando ou discordando, somos permanentemente obrigados a passar os olhos, que seja, pelo maior número possível de publicações. Até para poder comentar, criticar, elogiar ou simplesmente nos informar.

Ainda assim, é difícil encarar com naturalidade a cobertura dispensada a presos do chamado mensalão. Sim, é dela mesma que eu falo: da reportagem de capa da revista de maior circulação nacional sobre a vida na cadeia do ex-ministro José Dirceu e outros condenados.

Com um tom acusatório, a revista brinda os seus leitores com frases do tipo: "Lá ele [José Dirceu] gasta o tempo em animadas conversas, especialmente com seus companheiros do mensalão [….] só interrompe as sessões de leitura para receber visitas, muitas delas fora do horário regulamentar e sem registro oficial algum, e para fazer suas refeições, especialmente preparadas para ele e os comparsas. "O cardápio? Aqui já teve até picanha e peixada feitas exclusivamente para eles’, conta um servidor".

A lista de pretensas mordomias não tem fim, bem como o ridículo da reportagem. "Como o lugar fica longe dos olhos dos presos comuns, os mensaleiros podem desfrutar o tratamento especial sem que seus colegas de prisão reclamem. Dentro da cela, já foram recolhidos restos de lanche do McDonald’s". Não, não escrevi errado. A transcrição está exata. Prova do tratamento diferenciado, especial, transgressor, ilegal dos presos estão "restos de lanche do McDonald’s"!

A coisa não fica por aí. "No banheiro, em vez da latrina encravada no chão, que os detentos chamam de boi’, há um civilizado vaso sanitário." A reportagem não esclarece se entre os privilégios está o uso de papel higiênico. Mas Dirceu não é o único alvo. Sobra também para o ex-deputado petista José Genoino. "Numa conversa entreouvida por um servidor, um médico que atendia Genoino revelou ter escutado do próprio petista a admissão de que deixara de tomar alguns remédios para provocar uma arritmia cardíaca e, assim, poder pleitear a prisão domiciliar."

O sigilo de fontes é salvaguarda crucial para o trabalho dos jornalistas e geralmente é usado como ponto de partida de uma investigação. Deve ser defendido incondicionalmente. Isso não isenta o autor de medir a gravidade do que escreve. O malabarismo verbal costuma ser uma defesa antecipada de quem faz denúncias impactantes sem ter como prová-las. Exemplo: "Uma conversa entreouvida por um servidor" serve de base para acusar um preso de arriscar a própria vida para ter acesso a benefícios aos quais, por sua vez, já teria direito.

Tão espantoso quanto tudo isso é o fato de, em nenhum momento, a reportagem lembrar ao distinto público que José Dirceu está preso ilegalmente. Mérito do julgamento à parte, queira-se ou não, concorde-se ou não, o ex-ministro foi condenado ao regime semiaberto. Pois bem: desde que a sentença foi promulgada, Dirceu vive em regime fechado ao arrepio da lei. "Ah, mas ele come McDonald’s"…

Cinquenta anos depois do golpe de 1º de abril de 1964, paralelos surgem de todos os lados. Um governo com rótulo de popular, lideranças conservadoras insatisfeitas com tanto tempo longe do Planalto, uma nova derrota eleitoral se desenhando no horizonte. Há diferenças importantes, contudo. Algumas: no momento presente, não se fala da estatização de empresas, reforma agrária radical e ampliação de mecanismos de poder da população. Os donos do dinheiro não têm muito do que reclamar. Agora, ficar esperto não atrapalha ninguém. Nunca é bom dar sopa para o azar. 

Alberto Dines e a Veja: “Matéria” sobre Dirceu foi 50% de ódio, 50% de velhacaria

Por Fernando Brito, no Tijolaço

O veterano Alberto Dines, no Observatório da Imprensa, resumiu no título acima, a fórmula da matéria de capa da Veja sobre as supostas “regalias” concedidas a José Dirceu no presídio da Papuda.

Dines está a anos luz de ser um governista ou um esquerdista: fala apenas como jornalista e pessoa de bem, que considera lei e ética .

O mais interessante de seu texto é o registro da confissão do editor da Veja de que considerava o Governo Lula (e, por extensão, deve pensar o mesmo do Governo Dilma) “um governo de exceção”.

Ou seja, não o reconhecia como legítimo e/ou não reconhecia como legitimas as eleições que o conduziram ao poder.

Confessou, portanto, que sua revista é uma inconformada com o sistema democrático e com o voto.

Dines chega a sugerir que a Veja deveria ser processada.

O que, vindo de um jornalista mais que cioso da liberdade de expressão, tem um imenso peso.

A Veja – e é o próprio Dines quem conclui – trabalha para alimentar a “agenda de protestos” que inclui, diz ele, “ profissionais do ramo da agitação política”, aos quais atribui, inclusive, o quebra-quebra no Ceagesp, semana passada, em São Paulo.

A Polícia Federal, diante disso, faz zero. E o Governo, menos de zero.

Novo surto de vale-tudo 

Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa

Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula como um governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.

Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, “informações”.

“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.

Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum.

A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do vazamento (ver “Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega“). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver “O linchamento de José Dirceu”).

O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?). 

Prezado José Dirceu

Por Ronaldo Souza

Claro, não gostaria de estar em seu lugar. Não teria forças para isso.

Tratando-se do meu aniversário, pior ainda.

Mas, que bom que é você que está aí e não alguém fraco como muitos de nós que estamos aqui fora.

Lembro daqueles momentos iniciais do “mensalão” (vamos assumi-lo como ele ficou conhecido), quando um deputado aqui da minha Bahia disse: “Sei que Vossa Excelência não é capaz de atos desse tipo porque o conheço, mas…”

Era a hipocrisia se manifestando da forma mais cínica possível.

Esse político, um eterno oportunista que não foi mais eleito e que hoje ocupa uma secretaria qualquer da prefeitura, e outros, ainda presentes na cena política da Bahia, tinham visto alguns poucos anos antes o chefe dizer no seu velho estilo fanfarrão que a palavra renúncia não existia no seu dicionário e foi a primeira coisa que fez, renunciar, quando viu se confirmar a probabilidade da sua cassação no episódio da violação do painel eletrônico do Senado.

E agora estavam ali, com sangue escorrendo pelos cantos da boca, diante do homem que insistia em dizer: “Não vou renunciar. Como poderei renunciar e depois olhar nos olhos do meu eleitor?”

E não renunciou.

Eles não sabem o que é isso. Não é dado a todos os homens saber o que é ser Homem.

Se é verdade que Fernanda Montenegro lhe disse ao encontra-lo em um restaurante “você foi um leão”, eu não sei. Se disse, falou por nós e se não disse, deveria te-lo feito. Se não o fez, eu faço agora: você foi um leão.

Com todos os seus defeitos, afinal um homem comum, mas com a força e a coragem de um homem incomum.

Como é possível dizer a um homem de 68 anos de idade que vai passar na cadeia o dia em que se comemora o seu aniversário, hoje, 16/03, que a História conspira a seu favor?

Conspira Zé, permita-me chama-lo assim, eu que nunca sequer o vi em nenhum lugar desses milhares de quilômetros que separam Salvador de São Paulo.

Quantos homens se tornam mitos? Ninguém é mito por decreto. A caminhada é longa e muitas vezes penosa e você já caminhava para isso. Mas, como disse, ainda seria longa e penosa a sua caminhada.

Mas, aos pequenos homens muitas vezes cabe papel relevante na História.

Teria a força que tem a história da Inconfidência Mineira e de Tiradentes não fosse Joaquim Silvério dos Reis? Teria a força que tem a história de Antônio Conselheiro e Canudos não fosse a covardia dos homens pequenos de então?

Teria a força que teve a reação não só da militância petista, mas de tantas pessoas sem nenhum vínculo com o PT, de patrocinarem um dos momentos mais emblemáticos da nossa história contemporânea, as “vaquinhas” do PT, não fossem a covardia e a pequenez dos nossos pequenos juízes da vida?

Quem tem dúvida de que você vai voltar? Não era esse o temor deles? Por que?

Além da indignidade, da covardia, da falta de caráter, que os tornam menores ainda, qual deles possui a sua coragem e competência política? Qual deles é capaz de enfrenta-lo na arena política?

Por isso é que digo que ainda bem que é você que está aí e não um outro qualquer.

Você, mais do que ninguém, saberá tirar proveito da força que emana desse momento.

Você, mais do que ninguém, saberá identificar o que tudo isso significa.

Parabéns José Dirceu. 

PSDB é o partido que mais perdeu filiados em 2013; PT é o que ganhou mais

Por Fernando Brito, no Tijolaço

O Globo publicou hoje uma matéria sobre o desempenho dos partidos em termos de filiações em 2013. Só que não deu destaque ao que, obviamente, é o mais importante.

O principal partido de oposição, o PSDB, foi o que registrou a maior baixa de filiados: 4 mil baixas no ano passado.

O PT foi o partido que mais ganhou filiados em 2013: alta de 37 mil novos militantes.

Trecho da matéria:

“Entre os cinco maiores partidos, PMDB e PSDB foram os que tiveram o pior desempenho no ano passado. Ambos não registraram novos militantes. Pelo contrário, perderam filiados. O exército tucano registrou cerca de 4 mil baixas, e o do PMDB, 1,3 mil. Se isso foi proveniente de desligamentos ou de atualização cadastral — em casos de falecimento, por exemplo —, as estatísticas do TSE não esclarecem.

O PT foi o único nesse grupo a ter incremento de filiados acima da média nacional nos últimos anos, com 37 mil novos militantes. “

Parece que o feitiço lançado nas “jornadas de junho” se voltou contra o feiticeiro.

Resto do gráfico, com números do PSB e total de filiados em partido no país: 

Fernando Henrique Cardoso não aprende… O PSDB, claro, também não

Por Ronaldo Souza

É impressionante.

Já falei aqui em alguns momentos que FHC não está bem e destacaria entre os mais recentes este e este.

Apesar dos dois sentimentos que lhe corroem a alma, a sua reconhecida vaidade e inveja (de Lula, claro), preocupa-me o fato de que, mesmo cruéis, esses sentimentos por eles próprios não parecem justificar o seu comportamento nos últimos tempos.

Também parece pouco provável que se venha a encontrar uma possível explicação na sua idade, tendo em vista que ele se encontra num momento em que à idade deveria se incorporar a sabedoria e não a insensatez.

É justamente aí que mora a minha preocupação; o que será que explica o momento atual do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? Como ele consegue chegar aos 82 anos com tamanho descontrole emocional e tamanha e despropositada incontinência verbal?

Diante da sua mais recente tolice, veja o que a senadora (PT-PR) Gleisi Hoffmann, ex-Ministra da Casa Civil de Dilma e candidata ao governo do Paraná, fez com ele. Deu pena.

Na sequência, veja no vídeo o que ela fez com Aloysio Nunes, senador pelo PSDB (SP). Observe que ela ouve o senador todo o tempo educadamente. Quando ela começa o massacre ele fica tão incomodado e descontrolado que tenta interrompe-la o tempo todo. Eles não aprendem.

Mais uma mulher inteligente e competente.

FHC achincalha Congresso e não tem direito de nos tomar por tolos

Por Gleisi Hoffmann

Não me passaria pela cabeça que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pudesse iniciar um  artigo de opinião  censurando o sorriso de alguém. Ao indagar com tanto mau humor a razão da alegria estampada na foto da presidenta Dilma com o ex-presidente Lula no Palácio da Alvorada, o ex-presidente surpreende pelo azedume e pela amargura.

A sequência de ataques do artigo parece indicar que o autor renunciou à cadeira de referencial de equilíbrio e estabilidade do debate nacional, que muitos lhe atribuem, para especular sobre uma imaginária (e inexistente) indiferença da presidenta Dilma, e do poder central, em relação às manifestações das ruas e a alguns acontecimentos dos últimos dias. Com todo o respeito, cumpre que o ex-presidente volte à razão.

Testemunhei na Casa Civil o esforço da presidenta para entender e atender as ruas. Ela foi praticamente a única, entre as lideranças políticas deste país, a expor-se, a manifestar-se claramente, a ter iniciativas. As manifestações carecem ainda de melhor análise histórica, mas, seguramente, erra quem insiste em tentar atribuir toda a insatisfação ao governo central. Será que o ex-presidente acredita que as manifestações eram a favor da oposição? Nenhum governante da oposição foi alvo de protestos?

Ele fala de crise do setor elétrico como se o apagão de 2001/2002 não estivesse na memória do país. A crítica à suposta imprevidência só pode ser a si mesmo e a seu governo. Sobre a inflação, diz que é "bem mais" que 6% ao ano, sem citar, contudo, qualquer fonte que possa sustentar seu índice impreciso e irreal.

Esquece-se de que deixou ao país uma inflação de 12,7% em 2002.

Com sua prosa instruída, sua cultura e sua força retórica, o ex-presidente cita Maria Antonieta e tenta, em vão, associá-la a personagens da história brasileira no presente. Não faz sentido. Os líderes do atual governo, a começar pela presidenta Dilma, podem orgulhar-se da enorme proximidade com as pessoas. Governam para a maioria. Não é por acaso que os pobres melhoraram de vida e passaram a ter otimismo e esperança.

Fernando Henrique agora critica o clientelismo e a inépcia assegurada por 30 partidos no Congresso. Nem parece que passou oito anos no comando do Executivo, sem dizer "a" ou "b" sobre reforma política. E que governou com um sistema de base parlamentar tão ampla que alterou a Constituição Federal para garantir sua reeleição.

O curioso é que, depois de achincalhar o Congresso, o ex-presidente conclama o conjunto da "classe política" a assumir parcelas de responsabilidade sobre os rumos do Brasil para construírem a política do amanhã. Fiquei pensando: ele tem direito de dizer o que muito bem quiser. Não tem é o direito de nos tomar por tolos.

Gosto da ideia de buscarmos unir a todos os brasileiros em torno das questões fundamentais para a nossa nação. Não concordo que os temas essenciais sejam a troca da guarda nem a revolta contra o sorriso, mas sem dúvida é preciso aprofundar o debate sobre a economia, a política e as questões sociais. Isso é o fundamental para a construção do futuro. E o futuro pode ser edificado sim com alegria e sorrisos.

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Globo descarta Joaquim Barbosa

Por Ronaldo Souza

Já falei várias vezes aqui no site e fora dele que Joaquim Barbosa muito cedo seria descartado pela mesma mídia que o fez “herói”.

Ninguém mais do que ela própria, a mídia, sabia que de herói ele nada tinha, muito pelo contrário. Mas ela precisava. Pena que a sociedade brasileira mais uma vez e como sempre se deixou levar por uma imprensa absolutamente inconsequente e irresponsável.

Está sendo pior do que se esperava e a razão é uma só: Apesar de tudo que fez, atropelando os mais elementares princípios jurídicos e da dignidade humana, Joaquim Barbosa não entregou o prometido. Sai derrotado, desmoralizado e agora começa a ser isolado. Permito-me antever que não vai parar por aí. Mais cedo ou mais tarde, mais coisa vai aparecer, podem esperar.

Recentemente postei dois textos, Até a Folha joga Joaquim Barbosa ao mar e O Estadão também atira Joaquim Barbosa ao mar que falam sobre isso. Agora é a vez da Globo.

No último final de semana, a revista Época, da Rede Globo, publicou uma matéria sobre Joaquim Barbosa. Veja o que diz Zé Augusto sobre a “entrevista”.

Joaquim Barbosa: “Não serei candidato a presidente”

Quem já ouviu a conversa pretensamente elegante na hora de levar um cruel "pé-na-bunda" da namorada ou namorado, sabe do que a revista Época está falando quando fez uma matéria sobre Joaquim Barbosa nesta semana.

Pois a "reportagem" foi exatamente isso. Começa com elogios como "você é bom demais para mim, eu não mereço você, tenho fraquezas demais", como se a carreira política estivesse dizendo isso para Barbosa, para depois dar a "punhalada" final neste parágrafo, que diz tudo:

“Num momento em que o Supremo está dividido pelos traumas do mensalão, existe apenas uma unanimidade entre todos os ministros da Corte – uma unanimidade que se estende à Procuradoria-Geral da República e aos amigos de Joaquim. Caso, por alguma razão insondável, Joaquim mude de ideia e resolva entrar na política, será um desastre para ele, para o Supremo e para a legitimidade do julgamento do mensalão. Mas os ministros mais próximos dele, assim como todos os seus poucos amigos de confiança, têm certeza de que ele diz a verdade quando garante que não dará o salto de 300 metros. Nem o de 100.
 

Cruel! A revista dá um fora até em uma candidatura de Barbosa para senador ou deputado.

De fato concreto, o que existe é uma nota da assessoria do presidente do STF dizendo que não seria candidato a presidente em 2014, mas a nota deixou a porta aberta para ser candidato a outro cargo.

Segundo o repórter da Época, Diego Escosteguy, ele mesmo não entrevistou Barbosa, nem o ouviu. Escreveu que publicava o que fora dito a um "interlocutor curioso" recebido por Barbosa "numa tarde recente e chuvosa em Brasília" (usou até o velho disfarce de narrar o ambiente para impressionar o leitor desatento, diante de uma informação claramente não confirmada).

Do texto se conclui que o repórter sequer ouviu a assessoria de Barbosa para confirmar ou desmentir o que publicou a partir do "interlocutor" oculto ou imaginário.

Ora, qualquer jornalista sabe que matéria feita assim não é reportagem. É fazer publicidade do que a revista (portanto, seus editores e donos) desejam que aconteça. Por outro lado é um recado.

Traduzindo: a Globo está bombardeando a candidatura de Barbosa até ao Senado, porque será "um desastre para a legitimidade do julgamento do mensalão" nas palavras da revista.

Detalhe: foi a mais clara admissão até agora feita por um veículo das organizações Globo da fragilidade jurídica do julgamento, pois bastaria uma decisão pessoal de Barbosa seguir carreira política para desmoronar tudo.

Essa matéria confirma o que a Helena disse meses atrás na nota "Globo dá sinais de que, se farsa ruir, Barbosa é quem vai pagar a conta".

O que a revista da Globo entende por "desastre" seria, primeiro, o reconhecimento popular e internacional amplo de que o julgamento teve uma grande dosagem de conspiração e exploração política, inclusive para Barbosa se lançar candidato. O pêndulo da opinião pública mudaria muito rápido.

Segundo, seria o efeito inverso ao desejado pelos donos da Globo. Ou seja, o PT ganhar, além da presidência da República, mais cadeiras no Congresso Nacional e mais governos estaduais, pois as contradições do mensalão parodoxalmente coloca o PT como partido mais honesto do que os outros, e o discurso udenista dos cínicos acaba por favorecê-lo. Foi o único partido que teve seus membros punidos (e muitos reconhecem que foram injustamente), pois o mensalão tucano, que é mais antigo, continuou na gaveta. O único partido que ao chegar ao governo teve boa-fé de tentar não nomear um engavetador-geral da república. O único que não aparelhou o judiciário. O único partido que é "fiscalizado" (na verdade, perseguido) implacavelmente pela velha imprensa. Aqueles eleitores que não são torcedores demotucanos fanáticos enxergarão isso mais claramente com Barbosa candidato a qualquer coisa, aumentando votos no PT.

Terceiro, com Barbosa no palanque, a dúvida sobre a lisura do julgamento ficaria muito mais evidente, e seria um prato cheio para os advogados abrirem mais rapidamente uma revisão criminal que possa anular as sentenças, de alguns réus em parte, de outros, no todo.

Quarto, as contraprovas, tais como o inquérito 2474, chamado "gavetão", que hoje só a blogosfera, a imprensa alternativa e honrosas exceções de colunistas da "grande" imprensa, como Paulo Moreira Leite e Jânio de Freitas, dão atenção, ganharia ares de escândalo de grandes proporções. Não teria mais como fechar a panela de pressão depois de explodir.

Quinto, no Congresso Nacional se poderia até abrir uma CPI do processo do mensalão. E advinha quem estaria no olho do furacão? Não seria só Barbosa, seria também a própria Globo, com o dinheiro que recebeu do "mensalão", com o bônus de volume que remunerava as agências de publicidade de Marcos Valério, com depoimentos de ex-jornalistas da emissora testemunhando as ordens que recebiam quando trabalharam lá em 2005 e 2006, as notícias que omitiam ou deixavam de apurar. E muitas outras coisas ainda não reveladas, pelo menos ao grande público.

Tudo isso explica a nada sutil "reportagem" da revista Época, dando um fim, o famoso pé-na-bunda, ao namoro.

Outras pérolas da matéria na revista Época:

“Trezentos metros separam o Palácio do Planalto da presidência do Supremo Tribunal federal (…) o homem que muitos brasileiros gostariam de ver do outro lado da Praça dos Três Poderes (…) Parece bastar um pulinho. Mas requer um salto suicida. Joaquim sabe disso. O interlocutor observou que Joaquim não teria aptidão para entrar na política”.

“Copa no Brasil vai bem, apesar da Fifa”, diz consultor da ONU

 

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Uma entrevista da Ana Cláudia Guimarães, da coluna de Ancelmo Goes, n‘O Globo, deveria ser lida pelos coleguinhas do jornalismo esportivo (e do político, também) que adoram repercutir que a Fifa se queixou disso e daquilo, todo o dia, com a organização da Copa no Brasil.

Em qualquer confronto entre o Brasil e os “donos da Copa”, eles se alinham automaticamente aos lado dos “”fifenhos”, batendo sem dó no governo brasileiro e enfraquecendo nosso poder diante da turma dos – até há pouco – amigos do Ricardo Teixeira.

Ana Cláudia  ouve Pedro Trengrouse, professor da FGV e consultor da ONU para a Copa, que detona a entidade que nunca foi e não é nenhuma “florzinha” inocente, como todo mundo sabe.

Ele diz que a Fifa “resolveu pegar no pé das autoridades brasileiras”, apesar de os preparativos estarem infinitamente à frente do que ocorreu na última Copa, na África do Sul, e de eles estarem ganhando muito mais aqui.

Leia a entrevista, cujo título é ótimo: “A Copa vai bem, apesar da Fifa”

Qual é a diferença entre a Copa de 2014 e a de 2010? 

A principal diferença é que o Brasil é o país do futebol, e a África gosta de rugby. Além disso, nós já temos nove estádios prontos e entregues. O outro ponto é que a Fifa arrecadou no Brasil, com a Copa, o maior volume de patrocínio e direitos de transmissão de sua história. Foram US$ 5 bilhões. Aqui, também teve a maior demanda por ingressos. Na África, a Fifa fez até promoções com as entradas.

Qual será o legado deixado pelo evento no Brasil? 

A Copa está passando pelo Brasil e deixando o futebol para trás. Na África, a Fifa investiu US$ 70 milhões para fortalecer o futebol local. Construiu 54 centros de treinamentos, patrocinou clubes, competições e fez cursos técnicos. Aqui, a entidade não fez nada. Entre 2010 e 2014, o orçamento da Fifa para desenvolver o futebol no mundo chegou a US$ 800 milhões. Não chegou um tostão aqui. 

Como o povo vai participar? 

Nós somos 200 milhões de brasileiros. Com sorte, 0,75% conseguirá algum ingresso. E o resto? O governo vai pagar a conta e deixar o povo fora da festa. Ainda dá tempo. O governo deveria organizar eventos para que todos participassem do Mundial no seu país. Sete empresas deram (cada) US$ 3 milhões para a Fifa realizar uma Fan Fest em cada cidade-sede. E ela quer cobrar a conta das prefeituras. O governo deveria ter agenda própria e organizar eventos em cada uma das cinco mil cidades do país.