Um acidente de avião, um ar condicionado quebrado e uma atriz

O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi inaugurado em 1936 e é o quarto mais movimentado do Brasil. Lá chegam e de lá saem milhões de pessoas. Desses milhões de pessoas, certamente muitas “morrem” de medo de voar.

A história da aviação brasileira e mundial registra inúmeros acidentes de avião, alguns dos quais, de tão desastrosos, comoveram o mundo e ocuparam o noticiário. As causas são muito diversas, de falhas humanas a problemas técnicos, razão pela qual as investigações são sempre demoradas.

Há um acidente de avião, porém, que ocupa um lugar de destaque. Foi o que ocorreu em 2007, com o choque de um Airbus A-320 da TAM que não conseguiu parar ao aterrissar no Aeroporto de Congonhas. Todas as 187 pessoas a bordo morreram e doze pessoas em solo foram vitimadas. Não era para menos, comoção nacional, várias famílias e amigos em total desespero diante de mais uma fatalidade.

Não era, porém, uma fatalidade. Na investigação mais bem feita e rápida da aviação comercial realizada até hoje no mundo, já naquele mesmo dia os jornais da televisão brasileira anunciavam aos quatro cantos do mundo que tinham identificado o culpado. A imprensa brasileira mostrava ao mundo toda a nossa competência ao investigar, analisar todas as possibilidades e chegar ao veredito final, tudo no mesmo dia do acidente. Pelo rigor das investigações, foi o primeiro, e até agora único, acidente de avião no mundo em que não houve dúvidas quanto ao culpado: o presidente da república.

Talvez pelo ineditismo da ação que encantou aos leitores/telespectadores da grande mídia, a despeito do sofrimento das famílias e amigos das vítimas ela brindou o país com as notícias referentes a esse acidente por vários dias, um tempo nunca visto anteriormente, com um verdadeiro espetáculo de imagens e entrevistas com especialistas, sempre de plantão e dispostos a cooperar com a imprensa no seu nobre papel de bem informar ao povo.

Investigação concluída, segue a vida. As pessoas do mundo e do Brasil, inclusive as de São Paulo, continuaram chegando e saindo de Congonhas, algo que se repete diariamente em todos os aeroportos brasileiros, agora com movimento bem maior.

Não se encontrou ainda uma explicação de porque os brasileiros estão viajando cada vez mais de avião, inclusive com frequência também maior de reclamações de outras que estão estranhando esse movimento intenso de quem não costumava frequentar aeroportos, inclusive viajando para fora do país. Vê se pode! Danuza Leão, por exemplo, anda profundamente irritada, e deprimida.

O fato é que movimento intenso pode trazer maior necessidade de manutenção dos aparelhos que, como sabemos, costumam apresentar defeitos. É uma escada rolante que quebra, é um ar condicionado que dá defeito, é um… Opa, por falar em ar condicionado, fiquei sabendo que deu problema no aeroporto do Rio de Janeiro.

Não sei se você sabe que o Rio de Janeiro fica um pouquinho mais quente no verão. Fiquei sabendo que agora no período das festas de fim de ano, foi registrada a maior temperatura (43,2ºC, com sensação térmica de 47º) desde 1915, quando se começou a fazer essa medição. A maior temperatura nos últimos 97 anos. E o ar condicionado do aeroporto resolve pifar nesses dias. Pra que?

Se alguém aqui votar no Lula ou na Dilma é um filho da puta!

Pronto, acharam os culpados.

Segundo Ancelmo Gois (jornalista do Globo), a frase aí em cima foi de um suposto protesto feito por um passageiro ao embarcar no Galeão rumo a Nova York (viu para onde ele está indo? E você ainda quer que ele se misture com as pessoas que não costumavam frequentar aeroportos!!!) e, pelo visto, pessoa bastante educada, fina. Por sua vez, Ancelmo Gois usa um artifício manjado; por na boca de alguém o que se quer dizer.

Mas, está claro, não é motivo de preocupação por parte de quem vai viajar; como vimos, já acharam os culpados. E na mesma hora. Mas, aqui pra nós, isso é hora de ar condicionado pifar. Como é que Lula e Dilma fazem um negócio desses?

Desgraça pouca é bobagem, diz o ditado popular. E não é que é mesmo. Vinha mais pela frente.

Viva Belo Monte. Essa é a prova de que precisamos de uma nova estrutura em energia!

Você faz ideia de quem disse essa frase no maldito aeroporto? Vou dar uma dica. É claro que só pode ser alguém com profundo conhecimento em questões de energia. Ah, sabia que você ia acertar. Isso mesmo, Regina Duarte.

Jânio de Freitas, um dos mais respeitados jornalistas do Brasil, descreveu assim na sua coluna, na Folha (leia aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages//posts/confronto-que-endurece452.php):

Até os índios do Xingu e do Madeira foram condenados, com o brado destemido de Regina Duarte a favor da inundação das terras indígenas e da floresta: "Viva Belo Monte! Essa [um aparelho de ar refrigerado quebrado] é a prova de que precisamos de uma nova estrutura em energia!"

Talvez, contra o calorão do Santos Dumont, comprar um aparelho novo fosse mais barato e eficiente do que construir uma hidrelétrica na Amazônia. Bem, depois a atriz se disse preocupada também com o calorão na Copa do Mundo. A qual, aliás, será no inverno. Mas o que interessa é ter aproveitado a bobeada do governo petista.

Como se pode observar, Regina Duarte continua um fenômeno de inteligência e sensibilidade. Quanto ao que ela disse… ah, deixa pra lá. Artistas com poucos neurônios ativos que trabalham em novelas já é uma coisa normal. Nem o Prof. Miguel Nicolelis dá jeito.

Hoje é um novo dia, de um novo tempo…

Um Novo Tempo
Marcos Valle

Hoje é um novo dia
De um novo tempo que começou
Nesses novos dias, as alegrias
Serão de todos, é só querer
Todos os nossos sonhos serão verdade
O futuro já começou

Hoje a festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier
A festa é sua
Hoje a festa é nossa
É de quem quiser
Quem vier…

Hoje é um novo dia de um novo tempo, que começou há 10 anos. Há 10 anos começava a construção de um novo dia, de um novo tempo.

Nesses novos dias, as alegrias, se não são de todos, são da grande maioria de um povo que quis e que vem transformando os seus sonhos em verdade.

O futuro é o presente, pelo qual esse povo tanto ansiou. Um povo que pode cantar hoje a festa é sua, a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier, porque é a festa de muitos, ainda que alguns poucos não a queiram.

Ainda que alguns poucos não a queiram e tentem transforma-la em um velho dia, um velho tempo, na tentativa de desconstrução do novo dia, do novo tempo que começou há 10 anos.

Nesses velhos dias desejam que as alegrias não sejam de todos, que não sejam de um povo que quis e que vem transformando os seus sonhos em verdade. Desejam que sejam só de alguns poucos.

Também fazem do futuro o presente. 2014 começou em 2012. Mas não é um tempo de festa. É um tempo em que se canta não um sentimento, mas um jingle de fim de ano. Produção técnica esmerada, perfeita, típica do embuste, da embalagem sem conteúdo. É o velho charme canastrão. É o poder de sedução pela sedação. Mas é também o tempo do sutil grosseiro, da manifestação de sentimentos (reprimidos) inconfessáveis que fogem do controle por um homem e seu grupo político, é o jogo político que deixou de lado a política. É o jogo da farsa, da manipulação. É o tempo do custe o que custar. Como diria Chico, um tempo, mais uma página infeliz da nossa história, em que querem fazer voltar a dormir distraída a nossa pátria mãe.

A festa não será sua, não será nossa, não será de quem quiser, quem vier. A festa não será de muitos. A festa será só de alguns poucos.

Que Marcos Valle me permita alterar a letra de sua música, pois esse é o canto de fim de ano que expressa o real desejo de alguns poucos.

Um velho tempo

Hoje é um velho dia
De um velho tempo que retornou
Nesses velhos dias, as alegrias
Não serão de todos, é só querer
Todos os sonhos serão inverdade
O passado já retornou

Hoje a festa não é sua
Hoje a festa não é nossa
Não é de quem quiser
Quem vier
Hoje a festa não é sua
Hoje a festa não é nossa
Não é de quem quiser
Quem vier

Confronto que endurece

Jânio de Freitas Da Folha

Para aturdir os governantes do PT, deixando-os à mercê da pancadaria, um aparelho em pane é suficiente.

Tão palavrosos como dirigentes partidários e como militantes, nos seus governos os petistas são um fracasso de comunicação até aqui inexplicável. E pagam preços altíssimos por isso, sem no entanto se aperceberem dos desastres e suas consequências. Ou melhor, às vezes percebem, e até se autocriticam, mas com atraso de anos.

Para aturdir os governantes e dirigentes petistas, deixando-os à mercê da pancadaria, nem é preciso um canhonaço como foi o mensalão. Um aparelho de ar refrigerado em pane é suficiente. Nada mais normal do que a quebra de uma máquina. Mas há cinco dias os usuários do aeroporto Santos Dumont se esfalfam em queixas e acusações; e, no outro lado, a presidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Secretaria de Aviação Civil (a que veio mesmo?) e a Infraero apanham, inertes, dos meios de comunicação e da estimulada opinião pública.

No governo imenso, cheio de assessorias de comunicação próprias e contratadas, a ninguém ocorreu romper o marasmo burocrático e dirigir-se à população com as explicações devidas. A quebra foi assim-assado, tomaram-se tais providências, e, depois, o reparo está demorando ou não deu certo por tais motivos, diante dos quais estão tomadas as seguintes providências, e por aí afora.

Nada de difícil ou especial. Aquilo mesmo que se espera ao buscar o carrinho ou, se tucano, ir pegar o carrão e não o encontrar pronto na oficina. Aborrece, mas se a explicação não falta e é honesta, o provável é perceber-se uma situação desagradavelmente normal na era das máquinas. E nada mais.

No aeroporto Tom Jobim deu-se o mesmo, com a pane local de um transformador. Mas tudo virou um problema enorme de falta de geração de energia, de apagão.

Até os índios do Xingu e do Madeira foram condenados, com o brado destemido de Regina Duarte a favor da inundação das terras indígenas e da floresta: "Viva Belo Monte! Essa [um aparelho de ar refrigerado quebrado] é a prova de que precisamos de uma nova estrutura em energia!"

Talvez, contra o calorão do Santos Dumont, comprar um aparelho novo fosse mais barato e eficiente do que construir uma hidrelétrica na Amazônia. Bem, depois a atriz se disse preocupada também com o calorão na Copa do Mundo. A qual, aliás, será no inverno. Mas o que interessa é ter aproveitado a bobeada do governo petista. (Comentário de Ronaldo: Regina Duarte continua um fenômeno de inteligência e sensibilidade).

Desde a entrevista de Lula em Paris, sentado a meio de um jardim de hotel, com uma jovem entrevistadora mal improvisada, para gaguejar grotescos esclarecimentos do mensalão, logo serão dez anos.

A inesgotável oratória de Lula, com sua mescla de populismo político e ativismo social, nesse tempo contornou a maioria dos percalços que o sistema de comunicação dos governos petistas não encarou. Com o julgamento do mensalão e com as cenas que ainda promete, o governo Dilma Rousseff é o alvo do agora exaltado antilulismo ou antipetismo (a rigor, não são o mesmo). Assim, neste embate endurecido, tende a ser o 2013 que veremos.

Comentário de Ronaldo: concordo em parte com Jânio de Freitas. Concordo porque acho que o PT e o governo Dilma realmente pecam em termos de comunicação com a sociedade. Para amenizar a perseguição da mídia precisa conversar mais diretamente com o povo. Discordo porque o que quer que o PT e Dilma digam, a imprensa distorcerá tudo. É possível que você não acredite, mas a imprensa vive inventando coisas contra Lula/PT/Dilma e distorcendo as notícias que existem (não é à toa que um jornalista do peso de Jânio não consegue se conter e escreve vários textos sobre o tema reconhecendo o abuso de sua própria classe). O jornal A Folha (SP), do qual faz parte Jânio de Freitas, encabeça essa lista juntamente com o Estadão, Veja e a Rede Globo, esta sem dúvida, a maior líder em jornalismo cínico/antiético.

Nunca houve tanto ódio na mídia conservadora do Brasil

Mais uma vez a Rede Globo seduz o povo com o seu jingle de fim de ano; “hoje é um novo dia, um novo tempo…” Produção esmerada que condiz com o padrão Globo. Por que será que o padrão Globo não anda em sintonia com o padrão Povo?

Nunca houve tanto ódio na mídia conservadora do Brasil
Por Jaime Amparo Alves* | No Pragmatismo Politico

Os textos de Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira.

Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo.

Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia jornalística não apenas como exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série d
e assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo
! A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite ‘sudestina’ ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.

Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições européias, e avisei-lhes que por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma America Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia. Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mprensa?

 
*Jaime Amparo Alves é jornalista, doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin –amparoalves@gmail.com

Mais um acusador no banco dos réus

Para um moralista que vive apontando os deslizes éticos dos outros, nenhuma foto pode definir melhor o senador Álvaro Dias, PSDB do Paraná, do que esta. Tornou-se um dos maiores acusadores do PT, do governo e muito particularmente de Lula, o grande alvo de todos eles.

Ninguém pode imaginar que qualquer homem, ainda mais sendo um político, será unanimidade em qualquer parte do mundo. Assim, é natural que sempre existam os que jamais aceitarão as virtudes de quem quer que seja.

A aprovação de Lula bateu todos os recordes no Brasil, alcançando níveis jamais observados. Além disso, não só se projetou internacionalmente de forma inimaginável como o Brasil ganhou destaque e passou à condição de país indispensável nas discussões sobre os destinos do mundo.

Insisto em dizer, porém, que é mais do que natural que muitos não aceitem. O que chama a atenção, entretanto, é a insistência dessa parcela da sociedade em acreditar em tudo que se diz contra Lula, não importa quem diga.

Marcos Valério, envolvido em todo tipo de corrupção desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando começou todo o processo, condenado a 40 anos de prisão, desesperado, tenta recorrer a delação premiada e acusa Lula. É claro que a nossa grande e isenta (!!!) mídia, leia-se Rede Globo, Veja, Folha e Estadão, transforma isso em mais um escândalo.

À noite no Jornal Nacional, o mesmo desfile de sempre exibe os mesmos historiadores, sociólogos, colunistas, artistas e claro, eles, os políticos da nossa pobre e moribunda oposição. E lá, é claro, não podiam estar de fora, como nunca estiveram, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Carlos Sampaio, Onix Lorenzoni, ACM Neto (meu Deus do Céu)…

Com a descoberta do verdadeiro caráter, envolvimento com corrupção e consequente cassação de Demóstenes Torres (ex-senador pelo DEM de Goiás), um dos homens mais pródigos em acusação e tramas gurgelescas* (claro que contra o PT) no cenário político brasileiro, o posto de acusador mor ficou a cargo de Álvaro Dias, senador pelo PSDB do Paraná (que já disputava esse cargo com Demóstenes).

Justiça se faça, sempre desempenhou muito bem esse papel, haja vista a quantidade de CPIs que ele sempre tenta abrir (não precisa ficar aqui toda hora dizendo contra o PT, claro).

É evidente que o papel de acusador mor tem que ficar a cargo de um político sério, digno, de moral ilibada, acima do bem e do mal, alguém como Demóstenes Torres. Assim, como não poderia ser diferente, coube a Álvaro Dias, senador pelo PSDB do Paraná.

O nobre senador http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages//posts/senador-alvaro-dias-um-novo-demostenes-torres448.php, no momento, acumula oito processos. Um deles resultou nas perguntas feitas por Helena Sthephanowitz, que podem ser vistas aqui http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/ e aqui, no blog de Luis Nassif http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/oito-perguntas-para-o-senador-alvaro-dias

 

Oito perguntas para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) sobre o aparecimento de sua fortuna de mais de R$ 16 milhões:

1) Tem cheque da organização de Cachoeira nos R$ 16 milhões da venda das casas, assim como aconteceu com o colega tucano Marconi Perillo? Afinal, por que Álvaro Dias votou contra o indiciamento de Cachoeira na CPI?

2) A grilagem de terrenos públicos em Brasília para especulação imobiliária sempre foi caso de polícia no Distrito Federal, principalmente nos governos de Joaquim Roriz, mas também há indícios durante o governo de José Roberto Arruda (o do mensalão do DEM). O senador tucano poderia divulgar a escritura pública de aquisição dos terrenos e a certidão no Registro de Imóveis? Ou o jornalismo investigativo terá que fazer busca nos cartórios?

3) Qual foi a empreiteira que construiu as casas? E por qual valor por metro quadrado?

4) Há lobistas ou corruptores atuantes no Senado entre os compradores das casas? O senador tucano poderia divulgar as escrituras públicas de venda das casas? Ou o jornalismo investigativo terá que fazer busca nos cartórios?

5) O senador tucano oferece seus sigilos bancários e fiscais para averiguação da origem da fortuna superior à R$ 16 milhões?

6) O senador tucano vai pedir para Comissão de Ética e Decoro parlamentar abrir uma investigação sobre si, já que votou no passado pela cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), por um problema de pensão semelhante, porém envolvendo valores muito mais baixos.

7) O senador tucano vai pedir para o Instituto de Criminalística da Polícia Federal fazer uma investigação sobre sua evolução patrimonial, semelhante à que foi solicitada no caso do senador Renan Calheiros?

8) O senador tucano vai pedir para o Procurador Geral da República abrir um inquérito sobre a origem dos R$ 16 milhões, da mesma forma que exigiu no caso do ex-ministro Palocci?

*Gurgelesco – assim como maquiavélico é relativo a Maquiavel, gurgelesco é relativo a Gurgel.

Senador Álvaro Dias: Um novo Demóstenes Torres?

Demóstenes Torres era um dos nomes da oposição (PSDB/DEM/Mídia) que estavam sendo preparados para uma eventual disputa à presidência da república. Todos os dias aparecia nas telas da TV, particularmente da Globo, como um paladino da justiça e da moral.

Entretanto, apesar das várias tentativas, de tão escandaloso que era não houve como abafar o caso do seu envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira e ele foi cassado mesmo antes da CPI (do Cachoeira, como ficou conhecida). Apesar da grande pizza que o PSDB/DEM/Mídia armou (veja aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/o-psdb-transforma-a-cpi-numa-grande-pizza444.php), o que a CPI apurou é que há muito mais gente envolvida, inclusive o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e a revista Veja, com o seu editor, Policarpo Jr. (segundo Collor, o caneta).

Há poucos dias postei aqui no site um texto de Leandro Fortes com o título “A moral de velhas prostitutas” (veja aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/a-moral-de-velhas-prostitutas434.php). Leandro Fortes fala justamente desses paladinos cuja vida política nesses últimos 10 anos se resume a acusar, claro que o PT e/ou governo.

Surge agora mais um Demóstenes Torres. Trata-se nada mais nada menos de Álvaro Dias, senador pelo PSDB do Paraná, um recordista em pedir a instalação de CPIs, claro que contra o PT e/ou governo.

Ocorre que o senador Álvaro Dias do PSDB acabou de ser condenado pela Justiça por não ter pago pensão a uma filha – ainda menor de idade – fruto de relacionamento extraconjugal com a funcionária pública Monica Magdalena Alves. O tucano responde a processos em segredo de justiça por abandono afetivo e corre risco de ter o seu patrimônio bloqueado. A ação judicial pede ainda a anulação da venda de cinco casas em Brasília avaliadas em R$ 16 milhões – patrimônio muito alto para alguém que vive apenas da atividade política (veja aqui http://www.brasil247.com/pt/247/parana247/88809/Filha-condena-%C3%81lvaro-Dias-em-caso-de-R$-16-milh%C3%B5es-cachoeira-senador-requerimento.htm)

Em princípio pode parecer uma questão pessoal e não interessaria a ninguém. Concordo inteiramente, mas deve ser lembrado que o PSDB/DEM/Mídia não tem a menor preocupação com questões pessoais quando quer atingir Lula e o PT. São vários os exemplos, o mais atual é o que estão tentando fazer para criar um caso amoroso entre Lula e Rosemary Noronha. Sobre essas questões, conversaremos muito em breve.

Deixemos de lado a vida pessoal do senador. O grande problema é que a ação judicial pede a anulação da venda de cinco casas em Brasília avaliadas em R$ 16 milhões. Por muito menos, aliás, como sempre, o PSDB/DEM/Mídia produziu mais um escândalo do governo e do PT, derrubando o ex-ministro Palocci. Ele teve que se explicar quando apareceu com apartamento de R$ 6 milhões em São Paulo. Como é que agora fica essa questão de casas de Álvaro Dias, Senador pelo PSDB, no valor de R$ 16 milhões, só em Brasília?

É claro que você não vai ver a escandalização dessa questão no Jornal Nacional e na Veja. Na verdade, você não vai ver essa notícia. Recorro a Leandro Fortes e o seu artigo sobre a moral de velhas prostitutas.

O Natal de Juazeiro

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
 
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem!
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem!

Esses são versos da música Boas Festas que, muito provavelmente, você já conhece, do compositor baiano Assis Valente (ouça aqui cantada por Maria Betânia http://www.youtube.com/watch?v=8wpovHCGGuo).

Há quem afirme que o estímulo à fantasia do Natal e de Papai Noel seria algo prejudicial à criança, com consequente prejuízo à formação do adulto. Assis Valente teve a sua experiência ruim com o Natal, talvez mais de uma. Também já tive pelo menos uma que poderia se transformar, mas não se transformou, em algo negativo. Conto ela aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/natal12.php.

“Vítima” da fantasia de Papai Noel, nunca consegui ver nada de negativo que tivesse interferido na minha formação. Nas minhas filhas, criadas como eu fui, também não. É a mentirinha mais gostosa do mundo.

São inesquecíveis as minhas noites de Natal, ainda criança, em minha querida Juazeiro (BA).

A Missa do Galo na Catedral era o grande momento. Os moradores, entre os quais meus pais, levavam as suas cadeiras e a missa era celebrada do lado de fora, na frente da igreja. Em toda a praça, além das orações e cânticos, ouvia-se o bater forte dos corações das crianças, pela ansiedade da hora de dormir, a hora em que Papai Noel ia passar.

Meu Deus, que magia que existia naquelas noites. Que força era aquela? Nostalgicamente, aquelas noites povoam a minha mente. Não uma nostalgia como ela é definida, melancólica, triste, mas como um sopro de vida e esperança, um sopro de vida e esperança que se projeta nas minhas filhas. Eram de uma beleza jamais imaginada. Um filme de Fellini. E eu era um dos atores.

Assim foi o meu Natal durante os mais belos anos da minha vida. Naquelas noites de Natal de Juazeiro, os nossos corações cantavam hoje é um novo dia, um novo tempo… Não era um jingle. Era um sentimento.

Que todos vocês tenham o Natal de Juazeiro.

CPI: tucanos e companhia expõem sua hipocrisia e falta de pudor

Por Demarchi

Com a manobra desencadeada e bem sucedida ontem para arquivar o relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG) na CPI do Cachoeira, o PSDB expõe ao país sua hipocrisia e absoluta falta de pudor. Simplesmente esconde da nação uma organização criminosa que capturou um Estado, o de Goiás, e evita que seu governador Marconi Perillo, do PSDB, seja indiciado.

Até mesmo o ex-senador Demóstenes Torres, do DEM (depois, só às vésperas de ser cassado, ele deixou o partido), é poupado, além de um deputado também do PSDB goiano. Mas ficou evidente, também, que uma ignomínia dessas só é possível com a ajuda da grande mídia, que não só apoiou a liquidação da CPI como fez campanha todo o tempo contra ela.

Fez  desde o inicio, oito meses atrás, mentindo para seus leitores ao dizer que o PT não queria a CPI, quando foi o partido que a requereu e a instaurou; continuou a fazer depois dizendo que era um ato de vingança do PT e do ex-presidente Lula; e sustentou a infâmia durante todo o funcionamento da comissão, dizendo que não queríamos investigar.

Até o último dia da CPI, mídia distorce informações

Ainda agora, continua a bater duro e enviezadamente contra a CPI e a desinformar os leitores. Como faz o Estadão, por exemplo, nessa matéria de hoje com a chamada no alto da 1ª página "CPI do Cachoeira termina em acordo e sem indiciados" e com o título interno "Base e oposição fazem acordo e CPI do Cachoeira termina sem indiciados". Isso é um escárnio do Estadão! A começar pelas chamadas, pelas manchetes. Não houve acordo, Estadão, o relatório do deputado Odair Cunha foi derrotado pelo PSDB, DEM, PPS e PMDB.

Ao final, a mídia atingiu o objetivo que sempre buscou: a impunidade para o tucanato, mais uma vez. Uma vergonha!

Mas, mesmo com toda essa parcialidade da cobertura da imprensa, a CPI do Cachoeira deixa um aprendizado para a cidadania: com essa sucessão de manobras e com esse final, fica patente para os brasileiros que a ética e a moralidade do tucanato e de seus aliados são de ocasião. E falsas. Assim como a de seus aliados na imprensa, sejam os donos dos veículos de comunicação, sejam os jornalistas que, nessa parceria, terminaram sendo os verdadeiros autores do enterro da CPI.

A pressão sempre foi para excluir Perillo

Mesmo com esse final melancólico, a CPI deixa, ainda, outra lição para a cidadania e para a história: a de como o crime organizado capturou um Estado brasileiro e continua impune. Vamos ver agora como se comportam o Ministério Público Federal e a Justiça que, ao invés de atuarem em cima de tudo o que apurou a Comissão e estava arrolado nas mais de cinco mil páginas do relatório do deputado Odair Cunha (PT), receberão o resumo de uma página e meia aprovado na última sessão da CPI.

Página e meia com a mera e simplres recomendação de que as informações apuradas sejam compartilhadas com o MPF-GO, a Procuradoria Geral e a Polícia Federal. De onde, aliás, a maior parte delas já veio.

Tem razão, portanto, o relator, deputado Odair Cunha, em suas afirmações na sessão final de ontem da CPI: "É lamentável, que, apesar de todo o esforço feito pe¬los membros da CPI, por todos nós aqui, e diante de provas incon¬testes da CPMI, não exista um juí¬zo de valor sobre nada. Ela (a CPI) se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial: levantar provas, identi¬ficar indícios e apresentar conclu¬sões. As conclusões aqui são na¬da, um vazio, Uma pizza geral, lamentável."

O PSDB transforma a CPI numa grande pizza

Todos os dias vemos os políticos do PSDB na televisão criando denúncias, sempre apoiados pela “grande imprensa”. Mal sabem as pessoas o que realmente fazem, porque a farsa é bem feita.

O PSDB, por exemplo, vem sendo contra a redução da conta de luz que o governo Dilma quer fazer (veja aqui), porque os seus interesses são sempre os dos privilegiados. Claro que isso não sai na “grande imprensa”, é abafado.

O PSDB vive fazendo CPI (quando visa tentar destruir o PT), mas age por baixo do pano para barrar várias CPIs. No estado de São Paulo, onde o PSDB manda há mais de 20 anos, existem mais de 20 CPIs engavetadas pelos políticos do partido.

Tentou barrar a CPI de Carlinhos Cachoeira e como não conseguiu, fez muita confusão para fazer de conta que era o PT que não queria, claro sempre contando com o apoio da “grande imprensa”.

Todos os documentos, que a “grande imprensa” fez de tudo para manipular, mostraram o envolvimento de vários políticos, jornalistas e da revista Veja com o esquema de corrupção de Carlinhos Cachoeira. O relatório final da CPI indiciou todos eles, mas não foi nem votado. Fizeram.um relatório paralelo em que os nomes principais foram retirados da lista. Mais uma pizza.

Veja como era o relatório (no final do texto veja quem votou contra)

O relatório de Odair Cunha (PT), relator oficial da comissão durante os vários meses de funcionamento, concluía pela acusação de 41 pessoas: para 29, foi recomendado o indiciamento, e para 12, por terem foro privilegiado, foi solicitada a responsabilização. Todas, na visão do relator, têm ou tiveram relação com o esquema ilegal do bicheiro Carlinhos Cachoeira, suspeito de comandar uma quadrilha ligada à exploração de jogos ilegais, envolvendo autoridades e agentes públicos.

Entre as pessoas que Cunha responsabilizou estão o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o deputado Carlos Leréia (PSDB-GO), o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), e o ex-presidente da construtora Delta, Fernando Cavendish.

Antes da votação do relatório final, Cunha apresentou as alterações que fez após receber as sugestões dos demais integrantes da comissão, mas mesmo assim foi vencido pelos integrantes da comissão.

Cunha retirou do seu parecer final o pedido de análise da conduta do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e de todos os jornalistas citados. Além deles, o vereador Elias Vaz (PSOL-GO) foi excluído da lista dos responsabilizados por "não nos parecer que houve associação para o crime por parte do vereador". Também foram subtraídos os pedido de indiciamento do superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marco Aurélio Bezerra da Rocha e do empresário Rossine Guimarães. 

Repercussão

Cunha disse que a CPI terminou em uma "pizza geral, lamentável". "Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu posso dizer que é lamentável, que apesar de todo o esforço feito pelos membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incontestes, a CPMI não existe um juízo de valor sobre nada. Ela se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio, Uma pizza geral, lamentável", afirmou ao final da sessão. 

Você conhece o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) porque todos os dias ele aparece no Jornal Nacional pregando moralidade, um jogo conhecido. A Rede Globo e a Veja fazem dele o paladino da justiça e da moral (como faziam com Demóstenes Torres), mas quem acompanha política sabe quem ele realmente é. Com todo o seu cinismo foi capaz de dizer que “o Parlamento abdicou da sua responsabilidade de investigar", mas negou que o PSDB tenha articulado para aprovar o relatório de Pitiman para livrar o tucano Perillo.

Todos os políticos do PSDB que fizeram parte da CPI votaram contra o relatório final que indiciava vários políticos (veja no final do texto como votaram os integrantes da CPI) e ele diz que o PSDB não trabalhou contra.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) criticou o acordo feito entre parlamentares para aprovar o relatório de Pitiman: "O que vocês assistiram hoje aqui é pior do que pizza, é champanhe francês em Paris com guardanapo na cabeça. (…) Aqueles que protagonizaram a conspiração da madrugada, da calada da noite, de mudanças de parlamentares para votar na última hora serão julgados pela história."

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) fez coro: "De mais de 5.000 páginas [do relatório de Cunha], nós tivemos uma página e meia do relatório do deputado Pitiman, o que é lamentável sob todos os aspectos. Como estamos em véspera de Natal, é uma presepada o que foi apresentado na CPI".

Senadores a favor do relatório final da CPI (o que não foi aprovado pelo PSDB):

Aníbal Diniz (PT-AC)
Jorge Viana (PT-AC)

Lídice da Mata (PSB-BA)
Pedro Taques (PDT-MT)
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
João Costa (PPL-TO)
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)

Senadores contra o relatório final da CPI:

Sérgio Petecão (PSD-AC)
Sérgio Souza (PMDB-PR)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Ivo Cassol (PP-RO)
Alvaro Dias (PSDB-PR)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)

Jayme Campos (DEM-MT)
Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP)
Marco Antonio Costa (PSD-TO)

Deputados a favor do relatório final da CPI:

Cândido Vacarezza (PT-SP)
Odair Cunha (PT-MG)
Paulo Teixeira (PT-MG)
Íris de Araújo (PMDB-GO)
Ônyx Lorenzoni (DEM-RS)
Glauber Braga (PSB-RJ)
Miro Teixeira (PDT-RJ)
Rubens Bueno (PPS-PR)< br /> Jô Moraes (PCdoB-MG)

Deputados contra o relatório final da CPI:

Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Domingos Sávio (PSDB-MG
)
Gladson Cameli (PP-AC)
Maurício Quintela Lessa (PR-AL)
Sílvio Costa (PTB-PE)
Filipe Pereira (PSC-RJ)
Armando Vergílio (PSD-GO)
César Halum (PSD-TO)

Datafolha: De onde vem a força de Dilma-Lula?

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

"Se a eleição fosse hoje, Dilma ou Lula venceriam", anuncia a manchete da "Folha" deste domingo para surpresa dos muitos analistas da grande imprensa que nos últimos meses chegaram a prever o fim da hegemonia do PT e das suas principais lideranças, que em janeiro completam dez anos no comando do país.

Após sofrer o mais violento bombardeio midiático desde a sua fundação, em 1980, o PT chega ao final de 2012, em meio do seu terceiro mandato consecutivo no Palácio do Planalto, como franco favorito para a sucessão presidencial, sem adversários à vista, segundo o Datafolha.

Os dois petistas estão praticamente empatados: Dilma teria 57% dos votos e Lula, 56%, ambos com mais votos do que todos os adversários juntos.

Na pesquisa espontânea, Lula, Dilma e o PT chegariam a 39%, enquanto os candidatos de oposição somariam apenas 7%.

A grande surpresa da pesquisa é a força demonstrada por Marina Silva (ex-PT e ex-PV), que ficaria em segundo lugar nos quatro cenários pesquisados.

O curioso é que Marina, que teve 19,3% dos votos na eleição de 2010, está há dois anos sem partido, desaparecida do noticiário político, e chega a 18% das intenções de voto na pesquisa estimulada, bem acima do principal candidato da oposição, o tucano Aécio Neves, que oscila entre 9% e 14%.

Por mais que a mídia se empenhe em jogar criador contra criatura, a verdade é que a atual presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parecem formar uma entidade só, a "Dilmalula" – e é exatamente daí que emana a força da dupla, cada um fazendo a sua parte no intricado jogo do poder.

Dilma, que até aqui vem sendo preservada pela imprensa, mais preocupada em destruir a imagem de Lula e do seu governo, saiu esta semana em defesa do ex-presidente quando se tornaram mais violentos os ataques – e foi bastante criticada por isso.

Mas é exatamente na lealdade entre os dois, tanto pessoal como no projeto político, que se baseia esta parceria aprovada por 62% da população brasileira, de acordo com a pesquisa CNI-Ibope divulgada esta semana.

Desde a posse em janeiro do ano passado, Dilma e Lula combinaram de se encontrar a cada 15 dias para conversar pessoalmente sobre os rumos do governo, afastando assim as intrigas que costumam frequentar os salões palacianos.

O resultado está aí: com julgamento do mensalão, Operação Porto Seguro e novas denúncias contra o PT e Lula quase todos os dias, as pesquisas mostram que a grande maioria da população continua satisfeita com o governo e quer que ele continue.

No auge do bombardeio dos últimos dias, e certamente ainda sem saber os resultados das pesquisas, Gilberto Carvalho, ministro da secretaria-geral da Presidência da República, amigo tanto de Dilma como de Lula, desabafou:

"Os ataques sem limites que estão fazendo ao nosso querido presidente Lula têm um único objetivo: destruir nosso projeto, destruir o PT, destruir o nosso governo".

Pelo jeito, até agora não conseguiram. Ao contrário, apenas revelaram o tamanho do abismo que existe hoje entre o mundo real dos brasileiros, que vivem melhor do que antes, e o noticiário dos principais meios de imprensa, que coloca o país permanentemente à beira do abismo, envolvido em crises sem fim.

Isso talvez explique também porque aumentou, no mesmo Datafolha, o índice dos que não confiam na imprensa, que passou de 18% em agosto para 28% em dezembro.

Por tudo isso, penso que é hora do PT sair da defensiva e contar ao país e aos seus militantes o que está em jogo neste momento, dizendo de onde partem e com que interesses os ataques denunciados por Gilberto Carvalho.