Dilma não dá a luz e Lula e Haddad se filiam ao PSDB

Por Sergio Saraiva, no Jornal GGN

Mãe, filho e espírito santo; se for petista, a Folha bate.

Estão se tornando cômicas as manchetes da Folha de São Paulo. Dada a ordem para que os textos desgastem os governos do PT, o mancheteiro foi à luta, mas deve lhe faltar razões, competência ou senso de ridículo para tanto. E, assim, o resultado final acaba por ser risível, caso não fosse, antes, trágico para a informação dos leitores e para a credibilidade da própria Folha.

Já sabíamos, desde 06/02/2014, que o governo Haddad estava envolvido com o trensalão do Governo de São Paulo que é do PSDB.

A Folha de São Paulo e a falácia envolvendo o “assessor de Haddad”

Agora, sábado (15/02/2014), na primeira página, a Folha nos informa que Lula é suspeito em relação ao Mensalão Tucano. Manchete:

“Lula viajou em jato de ex-réu do mensalão tucano”.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/152304-painel.shtml

Caramba, que diabo é um “ex-réu”?

E a coluna Painel não deixa por menos:

“Apertem os cintos

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voou para Belo Horizonte em um jato Cessna CJ3 de propriedade da holding de seu ex-ministro Walfrido dos Mares Guia. O empresário foi réu no mensalão mineiro sob a acusação de peculato e lavagem de dinheiro, mas não será julgado porque a Justiça determinou que os crimes prescreveram em 2012, quando ele fez 70 anos. O avião em que Lula viajou, de prefixo PR-BIR, está em nome da Samos Participações Ltda., empresa do ex-ministro”.

A única informação relevante aqui é o modelo, “Cessna CJ3”, e o prefixo, “PR-BIR”, do avião. Mostra que a Folha mantém informantes detalhistas na cola de Lula. Demais, Walfrido foi ministro de Lula, são amigos e é natural a troca de gentilezas entre eles. Suspeitíssimo, não?

O que isso tem a ver com o Mensalão Tucano, a Folha deixa aos cuidados da imaginação do leitor.

E domingo (16/02/2014), para completar a trinca petista, é Dilma quem vai para o alto da primeira página.

“Governo vai repassar para tarifa custo extra com energia no verão”.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/152441-governo-vai-repassar-par…

A manchete não deixa dúvidas. E o primeiro parágrafo resume a intenção da reportagem:

“O governo já decidiu que vai dividir com a população o custo extra das usinas termelétricas, que estão sendo acionadas além do previsto neste início de ano por causa da seca atípica que reduziu o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas”.

A esperança é que o leitor pare por aí e fique com bastante raiva do governo Dilma. Agora, se o leitor se der ao trabalho de seguir em frente, notará a manchete e o primeiro parágrafo se diluindo.

Vejamos:

“O percentual que cada parte terá de assumir ainda está em estudo. A ideia inicial, segundo a Folha apurou com um assessor presidencial, era dividir "metade, metade".

Na versão impresa ficamos sabendo que "Outra opção é que o Tesouro assuma a maior parte,…".

Ah, então, ainda é uma “ideia em estudo”. E a informação é de um “assessor presidencial”. Seria o senhor que serve o cafezinho? Seria Miguel do Rosário?

Vamos além:

“A tendência é que essa parcela seja repassada para a conta somente em 2015, afirmou reservadamente um auxiliar da presidente Dilma, …”

Quer dizer que a manchete se refere a algo que deve acontecer em 2015. É jornalismo premonitório. E ainda, em ato falho, a Folha já dá a presidente Dilma como reeleita. Quem seria o indiscreto “auxiliar da presidente”?

Após citar fontes tão seguras, ficamos sabendo que “Quando o Tesouro assumiu a despesa [o custo das termoelétricas] de 2013, foi determinado que os gastos seriam repassados gradualmente para as tarifas, em até cinco anos.”

Pronto, se o repasse já estava decido desde o ano passado, deixou de ser jornalismo premonitório e passou a ser notícia velha.

Aguardemos a manchete de segunda-feira:   

“Dilma não dá a luz e Lula e Haddad se filiam ao PSDB”. 

Gilmar Mendes não sabe o que diz ou não diz o que sabe

Insinuações e ironias de ministro do STF não tem apoio nos autos da AP 470

Por Paulo Moreira Leite, na IstoÉ

O esforço de Gilmar Mendes para tentar desmoralizar a campanha de solidariedade de tantos brasileiros aos condenados da AP 470 ajuda a entender o caráter precário do foi chamado de "maior julgamento da história."

Ao sugerir que o senador Eduardo Suplicy liderasse uma campanha para ressarcir "pelo menos parte dos R$ 100 milhões subtraídos dos cofres públicos" no caso do mensalão" Gilmar Mendes assume uma postura espantosa para um ministro do STF.

Faz afirmações que não pode provar, insinua o que não consegue demonstrar.

A atitude de Gilmar é política.

As doações, em escala que surpreendeu os próprios condenados, mostram o repúdio de um número crescente de brasileiros diante dos abusos do julgamento.

Veja só: um ex-ministro do Supremo, como Nelson Jobim — um dos responsáveis pela indicaçao do próprio Gilmar ao STF -, deu um cheque de R$ 10 000 para Genoíno. Celso Bandeira de Mello, jurista de folha irretocável, que patrocinou a presença de Ayres Britto na Corte, deu dinheiro para Genoíno e já disse que vai contribuir para José Dirceu.

Ao lado de militantes e de cidadãos comuns, a presença de respeitáveis homens de Direito na campanha pelas doações mostra até onde vai a crítica a AP 470.

Não é para menos.

A ideia de que houve desvio de recursos públicos é desmentida pelo processo.

A noção que eles chegam a R$ 100 milhões não tem base real alguma. É apenas um novo chute.

Quando o julgamento começou, os ministros falavam num desvio de R$ 115 milhões. Recuaram sem maiores explicações para uma estimativa de R$ 73,8 com base num cálculo desinformado, absurdo mas cômodo. Explico os três adjetivos.

Como esse foi o total de gastos de recursos do Fundo de Incentivo Visanet com a agência DNA naquele período, passou-se a uma crença absurda: de que 100% desse dinheiro foi roubado, não sobrando um único centavozinho honesto para ser gasto com publicidade de verdade. Nenhuma página de jornal, nem um spot de rádio, nem 30 segundos na TV.

É claro que é uma conta de chegar. Era preciso falar em desvio, era preciso dar
um número –- apontou-se para aquele que estava à mão. Parece absurdo e é. Mas absurdos ganham verossimilhança e circulam como afirmações verdadeiras em sociedades onde nenhuma instituição cumpre seu papel de fiscalizar e conferir o que dizem as autoridades. Este papel, como se sabe, deve ser cumprido pela imprensa. Mas você e eu sabemos muito bem onde os repórteres se encontrava no julgamento, certo?

Numa prova de que são os principais interessados em conferir gastos e e demonstrar o que foi feito, os advogados da defesa acabam de enviar, às 20 maiores empresas de comunicação do país, uma notificação judicial.

Solicitam apenas que elas confirmem – ou desmintam – aqueles recursos que a DNA declara ter enviado a elas.

Em novembro de 2005, os parlamentares da CPMI dos Correios receberam um documento "para uso interno – confidencial" da Visanet.

Os parlamentares perguntaram lá atrás:

" A Visanet é uma empresa pública?

Resposta. "Não. É uma empresa de capital privado."

Essa mesma afirmação foi confirmada por uma auditoria do Banco Brasil, encerrada em dezembro do mesmo ano. Ali se diz, com base no estatuto da Visanet, que seus recursos deveriam ser destinados a ações de incentivo, "não pertencendo os mesmos ao BB investimento nem ao Banco do Brasil."

Se a denúncia de desvio de dinheiro público está errada, como conceito, também se desmente, nos números. As contas batem, com diferenças contábeis que podem ser explicadas por razões técnicas – e que nem de longe chegam aos R$ 100 milhões a que Gilmar Mendes se referiu.

(Quantias nesse volume gigantesco, e até maiores, foram mobilizadas por empresas privadas de telefonia que eram clientes das agencias de Marcos Valério. Nenhuma delas, por sinal, foi chamada a prestar contas no julgamento. Nenhuma. Foi assim que se pretendia " punir os poderosos" , entendeu?)

Por fim, a afirmação de que foram dirigentes do PT que fizeram esses desvios é ainda mais absurda. Não estou falando de Delúbio Soares, por exemplo, que distribuia recursos para o partido e negociava apoio de empresas.

Estou falando de quem tinha acesso ao cofre. Sem ele nada se faz, certo?

Pode-se ler, no laudo 2828, uma questão básica para se entender o papel do PT na denuncia de desvio de recursos – públicos ou privados.

O relator Joaquim Barbosa pergunta a quem "competia fazer o gerenciamento dos recursos" do Fundo Visanet repassados a agencia DNA?

Em bom português, o relator queria saber quem fazia os pagamentos – sem o quê, obviamente, não dá para tirar nem uma nota de 1 real de forma indevida.

O Banco do Brasil responde: quatro diretores eram responsáveis pela gestão do fundo de incentivo entre 2001 e 2005. (Estamos falando dos dois últimos anos do governo FHC, quando a DNA ganhou um bom pedaço da verba publicitária do Banco do Brasil, e dos dois primeiros anos do governo Lula).

Em sua resposta ao relator, o Banco do Brasil faz até um gráfico pequeno, com nomes e datas, para ninguém ficar em dúvida. Até uma criança pode entender: nenhum dirigente indicado pelo PT encontra-se entre eles. Os responsáveis eram todos executivos indicados pelo PSDB. Está lá, numa tabela. Nenhum deles sentou-se no banco dos réus. Repito porque é escandaloso: nenhum. Quem asssinava os cheques ficou de fora. Eram afilhados tucanos.

Cabe a cada um fazer a pergunta que não quer calar: por que o laudo 2828, com uma informação tão preciosa, foi mantido em sigilo no próprio STF, e só foi distribuído para o plenário de ministros DEPOIS que a denuncia da AP 470 já fora aceita?

Minha opinião é a seguinte: temia-se, em 2006, que o debate sobre informações inesperadas e surpreendentes pudessem comprometer a denúncia e estragar o carnaval cívico em torno do STF. Imagine se fosse possível criminalizar o governo Lula — até se falava em impeachment, em 2005 — se a denúncia envolvesse o PSDB, também. Imagine se alguém começasse a perguntar assim: se haviam tucanos no comando do esquema, quem é que colocou essa turma ali?

Política, meu caro. Política.

Foi a mesma atitude de 2011, quando os ministros resolveram levar o julgamento em frente sem conhecer o inquérito 2474, com revelações que contrariavam o final feliz já anunciado e prometido. Veja você: desistiram de ler o inquerito 2474 sem saber o que tinha lá dentro.

Não é de espantar que, agora, se veja uma situação constrangedora e grave de um ministro que faz afirmações que contrariam aquilo que se encontra no processo.

Ou Gilmar Mendes não sabe o que diz. Ou não diz o que sabe.

Você decide o que é mais grave.

A nova era da violência

Autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por vir são os whiteblocs. Devem ser combatidos com a mesma virulência com que combatem a democracia

Por Wanderley Guilherme dos Santos, em Carta Maior

Professores universitários do Rio de Janeiro, de São Paulo e outras universidades falam do governo dos trabalhadores como se fosse o governo do ditador Médici, embora durante aquele período não abrissem o bico. Vetustos blogueiros, artistas sagrados como marqueteiros crônicos, jovens colunistas em busca da fama que o talento não assegura, políticos periféricos ao circuito essencial da democracia, teóricos sem obra conhecida e de gogó mafioso, estes são os mentores da violência pela violência, anárquica, mas não acéfala. Quem abençoa um suposto legítimo ódio visceral contra as instituições, expresso em lamentável, mas compreensível linguagem da violência, segundo estimam, busca seduzir literariamente os desavisados: a violência é a negação radical da linguagem. Mentores whiteblocks, igualmente infames.

A era da violência produziu a proliferação dos algozes e a democratização das vítimas. Antes, a era das máquinas trouxe a direta confrontação entre o capital e o trabalho, as manifestações de protesto dirigiam-se claramente aos capitalistas em demanda por segurança no serviço, salário, férias, descanso remunerado, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças. Reclamos precisos e realizáveis. Politicamente exigiam o fim do voto censitário, o direito de voto das mulheres, o direito de organização, expressão e manifestação. Exigiam, em suma, inclusão econômica, social e política.

Os mentores dos algozes possuíam nome e residência conhecida. Os executores eram igualmente identificáveis: as forças da repressão, fonte da violência acobertada pela legislação que tornava ilegais as associações sindicais, as passeatas, os boicotes e as greves. As vítimas estavam à vista de todos: operários, operárias, desempregados, além de cidadãos, escritores e jornalistas solidários com a causa dos miseráveis.

Não há por que falsificar a história e negar que, ao longo do tempo, sindicatos mais fortes e oligarquizados também exerceram repressão sobre organizações rivais, bem como convocatórias grevistas impostas pela coação de operários sobre seus iguais. A era das máquinas não distribuía a violência igualitariamente, mas algozes e vítimas possuíam identidade social clara.

A atual era da violência, patrocinada por ideólogos, jornalistas, blogueiros, ativistas (nova profissão a necessitar de emprego permanente), professores, artistas, em acréscimo aos descontentes hepáticos, testemunha a agregação de múltiplos grupelhos, partidos sem futuro e fascistas genéticos aos tradicionais estimuladores da violência, os proprietários do capital. São algozes anônimos, encapuzados, escondidos nos codinomes das redes sociais, na covardia das palavras de ordem transmitidas a meia boca, no farisaísmo das negaças melífluas.

Os whiteblocs disfarçam o salário e a segurança pessoal nas pregações ao amparo do direito de expressão e de organização. Intimidam com a difamação de que os críticos desejam a criminalização dos movimentos sociais. Para que não haja dúvida: sou a favor da criminalização e da repressão às manifestações criminosas, a saber, as que agridam pessoas, depredem propriedade, especialmente públicas, e convoquem a violência para a desmoralização das instituições democráticas representativas.

As vítimas foram, por assim dizer, democratizadas. Lojas são saqueadas, vidros de bancos estilhaçados, passantes, operários, classes médias, e mesmo empregados e subempregados que a má sorte disponha no caminho da turba são ameaçados e agredidos. A benevolência do respeito à voz das ruas é conivência. Essas ruas não falam, explodem rojões. Não há diálogo possível de qualquer secretaria para os movimentos sociais com tais agrupamentos porque estes não o desejam. E, quando um quer, dois brigam.

A era da violência é obscura. Não me convencem as teorias do trabalho precário porque não cobrem todo o fenômeno, também é pobre a hipótese de uma classe ascendente economicamente com aspirações em espiral (já sustentei esta hipótese), e, sobretu
do, não dou um centavo pela teoria de que almejam inclusão social. Eles dizem e repetem à exaustão que não reclamam por inclusão alguma, denunciada por seus professores como rendição à cooptação corrupta.

Os autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por acontecer são os whiteblocs. Têm que ser combatidos com a mesma virulência com que combatem a democracia. Não podem levar no grito.

 

O verdadeiro temor de Gilmar Mendes

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

A preocupação maior de Gilmar Mendes não vale R$ 100 milhões – o suposto desvio de recursos públicos pelo PT -, mas R$ 10,5 milhões.

Trata-se da quantia exorbitante paga pelo Tribunal de Justiça da Bahia ao IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), para cursos para juízes e funcionários.

Como se recorda, o TJBA já estava na mira do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por

irregularidades variadas. Pouco antes da primeira inspeção que constatou as irregularidades, contratou o IDP de propriedade de um MInistro do STF (Supremo Tribunal Federal), ex-presidente do STF e do CNJ.

O mesmo juiz incumbido de negociar com o IDP foi encarregado das viagens a Brasilia para acompanhar os processos no CNJ.

O inquérito final do CNJ constatou uma relação enorme de irregularidades, do pagamento ilegal de precatórios gigantescos à compra de produtos e serviços sem a devida licitação. O IDP foi isento de licitação em um país que tem inúmeras faculdades de direito aptas a oferecer os mesmos cursos.

Dificilmente, o CNJ investirá contra a pessoa física de Gilmar. Mas não haverá como nao investir contra a pessoa jurídica do IDP. Revelados os termos do contrato, há que se apurar se os trabalhos oferecidos justificariam os valores pagos. Não justificando, o CNJ tem a obrigação legal de pedir a restituição do que foi pago a mais. E muito provavelmente o pagamento do TJBA foi utilizado por Gilmar para comprar a parte de seu sócio no IDP.

As sucessivas declarações irresponsáveis de Gilmar, atacando o PT, visam apenas criar a blindagem, a possibilidade de se defender de uma possível açao do CNJ atribuindo-lhe um caráter político. 

"Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai"

"Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!", diz Vanessa Andrade, na carta que deixou em homenagem ao pai Santiago, morto num ataque promovido por black blocs 

Brasil 247

A jornalista Vanessa Andrade, filha do cinegrafista Santiago Andrade, que morreu nesta segunda-feira, deixou uma carta pungente em homenagem ao pai. Leia abaixo:

"Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai.

Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!

Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.

Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.

Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.

Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.

Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.

Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.

Obrigada a todos. Ele também agradece.

Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai."

Black blocs têm seu primeiro cadáver. E agora?

 

Confirmada a morte cerebral de Santiago Andrade, atingido por um rojão na cabeça enquanto registrava manifestação contra o aumento da passagem de ônibus no Rio, na última quinta-feira; violência do movimento de mascarados Black Blocs traz sua primeira vítima fatal; em entrevista neste domingo, Arlita Andrade, mulher do cinegrafista da Bandeirantes, disse que autores do disparo "não têm amor" e que será difícil perdoar aqueles que "destruíram uma família"; como agirão agora os governantes para não serem coniventes com a impunidade?

Brasil 247

Foi confirmada nesta segunda-feira 10 a morte cerebral do cinegrafista da Bandeirantes Santiago Andrade, atingido por um rojão na cabeça enquanto fazia a cobertura de um protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio, na última quinta-feira 6. A informação foi dada pela equipe de neurocirurgia do Hospital Municipal Souza Aguiar, onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva. O cinegrafista, de 49 anos, sofreu afundamento do crânio.

Santiago é o primeiro cadáver do movimento de mascarados Black Blocs, que durante manifestações populares, que muitas vezes começam de forma pacífica, destroem o patrimônio público e privado, utilizam artefatos explosivos contra a polícia e escondem seus rostos enquanto praticam esses atos. Geralmente são detidos, mas sem soltos em seguida.

Com a morte de Santiago Andrade, como irão agir os governantes contra esse grupo que se prega anarquista? Haverá maior rigidez contra quem estiver mascarado durante um protesto? Essa é uma proposta polêmica e que deve ser cobrada para que não saiam impunes os responsáveis pela morte do cinegrafista da Band.

Leia abaixo reportagem anterior do 247 reproduzindo a entrevista da esposa de Santiago, Arlita Andrade, concedida neste domingo à TV Globo:

A mulher do cinegrafista da Bandeirantes atingido por um rojão na cabeça enquanto cobria protesto no Rio, Arlita Andrade, disse que é difícil perdoar "aqueles que destruíram uma família". "Perdoar? Meu marido está indo embora, eles destruíram uma familia. Uma família que era unida, muito unida mesmo", desabafou, em entrevista à TV Globo

Segundo ela, "os médicos disseram que o estado dele é grave, disseram de manh.ã [no domingo] que teriam desligado os aparelhos porque estavam somente aguardando ou milagre ou a morte cerebral". Santiago Andrade, que está internado no CTI do Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, ajudou a criar os três filhos de Arlita e juntos tiveram uma filha. Segundo a esposa, ele fazia planos para a aposentadoria.

Sobre a entrevista de Fábio Raposo, preso após ter assumido passar o rojão para o responsável pelo disparo que acertou Santiago, ela comentou: "Eu vi ele pedindo desculpa, mas acho que o que falta neles é o amor, o amor pelas pessoas, porque a gente não faz isso. Ele disse que foi sem intenção. Que seja, mas meu marido estava trabalhando, estava mostrando uma manifestação".

Abalada, ela fez um apelo para que as pessoas não usem mais da violência em manifestações. "Eu peço que essas pessoas não sejam violentas, que não façam isso. Isso não vai levar a nada. O nosso Brasil só vai ser mal visto, ninguém vai querer olhar depois para a nossa terra. Eu espero que esses rapazes pensem na mãe, pensem na família, que a família é tão importante. Meu marido está indo embora, podem ser outros, pode ter outra família que pode ser destruída com isso", disse.

Obs. do Falando da Vida – Quem será responsabilizado? Globo, Band, SBT, Veja, Folha, Estadão? Quem andou dedicando grandes espaços nas suas reportagens num claro apoio à geração do caos? Vão dizer que era só o interesse pela notícia? Como estarão os olhares dos belos apresentadores do jornal da televisão hoje à noite? Lacrimejantes? Quais foram os partidos políticos e políticos de um modo geral que estimularam a violência e endeusaram os black blocs? Por que a evangélica Marina estava convocando essas manifestações desde o ano passado? Quem esteve diretamente ligado a eles? Quem insuflou nas redes sociais?


Obs. 2 do Falando da Vida
– E como ficará a família desse trabalhador?

Boechat e ACM Neto

Sei que Boechat goza de algum prestígio e por isso cheguei a ouvi-lo no seu programa de rádio duas ou três vezes pela manhã (acho que é Band News). Não melhorou a minha impressão sobre ele, pelo contrário. Ali, onde fica mais solto, é que ele mostra mais o seu despreparo.

Para ser, de fato, um grande âncora, é necessário mais do que ele tem. Mas não posso negar que ele está um pouco acima do que se vê na televisão brasileira. Aí ele se destaca.

Nas minhas andanças pelo Face Book, postei em dezembro o texto abaixo.

Boechat e ACM Neto

Por Ronaldo Souza

Cada vez que algo assim acontece é divulgação imediata nas redes sociais e, claro, com muita festa. Incrível a violência que se manifesta nesses momentos.

As manifestações de contentamento pelo câncer de Lula e Dilma, por exemplo, representaram o que há de mais vil, cruel e desumano que pude observar na minha vida. Foram ao fundo do poço da degradação humana, da covardia. Acredito que mesmo profissionais da área de Psicologia-Psicanálise devem ter ficado chocados diante do que o homem é capaz na sua baixeza. Registre-se que jornalistas também tiveram esse comportamento. Os instintos mais primitivos afloraram com uma força poucas vezes vistas.

O desajuste afetivo-emocional se torna evidente nessas horas e muitas vezes se transforma em cinismo. Algumas dessas pessoas desfilam cinicamente (algum tipo de patologia?) mensagens de fé e humanidade religiosas que chocam. Apoiado em Deus posso qualquer coisa, até desejar e propagar o mal. Acho que buscam esse conforto.

Repito que Antônio Carlos Magalhães foi uma das piores coisas que aconteceram à Bahia e ao Brasil, mas nunca, nunca, desejei a ele nenhum mal. Sempre desejei ver a sua morte política, isso sim, jamais a morte física.

A sua morte política eu alcancei e foi triste; poucas vezes vi um homem deixar a cena política da forma como ele deixou, tão derrotado. Nem o seu poder de antes foi capaz de lhe proporcionar um fim melhor.

Neto é nada.

Mas fica aqui o meu manifesto contra qualquer tipo de violência.

Guardei esse “vídeo” porque um dia sabia que ia usa-lo.

O Sr. Ricardo Boechat foi patético, indigno da raça humana.

[[youtube?id=8504gMjJkvo]]

Agora vejam o texto de Fernando Brito, hoje, 09/02/2014.

Boechat ontem e hoje

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Dica de Julio Cesar Macedo Amorim, por email.

Boechat, há alguns meses, botava fogo no mundo. Dava entrevistas dizendo que era a favor a “arranhar” carro de autoridade, a “quebra-quebra’.

E agora, que a sociedade acompanha, estarrecida, o sofrimento de amigos e familiares de um repórter da BAND, onde ele mesmo trabalha, é forçado a denunciar a violência. E fala que um rojão aceso, largado no chão, é direcionado a seja lá quem for.

Pois é, Boechat. A mesma coisa vale para o quebra-quebra. Tem muita autoridade que abusa, mas um jornalista incentivar depredação de carro de autoridade é uma ofensa à democracia e à ordem social, porque esse carro é público.

Além do mais, é contraditório. Um âncora de jornal, numa grande emissora detentora de concessão pública, com seu poder imenso de influenciar a opinião pública, não é uma “autoridade”? Então podemos arranhar o seu carro?

De fato, a caixa de pandora, aberta pelos teóricos da violência, começa a ser fechada, infelizmente com o sangue de um jornalista, essa profissão cada dia mais vilipendiada pelos próprias empresas jornalísticas.

[[youtube?id=JgFdyEGHK1U]] 

Resposta à Veja: Onde está o Brasil? Acorrentado ao poste, como aquele negro. A corrente é a mídia

Por Fernando Brito, no Tijolaço

A revista Veja, uma espécie de toque de Midas ao inverso, que transforma em imundície tudo em que toca,  coloca em sua capa a imagem do menino negro, acorrentado a um poste por um bando de tarados do Flamengo, pergunta “Onde está o Brasil  equilibrado, rico em petróleo, educado e viável que só o Governo enxerga?”.

A Veja merece resposta.

Não para ela, que é muito mais incorrigível que o pequeno delinquente que lhe serve de carniça.

Porque ela, ao contrário dele, tem meios e modos para entender o que é civilização, enquanto ele precisa ocupar o tempo arranjando algum resto de comida para engolir, uma cola de sapateiro para cheirar em lugar do respeitável pó branco das festas da elite, e uma banca de jornal que lhe sirva de colchão de lata ou teto de zinco, se chove ou se faz sol.

A resposta à Veja é necessária para que este império de maldade e seus garbosos centuriões saibam que existe quem não lhe abaixe a cabeça e anuncie que fará tudo, tudo o que puder, enquanto a vida durar, para arrancar o Brasil das correntes com que a fina elite e seus brucutus anabolizados da mídia o amarram no poste do atraso, da submissão, da pobreza e da vil condição de uma sociedade de castas, onde eles são a nobreza opulenta.

O Brasil, senhores de Veja, é este negrinho.

Está cheio de deformações, de cicatrizes, de desvios de conduta, de desesperança e fatalismo.

Estas marcas, nele, foram você que as fizeram, abandonando-o à sua própria sorte, vendo crescer gerações nas ruas, ignorando-os, desprezando.

Tudo estaria bem se ele estivesse lá, no gueto das favelas, tendo uma existência miserável e conformada. Ou sendo um dos muitos que, por uma força até inexplicável, conseguem se sacrificar, como seus pais se sacrificam, para ter uma pobre escola pública, um trabalho mal-pago, uns bailezinhos funk por lá mesmo, com as devidas arrochadas da PM, os capitães de mato, negros e pardos como eles, mas a serviço dos “buana”.

Não é isso o que diz um dos “civilizados” aos quais a Veja serve de megafone, como está lá em cima?

A pobreza em que os governos que vocês apoiam, as elites que vocês representam e os interesses a que vocês servem tem, entretanto,  destes efeitos colaterais.

Porque aquele menino, como o Brasil, vê o mundo como vocês mostram, canta as músicas que vocês tocam, pensa o que vocês martelam em sua cabeça, tem os desejos que vocês glamourizam.

É foda, foda é assistir a propaganda e ver/Não dá pra ter aquilo pra você 

E o que tem pra eles, mesmo u
m pouquinho, vocês combatem furiosamente: uma bolsa-família, um salário mínimo menos pior, uma cota para a universidade…

Populismo, dizem vocês…

Aquele menino e as mazelas de sua vida nunca tiveram de vocês o tratamento do “Rei dos Camarotes”, aquele idiota.

Ou como o “Rei dos Tribunais”, que vocês bajulam porque, politicamente, lhes é interessante explorar seu comportamento para atacar o Governo, embora ele tenha ficado quieto diante desta monstruosidade, quando gosta tanto dos holofotes para outros temas.

Aliás, quanto ele terá contribuído para a visão do “mata e esfola”, do pré-julgamento, do “não tem lei” para quem eu ache bandido?

Vocês não fazem uma matéria sobre os monstros que andam em bando, encapuzados, de porrete na mão, para distribuir bordoadas no “lixo social”, lixo que o seu sistema de poder produz há séculos.

Aqueles que  tentam amenizar um pouco que seja isso é tratado como um primitivo, um arcaico, que não entendeu que só “o mercado” nos salvará.

Ou um “escravo”, como os médicos que aceitaram ir tratar dos negrinhos da periferia ou do interior, onde os coxinhas da Veja não querem ir.

O mercado do qual o menino terá – se tiver – a xêpa.

E ele tem direito a mais, porque ele brotou – feio e torto – desta terra. Não veio de fora para fazer fortuna entre nós e não ser um de nós.

O negrinho está acorrentado, Veja, e acorrentado por quem o domina.

O Brasil também, e também seu Governo que, se não se “comportar” para com os que de fato o dominam, levará mais bordoadas do que já leva, por sua insubmissão.

Acorrentado por uma cadeia mental, a mídia, uma corrente da qual vocês são um dos maiores e mais odiosos elos.

Aquele negrinho não pode ter um destino próprio, apenas o papel que lhe derem, como o Brasil não pode ter seu próprio destino, aquele que convém a vocês e não nos tira do mesmo lugar.

Esta corrente, entretanto, é podre.

Podre, podre de não se poder disfarçar o fedor que exala.

E está se esgarçando, para desespero dos que contam com ela para nos manter atados.

O “Brasil  equilibrado, rico em petróleo, educado e viável”  que vocês dizem que só o Governo enxerga, de uns anos para cá, surgiu diante do povo brasileiro, depois de décadas de fatalismo de “este país é uma merda mesmo” que vocês nos inculcaram, a nós, os negrinhos.

E ele nos atrai com tanta força que não será esta corrente imunda, de elos podres, que o deterá.

Por mais que vocês se arreganhem, como fazem os impérios em decadência, por mais que se comportem, nas bancas, como aqueles facínoras de porrete,  será inútil.

Vocês já não são a única voz, embora muitos ainda os temam e procurem, inutilmente, cair nas suas boas graças com juras de vassalagem ao que voc&ec
irc;s representam.

O mundo de vocês é o passado, é o da escravidão, é o da aristocracia que, tão boazinha, até deixa entrar alguns negrinhos na cozinha, desde que se comportem e não façam sujeira.

É o passado, porque o futuro tem uma força tão grande, tão imensa, tão inexorável que, logo, vocês penderão de um poste.

Não, fiquem calmos, não estou sugerindo enforcamentos, como foi o do Mussolini…

Apenas penderão como um elo roto de um poste velho e carcomido, que não tem mais luz nem serventia.

 

Quem são os que lutam hoje contra o Mais Médicos em cinco capítulos

Charge de Latuff

Por Renato Rovai, no Blog do Rovai

A turma que quer acabar com o Mais Médicos conseguiu uma heroína. Seu nome Ramona Rodríguez, médica cubana. Ela foi apresentada pelo deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) como um troféu de um grupo bastante conhecido da sociedade brasileira. Um grupo que decidiu fazer de tudo para impedir que pessoas que vivem nas periferias das grandes cidades ou nas pequenas cidades brasileiras tenham direito à atendimento médico. Diga-se, em lugares onde nossos doutores se negam a trabalhar.

Mas vamos lá, quem são os que lutam hoje contra o Mais Médicos em cinco capítulos:

1) São os mesmos que lutaram com unhas e dentes contra Bolsa Família e que agora fazem média falando que sempre foram a favor. Veja aqui um vídeo onde o senador Álvaro Dias diz, sem meias palavras, que o Bolsa Família mantém as pessoas na miséria e estimula a preguiça.

2) São os mesmos que sempre se posicionaram contra o aumento do salário mínimo porque, segundo eles, isso levaria várias empresas, municípios e estados brasileiros a quebrarem e geraria desemprego. E que quando eram governo defendiam aumentos de salário mínimo abaixo da inflação. Se quiser checar, olhe aqui.

3) São os mesmos que foram contra a criação do 13o salário mínimo. Dá uma olhada nisso aqui pra você ver o nome do jornal que fez editorial contra.

4) São os mesmos que lutaram contra a aprovação da PEC contra o trabalho escravo. Aliás, se você quiser pode ver aqui o voto do deputado Caiado e o sonoro não que eles deu ao projeto.

5) São os mesmos que fizeram terrorismo midiático contra a PEC das domésticas a partir de uma tese de que haveria aumento de desemprego entre essas trabalhadoras. Aliás, veja essa “notícia” aqui de um jornal lá das Minas Gerais, terra de um certo senador que quer ser presidente.

Se você quiser ampliar essa história, tenho certeza que podemos levá-la a uns 45 capítulos.