Feliz aniversário, Sérgio Moro!

“Moro precisa pensar em quantos engenheiros, técnicos, e demais funcionários foram
demitidos e jogados no desemprego por sua sanha e volúpia por manchetes na mídia”

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Hoje é aniversário do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Desejo a ele muitos anos de vida. Sim. Ele precisa ter tempo para meditar e, se tiver um único resquício de sentimento humano dentro daquele corpo, que ele viva o suficiente para em algum momento se arrepender de todo o mal que fez a este país.

Precisa, por exemplo, explicar, por que não puniu de forma exemplar os diretores da Petrobras, deixando de pé a empresa de maior valor para o nosso povo, construída ao longo de anos, com o sacrifício de inúmeros brasileiros que dedicaram horas estudando para que nós fôssemos os detentores da tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas.

Ele precisa esclarecer para a opinião pública – já que não o fez para a sua consciência -, por que prendeu e apurou que Renato Duque, Jorge Zelada, Paulo Roberto Costa, (o todo poderoso diretor de abastecimento), foram confessadamente culpados e condenados e hoje cumprem penas em seus condomínios de luxo, de muitos metros quadrados, com piscinas, salas de ginástica e tudo o que os seus salários milionários puderam comprar.  (Mas não lhes pareceu suficiente). Hoje, nos igualamos a eles na “prisão domiciliar” (confinados pela pandemia), mas não no luxo que os cerca.

Ele precisa pensar em quantos engenheiros, técnicos, e demais funcionários foram demitidos e jogados no desemprego por sua sanha e volúpia por manchetes na mídia. Todo o nosso parque de grandes empreiteiras foi destruído por suas operações espetaculares e espetaculosas. Essas pessoas demitidas estão em casa, assistindo os comentaristas econômicos repassar para eles a notícia de que, esta ociosidade, dificilmente será revertida nos próximos três anos. Afinal, A taxa de desemprego no país subiu para 12,6% no trimestre encerrado em abril deste ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Sérgio Moro precisa saber que em milhares de lares deste país, antes mesmo de chorar pelas vítimas da pandemia que esse governo permitiu,  se alastrasse, o que ramificou mesmo foram as quebradeiras de empresas médias, fornecedoras de serviços e equipamentos para as grandes empreiteiras que ele levou à falência. Não era para apurar os desmandos dos seus donos? Era, sim. Mas que deixasse as empresas funcionando, nas mãos dos herdeiros, ou da alta direção, tocando as atividades e preservando empregos. Há uma cadeia de pequenos e médios empresários ligadas às naves/mãe das grandes empresas, Sérgio Moro. Isto você aprenderia se tivesse estudado, mas você preferiu empurrar com a barriga a “especialização” exclusivamente em sua área, se é que se dedicou o suficiente, pois nem prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil você quis. Talvez para evitar o vexame de ser reprovado.

Tenha longos anos pela frente, Sérgio Moro, para se arrepender de ter sido o instrumento dos arquitetos do golpe. Eles se aliaram ao seu grupo de “procuradores” e tanto procuraram até encontrar a beira do buraco em que jogaram o país. Não coloquem a culpa na pandemia. A incompetência do governo em coordenar o combate ao vírus – que nos trouxe aos mais de 90m mil mortos -, foi antecedida pela incapacidade de reerguer a economia, atingida pela total destruição de suas principais empresas, como as do ramo de frigoríficos, que você também arrasou, com seus shows. Bastava uma pitada de Keynes. Mas o ministro Paulo Guedes quer ver o diabo, mas não quer encarar um livro dele, cuja obra diz ter lido três vezes.

Este é um discurso pela impunidade? Não, Sérgio Moro. É contra a injustiça, a parcialidade. Quando alguém vai para a televisão e diz que queria levar às cordas o acusado do processo em que atua como juiz, está confessando um crime. Um desvio de função. O seu papel, Sérgio Moro, não era o de nocautear o “adversário”. Era o de julgá-lo com a imparcialidade que você jogou fora quando entrou naquela sala e escolheu quem iria interrogar, e de que maneira o seu prisioneiro deveria ser inquirido.

Pense naquela mulher que tomava conta de um sítio e foi conduzida a um interrogatório na frente do seu filho de oito anos – ele também questionado – sobre atividades tão distantes dela quanto a Nova Iorque que você se deliciava em visitar. Pense no trauma desse garoto que talvez tivesse sonhos de ser um juiz quando crescesse. Você pode ter destruído também esse futuro.

Relembre o desconforto de D. Marisa, aquela a quem a procuradora de sua equipe desejou servir carne salgada para matá-la com um pico de pressão. Pense na possível má vontade despertada na equipe médica que atendeu o neto “daquele ladrão”… Atine, Moro, para o tamanho da dor daquele homem, isolado numa torre – tal qual o homem da máscara de ferro -, deitando lágrimas pela perda do irmão, de quem não pôde se despedir…

Mas sabe o que é pior, Sérgio Moro? É que para 2022, vão embalar você em uma roupagem reluzente e vendê-lo como a última bolacha do pacote. Você vai acreditar, e mesmo os atingidos por seus atos vão embarcar nesta fábula, que aquele canal de TV já começou a produzir, tal como o seriado onde você aparecia como o herói. Conte, porém, com o seguinte. Enquanto houver forças, pregaremos ao Brasil Real, de que nos falava Ariano Suassuna, para desmontar a farsa do Brasil oficial que você pensou nos vender. Ah! não se esqueça também de tirar um tempo para reler as matérias sobre a morte do ex-ministro Teori Zavascki. Feliz aniversário!

Lava Jato é exemplo de “soft power” a favor dos EUA contra Brasil

Por Kennedy Alencar

Nas relações internacionais, o uso do “soft power” (poder suave, em inglês) se revela, com frequência, mais produtivo do que recorrer ao “hard power” (poder duro).

O “hard power” é a estratégia do porrete. Na geopolítica, a força da economia, o tamanho da população e a eficiência do aparato militar colocam países em posição naturalmente mais vantajosa ao negociar com outras nações. É o caso dos Estados Unidos, da China e da União Europeia.

O “soft power” é uma estratégia mais sofisticada, na qual uma ou mais características específicas do país (ambiental ou cultural, por exemplo) contribuem nas interações com as demais nações. “Soft power” não depende de arsenal nuclear. 

Além do “hard power”, os EUA têm um “soft power” ancorado na força da sua cultura, o que desperta o desejo de outros países e cidadãos de serem parecidos com a “América” e os americanos. O Brasil também possui “soft power”. O peso ambiental, a música e o futebol brasileiro funcionam como cartões de visita que abrem portas nas relações internacionais. Esse jogo, portanto, é complexo. Os países têm de saber jogá-lo levando em conta seus interesses nacionais. É assim que funciona, geopoliticamente falando.

A Operação Lava Jato é um exemplo de sucesso do “soft power” usado a favor dos Estados Unidos contra o Brasil. Publicada nesta quarta-feira, uma reportagem da Agência Pública em parceria com o Intercept Brasil revela como foi colocado mais um prego no caixão dos interesses nacionais brasileiros. Em resumo, a reportagem ilustra como a Lava Jato, por meio de figuras do naipe do procurador da República Deltan Dallagnol, comportou-se de forma submissa aos EUA quando combateu a corrupção no Brasil.

Mensagens do Telegram mostram mais evidências da sabida disposição de Deltan Dallagnol para ignorar a lei brasileira na cooperação internacional com o FBI, a Polícia Federal dos EUA. O procurador precisou ser alertado por um colega, Vladimir Aras, que usar canal direto com o FBI para comunicar decisões do então juiz Sergio Moro seria ilegal e colocaria em risco medidas da Operação Lava Jato e até a “política externa” da Procuradoria Geral da República.

É óbvio que combater a corrupção é fundamental para o avanço civilizatório dos países. Nesse tabuleiro, os EUA conseguiram transformar o seu modelo em parâmetro internacional. Os americanos não titubeiam em usar essa arma na defesa dos seus interesses nacionais.

Advogados envolvidos nas tratativas entre autoridades americanas e a Lava Jato sempre se disseram surpresos com a facilidade com que os interesses de cidadãos e empresas do Brasil foram colocados em segundo plano na hora de fechar acordos. Esse é um fato corroborado pelo desastre econômico que a Lava Jato causou no Brasil ao contribuir para enfraquecer empresas que geravam milhares de empregos, como a Petrobras e a Odebrecht.

Ora, quebrar a lei para combater a corrupção é uma forma de corrupção. Como mostrou a série de reportagens do Intercept Brasil em parceria com outros veículos de imprensa no ano passado, a Lava Jato é useira e vezeira desse modus operandi parecido com o das organizações criminosas que pretendeu combater. Corromper o sistema judicial é crime.

A defesa dos interesses nacionais não é algo menor. Não é uma coisa que um agente público pago com o dinheiro do contribuinte brasileiro possa deixar de fazer. Mas essas vestais do auxílio-moradia e dos supersalários, privilegiados que nunca hesitaram em defender seus privilégios num país tão desigual, acabaram se lixando para os interesses nacionais quando trataram com seus colegas americanos.

Essa relação abusiva não deve ser vista como resultado de uma conspiração. Não são americanos malvados do Departamento de Justiça manipulando brasileiros ingênuos. É mais realista recorrer ao bom e velho conceito do Complexo de Vira-Latas cunhado por Nelson Rodrigues. Ele explica melhor essa gente e suas atitudes.

Personagens dignos de Nelson Rodrigues, Dallagnol, Moro e procuradores da Lava Jato têm uma espécie de cacoete americano com pitadas de deslumbramento e arrivismo social. Adoram as premiações e festas de gala nos Estados Unidos nas quais posam de cavaleiros do combate à corrupção. Ficam felicíssimos com os colares que ganham dos neocolonizadores.

A Lava Jato contribuiu decisivamente para a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. A operação foi uma das mães do golpe institucional de 2016, um impeachment sem crime de responsabilidade, e se permitiu ser usada pelo bolsonarismo em 2018. Agravou a crise político-econômica brasileira, que também tem raízes na descoberta de mais um escândalo da corrupção endêmica, no governo ruim de Dilma Rousseff e na ausência de lealdade da oposição da época à Constituição.

Grande parte do jornalismo também deu a sua cota de participação quando topou ser correia de transmissão acrítica do lavajatismo que manipulou a opinião pública e envenenou o debate público no país. Moro e Dallagnol integram o badalado grupo dos democratas de pandemia. Descobriram agora que Bolsonaro nunca quis combater corrupção nenhuma.

Moro topou ser ministro do desgoverno obscurantista por 16 meses, mas age como se não fosse um dos pais da criança. Dallagnol enxergou uma mudança para melhor no país com a eleição do genocida e chegou a orar pela boa nova.

Essa gente continua com a hipocrisia e a empáfia de sempre. Continua sendo o maior perigo para o Brasil.

Não me chamem para brincar de Diretas Já

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

O jornal Folha de S. Paulo parece ter perdido o princípio da objetividade, tão martelado aos jovens jornalistas que passavam a integrar a sua equipe, no início dos anos de 1990, quando o impresso deu uma “arejada” no modo de se fazer jornalismo, exigindo de sua equipe textos claros, limpos, enxutos. O título que encima o editorial/chamamento a um balaio de gatos para fazer frente (nas eleições de 2022!) a Bolsonaro, é infeliz. Traduz a tibieza que a contundência da pesquisa do seu instituto, o Datafolha, exibe indubitavelmente: 75% da população considera a democracia a melhor forma de governo. Diante da constatação, o jornal opta por: “Democracia, nunca menos”. Que diabos quer dizer isto? Não teria sido mais fácil: “Democracia sempre!”???

Não é difícil imaginar por que escolhem o caminho da negação, para afirmar o que não está tão firme. Falta-lhe um histórico moral categórico para vir a público pedir o que em determinada época não praticou. A sua aliança com a Operação Bandeirantes, na ditadura, quando se postou ao lado dos que rodavam a manivela de choques elétricos perpetrados aos presos políticos nos calabouços da Rua Tutóia, torna penosa esta defesa, hoje. Sabe que o seu telhado é de cristal, e ao fazer um arremedo de “mea culpa”, treme, antecipando as críticas que virão. “A tortura era política de Estado, os adversários desapareciam (…)”, escreve, sem, contudo, dizer com todas as letras que apoiou a tortura em sua fase mais negra. Apoiou o golpe de 2016, trabalhando sequência de títulos muito mais ousados do que o que estampa hoje em suas páginas, convidando a todos a envergar o amarelo da situação.

Agora, se enrosca para tentar misturar água e azeite – numa manobra mal ajambrada, numa pretensa reunião de “notáveis”, aglutinados por cima, por ordem dela, do empresariado, dos “financistas Lights” – para tentar levar o barco devagar, até 2022. Erra no título, erra no objetivo, erra na comparação com o momento das diretas. Uma heresia.

Para engrossar as ruas paulatinamente, como se conseguiu entre 1983/1984, até chegar à casa dos milhões, foi necessário um elemento, apenas: verdade. Havia verdade no sentimento de quem se engajou naqueles comícios. Havia dor genuína nos que discursavam de forma pungente nos palanques rodeado por multidões. Não há verdade, hoje. Falta a voz embargada de um Dr. Ulysses, falta o rubor nas faces e o tom altivo do discurso de um Brizola. Falta a emoção, a dignidade contida na economia de palavras de um Sobral Pinto. Falta a energia do líder metalúrgico Lula da Silva. Falta espontaneidade. Não se forja um movimento de rua com as letras de forma de um jornal.

O que leva as pessoas às ruas é a certeza de estarem defendendo o lado certo da história. E o lado certo desta história que hoje vivemos não está numa convocação para vestirmos amarelo. A cor de agora ou é o preto do luto pela perda de 57 mil vidas, ou é o vermelho do sangue dos que tombaram vítimas do descaso do poder público. Vítimas da omissão!

A julgar pelos 78% que disseram saber que o governo militar foi ditadura, não é com aulas sobre o período – embora elas sempre serão bem-vindas, pois há muito a elucidar e a martelar sobre aquela época –, que  se dará a mobilização nas ruas. É com um país livre da pandemia mal cuidada, mal assistida, é com a população consciente do que deixaram de fazer por ela, que as ruas transbordarão. Vocês conheciam a história, e, no entanto, não hesitaram em repeti-la, dando o mesmo apoio, com os mesmos métodos (manchetes escandalosas, de um lado só, dossiês ganhos de bandeja, sem aprofundamento nas apurações), para obter o mesmo resultado. Um presidente eleito pela vontade do povo, fora do poder. Foi assim com João Goulart. Foi assim com Dilma Rousseff.

Essas tratativas de gabinete, estejam certos, não levam para a rua a verdade, a emoção, a espontaneidade das Diretas Já. Chamem a isto “campanha publicitária”, chamem a isto arranjo, deem a isto o nome que quiserem. Mas não me peçam para vestir o amarelo dos golpistas, não me convidem para brincar de “Diretas Já”.  Chega de nos perdermos em conchavos que vão tornando a nossa história um arremedo de ópera bufa.

As diretas foram derrotadas num grande “acordo” que nos jogou no colo uma eleição indireta, já sendo tramada, tal como vocês fazem agora, a portas fechadas, enquanto a multidão lutava nas ruas para reconquistar o direito de escolher um presidente. A anistia perpetuou a impunidade, a arrogância, graças a um “conchavão” que impediu a história de ser passada a limpo. A mesma, que vocês agora querem contar a seu modo. A primeira eleição, em 1989 – fim derradeiro da ditadura, foi à base de manobra espúria, da edição de um debate que, de fato, nunca aconteceu, porque não houve igualdade de condições.

Ou os progressistas entendem de uma vez por todas que só há o caminho da dignidade, da verdade, e da crença de que é o povo que escreve o seu destino, ou cairemos de novo, na água de salsicha que nos preparam os que desmontam e depois nos chamam para montar mais uma farsa histórica. Neste momento, radical é a morte. Vida é discordar, desmanchar o que não tem mais jeito nem nunca terá. Façamos, agora ou nunca, ao nosso modo.

Beatriz

Por Ronaldo Souza

Começamos bem a semana ouvindo “Beatriz”, na interpretação de Tom Jobim e João Daltro.

Essa música faz parte de um musical maravilhoso, “O Grande Circo Místico”, criado para o Balé Teatro Guaíra, em que todas as músicas foram compostas por Edu Lobo (melodias) e Chico Buarque (letras), verdadeiras obras primas. O disco ganhou vida própria e se tornou um clássico da música brasileira.

Nada melhor do que encerrar a semana ouvindo essa obra prima mais uma vez, agora na interpretação primorosa de Milton Nascimento.

A música é simplesmente divina e a interpretação de Milton é mágica.

Os malditos

Por Ronaldo Souza

“As pessoas hoje não pensam mais”.

“As pessoas estão muito mal-educadas”.

“As pessoas estacionam nas vagas dos idosos, nas vagas especiais”.

“As pessoas estão cada vez mais mal-educadas no trânsito”.

“As pessoas estão ficando cada vez mais burras”!

“Tá uma loucura”.

Você certamente já ouviu alguma coisa desse tipo, ou até várias delas, quem sabe todas!

Não há um encontro, uma reunião, um jantar, um coquetel, uma qualquer coisa, em que não se ouça coisas assim.

De uma coisa tenho certeza.

Você não é uma dessas pessoas.

Nem eu.

Ele também não.

Quem será, então?

De uns tempos para cá todos vivem sugerindo que “as pessoas precisam pensar fora da caixinha”.

Não há mais quem pensa dentro dela.

“Coachs”, “digital influencers”, “youtubers”, essas categorias profissionais que resolvem todos os problemas dos outros estão em alta.

A vida passa e nos tornamos alheios a ela, não tomamos conhecimento.

Aí vem alguém e resolve o nosso problema.

E o nosso problema é a nossa vida.

Da qual não tomamos conhecimento.

Não é sensacional?

Essa categoria de pessoas, essa profissão de resolvedores, não é nova.

Vamos lá!

Vamoa à sessão “mexendo com coisas imexíveis”.

Que São Protetor dos Separados me proteja.

Encontro de casais.

Ainda se faz?

Parece que havia sempre um orientador, um palestrante, algo assim, aconselhando e orientando aos casais desenamorados a se enamorarem outra vez.

Alguém vem e diz ao homem e à mulher como se enamorar outra vez da mesma pessoa.

Deve ser complicado, não é mesmo?

Criam-se protocolos de gestos e ações.

Importa saber o que teria acontecido para chegar a aquele ponto?

Pararam para pensar sobre isso?

Nunca ocorreu que com seus encontros e desencontros, simplesmente, mais uma vez, a vida resolvera romper com o “até que a morte os separe”?

Não nos olhamos, não nos vemos, não nos conhecemos.

E ali estava a vida que não nos ensinam.

A vida como ela é!

Há como ensinar?

Havia situações pitorescas, como uma em que o coach que ensinava a como manter os relacionamentos já estava no quarto casamento!

Mas precisamos sempre de uma saída, uma válvula de escape.

E, aparentemente, tem sido mais fácil negar-se a vida.

A vida não pode ser como ela é.

Vive-se então o como deve ser.

E aí não são poucas as vezes em que a vida se torna uma farsa.

O ritmo passa a ser outro.

Os eventos de algumas categorias profissionais, de algumas especialidades em particular, têm destinado espaços generosos, a abertura do evento por exemplo, a palestras de profissionais que se tornaram especialistas no assunto, alguns dos quais muito competentes.

Há, porém, uma “regrinha”.

Velada.

Essas palestras não devem trazer desconforto à plateia.

Diz-se o que se quer ouvir.

Não se deseja que a vida como ela é seja exposta ali, afinal, alguns eventos se tornaram mais entretenimento e lazer do que qualquer outra coisa.

Como diz Gonzaguinha:

E a plateia ainda aplaude, ainda pede bis
A plateia só deseja ser feliz

Charmoso e sedutor, o sucesso se faz irresistível.

Como alcança-lo passa a ser a grande meta.

O que é perde espaço para o que precisa ser.

Assim, outra vez, entram em cena aqueles que sabem dizer como chegar ao sucesso; os resolvedores de problemas dos outros.

O conhecimento perdeu a sua importância e não é incomum que muitas vezes se torne um incômodo, um desconforto a mais.

Sem que se perceba, porém, o desconforto está ali, presente, incomodando, gerando insatisfação, desencantamento e ansiedade.

É do que fala Rubem Alves, no seu maravilhoso texto Saúde Mental.

Veja o que diz ele:

“Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago?… A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm sempre as mesmas ideias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental.”

Entretanto, para o bem da raça humana a história registra a presença de homens e mulheres que rompem com o banal, com a zona de conforto.

Veja o que diz Freud, no seu livro “O Mal-estar na Civilização”:

“Existem certos homens que não contam com a admiração de seus contemporâneos, embora a grandeza deles repouse em atributos e realizações completamente estranhos aos objetivos e aos ideais da multidão”.

Inquietos, esses homens inquietam a alma humana.

Tiram-na do bem estar da irreflexão.

E por isso pagam um preço alto; tornam-se malditos.

São assim apresentados por Jack Kerouack:

“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas…”

Observe com atenção que você os reconhecerá, inclusive na sua profissão.

Eles parecem insistir em ir na contra mão, contra a corrente.

Não, não é um querer, tem outro nome.

Compromisso.

Com algo muito maior.

Com algo que muitas vezes não conseguem sequer identificar direito, mas do qual não conseguem fugir.

Para eles, é muito comum que se fechem palcos e cortinas.

Eles não podem ser ouvidos.

São pinos redondos difíceis de encaixar num buraco quadrado.

Eles costumam gerar desconforto.

Não apresentam forma geométrica definida.

Não podem ser catalogados como pessoas do bem.

Já ouviu falar de Gonzaguinha?

Era um deles.

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando…

https://www.youtube.com/watch?v=JsMXDG_MK4g

Sonho e luta

Quando faço uma música é como se escrevesse uma carta para a posteridade; não espero resposta

Por Ronaldo Souza

Por que, de repente, cedo da manhã, Heitor Villa-Lobos me aparecera.

Por que aquela frase de que tanto gosto?

Com essa lembrança, as Bachianas Brasileiras.

O compromisso com a música, o compromisso com a posteridade que, na verdade significa, quem sabe, o encontro com a imortalidade.

O artista, o poeta, também um artista, tem um poder que não foi dado aos mortais; o diálogo com a posteridade.

A imortalidade.

Aquilo tudo ficou solto no ar e parecia que se perderia.

À noite, conversando com a minha mulher, televisão ligada, começou o programa “Altas Horas”, de Serginho Groisman.

Gosto dele, mas ia desligar por conta dos últimos programas.

Seria mais um cheio de sertanejo, axé…?

Mas ele começou já mostrando o convidado daquela noite.

O ex-pianista João Carlos Martins, que se tornara maestro pelo ocorrido com as suas mãos.

Fiquei.

Era a repetição dos 10 anos do programa, agora dentro da programação dos 20 anos.

E lá estava ele, João Carlos Martins, conversando ao vivo de sua casa com Serginho Groisman.

Tocando piano, graças às luvas criadas especialmente para ele, que voltou a tocar piano com os dez dedos.

Um presente para todos nós.

E nessa repetição dos 10 anos, com a participação especialíssima de Milton Nascimento, estava a orquestra de João Carlos Martins.

A Orquestra Bachiana Filarmônica SESI/SP.

Orquestra Bachiana!

Meu Deus!

Se há um Deus, Ele tinha aparecido para mim, não num pé de goiaba, mas num momento que se anunciou sem que eu sequer percebesse.

Inspirou-me com a lembrança de (Heitor) Villa-Lobos e das “Bachianas Brasileiras”, a mais importante de sua obra.

E ali estavam de volta as Bachianas de Villa-Lobos, através da Bachiana de João Carlos Martins.

O programa seguiu e foi encerrado com o maestro João Carlos Martins regendo a sua Bachiana, tocando a música “Theme D’amour”, de Ennio Morricone, para o filme Cinema Paradiso.

Veio-me o filme, um dos mais lindos que já vi.

Um verdadeiro hino ao cinema.

Veio-me a música, aquela coisa linda, que penetra em você e invade a sua alma.

Uma invasão doce, reconfortante, que inunda sua vida de paixão e beleza.

Se há um Deus, ali estava Ele novamente.

Permitindo-me sonhar outra vez.

Quando terminou o programa, corri para ouvir Theme D’amour, agora com o próprio Morricone.

Era 1:10 da madrugada.

E ouvi.

E ouvi de novo.

Madrugada avançando e quando me vi estava escrevendo.

Durante mais de 2 horas fiquei ouvindo esse que é um dos grandes compositores do mundo, particularmente do cinema.

E assim Ennio Morricone foi regendo a minha madrugada, a mais doce e forte desses últimos tempos.

Se há um Deus, Ele estava outra vez comigo naquele momento.

E me fez chorar, tamanha a emoção que tomou conta de mim.

A emoção que, inexplicavelmente, como que atendendo a um grito de socorro, explode no peito.

Um momento divino.

O de um sonho que se renova.

Que se renova e faz despertar.

Para dizer que o direito de sonhar sempre exigiu luta.

E não haverá de ser diferente agora!

Essa é a nossa carta para a posteridade.

Bahiana

Por Ronaldo Souza

Sempre tive muito respeito e admiração pelo professor.

Nunca me imaginei um, mas sempre tive essa relação.

Como profissional de Odontologia, fui de dedicação exclusiva ao consultório durante muitos anos.

Entretanto, algo parecia faltar.

Sem a menor ideia do que poderia ser aquilo que parecia me faltar, fui me deixando levar até que em 1993 me vi fazendo mestrado.

O entusiasmo foi grande, mas o romantismo daquele momento não encontrava, na prática, nada que o justificasse.

Eu seria um mestre sem casa.

Foi quando veio o convite do professor Urbino Tunes, organizador e coordenador do projeto de um curso de Odontologia, para criar e ficar à frente das disciplinas de Endodontia.

Nascia o Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

A minha estrela, como sempre fizera e continua fazendo, brilhava outra vez.

Um brilho intenso.

Não estranhei e não tive medo quando, entrando nos cinquenta, senti o coração bater forte, como forte bate o coração dos jovens.

Naquele momento, meu coração era o de um jovem.

Em agosto de 2001, eu me tornei um professor de Endodontia.

Professor de Endodontia do Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

Mas, naquele momento, algo que só vim a perceber com o tempo, também nascia o que me tornaria mais feliz e orgulhoso ainda; o ser professor da Bahiana.

É que com o tempo, aprendi a respeitar essa Instituição de Ensino.

O que mais me dá orgulho na vida profissional é ser professor.

E a Bahiana tem sido muito importante nessa caminhada.

Ao longo desses 19 anos em que faço parte do seu corpo docente, tenho visto toda a seriedade e competência com que a Bahiana trata do ensino.

Em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis, tenho visto todo o seu empenho em não medir esforços no cumprimento da sua missão.

Estamos diante de um desses momentos, provavelmente, o mais difícil e importante.

O que a Bahiana tem feito para seguir com a mesma seriedade e competência na nobre missão de ensinar durante a pandemia do Covid-19 é digno dos maiores elogios

Hoje, 31/05/2020, a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública faz 68 anos.

Parabéns.

Parabéns à Reitora, Prof.ª Maria Luisa Carvalho Soliani, e toda sua equipe.

Com respeito e admiração.

“O epílogo humilhante da carreira de Moro que depois de vender Lula, não encontrou compradores para si”

Por Nazareno Galiè

Do Farodiroma:

O ex-ministro da Justiça brasileiro Sergio Moro foi forçado a cancelar sua visita à Universidade de Buenos Aires. De fato, a presença do ex-ministro de Bolsonaro desencadeou protestos da sociedade civil argentina, que se opuseram ao convite da faculdade de direito na qual Sergio Moro deveria ter realizado um palestra sobre a “luta contra a corrupção, a democracia e o Estado de direito”.

Por outro lado, o ex-juiz Moro tinha muito poucas referências para falar sobre essas questões, pois é o autor e executor da perseguição política contra Lula, que foi impedido, devido à sua sentença, de participar das eleições no país, em 2018, contra Bolsonaro. Quem organizou a conferência foi Carlos Babín, que, por sua vez, colaborou com o ex-presidente de direita argentino, Mauricio Macri.

Os organizadores do abaixo-assinado contra a presença de Moro lembraram como o ex-juiz, apesar de agora se apresentar como oponente de Bolsonaro, sempre demonstrou parcialidade absoluta em relação àqueles que havia julgado anteriormente.

Além disso, o governo, do qual era membro até recentemente, é conhecido “pela violência e ataque aos direitos das minorias étnicas, sexuais, religiosas, direitos das mulheres e pela promoção do ódio e da discriminação”. Certamente, Moro “é o símbolo da pior face do Judiciário da América Latina”, pois faz parte de uma engrenagem que transformou a lei em instrumento de perseguição, isto é, a guerra judicial contra líderes progressistas da região (lawfare).

(…)

Deseja ler na íntegra? Veja direto na fonte: www.farodiroma.it/brasile-lepilogo-umiliante-della-carriera-del-giudice-moro-che-dopo-aver-venduto-lula-non-trova-acquirenti-per-se-stesso/

Juazeiro

Por Ronaldo Souza

Ah, Juazeiro, como foi bom chegar e conhecer a vida no seu colo.

A você estava destinada a missão de construir a minha vida.

Já se sabe que a personalidade do homem e da mulher se forma nos seus primeiros anos de vida, na sua infância, particularmente até os 5 anos de idade.

Em você, Juazeiro, vivi os meus primeiros e inesquecíveis onze anos.

Você, Juazeiro, ao contrário do filho ingrato, não me deixou, vive em mim até hoje.

O que veio à minha mente ao lhe ver nessas imagens enviadas por uma de minhas irmãs, também sua filha?

O que há de melhor em mim; meus pais, meus irmãos, minha família, meus amigos de infância, suas ruas.

Mas, claro, veio também o meu núcleo familiar atual.

A minha admirável companheira e as nossas filhas, o que temos de melhor para agradecer à vida.

Elas, que me permitiram vive-las aí, nesse solo, nesse rio, o velho Chico.

Um rio que, de tão grande, banha boa parte desse país, mas que cabe, inteirinho, no meu coração.

Ah, minha querida Juazeiro, permita que esse filho ingrato busque e encontre conforto espiritual e paz ao lhe dizer; se não vivo mais nesse solo sagrado, você viverá eternamente em mim.

Num compartimento especial, criado só para você, no meu coração.

Nesses tempos difíceis, de muita amargura e sofrimento, é em seu colo que aquele menino ainda deita, dorme e se acalanta todas as noites.

E volta a sonhar.

Outra vez, como fez na minha infância, você está aqui, comigo.

Dessa vez, para me salvar em hora tão difícil.

O seu por do Sol, de tão lindo, é um prenúncio de que manhãs maravilhosas ainda estão por vir.

Como todas que aí vivi.