Temos Presidente

Por Luis Nassif

Os jornais enfatizam que Dilma Rousseff abandonou a ideia da Constituinte Exclusiva. É detalhe, e diz respeito apenas à forma e aos métodos. No que importa, Dilma teve sucesso no, até agora, mais ousado lance da sua trajetória como presidente: a proposta de reforma política vingou e ela assumiu a liderança. Mais: será feita com consulta popular, seja em qual forma for.

Nas redes sociais, o tema ganhou vida. Ganhou apoio nos demais poderes. Ontem mesmo, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa não apenas manifestou apoio à ideia, como lançou as suas propostas para discussão.

A proposta não apenas ganhou as redes sociais como os nomes jurídicos expressivos, com discordâncias pontuais quanto à forma.

Mede-se o homem público pela maneira como reage às crises. Sob pressão, Juscelino Kubitscheck tornava-se um gigante; Brizolla, um guerreiro; Jango um confuso; Jânio pirava; Sarney rezava para Nossa Senhora Aparecida e Collor entrava em depressão.

FHC tornava-se proativo, embora sempre na direção única e equivocada dos pacotes fiscais duríssimos, acentuando ainda mais a recessão.

Lula tornou-se um estadista apenas após  a grande crise do mensalão. Já Pedro Malan sumia, a cada crise cambial. E José Serra apequenava-se ante a menor crise que enfrentasse, de chuva forte a manifestação estudantil.

Com as reações às manifestações, com o diagnóstico feito e com a aposta na reforma política, Dilma mostra que a crise a faz crescer e a sair do imobilismo.

Há enormes desafios pela frente, a crise econômica mundial que mal bateu por aqui. Mas os últimos dias mostraram que temos presidente.  

Informações que devemos ter

Antes, porém, veja as oito dicas de Sidney Braga para não pagar mico em tempos de manifestações:

1- Não compartilhe o vídeo dos atores da Globo contra Belo Monte. Esse vídeo de 2011 está cheio de informações falsas. Inclusive alguns atores que gravaram o vídeo se arrependeram depois de descobrir que o que eles disseram não era bem assim.

2- Não diga que foram gastos 30 bilhões em estádios. Na verdade, foram gastos 7 bilhões, que é coisa pra caramba. Desses 7 bilhões, grande parte é emprestado pelo governo federal, mas a maior fatia será paga pela iniciativa privada. Os outros 23 bilhões foram investimentos em infraestrutura, transporte e aeroportos. Inclusive, o investimento em transporte é uma das reivindicações dos protestos.

3- Nunca peça pro governo gastar com saúde o mesmo que se gastou com estádio de futebol. Nos 7 anos de preparação para a Copa, foram gastos aproximadamente 7 bilhões com estádios. Neste mesmo período, foram gastos mais de 500 bilhões com saúde. Então se vc fizer isso, na prática vc ta pedindo pra reduzir consideravelmente os gastos com saúde. Gastos com saúde nunca são demais. Então cuidado pra não pedir a coisa errada.

4- Não peça a um presidente pra garantir que algum político seja preso. Isso é papel do poder Judiciário. O manifesto deve ser endereçado a este poder.

5- Não peça a um presidente pra impedir a votação de uma lei ou PEC. Isso é prerrogativa do Congresso. O manifesto deve ser endereçado aos parlamentares.

6- Não peça a um presidente pra cassar o mandato de algum deputado ou senador. Isso é papel das casas legislativas. Está escrito no artigo 55 da Constituição Federal.

7- Nunca peça pra fechar o Congresso e acabar com os partidos. O último presidente que fez isso foi um Marechal. Tal ato aconteceu em 1968 e foi nada menos do que o temido AI-5 da ditadura.

8- Não compartilhe aquelas informações falsas sobre o auxílio reclusão. O auxílio reclusão é um benefício pago à família do detento que contribuiu com o INSS, logo ele está recebendo um valor pelo qual já pagou anteriormente. O detento deve ser punido, não sua família.

Vão aqui agora outras informações que devemos ter:

O Movimento do Passe Livre não sabe que existe um projeto de reforma política que tramita no Congresso há 25 anos. Os deputados não querem e não vão votar porque não é do interesse deles.

O MPL não sabe também que em 2009 Lula encaminhou projeto para o Congresso para fazer as reformas, inclusive a política, que eles pediram nas manifestações. O Congresso votou contra, inclusive com participação do PSDB e DEM.

O MPL não sabe que a imprensa brasileira, a Globo à frente, também não tem nenhum interesse em que essa reforma seja votada. As campanhas políticas se tornaram muito caras e quem financia são os grandes grupos financeiros, como bancos, empreiteiras, etc, com total apoio da mídia. Aí está o terreno mais propício para a corrupção dos políticos. O MPL não sabe que os partidos de esquerda, entre os quais o PT, há muito tempo desejam acabar com o financiamento de campanhas políticas. Os partidos de esquerda querem o financiamento público com acompanhamento da população, mas quem tem interesse nisso?

A proposta da presidenta Dilma sobre os 100% dos royalties do petróleo para a educação também é fundamental. É decisiva para uma revolução social e tecnológica no Brasil. Mas vale recordar que Dilma já tinha encaminhado para o Congresso (antes das manifestações), mas os governadores se opuseram e orientaram suas bancadas a votar contra. Os deputados votaram contra. O PSDB, o DEM e o PPS acabaram de fazer um manifesto contra a proposta de Dilma.

O Senado já aprovou a reforma proposta pelo governo de ter financiamento público nas campanhas políticas e outras medidas, mas a maioria da Câmara se recusa a votar qualquer reforma política.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que a proposta de plebiscito e constituinte é autoritária. Pelo visto ele acha que chamar o povo para participar é uma medida autoritária. Típico do PSDB, contra tudo que o povo participe.

Agora veja essa pérola. Em 1998, FHC defendeu a instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte restrita, que funcionaria a partir de 1999, para discutir três temas: reformas tributária, política e do Judiciário. Quer conferir? Clique aqui http://www.dpnet.com.br/anteriores/1998/04/17/brasil1_0.html

Hoje, todos os partidos de oposição, liderados por Aécio estão contra o plebiscito proposto por Dilma. Por que será?

Tudo isso e mais não é divulgado. O que não é divulgado pela grande (?) imprensa o povo não toma conhecimento.

Precisamos de manifestações? Claro que sim. Mas precisamos de manifestações com um mínimo de conhecimento de como as coisas são na verdade.

Está na hora de a sociedade brasileira conhecer melhor a sua imprensa. Escreva aí: A IMPRENSA VAI FAZER DE TUDO (JÁ ESTÁ) PARA QUE ESSE PLEBISCITO NÃO ACONTEÇA. Nunca lhe interessou o povo nas ruas. O risco é enorme para ela. Interessou agora por uma única razão: ela trabalhou para criar um caos achando que assim conseguiria derrubar Dilma Rousseff. Daqui em diante, observe como ela, a imprensa, vai agir.

A Globo sem maquiagem

Ainda muito jovem, em março de 1964, vi nas ruas da minha querida Salvador tropas do Exército Brasileiro batendo, atropelando com cavalos e prendendo as pessoas.

Você faz ideia do que é um garoto, aos treze anos de idade, ver o exército do seu país, que tem como uma das suas funções, proteger e defender a nação brasileira, batendo no seu povo? Você faz ideia do que cenas desse tipo podem provocar na cabeça de um garoto com treze anos de idade?

O garoto viu nos dias seguintes nas bancas de jornal e principalmente na televisão, que começava a ganhar grande espaço no imaginário da população, comentários, declarações, manchetes, todas dando as boas vindas ao novo regime que a partir dali se instalaria no país.

Mesmo para um garoto que nessa idade não entende o significado de tudo isso, nas bancas de jornal uma manchete chamara a atenção, talvez pelas letras garrafais. Na primeira página do jornal O Globo, de 02 de abril de 1964, estava o seu editorial, com o título: RESSURGE A DEMOCRACIA.

Ele acabara de aprender na escola que “a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Agora via, com uma clareza assustadora, a realidade que negava os livros: o governo não era do povo, não era exercido pelo povo e muito menos para o povo.

Alguns poucos anos depois começou a entender que o que já tinha se transformado no Sistema Globo de Comunicação, Rede Globo, não apoiava as manifestações populares. Não só ajudara a repressão feita com os cassetetes, cavalos, bombas e tanques de guerra nas ruas das principais cidades do Brasil, como agora exultava no seu editorial. As manifestações populares eram reprimidas sob os aplausos da Globo e, pior ainda, com a sua ajuda.

Estamos agora na década de 1980, quando as manifestações populares voltaram a ganhar força e surge o movimento Diretas Já, provavelmente o momento mais bonito da história política brasileira contemporânea. As manifestações do Diretas Já tomaram conta de todo o país. O povo nas ruas, pessoas chorando de emoção pela força e beleza daquele momento. Todo o Brasil unido.

Perdão, me entusiasmei demais, não era todo o Brasil; a Rede Globo estava contra. Escondeu, abafou manipulou, distorceu, fez tudo ao seu alcance para matar um movimento popular jamais visto no Brasil. Chegou ao ápice da manipulação quando Marcos Hummel (hoje na Record) disse no Jornal Nacional (o mesmo jornal que você assiste todos os dias), “um dia de festa em São Paulo, a cidade comemorou seus 430 anos com mais de quinhentas solenidades, a maior foi um comício na Praça da Sé”. Sabe que comício foi esse? O da campanha Diretas Já. Como não podia esconder um evento daquela importância e tamanho, a Rede Globo tentou transformar a manifestação popular mais importante da história do Brasil em uma comemoração pelo “aniversário da cidade de São Paulo” (veja o primeiro vídeo abaixo).

Veja o que disse Ali Kamel, o hoje todo poderoso diretor de jornalismo da Globo:

“A Globo registrou esses comícios pelas Diretas nos seus telejornais locais. Naquele primeiro momento, as manifestações não entraram nos noticiários de rede por decisão de Roberto Marinho.”

O próprio Ernesto Paglia (você vai ver no vídeo que foi o repórter – até hoje na Globo – que fez a reportagem) teria admitido em alto e bom som, no meio da redação, que Kamel havia pesquisado e levantado um VT não exibido do arquivo. “Perguntei ao Paglia porque ele não desfazia este mal entendido, então. Ele respondeu candidamente: “Há certas coisas que é melhor a gente não mexer.” Mas, Paglia, é a história do Brasil, disse estupefato. Anos depois, encontrei na TV Record o Valdir Zwetsch que confirmou: “o VT foi gerado para o Rio, mas o JN naquela noite optou por exibir uma nota coberta informando apenas tratar-se de festejos do aniversário de São Paulo.”

A Rede Globo mostrava outra vez a aquele garoto, agora adulto, que era contra as manifestações populares.

Em 1989 a Globo e a Veja fabricaram o Caçador de Marajás, Fernando Collor de Mello que, depois de manipulações da Globo (conhecidas há muito tempo e recentemente reconhecidas oficialmente por Boni, o todo poderoso da Globo na época), foi eleito presidente do Brasil, tomando posse em 1990.

Já em 1992, ocorreu o seu impeachment. Durante esse processo, surgiu o movimento dos caras pintadas, jovens que foram as ruas com os rostos pintados para se manifestar pela saída de Collor. Nem de longe se parecia com o Diretas Já, mas foi um movimento muito interessante.

Não houve confusão, incêndios, depredações, invasões, ninguém falando “foda-se o Brasil”, agressões de membros das manifestações a outros membros das próprias manifestações, nada disso. Os jovens tinham uma bandeira pela qual lutar. Se fossem perguntados porque estavam ali tinham a resposta pronta, porque de fato sabiam porque estavam ali. As bandeiras de todos os partidos estavam em todas as manifestações.

Quem não estava presente? A Globo. Ficou até o final ao lado do seu caçador de marajás. A Globo, mais uma vez, estava contra o povo e a favor dos seus interesses particulares. Mais uma vez tentou abafar as manifestações popu
lares e mais uma vez também mostrava ao agora adulto, outrora aquele garoto, que ela abominava as manifestações populares.

Movimento do Passe Livre (MPL), 2013. Estudantes vão às ruas para se manifestarem contra o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus em São Paulo.

No início repreendida pela força policial da forma costumeira, com violência desproporcional, houve reação e as manifestações se tornaram também violentas. A tradicional mídia brasileira (Folha, Estadão, Veja), tendo à frente a Globo chamou os “garotos” de tudo, ‘terroristas’, ‘baderneiros’, ‘vândalos’, ‘vagabundos’ e ‘remelentos’ (um artigo no site da Veja sugeriu passar ‘fogo neles’).

Um dos seus mais violentos comentaristas, o pobre Arnaldo Jabor, o homem que sabe tudo de nada, partiu pra cima dos manifestantes, chamando-os de tudo e dizendo que não valiam 20 centavos. Foi quando a Globo percebeu que podia tirar muito proveito daquele cenário. Então, em um dos episódios mais ridículos e vergonhosos da televisão brasileira, o pobre arnaldo jabor foi obrigado a engolir as palavras e pedir desculpas. Ali ficara claro; a Globo ia “entrar” nas manifestações.

Dito e feito, a Globo entrou. E quando ela entra, nada mais é autêntico.

A maior parte dos manifestantes, os que conhecem muito bem o que é a Globo, repudiaram de imediato a sua presença. TODAS as suas equipes de reportagem foram expulsas das manifestações e ela chegou ao ponto de retirar os repórteres conhecidos e usar somente aqueles desconhecidos do público, com um detalhe; sem a logomarca da emissora nos microfones. Ali estava a demonstração mais clara que se podia ter do total repúdio de quem sabe o que ela é. A essa altura, entretanto, “outros” jovens e pacíficos manifestantes (skinheads, encapuzados, policiais disfarçados…) já faziam parte das manifestações. Do futebol (até Galvão Bueno, com a sua costumeira espontaneidade) às novelas, nada ficou sem espaço na programação da emissora para a exibição das manifestações “pacíficas e ordeiras” daqueles jovens tão interessados em corrigir os rumos do país.

A Rede Globo, que sempre esteve contra todas as manifestações populares, agora está comandando uma “manifestação popular”.

A Globo está apostando no caos.

Obs. Além do Cidadão Kane é um documentário produzido pela BBC de Londres – proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial – que trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro. É um pouco longo para quem não está acostumado com documentários, mas vale a pena ver. Voce pode ve-lo no segundo vídeo.

[[youtube?id=y3JzlliVQgg]]

 

[[youtube?id=NXG_ln62zvU]] 

A Rede Globo, que apoiou a ação policial contra os estudantes, agora tenta "conduzir" as manifestações

Sai a patente, entra o genérico
 
Por Marco Piva*
 
A atual onda de protestos por todo o país ainda vai render teses e mais teses durante longos anos. Para a academia, será um prato cheio. Já para os partidos políticos, não sei se terão esse tempo para refletir e se atualizar. As manifestações iniciadas timidamente por uma parcela da juventude organizada da esquerda radical em torno do aumento da tarifa do transporte público ganhou projeção nacional e internacional quando aconteceram duas coisas simultâneas: 1) a violência desproporcional da repressão policial de São Paulo; e 2) a mudança de posição da grande imprensa em relação ao movimento. Foram ações rápidas, que hoje se tornam quase imperceptíveis por conta da dimensão que os protestos alcançaram, mas que não podem ser desprezadas.
 
No segundo protesto em São Paulo, o Estadão pediu, em editorial, o rigor da repressão da polícia contra os manifestantes e o comentarista das Organizações Globo, Arnaldo Jabor, vociferou contra os “vândalos”. Um dia após a PM paulista cumprir o que havia sido pedido pela imprensa e pela parcela conservadora da sociedade, veio a contraordem na mídia, certamente impulsionada pela análise de conjuntura realizada às pressas num edifício luxuoso de Higienópolis. Sem violência e todo apoio aos protestos foram o resultado desse encontro. A coisa virou da água para o vinho – ou vinagre, como queiram.
 
Nesse ponto de inflexão ganham destaque nas manifestações as palavras de ordem genéricas, mas com objetivos muito específicos: “contra a PEC 37”, “abaixo a corrupção”, “contra os gastos públicos na Copa”, “fora Dilma e o PT” etc. Para uma multidão legitimamente interessada em mostrar sua “força”, nada melhor do que ser transformada em personagem de uma novela que só a televisão pode promover da noite para o dia. É esse o sentido do mea-culpa de Jabor e o espaço que a grande imprensa passou a adotar editorialmente a partir do terceiro protesto.
 
Os partidos foram pegos de surpresa – todos eles – e é nesse vazio de representação institucional que a mídia cumpre seu papel de facção política sob o pretexto de “informar” o que está acontecendo no país. É como se acabasse o registro da patente e no lugar entrasse o genérico. Debate sério mesmo sobre as causas e consequências dos protestos, nem de longe, com a honrosa exceção do programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Daí que o mote aprovado em Higienópolis pegou rápido: “Não são só os 20 centavos!”.
 
Claro que não! Agora a situação é séria. As palavras de ordem se multiplicam com endereço certo: os governos e os legislativos. Ora, qual partido detem hoje boa parte da hegemonia política no país? Bingo! A multidão de brasileiros indignados caiu de graça no colo dos protofascistas que, na ausência de capacidade para organizar a população e confrontar a esquerda, faz uma “barriga de aluguel” convenientemente apolítica e nacionalista.
 
Paralelamente, a demora do prefeito Fernando Haddad em reduzir a tarifa é sintomática da surdez crônica que se abateu sobre diversas lideranças petistas que, ao assumirem o controle administrativo de governos e planilhas, creem que isso é suficiente para a implementação das mudanças que o Brasil ainda precisa fazer se quiser seguir o caminho iniciado em 2002 com a eleição de Lula. Acomodação não é boa companheira em nada que se faz na vida, por isso muitos casamentos acabam. No caso, a incompreensão da direção nacional do PT, que tardou em se manifestar, provocou um divórcio com as massas, hoje magnetizadas por uma comunicação de novo tipo. Pode ser um rompimento passageiro, mas o reatamento conjugal exige ações imediatas e sinceras.
 
A primeira delas é a disputa do sentido político dos protestos. Como fazer isso sem estar presente? Se é impossível levantar uma bandeira de partido entre os manifestantes, que se levantem as vozes com palavras de ordem que sejam coerentes e façam coro com o sentimento criado nas ruas. Um movimento que não tem liderança nem organização é palco para tudo e é palco para nada. O alívio em ver parte das pessoas voltando para casa depois da redução forçada do aumento das tarifas não deve supor que as coisas vão se acalmar e que tudo seguirá como antes. Pelo contrário! A oposição protofascista saiu da retaguarda e quer conquistar a vanguarda da indignação nacional contra tudo e contra todos, considerando que estrategicamente esse é o melhor momento para ela nos últimos doze anos. Por isso, vai insistir pelo seu braço de convocatória, que é a televisão, a reprodução à exaustão dos protestos e de suas palavras de ordem. Cantando o hino nacional e pondo a bandeira do Brasil nas costas, com foco editado nos cartazes, é mamão com açúcar.
&n
bsp;
A segunda ação é a disputa da internet onde já se nota claramente um terreno fértil para a disseminação de “nós de rede” ligados à direita, de acordo com levantamento da empresa Interagentes, citado no Blog do Rovai. Se na primeira manifestação prevalecia as convocatórias do Movimento Passe Livre, hoje a situação está mudando rapidamente com predomínio de conexões que buscam ligar os protestos a ações de combate e, se possível, destituição de Dilma Roussef. Um exemplo é a convocatória de greve geral para o próximo dia 26. No artigo “É hora de defender o Movimento Passe Livre”, publicado originalmente no site Viomundo, os professores Lincoln Secco e Antonio David afirmam: “As redes sociais permitem que indivíduos falem diretamente entre si sem a mediação de organizações, salvo o mercado virtual. Pessoas assim podem partir para a ação e expor ingenuamente os seus preconceitos e sua ‘coragem’ (sic) escondida no anonimato da rede”. Nas ruas, a televisão faz o resto.
 
Portanto, não estamos apenas diante de um fenômeno tecnológico que permite a mobilização instantânea de multidões sob o manto de uma indignação que até ontem não existia ou estava tão bem guardada que ninguém notou. Na prática, estamos diante do mesmo desafio histórico de sempre: a disputa política que cobra seu preço pela letargia comodista da esquerda em acreditar que chegar ao governo é chegar ao poder.
 

* Marco Piva é jornalista e seu filho de 16 anos participou da quinta manifestação (11/6). Diz o filho dele que não irá mais se a palavra de ordem é derrubar o governo do PT. 

Porque Aécio não conta a verdade sobre as tarifas de ônibus?

Por Laercio Reis Sousa
 
Senador critica mas não informa que comanda o lobby nacional das tarifas das empresas de ônibus municipal, intermunicipal e interestadual
 
O Senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, utilizou uma rede social para afirmar: “São brasileiros de diversas partes do país se mobilizando, entre outras questões, contra o aumento de passagens, contra a baixa qualidade dos serviços públicos, de transporte”.
 
Evidente que é precisa e louvável a análise de Aécio esquecendo-se apenas de informar que sua carreira política sempre foi financiada pelos concessionários de ônibus, patrimônio herdado de seu pai que igualmente foi desde a década de 60, defensor dos interesses dos concessionários de ônibus.
 
No congresso nacional Aécio sempre defendeu os interesses das empresas de ônibus mantendo paralisado quando presidente da Câmara dos Deputados todos os projetos que visavam modernizar e moralizar o setor. Sendo inclusive sua a iniciativa para prorrogação sem licitação das concessões de linhas interestaduais e internacionais.
 
Foram durante os oito anos que Aécio governou Minas e os três de seu sucessor Anastasia que os concessionários de transporte de passageiros metropolitanos e interestadual conseguiram as maiores tarifas de sua história sem que fosse feito qualquer investimento que a justifica-se. A frota da região metropolitana de BH está ai para atestar tal descaso.
 
O senador também não informou que por sua orientação as linhas metropolitanas e intermunicipais permanecem entregues a seis famílias através de uma simulada e fraudada licitação que já poderia ter sido anulada pelo MP se o processo não estivesse dormindo no TJMG, assim como o sindicato dos concessionários ganhou o direito de explorar e operar a bilhetagem eletrônica da RMBH sem que igualmente qualquer certame licitatório ocorresse.
 
Com certeza apostando no esquecimento da população esconde que seu financiador e vice-governador em 2002 foi Clesio Andrade, concessionário de ônibus, hoje senador e presidente da CNT Confederação Nacional do Transporte, envolvido nos maiores escândalos de corrupção do País.
 
A participação do senador Aécio Neves na defesa dos concessionários de ônibus é tão grande que na aliança celebrada entre o PSDB e PSB para eleger Marcio Lacerda ficou reservado para seu grupo a gestão da BHtrans, empresa municipal que sabidamente defende e representa os interesses dos concessionários de ônibus da capital mineira.
 
Quem fixa a tarifa, regulamenta e fiscaliza a qualidade do transporte de passageiros em Minas Gerais e o DER-MG autarquia do governo de Minas e na capital mineira o BHtrans, ambos administrados por integrantes do PSDB, escolhidos a dedo por Aécio Neves.
 
Se o senador quer contribuir para melhoria da qualidade assim como uma menor tarifa porque seu prefeito Marcio Lacerda e seu governador Antonio Anastasia não fazem o que o prefeito de São Paulo Fernando Haddad fez;
 
"Abrir a caixa preta da planilha que calcula a tarifa do transporte de passageiros. Haddad lembrou que, no custo da tarifa paulistana, o empresário entra com 10%, o poder público com 20% e o passageiro com 70%".
 
E agora Senador? 

Não podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés

O que queremos?

Por Paulo Motoryncolaborador da Revista Vaidapé, estudante de Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).

Desde o ato da última quinta-feira contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre: a instrumentalização do povo.

A evidente mudança de postura da imprensa em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso porque nos últimos dias imperou o comentário: “Agora até a grande mídia defende as manifestações”. Como se isso fosse algo positivo.

Por um lado, a máxima “não é só pelos 20 centavos” conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas. Por outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política em São Paulo?

É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais.

Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.

Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade…Falácia.

É evidente que essas questões também são importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.

O grito dos jovens está longe de bradar contra os “mensaleiros”, contra a inflação, contra as políticas sociais de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de saber lidar com uma ameaça feroz: a direitização.

O aparelho midiático que serve a esses interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer seu recado ser entendido.

Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.

O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.

Vamos à luta!

A imprensa jogou lenha na fogueira, recuou e agora quer tirar proveito

Não há outra expressão, a imprensa jogou lenha na fogueira. O grupo de sempre. Editoriais da Folha e Estadão incitaram a violência.

Na revista Veja, os manifestantes foram chamados de ‘terroristas’, ‘baderneiros’, ‘vândalos’, ‘vagabundos’ e ‘remelentos’ —  e um artigo no site da revista sugere passar ‘fogo neles’. Segundo o jornalista Paulo Nogueira, se a percepção de “terrorismo” se consagra estará justificado o assassinato dos manifestantes.

A Globo, como sempre, criando e repercutindo as notícias destacando a necessidade da ação policial para reprimir as manifestações. Agora, porém, recuou e está, também como sempre, tentando reverter o significado das manifestações e direciona-los contra o PT. Na segunda matéria abaixo (do iG), o comandante da PM de São Paulo, Benedito Meira, pediu “que incluíssem na pauta de protestos pedido de prisão dos condenados do processo de Mensalão”. O comandante da Polícia Militar de um estado recebe ordens de quem? Do governador. Quem é o governador de São Paulo? Geraldo Alckmin (PSDB).

É natural que ela não divulgue, mas todas as equipes da Globo estão sendo expulsas das manifestações. Até Caco Barcelos, por sinal um bom e digno jornalista, foi expulso hoje em São Paulo. A repórter da Globo que está na Avenida Rio Branco cobrindo a manifestação no Rio de Janeiro está usando um microfone sem a logo da emissora. Estão se escondendo. Veja abaixo (no final dos dois textos) o vídeo da expulsão de uma das equipes da Globo.

É possível encontrar maior incitação à violência do que nesse editorial da Folha de 13/06/2013?

Retomar a Paulista

Editorial da Folha Folha Editorial – Retomar a paulista

Oito policiais militares e um número desconhecido de manifestantes feridos, 87 ônibus danificados, R$ 100 mil de prejuízos em estações de metrô e milhões de paulistanos reféns do trânsito. Eis o saldo do terceiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que se vangloria de parar São Paulo –e chega perto demais de consegui-lo.

Sua reivindicação de reverter o aumento da tarifa de ônibus e metrô de R$ 3 para R$ 3,20 –abaixo da inflação, é útil assinalar– não passa de pretexto, e dos mais vis. São jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária, que buscam tirar proveito da compreensível irritação geral com o preço pago para viajar em ônibus e trens superlotados.

Pior que isso, só o declarado objetivo central do grupelho: transporte público de graça. O irrealismo da bandeira já trai a intenção oculta de vandalizar equipamentos públicos e o que se toma por símbolos do poder capitalista. O que vidraças de agências bancárias têm a ver com ônibus?

Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes justificam a violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que acusam de reprimir o direito constitucional de manifestação. Demonstram, com isso, a ignorância de um preceito básico do convívio democrático: cabe ao poder público impor regras e limites ao exercício de direitos por grupos e pessoas quando há conflito entre prerrogativas.

O direito de manifestação é sagrado, mas não está acima da liberdade de ir e vir –menos ainda quando o primeiro é reclamado por poucos milhares de manifestantes e a segunda é negada a milhões.

Cientes de sua condição marginal e sectária, os militantes lançam mão de expediente consagrado pelo oportunismo corporativista: marcar protestos em horário de pico de trânsito na avenida Paulista, artéria vital da cidade. Sua estratégia para atrair a atenção pública é prejudic
ar o número máximo de pessoas.

É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e Polícia Militar precisam fazer valer as restrições já existentes para protestos na avenida Paulista, em cujas imediações estão sete grandes hospitais.

Não basta, porém, exigir que organizadores informem à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), 30 dias antes, o local da manifestação. A depender de horário e número previsto de participantes, o poder público deveria vetar as potencialmente mais perturbadoras e indicar locais alternativos.

No que toca ao vandalismo, só há um meio de combatê-lo: a força da lei. Cumpre investigar, identificar e processar os responsáveis. Como em toda forma de criminalidade, aqui também a impunidade é o maior incentivo à reincidência.

Do iG

Comandante-geral da PM pede protesto contra mensalão

Ao iG, dois participantes da reunião da SSP com o MPL relatam que Benedito Meira sugeriu incluir na manifestação de hoje pedido de prisão dos condenados no processo do Mensalão

Por Ricardo Galhardo, iG São Paulo | 17/06/2013 13:47:58 – Atualizada às 17/06/2013 15:55:25

O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Benedito Roberto Meira, sugeriu aos representantes do Movimento Passe Livre (MPL) que incluíssem na pauta de protestos pedido de prisão dos condenados do processo de Mensalão, segundo relato ao iG de dois participantes da reunião.

Segundo participantes da reunião, Meira teria dito que foi um erro da polícia (ação da Tropa de Choque), que é a favor das manifestações não só pelas passagens, mas que tem muita coisa errada, como os mensaleiros. Ainda conforme os relatos, os representates do MPL, ignoraram a sugestão do coronel, que foi interpretada como uma tentativa de politizar a manifestação.

Por volta das 14h50, o iG foi procurado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) para dar esclarecimentos. Segundo o órgão, Meira falou: "Eu não estou aqui para discutir o mérito da manifestação. Gostaria que vocês fizessem outras manifestações como, por exemplo, contra a impunidade e pela prisão dos mensaleiros". Ele fez a afirmação como cidadão, segundo a SSP, a fala pessoal não reflete a posição do governo do Estado.

"Ele queria demarcar uma posição", explicou Mayara Vivian uma das representantes do MPL, que também participou do encontro. Manifestantes rejeitaram também todos os pedidos feitos pelo secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella.

Vídeo: Veja imagens e personagens do confronto de quinta-feira em São Paulo

O secretário abriu a reunião em tom amistoso, reiterando a proibição de uso de balas de borracha durante o protesto e em seguida fez alguns apelos. "Ninguém aqui vai fazer nenhuma imposição, são apenas sugestões", disse o secretário segundo os participantes do encontro.

Em seguida, pediu que o trajeto fosse informado às autoridades, o que foi recusado pelos manifestantes. Eles disseram que vão informar o percurso momentos antes do ato. Depois, o secretário pediu que os manifestantes orientassem os integrantes do movimento a usar camisas brancas, para que a polícia pudesse identificar mais facilmente quem estava participando.

Grella também sugeriu que fosse proibido o uso de máscaras. Ambos os pedidos foram categoricamente recusados pelos manifestantes do MPL. Além da cúpula da segurança no Estado de São Paulo e das lideranças do MPL, participaram da reuniã
o integrantes de outros movimentos sociais como a Central de Movimentos Populares (CMP), Resistência Urbana, Pastoral dos Povos da Rua, Educafro.

[[youtube?id=frMP4hAzmtI#!]]  

Arnaldo Jabor

Conheci Arnaldo Jabor como diretor de cinema em filmes como “Toda Nudez será castigada” e “Eu sei que vou te amar”, dos quais lembro bem do primeiro. Adaptado da peça com o mesmo título de Nelson Rodrigues, contava com nomes consagrados como Darlene Glória, Paulo Porto, Paulo César Peréio e Hugo Carvana à frente do elenco.

O filme faz um relato da hipocrisia da classe média decadente. Com grandes interpretações, particularmente de Darlene Glória e Paulo Porto (ambos ganharam prêmios), sem dúvida o filme se apoia muito na força dos textos de Nelson Rodrigues.

Não sendo um cineasta de primeira linha e grande expressão (há no Brasil outros bem melhores), Jabor oscilou entre alguns poucos bons filmes e filmes fracos.

O destino, porém, não muito raramente é cruel. Acho que assim foi com ele.

O belíssimo filme italiano “A vida é bela”, dirigido por Roberto Benigni, que também foi o ator principal, foi indicado a vários prêmios internacionais, ganhando vários deles. Culminou com a indicação para o Oscar (1999) de melhor filme, melhor filme em língua estrangeira (ganhou), melhor diretor, melhor ator (ganhou), melhor roteiro original, melhor edição e trilha sonora original (ganhou).

Faço algumas restrições às premiações de um modo geral, mas foi muito triste e decepcionante (estou falando de 1999) ver Arnaldo Jabor falando da premiação e principalmente de Benigni, chamando-o inclusive de pobre coitado e idiota. Fiquei chocado. Além das indicações e prêmios já citados para o Oscar, o filme era sim um belo filme, como também muito boas a atuação e direção de Benigni.

Negar a inteligência de Arnaldo Jabor? Não. Mas, ali se manifestavam mais claramente o rancor, a inveja e a amargura de um homem. Ali se manifestava não mais o Arnaldo Jabor cineasta que tentara mostrar, bem ou mal, a sua visão da sociedade, pelo menos de um segmento dela, a classe média, como ele, Jabor, a via; decadente.

Negar a inteligência de Arnaldo Jabor? Não. Mas também não há como negar a sua estupidez.

Um dos maiores pensadores da raça humana, Nietzsche diz que “há limites para a inteligência humana, para a estupidez não”. Jabor é a confirmação do pensamento de Nietzsche.

Sentimentos opostos existem e muitas vezes se digladiam em uma mesma pessoa. Assim acontece com o amor e o ódio. Assim também acontece com a inteligência e a estupidez.

Arnaldo Jabor é talvez o maior exemplo do cara que sabe tudo de nada, ou, se você preferir, sabe nada de tudo. Tornou-se um mestre na arte da dissimulação grosseira, de baixo nível, ainda que disfarçada de intelectualidade. Sabe dizer como poucos, e aí entra a sua inteligência, o que as pessoas para as quais ele é pago para falar querem ouvir. Geralmente o seu público possui inteligência bem abaixo da dele e esse é o seu palco perfeito, onde é um grande ator.

Homens como ele se vêem tão inteligentes, tão superiores, que não distinguem os dois estágios pelos quais passam: quando falam bobagens porque precisam falar e quando falam bobagens porque, já incorporadas neles, passam a ser verdades também para eles. É aí que entra a estupidez incapaz de reconhecer os seus próprios limites, razão pela qual supera a inteligência.

É triste ver um homem pelo qual se teve, se não admiração, pelo menos algum respeito por imagina-lo diferente. É bem possível que essa seja a sensação experimentada por muitas pessoas que, como eu, viam em Arnaldo Jabor um homem inteligente, consciente do papel que lhe reservara a história; o de alguém que seria importante para a construção de uma sociedade consciente, justa e digna, não aquela decadente que ele tentou mostrar nos seus filmes. O projeto de Homem não foi adiante. Ficou no protótipo arnaldo jabor.

O protótipo arnaldo jabor é hoje personagem importante da elite decadente que tanto criticou. Como diz Claudia Ricken (veja o vídeo abaixo), arnaldo jabor é uma caricatura de mau gosto de si mesmo.

 

[[youtube?id=oqAOz47xRAE]]

Para quem ainda acredita em Joaquim Barbosa (e em outros)

Há um ditado popular que diz que o pior cego é aquele que não quer ver.

Há doze anos (correspondentes a dez do governo Lula e dois do governo Dilma) que a nossa grande (?) imprensa bombardeia a população brasileira com notícias catastróficas.

Se as diversas crises anunciadas tivessem acontecido, sob todos os aspectos o Brasil seria hoje um dos piores países do mundo.

Lembra quando, pela primeira vez na história do mundo, o presidente de um país foi responsabilizado pela queda de um avião? Não lembra? Foi quando o avião da TAM caiu em Congonhas. As manchetes mostraram durante semanas seguidas que o presidente Lula era o grande culpado (meu Deus, um presidente da república culpado por um acidente de avião). A nossa grande (?) imprensa, a nossa elite e o PSDB, DEM, PPS… babavam sangue após seguidas mordidas na jugular da população.

Lembra da febre amarela que, segundo a imprensa, estava se alastrando pelo Brasil? Lembra que por causa do terrorismo da imprensa pessoas morreram por tomarem um reforço absolutamente desnecessário da vacina?

Apagão, ENEM que não ia funcionar (agora já são mais de 11 milhões de inscritos), Bolsa Família que ia acabar. Diante da inflação descontrolada, claro que segundo a imprensa, foi comovente, levou-me às lágrimas, Ana Maria Braga com um colar de tomates pendurado no pescoço, numa demonstração da sua eterna preocupação com a dor e o sofrimento do povo, para, no outro dia, o preço do tomate despencar. Preocupa-me ela ter que usar uma melancia pendurada diante de um eventual aumento de preço.

Vamos fazer de conta que não sabemos que ao invés de dever ao FMI (no governo FHC, o país quebrou 3 vezes, recorrendo ao FMI; em uma delas, se não fosse Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos, não conseguiria), o Brasil empresta dinheiro a ele. Só para reforçar também, o Brasil hoje é a sexta maior economia do mundo, com previsão de se transformar na quinta economia em futuro breve. Permita só mais uma lembrancinha: O BRASIL POSSUI HOJE A MENOR TAXA DE DESEMPREGO DO MUNDO.

E o mensalão do PT, que teria acontecido em 2005? Programado com relógio suíço para coincidir com as eleições do ano passado, a imprensa saiu derrotada e frustrada, pois em nada repercutiu nas eleições, particularmente naquela que mais preocupava; a de São Paulo. Fernando Haddad (PT) foi eleito.

É sempre bom lembrar que o mensalão do PSDB, que data de 1998 e estava na frente do PT (2005) na pauta de julgamento do STF, até hoje não foi julgado, e parece que não vai ser. Só mais 2 detalhes: além de ter sido bastante alterado pelo STF no desmembramento que sofreu caso venha a ser julgado, a grande (?) imprensa não fala dele.

Essas e outras informações estão todas disponíveis, basta querer ver. Entretanto, precisamos entender que ver é querer. Só vemos o que queremos. Fernando Pessoa diz que “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Gosto muito do ditado popular “o pior cego é aquele que não quer ver”, mas gosto mais ainda da frase de um escritor português, Eça de Queiroz: “Ou é má fé cínica ou obtusidade córnea”.

Quem esteve todo o tempo manipulando tudo para que as coisas ocorressem desse jeito? Já falamos muito sobre isso, mas veja detalhes mais recentes na matéria de Luis Nassif para o Jornal GGN. Abaixo estão apenas alguns trechos. Se quiser ver a matéria original completa clique aqui.

Procurador geral que livrou (Daniel) Dantas do mensalão ganhou contrato da Brasil Telecom

Do Jornal GGN

Em s
ua sabatina no Senado, o jurista Luiz Roberto Barroso  considerou
o julgamento do chamado mensalão “ponto fora da curva”.  Barroso é considerado o maior constitucionalista brasileira, unanimidade, saudado tanto pela direita quanto pela esquerda. Sua opinião foi corroborada pelo Ministro Marco Aurélio de Mello, um dos julgadores mais implacáveis.

Externou o que todo o meio jurídico comenta à boca pequena desde aquela época: foi um julgamento de exceção

O contrato de Antonio Fernando

Aparentemente, desde o começo, a prioridade dos Procuradores Gerais da República Antônio Fernando (que iniciou as investigações), de Roberto Gurgel (que deu prosseguimento) e do Ministro do STF Joaquim Barbosa (que relatou a ação) parece ter sido a de apagar os rastros do principal financiador do mensalão: o banqueiro Daniel Dantas. Inexplicavelmente, ele foi excluído do processo e seu caso remetido para um tribunal de primeira instância…

Responsável pelas investigações, o procurador geral Antônio Fernando de Souza tomou duas decisões que beneficiaram diretamente  Dantas. A primeira, a de ignorar um enorme conjunto de evidências e  excluir Dantas do inquérito – posição mantida por seu sucessor, Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa

Pouco depois de se aposentar, Antônio Fernando tornou-se sócio de um escritório de advocacia de Brasília – Antônio Fernando de Souza e Garcia de Souza Advogados -, que tem como principal contrato a administração da carteira de processos da Brasil Telecom, hoje Oi, um dos braços de Dantas no financiamento do mensalão. O contrato é o sonho de todo escritório de advocacia

Os sinais de Dantas

Qualquer jornalista que acompanhou os episódios, na época, sabia que a grande fonte de financiamento do chamado “valerioduto” eram as empresas de telefonia controladas por Dantas, a Brasil Telecom e a Telemig Celular. Reportagens da época comprovavam – com riqueza de detalhes – que a ida de Marcos Valério a Portugal, para negociar a Telemig com a Portugal Telecom, foi a mando de Dantas…

O valor de suas ações residia em um acordo “guarda-chuva”, firmado com fundos de pensão no governo FHC

Apesar de constar em inquérito da Polícia Federal – fato confirmado por policiais a Paulo Moreira Leite – jamais esse contrato de R$ 50 milhões fez parte da pe&c
cedil;a de acusação. Foi ignorado por Antônio Fernando, por seu sucessor Roberto Gurgel e pelo relator Ministro Joaquim Barbosa
. Ignorando-o, livrou Dantas do inquérito. Livrando-o, permitiu-lhe negociar sua saída da Brasil Telecom, ao preço de alguns bilhões de reais.

As gambiarras no inquérito

Havia comprovação de pagamento de mídia, especialmente a grandes veículos de comunicação, de eventos, mas tudo foi deixado de lado pelos PGRs e pelo relator Barbosa.

Em todos os sentidos, Gurgel foi um continuador da obra de Antonio Fernando. Pertencem ao mesmo grupo político – os “tuiuius” – que passou a controlar o Ministério Público Federal. Ambos mantiveram sob estrito controle todos os inquéritos envolvendo autoridades com foro privilegiado. Nas duas gestões, compartilhavam as decisões com uma única subprocuradora  – Cláudia Sampaio Marques, esposa de Gurgel. Dentre as acusações de engavetamento de inquéritos, há pelos menos dois episódios controvertidos, que jamais mereceram a atenção nem do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) nem da Associação Nacional dos Procuradores da República  (ANPR) – esta, também, dominada pelos “tuiuius”: os casos do ex-senador Demóstenes Torres e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.

Tanto na parte conduzida por Antonio Fernando, quanto na de Gurgel, todas as decisões pareceram ter como objetivo esconder o banqueiro.

É o caso da  “delação premiada” oferecida a Marcos Valério. O ponto central – proposto na negociação – seria imputar a Lula a iniciativa das negociações com a Portugal Telecom

…Mas, na verdade, na época, sua decisão  blindou Daniel Dantas, a quem Valério servia. Agora, na proposta de “delação” aceita por Gurgel não entrava Dantas – a salvo dos processos – mas apenas Lula.

O inquérito dá margem a muitas interpretaçòes, decisões, linhas de investigação. Mas como explicar que TODAS as decisões, todas as análises de provas tenham sido a favor do banqueiro?

Os motivos ainda não explicados

Com o te
mpo aparecerão os motivos efetivos que levaram o Procurador Geral Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa a endossar a posição de Antonio Fernando e se tornarem também avalistas  desse jogo
. 

Dantas não é apenas o banqueiro ambicioso, mas representa uma longa teia de interesses que passava pelo PT, sim, mas cujas ligações mais fortes são com o PSDB de Fernando Henrique e principalmente de José Serra. 

Uma disputa pelo poder não poderia expor Dantas, porque aí se revelaria a extensão de seus métodos e deixaria claro que práticas como as do mensalão fazem parte dos (péssimos) usos e costumes da política brasileira. E, se comprometesse também o principal partido da oposição (PSDB), como vencer a guerra pelo controle do Estado? Ou como justificar um julgamento de exceção.

Vem daí a impressionante blindagem proposta pela mídia e pela Justiça. É, também, o que pode explicar a postura de alguns Ministros do STF, endossando amplamente a mudança de conduta do órgão no julgamento. Outros se deixaram conduzir pelo espírito de manada. Nenhum deles engrandece o Supremo

É o que explica os contratos de Antonio Fernando com a Brasil Telecom jamais terem recebido a devida cobertura da mídia. Não foi denunciado pelo PT, para não expor ainda mais suas ligações com o banqueiro. Foi poupado pela mídia – que se alinhou pesadamente a Dantas. E foi blindado amplamente pela ala Serra dentro do PSDB.

De seu lado, todas as últimas atitudes de Gurgel de alguma forma  vão ao encontro dos interesses do banqueiro. Foi assim na tentativa de convencer Valério a envolver Lula nos negócios com a Portugal Telecom

…Mas é evidente que o resultado  maior foi  fortalecer as teses de Dantas junto ao STF, de que a Satiagraha não passou de um instrumento dos adversários comerciais. Foi um advogado de Dantas – o ex-Procurador Geral Aristisdes Junqueira – quem convenceu Gurgel a mudar de posição.

Com seu gesto, Gurgel coloca sob suspeitas os próprios procuradores que atuaram não apenas na Satiagraha como na Operação Chacal, que apurava envolvimento de Dantas com grampos ilegais… 

…Anamara Osório (procuradora da República que tocava a ação da Operação Chacal  na qual Dantas era acusado de espionagem) e Rodrigo De Grandis (

O pior escândalo (até agora) de Joaquim Barbosa

Já escrevi alguns textos aqui no site e postei outros de jornalistas sobre o que se atribui ao Supremo Tribunal Federal (STF) de irregularidades para condenar os réus da Ação Penal 470, que todos conhecem como mensalão. É possível que alguns não tenham acreditado em nada do que eu disse e entendo isso, mas todos os dias surgem evidências mostrando como a coisa vem sendo feita.
 
Joaquim Barbosa, “o menino pobre” que virou herói no Brasil não é nada do que se tem dito (veja o último texto (Coitado de Joaquim Barbosa 4). Notícias devidamente manipuladas e escondidas que não chegam ao conhecimento da população dão conta de que esse julgamento foi o pior momento do Supremo Tribunal Federal, segundo alguns juristas brasileiros, o pior STF da história do Brasil.
 
O texto abaixo é um pouco mais longo, mas vale a pena ser lido. Os negritos e os parênteses em vermelho são meus, para facilitar um pouco a compreensão.
 
De forma bem simples e resumida, somente agora estão vindo à tona dois procedimentos judiciais que correm em segredo de justiça paralelamente ao mensalão. As provas que são descobertas pelas investigações da Polícia Federal e que podem inocentar os réus são “jogadas” nesses processos. Como correm em segredo de justiça, por ordem de Joaquim Barbosa, ninguém sabia e muito menos podia ter acesso, nem os réus nem os seus advogados. Sabem quem é o relator desses processos? O relator do mensalão: Joaquim Barbosa.
 
Leiam o texto e vejam um pouco mais quem é Joaquim Barbosa.
 
Joaquim Barbosa e ex-procurador geral esconderam provas que poderiam mudar julgamento do mensalão
 
Por Maria Inês Nassif para o Jornal GGN e Carta Maior (Veja o original)
 
O então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criaram em 2006 e mantiveram sob segredo de Justiça dois procedimentos judiciais paralelos à Ação Penal 470 (mensalão). Por esses dois outros procedimentos passaram parte das investigações do chamado caso do “Mensalão”. O inquérito sigiloso de número 2454 correu paralelamente ao processo do chamado Mensalão, que levou à condenação, pelo STF, de 38 dos 40 denunciados por envolvimento no caso, no final do ano passado, e continua em aberto. E desde 2006 corre na 12ª Vara de Justiça Federal, em Brasília, um processo contra o ex-gerente executivo do Banco do Brasil, Cláudio de Castro Vasconcelos, pelo exato mesmo crime pelo qual foi condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato.
 
Esses dois inquéritos receberam provas colhidas posteriormente ao oferecimento da denúncia ao STF contra os réus do mensalão pelo procurador Antônio Fernando, em 30 de março de 2006. Pelo menos uma delas, o Laudo de número 2828, do Instituto de Criminalística da Polícia Federal, teria o poder de inocentar Pizzolato.
 
O advogado do ex-diretor do BB, Marthius Sávio Cavalcante Lobato, todavia, apenas teve acesso ao inquérito que corre em primeira instância contra Vasconcelos no dia 29 de abril deste ano, isto é, há um mês e quase meio ano depois da condenação de seu cliente. E não mais tempo do que isso descobriu que existe o tal inquérito secreto, de número 2474, em andamento no STF, também relatado por Joaquim Barbosa, que ninguém sabe do que se trata – apenas que é um desmembramento da Ação Penal 470 –, mas que serviu para dar encaminhamento às provas que foram colhidas pela Polícia Federal depois da formalização da denúncia de Souza ao Supremo. Essas provas não puderam ser usadas a favor de nenhum dos condenados do mensalão.
 
Essa inusitada fórmula jurídica, segundo a qual foram selecionados 40 réus entre 126 apontados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito e decidido a dedo para qual dos dois procedimentos judiciais (uma Ação Penal em curso, p&
uacute;blica, e uma investigação sob sigilo) réus acusados do mesmo crime deveriam constar, foi definida por Barbosa, em entendimento com o procurador-geral da República da época, Antonio Fernando, conforme  documento obtido pelo advogado. Roberto Gurgel assumiu em julho de 2009, quando o procedimento secreto já existia.
 
A história do processo que ninguém viu
 
Em março de 2006, a CPMI dos Correios divulgou um relatório preliminar pedindo o indiciamento de 126 pessoas. Dez dias depois, em 30 de março de 2006, o procurador-geral da República, rápido no gatilho, já tinha se convencido da culpa de 40, número escolhido para relacionar o episódio à estória de Ali Baba. A base das duas acusações era desvio de dinheiro público (que era da bandeira Visa Internacional, mas foi considerado público, por uma licença jurídica não muito clara) do Fundo de Incentivo Visanet para o Partido dos Trabalhadores, que teria corrompido a sua base aliada com esse dinheiro. Era vital para essa tese, que transformava o dinheiro da Visa Internacional, aplicado em publicidade do BB e de mais 24 bancos entre 2001 e 2005, em dinheiro público, ter um petista no meio. Pizzolato era do PT e foi diretor de Marketing de 2003 a 2005.
 
Pizzolato (PT) assinou três notas técnicas com outro diretor e dois gerentes-executivos recomendando campanhas de publicidade e patrocínio (e deixou de assinar uma) e foi sozinho para a lista dos 40. Os outros três, que estavam no Banco do Brasil desde o governo anterior (PSDB), não foram mencionados. A Procuradoria-Geral da República, todavia, encaminhou em agosto para a primeira instância de Brasília o caso do gerente-executivo de Publicidade, Cláudio de Castro Vasconcelos, que vinha do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. O caso era o mesmo: supostas irregularidades no uso do Fundo de Incentivo Visanet pelo BB, no período de 2001 a 2005, que poderia ter favorecido a agência DNA, do empresário Marcos Valério. Um, Pizzolato, que era petista de carteirinha, respondeu no Supremo por uma decisão conjunta. Outro, Cláudio Gonçalves, responde na primeira instância porque o procurador considerou que ele não tinha foro privilegiado. Tratamento diferente para casos absolutamente iguais.
 
Barbosa decretou segredo de Justiça para o processo da primeira instância, que ficou lá, desconhecido de todos, até 31 de outubro do ano passado, quando a Folha de S. Paulo publicou uma matéria se referindo a isso (“Mensalão provoca a quebra de sigilo de ex-executivos do BB”). Faltavam poucos dias para a definição da pena dos condenados, entre eles Pizzolato, e seu advogado dependia de Barbosa para que o juiz da 12ª Vara desse acesso aos autos do processo, já que foi o ministro do STF que decretou o sigilo.
 
O relator da AP 470 (Joaquim Barbosa) interrompera o julgamento para ir à Alemanha, para tratamento de saúde. Na sua ausência, o requerimento do advogado teria que ser analisado pelo revisor da ação, Ricardo Lewandowiski. Barbosa não deixou. Por telefone, deu ordens à sua assessoria que analisaria o pedido quando voltasse.
 
Quando voltou, Barbosa não respondeu ao pedido. Continuou o julgamento. No dia 21 de novembro, Pizzolato recebeu a pena, sem que seu advogado conseguisse ter acesso ao processo que, pelo simples fato de existir, provava que o ex-diretor do BB não tomou decisões sozinho – e essa, afinal, foi a base da argumentação de todo o processo de mensalão (um petista dentro de um banco público desvia dinheiro para suprir um esquema de compra de votos no Congresso feito pelo seu partido).
 
No dia 17 de dezembro, quando o STF fazia as últimas reuniões do julgamento para decidir a pena dos condenados, Barbosa foi obrigado a dar ciência ao plenário de um agravo regimental do advogado de Pizzolato. No meio da sessão, anunciou “pequenos problemas a resolver” e mencionou um “agravo regimental do réu Henrique Pizzolato que já resolvemos”. No final da sessão, voltou ao assunto, informando que decidira sozinho indeferir o pedido, já que “ele (Pizzolato) pediu vistas a um processo que não tramita no Supremo”.
 
O único ministro que parece ter entendido que o assunto não era tão banal quanto falava Barbosa foi Marco Aurélio Mello.
 
Mello: “O incidente [que motivou o agravo] diz respeito a que processo? Ao revelador da Ação Penal nº 470?”
 
Barbosa: “Não”.
 
Mello: “É um processo que ainda está em curso, é isso?”
 
Barbosa: “São desdobramentos desta Ação Penal. Há inúmeros procedimentos em curso.”
 
Mello: “Pois é, mas teríamos que apregoar esse outro processo que ainda está em curso, porque o julgamento da Ação Penal nº 470 está praticamente encerrado, não é?”
 
Barbosa: “É, eu acredito que isso deve ser tido como motivação…”
 
Mello: “Receio que a inserção dessa decisão no julgamento da Ação Penal nº 470 acabe motivando a interposição de embargos declaratórios.”
 
Barbosa: “Pois é. Mas enfim, eu estou indeferindo.”
 
Segue-se uma tentativa de Marco Aurélio de obter mais informações sobre o processo, e de prevenir o ministro Barbosa que ele abria brechas para embargos futuros, se o tema fosse relacionado. Barbosa reitera sempre com um “indeferi”, “neguei”. (Veja sessão em http://www.youtube.com/watch?v=p8i6IIHFQP8&list=PLE4D1CD8C85A97629&index=1)
 
O agravo foi negado monocraticamente por Barbosa, sob o argumento de que quem deveria abrir o sigilo de justiça era o juiz da 12ª Vara. O advogado apenas consegui vistas ao processo no DF no dia 29 de abril do mês passado.
 
Um inquérito que ninguém viu
 
O processo da 12ª Vara, no entanto, não é um mero desdobramento da Ação Penal 470, nem o único. O procurador-geral Antonio Fernando fez a denúncia do caso do Mensalão ao STF em 30 de março de 2006. Em 9 de outubro daquele ano, em uma petição ao relator do caso, solicitou a Barbosa a abertura de outro procedimento, além do inquérito original (o 2245, que virou a AP 470), para dar vazão aos documentos que ainda estavam sendo produzidos por uma investigação que não havia terminado (Souza fez as denúncias, portanto, sem que as investigações de todo o caso tivessem sido concluídas; a Polícia Federal e outros órgãos do governo continuavam a produzir provas).
 
O ofício é uma prova da existência do inquérito 2474, o procedimento paralelo criado por Barbosa que foi criado em outubro de 2006, imediatamente ganhou sigilo de justiça e ficou sob a responsabilidade do mesmo relator Joaquim Barbosa.
 
Diz o procurador na petição: “Por ter conseguido formar juízo sobre a autoria e materialidade de diversos fatos penalmente ilícitos, objeto do inquérito 2245, já oferecia a denúncia contra os respectivos autores”, mas, informa Souza, como a investigação continuar, os documentos que elas geram têm sido anexados ao processo já em andamento, o que poderia dar margens à invalidação dos “atos investigatórios posteriores”. E aí sugere: “Assim requeiro, com a maior brevidade, que novos documentos sejam autuados em separado, como inquérito (…) ”.
 
Barbosa defere o pedido nos seguintes termos: “em relação aos fatos não constantes da denúncia oferecida, defiro o pedido para que os documentos sejam autuados em separado, como inquérito. Por razões de ordem prática, gerar confusão.”
 

No inquérito paralelo, o de número 2474, foram desovados todos os resultados da investigação conduzida depois disso. Nenhum condenado no processo chamado Mensalão teve acesso a provas produzidas pela Polícia Federal ou por outros órgãos do governo depois da criação desse inquérito porque todas todos esses documentos foram enviados para um inquérito mantido todo o tempo em segredo pelo Supremo Tribunal Federal