Vox Populi: Eduardo Campos não existe para o Nordeste

É do conhecimento de todos que o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, teve em Lula e Dilma dois presidentes que lhe deram total apoio para que fizesse um bom governo. O que se diz é que Eduardo Campos foi feito por Lula.

Segundo o site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, a foto acima é de quando Lula e Dilma faziam campanha para Campos lá em Pernambuco.

O que muitos consideram como traição, motivada pela vaidade e ambição desmesuradas, Campos é candidato a presidente da república pelo PSB, tendo Marina como vice (veja aqui, aqui e aqui).

Mesmo juntando-se a Marina, que possui percentuais quatro vezes maiores do que ele nas pesquisas, não parece ter sido uma iniciativa feliz de Eduardo Campos. Há quem afirme que, na verdade, por só agora se conhecer melhor o perfil de Marina através das suas recentes declarações e dos próprios parceiros dela no projeto da Rede Sustentabilidade (arrogante e fundamentalista, entre outras coisas) ele só está trazendo problemas para ele.

A imprensa já chegou a coloca-lo como forte no Nordeste.

Já escrevi aqui no site que quem pensa que Eduardo Campos terá grande votação no Nordeste, não conhece bem esta região do país.

Recentes pesquisas feitas pelo Instituto Vox Populi, às quais o blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, teve acesso confirmam: ele não existe para o Nordeste. Veja.

CEARÁ
Dilma Rousseff (PT) 64%
Marina Silva (REDE/Rede Sustentabilidade) 13%
Aécio Neves (PSDB) 6%
Eduardo Campos (PSB) 2%
Ninguém/Branco/Nulo 10%
NS/NR 5%

PARAÍBA
Dilma Rousseff (PT) 51%
Marina Silva (REDE/Rede Sustentabilidade) 17%
Aécio Neves (PSDB) 9%
Eduardo Campos (PSB) 6%
Ninguém/Branco/Nulo 12%
NS/NR 5%

ALAGOAS
Dilma Rousseff (PT) 77%
Marina Silva (REDE/Rede Sustentabilidade) 8%
Aécio Neves (PSDB) 3%
Eduardo Campos (PSB) 1%
Ninguém/Branco/Nulo 7%
NS/NR 4%

SERGIPE
Dilma Rousseff (PT) 50%
Marina Silva (REDE/Rede Sustentabilidade) 15%
Aécio Neves (PSDB) 7%
Eduardo Campos (PSB) 4%
Ninguém/Branco/Nulo 14%
NS/NR 11% 

Marina trai os marineiros

Marina, você se pintou

Por Wanderley Guilherme dos Santos*, no blog O Cafezinho

Em 48 horas de fulminante trajetória a ex-senadora Marina Silva provocou inesperados solavancos no panorama das eleições em 2014. Renegando o que há meses dizia professar aderiu ao sistema partidário que está aí, mencionou haver abrigado o PSB como Plano C, sem mencioná-lo a desapontados seguidores, e declarou guerra a um suposto chavismo petista. De quebra, prometeu enterrar a aniversariante república criada pela Constituição de 88, desprezando-a por ser “velha”. Haja água benta para tanta presunção.

Marina e seguidores não consideravam incoerente denunciar o excessivo número de legendas partidárias e ao mesmo tempo propor a criação de mais uma. Ademais, personalizada. O “Rede” sempre foi, e é, uma espécie de grife monopolizada pela ex-senadora. Faltando o registro legal, cada um tratou de si, segundo o depoimento de Alfredo Sirkis. Inclusive a própria Marina. Disse que informou por telefone ao governador Eduardo Campos que ingressaria no Partido Socialista Brasileiro para ser sua candidata a vice- presidente. Ainda segundo declaração de Marina, o governador ficou, inicialmente, mudo. Não era para menos. Em sua estratégia pública, Eduardo Campos nunca admitiu ser um potencial candidato à Presidência, deixando caminhos abertos a composições. Eis que, não mais que de repente, o governador é declarado candidato por sua auto-indicada companheira de chapa. Sorrindo embora, custa acreditar que Eduardo Campos esteja feliz com o papel subordinado que lhe coube no espetáculo precipitado pela ex-senadora.

Há mais. Não obstante a crítica às infidelidades de que padecem os partidos que aí estão, Marina confessou sem meias palavras que ingressava no PSB, mas não era PSB, era “Rede”, e seria “Rede” dentro do PSB. Plagiando o estranho humor da ex-senadora, o “Rede” passava a ser, dali em diante, não o primeira partido clandestino da democracia, mas o primeiro clandestino confesso do Partido Socialista Brasileiro. Não deixa de ser compatível com a sutil ordem de preferência de Marina Silva. Em primeiro lugar vinha a criação da Rede, depois a pressão para que a legenda fosse isenta de exigências fundamentais para a constituição de um partido conforme manda a lei e, por fim, aceitar uma das legendas declaradamente à disposição.

Decidiu-se por uma quarta opção e impor-se a uma legenda que não é de conhecimento público lhe tenha sido oferecida. Enquanto políticos trocam de legenda para não se comprometerem com facções, a ex-senadora fez aberta propaganda de como se desmoraliza um partido: ingressar nele para criar uma facção. Deslealdade com companheiros de percurso, ultimatos e sabotagem de instituições estabelecidas (no caso, o PSB), não parecem comportamentos recomendáveis a quem se apresenta como regeneradora dos hábitos políticos.

O campo das oposições vai enfrentar momentosas batalhas. Adotando o reconhecido mote da direita de que o Partido dos Trabalhadores constitui uma ameaça “chavista”, Marina pintou-se com as cores da reação, as mesmas que usa em suas preferências sociais: contra o aborto legal, contra o reconhecimento das relações homoafetivas, contra as pesquisas com células tronco, enfim, contra todos os movimentos de progresso ou de remoção de preconceitos. Abandonando a retórica melíflua a ex-senadora revela afinal a coerência entre suas posições políticas e as sociais. Empurrou o PSB para a direita de Aécio Neves, a um passo de José Serra. É onde Eduardo Campos vai estar, queira ou não, liderado por Marina Silva. As oposições marcham para explosivo confronto interno pelo privilégio de representar o conservadorismo obscurantista. 

* Wanderley Guilherme dos Santos – filósofo e cientista político brasileiro, autor de vários livros e artigos na área de Ciências Sociais. Notabilizou-se a partir do texto "Quem Vai Dar o Golpe no Brasil" – que prenunciou o golpe de Estado e a possível derrubada do presidente Goulart em 1964 e se tornou referência bibliográfica nos meios acadêmicos

Aécio fala mal do Brasil em NY; como FHC fazia

E acena com privatização do Banco do Brasil e da Caixa

Por Helena Sthephanowitz, no Rede Brasil Atual

O banqueiro dono do BTG Pactual, André Esteves, não esconde de interlocutores próximos o sonho de arrematar o controle acionário de algum dos grande bancos estatais brasileiros – Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil – caso um governo privatista resolva vendê-los. Não por acaso, junto com seu sócio tucano Pérsio Arida, um dos ícones das polêmicas privatizações no governo FHC, promoveu uma conferência em Nova York sobre investimentos cujo palestrante principal foi Aécio Neves, o pré-candidato tucano que tem defendido toda e qualquer privatização realizada de 1995 a 2002, mesmo a polêmica venda da Vale a preço pífio, subavaliada, e o sistema Telebrás, arrecadando menos do que o valor investido nas teles ainda estatais, para saneá-las.

Aécio, em sua palestra, não chegou a prometer diretamente privatizar a Caixa e o Banco do Brasil, mas não faltaram indiretas quando criticou os governos Lula e Dilma por terem descontinuado pilares da política econômica de FHC e por fazerem o que ele chamou de "intervenção estatal". Para bom entendedor, meia palavra basta. Afinal, como os dois governos petistas preservaram a estabilidade da moeda no controle da inflação, sobra a interrupção da privatização do controle acionário de empresas estatais estratégicas. 

No setor financeiro, os bancos estatais voltaram a crescer e ganhar fatias de mercado nos governos do PT. Aliás, durante o governo FHC, o "Memorando de Política Econômica", de 08/03/1999, do Ministério da Fazenda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), dizia explicitamente que o plano era deixar o mercado bancário nas mãos dos bancos privados, seja privatizando parcialmente os bancos públicos, seja tornando-os bancos de segunda linha. Felizmente o governo tucano não conseguiu concluir seu plano, pois os bancos públicos foram fundamentais para salvar o Brasil dos efeitos da crise internacional, quando sumiram as linhas de créditos nos bancos privados em 2008. Além disso, sem bancos públicos disputando o mercado também não seria possível baixar significativamente os juros ao consumidor e às empresas, como ocorreu em 2012.

O presidenciável tucano repetiu também um velho costume tucano: falar mal do Brasil no exterior. FHC era useiro e vezeiro nisso. Parece que achava chique.

Aécio, no linguajar tucanês que muitas vezes não tem compromisso com a realidade, disse que "o Brasil se tornou pouco confiável". Ora, basta olhar o risco-Brasil na era tucana e agora para confirmar que uma declaração destas seria adequada apenas como piada.

O tucano criticou um dos maiores sucessos brasileiros na última década: o crescimento do consumo pela inserção de milhões de brasileiros que saíram da pobreza para ingressar na nova classe média. Criticou também a expansão do crédito, com mais gente tendo acesso a financiamentos, como pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Criticou o que ele chama de "intervencionismo" no setor energético, a renovação negociada da concessão de hidrelétricas tendo como contrapartida a redução na conta de luz, que beneficia não apenas o cidadão em sua residência, mas também a indústria que tem a eletricidade como insumo nos custos de produção.

O discurso soou como música para especuladores que gostam de ver aquilo que desejam comprar depreciado, para comprar barato. O preocupante é quando trata-se do patrimônio do povo brasileiro e esse discurso vem de um candidato a presidente da República. Certamente capta investidores interessados em financiar candidatos para depois recuperar o investimento feito na campanha eleitoral através de negócios privilegiados com o Estado. Os antecedentes dos cartéis que pagavam propinas a autoridades dos governos tucanos paulistas por contratos no Metrô, inclusive para financiar campanhas do PSDB, delatados pela multinacional Siemens, recomendam cuidado redobrado com esse discurso de Aécio Neves. 

Como fatos são maiores que desejos, Marina devastou a oposição

Por Fernando Brito, no Tijolaço

A ex-senadora Marina Silva diz hoje em O Globo que não quer “urubuzar” a candidartura de Eduardo Campos a Presidência.

Pode até não querer – duvido eu, cá com meus botões e lembranças de 40 anos de vida política, quase – mas já o fez.

Fez, e faz, como se pode ler na entrevista que dá à Folha, onde afirma que ela e o Governador de Pernambuco “são possibilidades” e que “se a aliança prospera com ele, e a candidatura dele posta, a Rede terá ali o caminho da sua viabilização”.

Marina, que aparente e provavelmente não é candidata – a máquina partidária é de Eduardo Campos e sem ela não há candidato – faz um jogo dúbio, com declarações pernósticas, mas tomou, objetivamente, toda a “personalidade” – se é que havia alguma – da candidatura Campos.

O governador de Pernambuco, candidato a lìder nacional, parece ter se tornado um coadjuvante dos planos de Marina Silva, que coerente com seu projeto personalista e egocêntrico, passou a ser “a dona do pedaço” na mídia e o “coronel” político da candidatura, embora seja uma “sem-terra” no partido.

A humildade arrogante – sim, isso é possível – com que se apresenta transpira falsidade e é difícil que hoje, isso não seja visto até por quem acreditou nela.

A “campeã” da transparência e da sinceridade faz um jogo de dubiedades e deixa aberta a possibilidade de substituir Campos, em lugar de afirmar a liderança que ele, como candidato, precisa construir. Nem sequer elenca os pontos – vai sair depois uma listinha, creia – que os une, senão em manifestações que parecem sólidas e substanciosas como algodão doce:

Não há aqui (no embrulho com o PSB) uma incoerência com um partido de direita que não tenha nenhuma realidade fática para esse encontro. Obviamente que a Rede é uma atualização da política. Uma atualização que está acontecendo no mundo inteiro e que ninguém ainda sabe quais serão as novas estruturas e os novos processos para esse novo sujeito político que está surgindo.

Cinco dias depois de ter aparecido como “um gênio da polìtica” Eduardo Campos murchou como uma mosca sugada por uma aranha.

O outro neto, que fugiu da teia viajando para os Estados Unidos, envia de lá sinais desesperados de que não aceita o “esqueceram de mim” que a mídia lhe dá, agora.

 

Lá, apresenta-se como o ”líder da oposição no Brasil” numa reunião com investidores, onde diz tudo o que estes gostariam de ouvir e, por isso, o classificam como “mais amigável ao ambiente de negócios”.

Mas o fato é que, como ironicamente ilustra a foto da matéria da Folha, ninguém parece estar prestando muita atenção nele.

Não é a toa que Aécio envia estes sinais. Ele, talvez mais do que Eduardo Campos, também sabe que o predador está no seu ninho.

Serra, tal como Marina, também não assume uma postura de apoio inequívoco a “seu candidato”. Seus métodos são, porém, silenciosos, embora tão egocêntricos quanto os de Marina.

O processo político é impiedoso.

Os dois “líderes” da oposição, embora formalmente seguros em suas posições de candidatos, vivem ameaçados.

Pior, perderam o brilho.

Um, ofuscado por Marina.

Outro, sob a sombra de José Serra.

O quadro sucessório ainda não está fechado.

A realidade tem o péssimo hábito de prevalecer.

Marina como ela é

Já se conhece a forma como José Serra faz política. Tornou-se um homem ressentido, frustrado, vingativo, que recorre a qualquer expediente para alcançar os seus objetivos. A sua alardeada competência administrativa não se confirmou em nenhum momento e a campanha para presidente da república em 2010 foi um marco de como fazer política da forma mais baixa possível.

Aécio Neves dói. O seu vazio é tão grande que dá pena. A sua capacidade de dizer coisas absolutamente irrelevantes surpreende a cada instante. O PSDB, a mídia, o empresariado, todos sabem que Aécio Neves não tem a menor chance de ser eleito presidente. Mas, digamos que fosse. Por saberem que ele não tem nenhuma condição de exercer a presidência, seria ótimo para eles. Não será surpresa, entretanto, se o candidato do PSDB for Serra.

O mais bem avaliado governador do país nas últimas pesquisas, Eduardo Campos se imaginou com amplas possibilidades de sair como forte concorrente ao Palácio do Planalto. Sem chance. Nenhum pernambucano tem dúvida de que ele é o que é graças a Lula e num segundo plano a Dilma. Lula, literalmente, fez Eduardo Campos. Na hora da campanha talvez não seja muito difícil mostrar que as obras do Governo Eduardo Campos não têm o dedo de Lula e Dilma, têm Lula e Dilma por inteiro. Ver Eduardo Campos “brigando” com os dois talvez seja um momento de difícil compreensão para muitos pernambucanos.

Fora das fronteiras do seu estado é desconhecido e talvez aí haja outro detalhe que tem passado despercebido. O Nordeste tem as suas peculiaridades, assim como as tem o Sudeste. Ou alguém desconhece as dificuldades quase que incontornáveis existentes nas relações políticas entre São Paulo e Minas Gerais?

É possível que muitos, eu me arriscaria a dizer a maioria, não conheçam as dificuldades também quase que incontornáveis existentes no Nordeste. Ou alguém imagina que, por ser nordestino, Eduardo Campos terá grande votação no Nordeste? Quem pensa assim não conhece bem esta região do país.

Aliado a isso, se a condição de nordestino, neste caso específico, não é favorável no próprio nordeste, seria mais complicada ainda no Sul/Sudeste. Ou alguém acredita realmente que seria estendido um tapete vermelho a um eventual Presidente da República do Brasil com “aquele” sotaque? Não vamos dar um tapa na realidade.

Agora, porém, tendo como sua vice Marina Silva, as chances de Eduardo Campos aumentam? É possível. Cabe, porém, uma ressalva.

Inicialmente saudada como uma jogada de mestre de Eduardo Campos, não foi. A partir do momento em que se soube que foi Marina quem fez o contato e se ofereceu para se filiar ao PSB e ser vice dele, fica absolutamente claro que não foi iniciativa dele. A sua própria perplexidade e consequente mudez ao receber a notícia, como foi divulgado por toda a imprensa, deixam mais claro ainda que não foi dele a ideia. Confesso a minha enorme dificuldade em entender como jogada de mestre de alguém quando esse alguém só foi comunicado do que já estava decidido.

Portanto, se, pelas razões expostas, dificuldades podem existir na manutenção da imagem de grande gestor, maiores ainda parecem existir, pelo menos por conta desse episódio, para a criação da imagem de um exímio jogador de xadrez.

Lembremos que já era quase consensual a percepção de Eduardo Campos como alguém que se perdeu na vaidade e ambição ao sair candidato para 2014. Pelas razões conhecidas, vários colunistas, entre os quais nomes como Jânio de Freitas, o chamaram de embusteiro, quando, dando nova interpretação ao “ser ou não ser”, de Hamlet, de Shakespeare, criou o “ser e não ser” candidato em 2014. Uma postura condenável, mesmo se tratando do jogo político.

Ainda que fossem seus os méritos, terá sido, de fato, uma bela jogada de xadrez?

Teria sido então jogada de mestre de Marina? Também não. Foram outros os motivos.

Apesar da inocência dos seus seguidores em imagina-la diferente dos políticos, Marina tem poderosíssimos grupos financeiros por trás, que fizeram enorme pressão nos últimos dias. O Estadão não teve nenhum pudor em dar nome aos bois: Natura e Itaú (ambos autuados pela Receita Federal por sonegação de R$ 628 milhões e R$ 18,7 bilhões, respectivamente). Sem falar da articulação do próprio Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo (segundo a imprensa, também devendo a essa altura mais de R$ 2 bilhões, entre Receita Federal e ECAD), com confesso interesse em formar uma dobradinha Aécio-Marina.

A imprensa divulgou que “a turma do dinheiro estava decidida a manter Marina no páreo de qualquer jeito, e não aceitavam a derrota. A sua presença é fundamental para levar a eleição para o segundo turno”. Ressalve-se que à Globo particularmente interessava desde quando fosse com Aécio, porque não querem o PSDB fora de um eventual segundo turno, que muitos já afirmam que não deverá acontecer.

É difícil acreditar que alguém com o nome e a representatividade política de Marina Silva, com algo em torno de 20% nas pesquisas, vai aceitar ser vice de Eduardo Campos, que o Brasil não conhece, com 4% nas pesquisas.

Ao se filiar e se candidatar à presidência da república pelo PSB, ainda que seja, por enquanto, como vice, Marina viu abrir-se a janela da oportunidade e por ela jogou o sonho de milhões de brasileiros que acreditaram na Rede Sustentabilidade.

Milhões de brasileiros que acreditaram na sua promessa de eliminar a forma de fazer política no Brasil. Milhões de brasileiros que, do alto da sua inocência, acreditaram ser possível fazer política sem ser político. Milhões de brasileiros que acreditaram que a Rede Sustentabilidade não seria um partido político, apesar de lá existirem vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais…, como em qualquer outro.

E agora, como fazer crer a esses milhões de brasileiros que a Rede Sustentabilidade é um projeto sustentável? Filiada e concorrendo à presidência pelo PSB, que tempo dedicará à Rede?

E tendo negado a política e os políticos nesses últimos anos, como Marina vai explicar que agora caminha de braços dados com os Bornhausen, Heráclito Fortes, Ronaldo Caiado e outros tantos?

Ela tomou a decisão de se candidatar não pelo sonho de mudar o Brasil, mas pela pressão dos seus bilionários patrocinadores. E, agora se sabe, também por outra razão: ela afirmou que seu projeto é acabar com a "hegemonia" do PT.

A evangélica e pura Marina, que tudo entrega a Deus, carregou consigo nesses anos todos um projeto pessoal de vingança: acabar com o PT, o partido onde ela foi criada.

Marina se mostrou. 

Que renovação é essa?

Marina e Eduardo Campos formaram um condomínio político que constitui um enigma da campanha de 2014

Por Paulo Moreira Leite, na IstoÉ

No mesmo dia em que a VEJA dava uma contribuição específica ao culto à personalidade de  Marina Silva, dizendo que na véspera ela fora dormir com a esperança de “ter um sonho” que pudesse ajudar a decidir o rumo na campanha presidencial, a líder da Rede  deu provas de que passou os últimos dias acordadíssima.

Numa união destinada a garantir a Marina um espaço na campanha que a Rede não foi capaz de obter, e a Eduardo Campos, uma projeção que ele dificilmente teria como 4º colocado nas pesquisas de intenção de voto, os dois formaram um condomínio político que constitui um enigma da campanha de 2014.

Filiando-se ao PSB, Marina assegurou um palanque para seguir em sua verdadeira prioridade,  cada vez mais semelhante a plataforma básica dos vencidos por Lula e Dilma em 2002, 2006 e 2010: impedir de qualquer maneira e por todos os meios uma quarta  vitória do PT e seus aliados em 2014.

Dramatizando a própria situação, ela chegou a dizer que o Rede era primeiro partido “clandestino” da democratização – afirmação de caráter retórico, que não faz sentido para quem levou a sério a luta clandestina contra o regime militar de 64 e reconhece o valor da democracia conquistada depois.

Vamos combinar: se acredita, de fato, que o Rede foi perseguido por adversários políticos, que teriam boicotado o apoio dos 50 000 eleitores que poderiam ter legalizado seu partido, Marina faria um favor ao país se divulgasse indícios e provas para sustentar o que diz. Sabemos que a Justiça eleitoral abriga cidadãos indicados pelos principais partidos políticos, que devem ser substituídos de 5 em 5 anos. É razoável até imaginar uma imensa  má vontade aqui, outra mais adiante. É assim, no Brasil e em outros países.

Mas é um universo com tantas surpresas e imprevistos que ninguém consegue adivinhar o que acontece sem uma apuração real. No caso mais avançado que conheço até aqui, um advogado do Rede chegou a dizer de forma vaga, para uma repórter, que “certamente” ocorreram boicotes em algumas prefeituras. Onde? Em  Minas Gerais. E agora?

Ironicamente, Marina e Eduardo Campos se comprometeram ontem, justamente, a  enterrar a República Velha e  a renovar os métodos tradicionais da política. Também falaram do esgotamento do nosso sistema como seu maior compromisso político. Mas não disseram com clareza o que pretendem fazer nem como. Até porque estas são verdades tão fáceis de anunciar mas difíceis de explicar.

Quem tem o direito de dizer que o sistema político está esgotado é o eleitor. Ele fez isso em 1984, quando foi as ruas para pedir eleições diretas em pleno regime militar. Como o Congresso rejeitou as diretas naquele ano, o eleitor repetiu a dose cinco anos depois, em 1989, no primeiro pleito em urna após ao regime militar. Destruídos pelos fracassos de sucessivos planos econômicos, os dois herdeiros do governo Sarney não conseguiram somar 6% dos votos. E foi neste cemitério que nasceu Fernando Collor: sem partido, com ideário confuso, vagas promessas moralizantes e absoluto suporte dos meios de comunicação, tornou-se presidente da República. Seu programa era eliminar privilégios e favores do Estado, sintetizados na palavra marajá, usada para definir altos burocratas do serviço público. Parecia uma causa nacional, capaz de unir ricos e pobres, irmanados pelo infortúnio de sustentar privilegiados com dinheiro do cont
ribuinte.

Falar que o sistema político está esgotado, hoje, é enxergar o mundo pelo olhar dos desejos, de quem não aprova determinado governo mas é duvidoso que seja expressão do pensamento do  conjunto da população. É um diagnóstico exagerado, no mínimo,  quando o governo federal tem aprovação superior a 50% e a presidente lidera as pesquisas de opinião com 38% das intenções de voto. Quando seu padrinho, Lula, é o mais popular político brasileiro da história. Quando o PT, alvo indiscutível da “publicidade opressiva” praticada pela maioria dos meios de comunicação na ação penal 470, segue o mais popular partido político do país, com  25 ou mesmo 30% da simpatia dos eleitores.

Quem está esgotada, até agora, é a oposição. Se é possível falar em algo perto de esgotamento, fim de linha, o problema encontra-se aí e é mais localizado. E é tão grave que ela procura alimentar-se, na verdade, de músculos e cérebros extraviados do governo, como Marina e Eduardo Campos.

As ruas de junho deixaram claro que nem  todo mundo pensa a mesma coisa dos nossos políticos. Os milhões de brasileiros que não querem Dilma também recusam personalidades, nomes e ideias que lhes são oferecidas como alternativa. Esses cidadãos Dizem que querem livrar-se de políticos tradicionais quando, na verdade, querem outros políticos – sejam direitistas, revolucionários, reacionários ou simples camelôs ideológicos. Aqueles manifestantes que tinham pontos específicos a reivindicar – como transportes – voltaram para casa depois que a reivindicação foi atendida. Os outros,  permaneceram. Tinham mais a cobrar. Alguns mais quebraram vidros, fizeram provocações. Denunciam o sistema político em nome do fascismo, do anarquismo ou lá o que for.

Em qualquer caso, e é constrangedor lembrar, Dilma ficou sem aliados em seu empenho para aprovar uma reforma política que, bem ou mal, poderia dar uma resposta à nova situação. Não inventou nada. Apoiou um projeto que reúne o apoio de entidades representativas. Não lembro de qualquer manifestação de apoio dos aliados de Marina Silva. O PSB foi explícito. Divulgou nota a favor das reformas – desde que elas não valessem para 2014.

O empenho de Marina para falar do “novo” ajuda a encobrir que, entre seus assessores econômicos, encontra-se André Lara Rezende, banqueiro  e profeta do decrescimento econômico, advogado da  teoria primeiro-mundista de que os recursos da Terra se esgotaram e que quem não ficou rico até agora deve desistir até de chegar a classe média baixa. Foi padrinho do Plano Cruzado – que ajudou Sarney a tornar-se imperador do país por um semestre, em 1986  – e do Plano Real, berço de tantas heranças, inclusive da privatização das teles, joia da coroa do governo FHC. Seu homem na Justiça é Gilmar Mendes, capaz de dar dois habeas corpus, em apenas 48 horas, a um dos banqueiros aliados de FHC. Seu maior patrocinador financeiro é a herdeira de um banco  que esteve ao lado de todos, absolutamente todos os governos brasileiros nas ultimas décadas, sem distinção de cor, credo, religião ou traje  – podia ser fardado ou à paisana.

“Novo”?  

Falar da velhice alheia é um dos atalhos mais conhecidos para uma pessoa fingir-se de jovem e seduzir os
menos atentos naquela hora da festa em que a maioria dos seres vivos parece parda.
Não vamos falar do PSB de Eduardo Campos. O governador  admite que nem estava pensando em termos politicamente geriátricos até a noite de sexta-feira, dedicando-se  a recolher, no laço, quem pudesse reforçar suas fileiras de qualquer maneira. Chegou a trazer para sua casa conservadores notórios, inclusive com ligações diretas com o regime militar. Estranho? Nem um pouco. A política brasileira é feita assim.

O errado é querer tingir o cabelo, fazer uma lipo, tomar um banho de butique e  pensar que ninguém enxerga os sinais da plástica.  Para quem é adversaria assumida das usinas hidroelétricas, é que Marina Silva tenha ingressado no mesmo partido do ex-ministro Roberto Amaral, um dos poucos políticos brasileiros que é partidário declarado de pesquisas nucleares, seja para fins pacíficos, e mesmo para conhecimento da fissão atômica, necessário para a produção de artefatos militares. (Estou 100% de acordo com o ministro nesse ponto).

Que renovação é essa, meus amigos?

Simples. É a renovação de quem procura um palanque, confunde a  memória e quer nos fazer acreditar que não houve história. Eduardo Campos é um dos melhores políticos de sua geração. Tem luz própria, formação e  capacidade de articulação real.

Mas não vamos esquecer que é produto direto do Brasil envelhecido de repente que agora  denuncia. Talvez seja o grande filhote daquilo que a oposição chama de lulismo. Alimento maior de sua popularidade, o crescimento econômico de Pernambuco,  muito superior a média brasileira, foi irrigado por verbas preferenciais de Brasília, com tanto empenho que levou os conservadores preconceituosos do Sul-Sudeste a denunciar em 2010 o favorecimento “aos nordestinos” por parte de Lula.

A herança política  de Marina é familiar, também. Segundo o Ibope, a segunda opção de 50% de seus eleitores é Dilma.  Em função do receio de explicitar a estes cidadãos  o enorme grau de sua ruptura do Lula, Dilma e o PT, referencias que fazem parte de sua identidade política essencial, na visão de  tantos brasileiros, Marina Silva tem sido  bastante cuidadosa em suas declarações. Evita afirmar, em público, os chavões reacionários, inspirados no golpismo venezuelano, que o conservadorismo nativo utiliza para comparar o Brasil de Lula-Dilma com o país de Chávez-Maduro.

Cada eleitor tem o direito de imaginar que tipo de renovação é essa. 

Um lento e contínuo processo de desmascaramento

Não é à toa que a Globo perde audiência a cada dia que passa. Dados recentes mostram que a queda só faz aumentar.

É bem provável que muitos sequer tomem conhecimento disso. Claro é que também não percebem, como consequência, as frequentes mudanças nos seus programas e na estrutura dos mesmos; o Jornal Nacional, Fátima Bernardes e Faustão, para citar só alguns, que o digam.  As informações e pesquisas de audiência estão aí à disposição de todos aqueles que desejarem ver.

Não há como negar, entretanto, que ainda é grande o seu poder de influenciar boa parcela da população. Injustificável e lamentável quando se trata daquele segmento que, por ter educação de “nível superior”, costuma se auto intitular formador de opinião, entre os quais, mais lamentável ainda, incluem-se professores e profissionais liberais.

Surgem daí segmentos sociais absolutamente desinformados, com uma pobreza de análise e discernimento chocante, que só se explica na ignorância em que mergulharam.

Não há como não recorrer à famosa frase de Joseph Pulitzer (1847-1911): “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.

O que traz um pouco mais de tranquilidade, pois se trata do futuro do país, é saber que a queda de audiência é muito forte entre os jovens. Estes já perceberam que a Globo não faz jornalismo. Que o digam as recentes manifestações das ruas.

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O desencanto esperado: pobre Marina

 

Por que só agora falo de Marina?

Ainda que em nenhum momento tivesse acreditado nela como projeto político consistente, pelo contrário, sempre a vi como política monotemática e inconsistente, respeitava a sua trajetória. A verdade é que você, que acompanha os meus textos ao longo desses últimos tempos, raras vezes me viu falando dela. Agora, não há mais como manter essa postura.

O Brasil quase explode nas manifestações de junho/julho, irresponsável e criminosamente manipuladas e conduzidas pela mídia brasileira assim que ela imaginou que poderia tirar proveito. 

Nas manifestações algumas coisas ficaram evidentes, entre elas o desencanto com os políticos e seus partidos, em suma, com a classe política.

Onde estava Marina? Quem a viu? Quem ouviu ou viu qualquer declaração dela? 

Não, Marina pairava acima do bem e do mal. Boa parte das manifestações foi direcionada aos políticos e Marina não é política. Portanto, ela nada tinha a ver com aquilo. Parecia dar resultados; a imprensa mostrava que ela era a única que subia nas pesquisas.

Como é possível que o país, num momento como aquele, não ouça ou veja nenhuma palavra, gesto, atitude, nada, de uma ex-Ministra da República, ex-senadora dessa mesma república, candidata à presidência dessa mesma república em 2010 (quando teve cerca de 20 milhões de votos), atual candidata e segunda mais bem posicionada nas pesquisas para a presidência da mesma república, pode se permitir nada dizer, nada fazer? O que fez ela? 

Marina, covardemente, tentou se esconder. Tentou se esconder numa rede que, cheia de furos, na verdade não a escondia. Imaginou-se protegida de manifestações que se voltavam para um mundo do qual, insiste em querer mostrar, não faz parte; o dos políticos.

Rede Sustentabilidade. Não sei o que isso significa. Sei que esse é o mundo de Marina Silva. Um mundo à parte, um mundo puro, longe da política.

A Rede que não é partido. Apesar de lá existirem (poderia ser diferente?) vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e uma candidata à presidência da república.

Está certo que algumas estrelas globais apoiem e façam parte dessa coisa fantástica que é ter um partido que não é partido, é rede, e uma rede que não é rede, é partido (já me perdi). Mas, com algumas poucas exceções, diante do que vimos até hoje, o que podemos esperar dessas estrelas?

O vice de Marina mora em Londres há mais de dez anos. É o milionário Guilherme Leal, dono da Natura, que foi autuada no início do ano pela sonegação de R$ 628 milhões. Maria Alice Setúbal, conhecida como Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, é quem, desde 2010, está à frente da arrecadação de fundos para a campanha de Marina. O Banco Itaú, que foi autuado pela Receita Federal por sonegação de R$ 18,7 bilhões, disse na mídia que dará apoio financeiro para a campanha de Marina.

Veja o que diz o jornalista e blogueiro Fernando Brito no Tijolaço:

"Não é preciso mais para esclarecer o campo político em que Marina Silva vai, ou admite ir, para se abrigar. Mas, se fosse preciso, bastaria este parágrafo do Estadão:

Marina foi pressionada por empresários que têm financiado seu projeto político de criar um partido a sair candidata. Foi dito a ela que não seria possível ela abandonar um projeto que contou com tantos apoios, inclusive financeiro na sua trajetória para criar a Rede.

Marina não sai desta barafunda apenas bem menor que entrou. Sai mais desnuda politicamente".

Todos sabem que Marina, por razões óbvias, tem grande apoio da Globo e dos seus colunistas. Porém, como tudo tem limite (só não há limites para ela, Globo), alguns deles às vezes chutam o pau da barraca. Dessa vez, parece ser o caso de Ricardo Noblat. Vale a pena ver o que ele diz em E Marina, hein? no seu blog:

A candidata disposta a se eleger presidente da República para mudar o país foi incapaz de montar um partido no prazo determinado pela lei. Dá para acreditar?

Marina ai
nda é um segredo de Estado. Poucos conhecem algo além de sua imagem pública. Os que a conhecem bem não contam como Marina é – conservadora, preconceituosa, centralizadora”.

Apesar das distorções bastante conhecidas do sistema político/eleitoral do Brasil, a criação de um partido político, ainda mais quando esse partido político se nega como tal e se anuncia como aquele que vem para combater os vícios dos partidos, como a corrupção e o uso de grandes volumes de dinheiro, só pode ser coisa séria.

Diante da iminente negação do seu registro como partido político, ou o que quer que fosse, pelo Tribunal Superior Eleitoral, causada pela sua reconhecida e comprovada incompetência no cumprimento das normas eleitorais, recorrer a mecanismos ilícitos, como tentaram fazer, sem dúvida deixa uma mancha impossível de remover sobre a seriedade dessa instituição, como quer que queiram chama-la.

Um partido que não é partido, é Rede, e que vem para combater os vícios dos partidos políticos existentes, como a corrupção, o uso de grandes volumes de dinheiro, os arranjos e composições com outros políticos sejam eles quem forem… Que outra forma poderia haver para recebe-lo que não fosse dar as boas-vindas? Estaríamos, finalmente, caminhando na direção de uma política exercida com mais dignidade.

No julgamento em que o Tribunal Superior Eleitoral analisava o seu registro, essa foi a tônica; um partido político deveria ser criado visando justamente isso, o desenvolvimento do processo eleitoral do país e não para concorrer a uma eleição.

Porém, pelo menos dois ministros registraram e deixaram bem claro que não foi isso que a Rede Sustentabilidade fez. Havia, na verdade, o objetivo de criar um partido político para disputar a eleição para a presidência da república em 2014.

Haveria como provar esse objetivo, digamos, não tão nobre? Sim, mais cedo do que se poderia imaginar e justamente por causa do fator tempo. Hoje, dia 05 de outubro, encerra-se o prazo de filiação para os candidatos que desejam disputar as eleições de 2014. 

E agora, neste momento em que escrevo, o nome mais importante da Rede Sustentabilidade, o partido que não é partido, aquele que vem para combater os vícios de todos os partidos políticos existentes, como a corrupção, o uso de grandes volumes de dinheiro, os arranjos e composições com outros políticos sejam eles quem forem, está em conversas com alguns… partidos políticos. Objetivo; disputar a presidência da república.

Seja qual for o partido escolhido, fica bem claro que a Rede Sustentabilidade era uma farsa. 

E ainda houve quem acreditasse. 

Marina, finalmente, começa a se mostrar

Fundador da Rede detona as falhas de Marina

Segundo o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), a ex-senadora "comete erros de avaliação estratégica", cultiva um processo decisório "caótico", "reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes" e "não estabelece alianças estratégicas com seus pares"; parlamentar afirma ainda que reprovação no Tribunal Superior Eleitoral era previsível; "demos mole", diz ele; erros apontados por um colaborador próximo indicam que Marina na presidência da República talvez fosse um grande risco

Brasil 247

Depois da derrota avassaladora no Tribunal Superior Eleitoral, por seis votos a um, começam a emergir as divisões no grupo que pretendia fundar a Rede Sustentabilidade. Em artigo publicado em sua página no Facebook, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos fundadores da nova legenda, apontou diversas falhas na personalidade de Marina Silva. Leia abaixo:

O Brasil da secular burocracia pombalina, do corporativismo estreito e da hipocrisia politico cartorial falou pela voz da maioria esmagadora do tribunal.  A voz solitária de Gilmar Mendes botou o dedo na ferida na forma do juz esperneandi. O direito de, literalmente, espernear.

Para mim não foi surpresa alguma, nunca foi uma questão de fé –Deus não joga nesta liga–  mas de lucidez e conhecimento baseado na experiência pregressa. Eu tinha certeza absoluta que se não tivéssemos uma a uma as assinaturas certificadas, carimbadas, validadas pela repartição cartórios de zonas eleitorais íamos levar bomba.

A ministra relatora fez uma defesa quase sindicalistas de seus cartórios de sua “lisura”. Gilmar Mendes mostrou claramente o anacronismo deles na era digital. Prevaleceu a suposta  “dura lex sed lex” mas que pode também ser traduzido, no caso, pelo mote: “aos amigos, tudo, aos inimigos, a Lei”.  E o PT já tinha avisado que “abateria o avião de Marina na pista de decolagem”.

Mas não ter entendido que o jogo seria assim e ter se precavido a tempo e horas foi uma das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão.

Para ser direto em bom carioquês: “demos mole”.

Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. As vezes falha com operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares.  Tem certas características dos  lideres populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm.

Não tenho mais idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais e discordei bastante de diversos movimentos que foram operados desde 2010. A saída do PV foi precipitada por uma tragédia de erros de parte a parte. Agora, ironicamente, ficamos a mercê de algum outro partido, possivelmente ainda pior do que o PV.

Quanto à Rede, precisa ser vista de forma lúcida. Sua extrema diversidade ideológica faz dela um difícil partido para um dia governar. Funcionaria melhor como rede propriamente dita –o Brasil precisa de uma rede para a sustentabilidade, de fato–  mas, nesse particular,  querer se partido atrapal
ha.

Ficarei com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de brasileiros mas não esperem de mim a renúncia à lucidez  e uma adesão mística incondicional, acrítica. 

Minha tendência ao  “sincericidio”  é compulsiva e patológica. Nesse sentido não sou um “bom politico”. Desculpem o mau jeito. Hoje tenho oito horas para enfrentar um leque de decisões, todas ruins em relação ao que fazer com uma trajetória limpa de 43 anos de vida política.  Mas vou fazê-lo sem angústia de coração leve e mente aberta. 

Qual é o partido de Marina?

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Cite, o arguto leitor e a arguta leitora, quais eram as ideias do ex-futuro partido de Marina Silva, assim, de cabeça.

Tempo! Ficou difìcil, caríssimos?

Pois é, por isso é uma farsa.

Marina não é uma afirmação, não é um projeto político.

Nem mesmo um projeto político montado em torno de uma pessoa, como se poderia, até incorretamente, dizer que foi o PT em torno de Lula ou o PDT com Brizola.

Marina é uma negação: a negação da política, dos partidos, um messianismo sui generis, destes em que o papel do Messias é ser um nada, um ausente, um personagem cuja finalidade é tentar ser presidente para que outros não sejam.

Apenas isso.

Marina representa apenas a parcela da população que crê que o Estado é um mal e que uma nação é apenas um amontoado de interesses paroquiais.

Montam-se partidos com facilidade, e por isso há 32 deles no Brasil.

Montam-se, inclusive, muito mais por interesses e negócios que por ideologia, viu-se com o “Solidariedade” de Paulinho e outros que tais.

Ou por arranjos locais, como o PROS dos Gomes cearenses e do Garotinho fluminense.

Por que, então Marina não conseguiu montar o dela? Ou será que o “dote” de 19,3% dos votos nas eleições de 2010 não tornava “embarcar” no marinismo atraente eleitoralmente?

Por uma razão: Marina não disputa o poder, mas a notoriedade.

Não disputa o poder pelas razões que ao início se apontou: o de não ter um projeto de país, nem mesmo um projeto para o país.

Isso quer dizer que ela não tem representação social ou que não possa ou não deva concorrer a Presidência?

Não, absolutamente.

Marina representa uma parcela da elite brasileira que não consegue pensar além de seu próprio umbigo, que se sabe uma minoria e gosta disso.

Uma versão cult da “gente diferenciada”, que tem um “projeto social” tão vago e tolo quanto aquelas moças que diziam sonhar em ser “modelo-manequim”. E que tem vergonha de ser tucana, para não parecer o que é: direita.

Não tenha dúvida, caro amigo e cara amiga. Em colégios eleitorais como aqueles da foto das bruxas de Blair, dava Marina fácil.

Ela era, ali, uma espécie de bibelô bem arranjado, uma “bonne sauvage” educada, com seus lenços “style” à guisa de penachos. Um exotismo divertido.

Voto popular, mesmo, só entre os evangélicos.

Mas Marina era – e ainda pode ser – útil como candidata.

Desvia parcela da classe média que, com nariz torcido e resmungos, acabaria ficando com o povão e a política real e, com isso, facilita o único que a direita pode, neste momento, almejar: ir para o segundo turno.

Essa é a encruzilhada onde ela está.

Se for candidata por outro partido, depois de negar a todos, terá de despir os véus do “diferente”, se entregando a um arranjo eleitoral que, quando no Partido Verde, não era tão perceptível, embora fosse real e sua saída do PV, passadas as eleições, só o confirmou.

Se nao for candidata, numa eleição já desde o início plebiscitária, teria de ser força de apoio – o que dificilmente sua vaidade permitiria – ou ausência.

A conversinha de discriminação à Rede não colou, porque Marina enredou-se na própria arrogância e incompetência de não conseguir, objetiva e tempestivamente um apoiamento que, convenhamos, seria irrisório para quem dizia ter a preferência de um quarto do eleitorado brasileiro.

Hoje, mais tarde, saberemos para onde vai Marina.

Ou, afinal, já sabemos: para lugar nenhum além de seu próprio egocentrismo.