Enquanto isso, na Argentina…

Por Eric Nepomuceno, de Buenos Aires

Buenos Aires – O prazo final foi dado: dezembro. Ou, para quem aprecia precisão e detalhe, dia sete de dezembro de 2012, uma quarta-feira. É quando o todo-poderoso grupo Clarín, que além do jornal de maior circulação da Argentina (e um dos maiores da América do Sul) detém, na prática, um império de comunicações no país, terá de se enquadrar na nova legislação – ou seja, começar a de desfazer de vários canais de televisão aberta e a cabo, além de um bom punhado de emissoras de rádio. Num estranho neologismo, a questão é tratada, na Argentina, como ‘desenvestimento’. Ora, na verdade a questão é outra: o grupo terá de começar a se desfazer de um patrimônio que é ilegal. Terá de abrir mão de concessões de licenças para operar rádio AM, FM, televisão aberta e televisão fechada.

O grupo Clarín tentou, de todo jeito, denunciar essa nova legislação – aprovada, aliás, por esmagadora maioria no Congresso –, questionando sua constitucionalidade e alegando que atingia o direito à liberdade de expressão. A Suprema Corte disse que na nova legislação não há nenhum cerceamento à liberdade de expressão.

Denunciar atentados à liberdade de expressão cada vez que seus interesses empresariais são ameaçados é característica dos grupos de comunicação que, na América Latina, funcionam como grandes monopólios e, ao mesmo tempo, como ferozes escudeiros do poder econômico. Cada vez que um desses grupos se sente ameaçado, todos, em uníssono, denunciam que os governos estariam fazendo aquilo que, na verdade, esses mesmos grupos praticam descaradamente em seu dia a dia: o cerceamento à liberdade de expressão. À diversidade de informação.

O caso do grupo Clarín é típico do que ocorre em um sem-fim de países, a começar pelo Brasil, onde um seleto punhado de quatro ou cinco famílias controla ferreamente a distribuição de informação. Na Argentina, como no Brasil, esses conglomerados de comunicação funcionam como a verdadeira oposição ao governo. E não no sentido de vigiar, pressionar, denunciar erros e desvios, mas de lançar mão de todas as armas e ferramentas, por mais venais que sejam, para atacar qualquer governo que atente contra os seus interesses e os interesses de determinado poder econômico, que os monopólios das comunicações defendem movidos a ferro, fogo e ausência total de escrúpulos.

Vale a pena recordar como atua o grupo Clarín, fervoroso defensor do sacrossanto direito à liberdade de expressão. Sua prática, na defesa desse credo, é no mínimo esdrúxula: controla 56% do mercado de canais de televisão aberta e a cabo, e uma parcela ainda maior das emissoras de rádio; manipula contratos de publicidade impedindo que os anunciantes comprem espaço na concorrência; e, como se fosse pouco, ainda briga na Justiça para continuar exercendo o monopólio da produção e distribuição do papel de imprensa no país.

Não se trata de discutir o conteúdo – incrivelmente manipulado, aliás – dos meios de informação controlados pelo Clarín em todas as suas variantes. Trata-se apenas e tão somente de discutir até que ponto é lícito que um determinado grupo exerça semelhante controle sobre o volume de informação que chega aos argentinos.

Diante desse quadro, é fácil entender que o que fez o governo de Cristina Fernández de Kirchner é, para o grupo Clarín, algo inadmissível. Afinal, além da intervenção na fábrica Papel Prensa, fazendo com que o Estado assumisse o controle da produção, distribuição e venda de papel a jornais e revistas, o governo baixou uma lei, aprovada pelo Congresso, que dividiu o espaço da transmissão de televisão aberta e fechada em três partes iguais.

Um terço desse espaço permanece em mãos de grupos privados, como o próprio Clarín. Outro terço passa a ser dividido entre emissoras públicas (nacionais e estaduais), e o terço final passa a emissoras que estarão sob controle da sociedade civil, através de organizações sociais. Quem está atuando além desses limites terá de abrir mão de licenças e concessões, que na Argentina – como no Brasil – são públicas.

Além disso, quem for dono de canais abertos não poderá ser dono de distribuidoras de canais a cabo numa mesma região. O grupo Clarín tem superposição de canais abertos e fechados em Buenos Aires, Córdoba, Mar del Plata e Bahía Blanca. Vai ter de escolher. Além disso, ao fundir duas distribuidoras de canais a cabo, a Calevisión e a Multicanal, estourou todos os limites de concessões estabelecidos pela lei (são cerca de 225 canais em mãos do grupo, e isso, para não mencionar as estações de rádio AM e FM).

A nova legislação foi questionada, é claro, por várias corporações que foram e serão atingidos. A gigantesca Telefônica espanhola, por exemplo, controla nove canais de televisão aberta no país. Terá abrir mão de todos, a menos que aceite integrar alguma cooperativa junto a organizações sociais.

Ninguém, em todo caso, fez o estardalhaço que o grupo Clarín está fazendo. Há uma explicação: o grupo decidiu partir, altaneiro, para o tudo ou nada. Confiou no próprio poder e na fraqueza do governo.
Tropeçou feio: Cristina Kirchner se reelegeu em 2011, e agora a Justiça decidiu que a nova lei tem data, sete de dezembro de 2012, para que seja cumprida.

A fúria do Clarín é evidente e é compreensível. Fez todas as apostas erradas, e está perdendo uma por uma.

A mais delicada dessas apostas foi a que fez no segundo semestre de 1976, quando ganhou – na base de uma cumplicidade sórdida com a ditadura militar que sufocava o país – o controle da produção e da distribuição de papel de jornais e revistas na Argentina. Foi o auge de seu poder, que agora começa a ser rapidamente minado. Já não há torturadores e militares corruptos e sanguinários a quem recorrer. Restou recorrer à Justiça. Foi quando o grupo começou a perder.

A primavera brasileira

Por Luis Nassif

O conceito da “primavera” foi adotado para descrever países ou comunidades em que a Internet entrou quebrando barreiras de silêncio.

Nos países de regime ditatorial, a “primavera” significou romper o controle estatal sobre a informação. Mas em muitos países democráticos, significou romper cortinas de silêncio impostas pela chamada velha mídia – os grandes meios de comunicação nacionais.

Nos Estados Unidos, a blogosfera ajudou a romper o sigilo em torno das guerras do Iraque e Afeganistão. Na Espanha, antes mesmo da explosão da Internet, os sistemas de SMS (torpedos) telefônicos ajudaram a desarmar a tentativa de grandes grupos midiáticos de atribuir um atentado à oposição.

Na Argentina, há um conflito latente entre o governo Cristina Kirchner e os grandes grupos midiáticos. No momento, passeatas tomam as ruas da cidade do México, contra a imprensa local.

No Brasil, em pelo menos três episódios exemplares a blogosfera foi fundamental para romper barreiras de silêncio.

O primeiro foi na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Capitaneados pela revista Veja, a chamada grande mídia se esmerou em demonizar os agentes públicos, vitimizar o banqueiro Daniel Dantas e transformar Gilmar Mendes no maior presidente da história do STF (Supremo Tribunal Federal).

Apenas a blogosfera preocupou-se em mostrar o outro lado, o das investigações.

O episódio terminou com o Opportunity se safando junto à Justiça. Mas, no campo da opinião pública, poder judiciário, Ministros que se aliaram ao banqueiro, o próprio banqueiro e Gilmar Mendes saíram amplamente derrotados. O episódio mostrou os limites da grande mídia para construir ou destruir reputações.

Várias armações foram denunciadas pela blogosfera, como o caso do falso grampo no STF, o grampo sem áudio da suposta conversa entre Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, a lista falsa de equipamentos da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) brandida pelo então Ministro da Justiça Nelson Jobim.

O segundo episódio relevante foi a promoção do livro “A Privataria Tucana”, com indícios de enriquecimento pessoal do ex-governador José Serra. Apesar de totalmente ignorado pela velha mídia, o livro bateu todos os recordes de vendas do ano.

Agora, tem-se o caso do envolvimento da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foram quase dez anos de parceria, que transformaram o bicheiro no mais poderoso contraventor da república.

Graças às reportagens de Veja, o senador Demóstenes Torres tornou-se símbolo da retidão na política. Com o poder conquistado, participou de inúmeros lobbies em favor de Cachoeira e de avalista das denúncias mais extravagantes da revista.

Veja sempre soube das ligações de Demóstenes com Cachoeira. Mas por quase dez anos enganou seus leitores, não só escondendo essa relação, como difundindo a ideia de que Demóstenes era político inatacável.

Na velha mídia, não há uma linha sobre essas manobras, nada sobre as 47 conversas gravadas entre o diretor da revista em Brasília e Cachoeira, as quase 200 dele com todos os membros da quadrilha.

Assim como no Egito, Estados Unidos, Espanha, México, França, é a Internet que está explodindo cortinas de silêncio.

O Bahia acima de tudo

Foram 7 anos fora da Série A e 10 sem um título. Tempo suficiente para desestruturar completamente um time. Sem perder de vista o grande responsável pela “década perdida”, deixemos de lado as gestões anteriores e a própria origem da atual diretoria. Seria perda de tempo e não vale a pena relembrar.

Crítico da atual diretoria em vários momentos, não deixei de perceber, entretanto, os primeiros sinais de reformulação da estrutura, jamais visto anteriormente. Mesmo nos momentos aparentemente de mais erros do que acertos com o time de futebol, via paralelamente a tentativa de se criar uma estrutura mais profissional para o time, insisto em dizer, nunca visto antes.

Dois mil e dez, a volta tão ansiosa e desesperadamente aguardada à Série A. Os acertos com o time de futebol também davam os seus primeiros sinais.

Dois mil e onze, a noite da grande agonia, em que o time lutou para não cair outra vez. Não só conseguiu, como de quebra ganhou a classificação para a Sul-Americana. O que faltava? O título de campeão baiano.

O time que começava a ser montado para o ano de 2012 era bastante promissor e entusiasmou a todos. Não fui exceção. Permaneciam alguns jogadores importantes e chegavam outros que certamente iam dar mais qualidade ao plantel. Mas, para quem começava a dar mostras de que queria ser campeão, ainda faltava algo que a direção não ia providenciar. Aí entrou o destino, que mais uma vez ajudou o Bahia. O Flamengo levou Joel Santana.

Na sua chegada, Falcão revolucionou o time e com ele a certeza: seremos campeões, e sem dificuldades. Como num passe de mágica, da noite para o dia, o time mudou e atropelou os adversários.

Começaram as contusões. Até virose teve, e uma delas tirou Gabriel do time por alguns dias. Voltou, mas não jogou mais. Apesar da figura de “garçom”, com muitas assistências importantes, não voltou a jogar como quando falcão chegou. Ainda assim, sem dúvida, apresentava rendimento razoável.

Sem ser nenhuma maravilha, a melhor fase de Souza, mas com contusões. Júnior é aquilo ali, não temos como e porque esperar mais. Jogadores importantes como Lulinha e Morais, não jogam bem há algum tempo. Ciro, frustrando todas as expectativas, nunca jogou e Zé Roberto, uma aposta que, como Carlos Alberto, não funcionará; não jogou nem jogará. Jogadores importantes estão de fora (Ávine, Jefferson).

Na reta final do campeonato baiano, aquele time que encantava e atropelava os adversários já não conseguia jogar bem. Ainda que em parte as contusões, que mantiveram o departamento médico bastante movimentado por bom tempo, quando o time chegou ao ponto de jogar com somente 2 ou 3 titulares, explicassem o pouco futebol, percebia-se a queda de produção de alguns jogadores. Mas, a vantagem construída durante o campeonato permitiu “mais facilmente” o título de campeão, com 2 empates nas finais. Bahia, campeão baiano de 2012. Finalmente.

Esteve mal na Copa do Brasil. Acertos e erros, limitações e autoconhecimento. Bom para um time buscando crescer.

Qual o técnico de futebol que não erra ao escalar um time? Qual o técnico de futebol que não faz substituições equivocadas, que eu e você, lá na arquibancada, não identificamos de imediato? Falcão cometeu esses pecados e não foram poucas as vezes que lá, na minha arquibancada, esbravejei e xinguei. Torcedor não é analista de futebol, torcedor é torcedor. É a paixão que dá as cartas. Porém, as cartas não podem ser dadas pela paixão a quem é analista de futebol.

Falcão não é medíocre, Falcão é um ícone do futebol brasileiro, condição que não o isenta de críticas, mas exige, sim, exige respeito. Num momento em que a deselegância é uma tônica, alguém como ele tem que ser respeitado. Não estou falando da sua notória elegância no vestir, essa é a que tem menos importância. É a sua elegância e seriedade no trato com as pessoas, com as coisas, que o tornam um referencial, um profissional digno. A dignidade que falta numa quantidade enorme de profissionais de todos os segmentos sociais sobra em Falcão.

Outro profissional sério e competente é Paulo Angioni, de quem tive dúvidas no início. Inteligente. Times importantes já tentaram leva-lo, mas ele permaneceu no Bahia. Por que? Projeto a longo prazo. Ele sabe que em poucos times encontrará a mesma condição de trabalho que tem aqui. O resultado disso já pode ser visto, é só querer, mas é a longo prazo que ele será reconhecido. E a sua inteligência diz que é aí que ele crescerá mais para o cenário nacional e se tornará um profissional mais valorizado ainda.

Quando vários jogadores foram contratados em 2011, a diretoria foi criticada porque trouxe um “caminhão” deles. Esse ano, as necessidades existem (não perceber que Angioni sabe disso e está agindo nesse sentido é de uma insensatez e má vontade impressionantes), mas são menores.

Em determinado momento, o Bahia esteve com 5 laterais contundidos (Ávine, Wiliam Mateus, Madson, Coelho e Gutierrez) e por isso, numa emergência, foi buscar o sexto: Gerley. Vai sair contratando a cada jogador que machucar? Lá adiante, a nossa sábia e competente imprensa esportiva, que cobra muitas contratações agora, dirá que houve precipitação, que não precisava contratar tantos jogadores. É bom lembrar que os jogadores citados estão voltando.

A diretoria do Bahia está agindo corretamente. Na Copa do Brasil não eram muitas as chances e o Campeonato Brasileiro só está começando. E esse começo será muito difícil. Não vamos nos precipitar por eventuais resultados negativos na sequência inicial. Independente das cobranças que estão sendo feitas, vamos ter calma com o time e com as contratações.

Deixemos um pouco de lado a nossa paixão, aquela que nos transforma na maior torcida do Brasil, a “Torcida de Ouro” (prêmio concedido pela CBF em 2010), para reconhecer que, administrativamente, o Bahia era um time ultrapassado. O nosso futebol está ultrapassado, porque o nosso dirigente é ultrapassado. Na verdade, a maioria dos nossos dirigentes de futebol tem esse perfil. O que ocorre é que os times do sul/sudeste, “onde as coisas acontecem”, possuem mais recursos, inclusive os advindos das cotas da televisão. Mais dinheiro, ainda que frequentemente mal aplicado, mais força.

Não há como deixar de reconhecer, no ent
anto, que neste momento, com erros e acertos, o Bahia passa por uma mudança de mentalidade no futebol como nunca antes ocorreu, que deverá lhe render frutos a médio e longo prazo. Hoje, o Bahia já é um dos times mais profissionais do Brasil. Mas, esse é um caminho muito longo.

Se o trabalho de Falcão ou Angioni não der certo, o torcedor tem todo o direito de reclamar, vaiar, xingar e são conhecidos os mecanismos existentes para se resolver a questão. Uma coisa é certa; não consigo enxergar um único momento em que qualquer um dos dois tenha faltado com o respeito à torcida ou imprensa. Esse respeito tem que ser mútuo. Impõe-se que quem tem um microfone ou uma caneta na mão precisa ter mais competência e serenidade.

É muito importante que neste momento a torcida do Bahia, a Torcida de Ouro, não se deixe levar por profissionais despreparados da imprensa. Atitudes incendiárias não cabem em nenhum momento, particularmente neste.

Que a torcida fique atenta. O Bahia está acima de tudo.

A Globo está com os dirigentes do futebol brasileiro na mão?

Do Blog do Perrone

Segundo dirigentes paulistas ouvidos pelo blog, a sombra da Record foi o principal motivo que levou a Globo a convidar um grupo de cartolas para assistir à final da Champions League na Alemanha.

A concorrente está revigorada com a troca de poder na CBF. José Maria Marin já fez gestos simpáticos para a Record. Um dos pontos de preocupação é o Campeonato Paulista. Isso porque Marin é afinado com Juvenal Juvêncio.

O são-paulino flertou com a Record na última renovação do contrato de transmissão do Paulista e arrancou um caminhão de dinheiro da Globo.

Juvenal, não foi para a Alemanha com a Globo. Segundo o presidente do São Paulo, ele foi convidado há dois meses, mas não pode ir por causa de compromissos relacionados ao clube.

Outra ausência foi a de Mário Gobbi, que se juntaria ao grupo depois de Vasco x Corinthians, mas desistiu, por causa de uma gripe.

O presidente corintiano é peça importante nesse quebra-cabeça. Como aconteceu na última renovação dos direitos de transmissão do Brasileiro, Corinthians e Flamengo servem de imã para arrastar os demais clubes.

Além do risco Record, um influente cartola paulista afirmou ao blog que a Globo pretende costurar com os clubes um pedido de mudança no Campeonato Paulista. Preocupada com as baixas audiências no último Estadual, ela está interessada em encontrar um novo formato, mais atraente. A redução no número de participantes é uma das propostas.

Em termos nacionais, a próxima disputa contratual deve ser pela Copa do Brasil. Antes de sair da CBF, Ricardo Teixeira negociou os direitos do torneio com a empresa do flamenguista Kléber Leite. As emissoras terão que negociar com ele, o que torna ainda mais importante o papel do Corinthians. Andrés Sanchez é chapa de Kléber, que comprou os direitos da Copa do Brasil de 2015 a 2022.

Mas a Globo tem dúvidas sobre até que ponto vai a influência do ex-presidente no Parque São Jorge. Por isso, ter bom relacionamento com Andrés não basta. Ela precisa se aproximar de Gobbi, o que seria feito durante a decisão da Champions.

Procurado pelo blog, Marcelo Campos Pinto, executivo da emissora, disse em dois telefonemas que estava em reunião e que não poderia falar.

Apesar de não ser época de renovação de contratos, a Globo costuma preparar o terreno com antecedência.

Torço pela torcida do Bahia

Jornal A Tarde

Por Jorge Portugal*

Não sou torcedor do Esporte Clube Bahia. Os que me conhecem – e muitos que não – sabem que meu time do coração é o Ypiranga**, “meu amarelo e preto/ meu time do peito…”. Fora da Bahia, meu coração bate forte pelo Flamengo, e pela Seleção Brasileira não consigo me interessar, de verdade, desde 1982.

No duro, no duro, parei na de 1970. Era um time ou uma orquestra? Era um sonho que jogava futebol… Mas torço ardorosamente é pela torcida do Bahia, esse personagem coletivo, que já deveria ter ganhado as páginas de um romance, ou alguma tese de mestrado universitário. Entusiasmo, paixão, fanatismo, delírio, criatividade e, principalmente, fé. Fé cega, inabalável. Acredito piamente que a torcida do Bahia tem mais fé no seu time do que diversas correntes religiosas no seu deus.

Formada esmagadoramente pelas camadas mais populares e excluídas do nosso tecido social, a torcida do Bahia precisa do seu time para continuar vivendo e lutando. Essa parte do povo a quem faltam boas escolas, bons empregos, oportunidade de ascensão, protagonismo social e até consciência de sua grande força política aferra-se ao seu “Esquadrão de Aço” para sentir-se campeã ao menos em alguma coisa, quer seja um certame esportivo.

E, então, toda a vida do Estado passa a depender da dinâmica dessa monumental torcida. O Bahia perdeu, a Bahia amanhece triste; o Bahia ganhou, a Bahia acorda eufórica, ou nem dorme direito. Foi assim na conquista de dez dias atrás. Bahia campeão após 11 anos sem título estadual. A manhã de segunda-feira parecia manhã de domingo: cidade ainda vazia, nenhum engarrafamento, e quem transitava na rua exibia sua pele de três cores. Pensei: a turma deve estar dormindo da comemoração de ontem! Como o chefe da repartição também deve ser Bahia, decretou “ponto facultativo matutino” para quem pulou e brincou a madrugada inteira!”.

Não à toa essa torcida-nação ganhou do gênio de Adroaldo Ribeiro Costa o mais belo poema convertido em hino de futebol: “Somos do povo o clamor/ Ninguém nos vence em vibração”. Mais um, Bahia! Desde que não seja contra o meu Ypiranga, é claro."

*Jorge Portugal – Educador, apresentador de TV, escritor, poeta e compositor,
**Esporte Clube Ypiranga – Um dos times mais tradicionais da Bahia, o de maior torcida (“o mais querido”) há muitos anos atrás, antes do Bahia surgir. Alguns ex-jogadores assumiram o time e tentam faze-lo ressurgir.

A Record mostra o escândalo da Veja

Já tive oportunidade de falar sobre a revista Veja inúmeras vezes (clique qui para ler http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/falando-da-vida.php).

Reportagens absurdas e a grande maioria dos escândalos existentes nos últimos anos são atribuídas à Veja, muitas vezes criadas por ela. Sem dúvida, uma questão extremamente complexa e delicada porque envolve aquilo que chamam de “o quarto poder”; a imprensa.

A CPI da Veja ou CPI da mídia, como está sendo chamada, está escancarando os podres das relações dessa revista com o submundo do crime. Porém, já se sabe que, diante do que está por vir, o que já apareceu é café pequeno.

Como alguns chamam, as quatro famiglias que dominam a imprensa brasileira, os Marinho (Rede Globo), os Civita (Editora Abril – Veja), os Mesquita (Estadão) e os Frias (Folha), estão novamente abafando o caso, como fizeram com A Privataria Tucana (clique aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/a-privataria-tucana-1334.php). Dizem que têm razões para isso porque se puxarem o fio da CPI da Veja vai respingar em muita gente.

Os órgãos citados fizeram um pacto e João Roberto Marinho, da Globo, fez chegar ao Palácio do Planalto a mensagem que o governo seria retaliado se fossem convocados jornalistas ou empresários de comunicação. Não aceitarão a convocação de nenhum deles à CPI e que o governo vai enfrentar a fúria do baronato da imprensa caso isso aconteça (veja aqui http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/record-escancara-relacoes-veja-cachoeira-segredo-de-poli-chinelo-em-horario-nobre.html).

Logo a imprensa que nos últimos anos criou um escândalo a cada fim de semana e ameaçou o governo com CPIs a cada momento que tinha os seus interesses contrariados.

Sempre lamentei o fato de as pessoas não conseguirem enxergar o que é a Veja. Dessa vez, porém, vou me limitar a postar um link. Como mais uma vez o Jornal Nacional está escondendo e distorcendo os fatos, veja a reportagem do Domingo Espetacular, da Rede Record, programa que hoje já ganha em audiência para o Fantástico. Clique aqui http://noticias.r7.com/brasil/noticias/domingo-espetacular-mostra-a-influencia-de-carlinhos-cachoeira-sobre-a-revista-veja-20120506.html para ver no portal da Record (role o mouse porque o vídeo está mais embaixo) ou aqui para ver no You Tube http://www.youtube.com/watch?v=HWJxCRbNkNY.

A blindagem da CPI do Cachoeira

Por Ricardo Kotscho

A palavra da hora em Brasília é blindagem. Está tudo blindado para que nada aconteça de imprevisto. Mas se é para ser assim, por que criaram a CPI do Cachoeira, com o apoio da ampla maioria de parlamentares de todos os partidos, na Câmara e no Senado?

Se for para investigar só a holding da contravenção montada por Carlinhos Cachoeira, é perda de tempo, pois a Polícia Federal e o Ministério Público já fazem isso há dois anos, apuraram tudo, o inquérito foi enviado ao STF e o acusado está preso.

Seu parceiro e braço parlamentar, o quase ex-senador Demóstenes Torres, já está no corredor da morte política só esperando a hora da degola.

Depois de três meses de vazamentos deste inquérito noticiados diariamente pela imprensa, esperava-se que a CPI fosse ampliar o leque, investigando outros tentáculos do grande polvo da corrupção criado por Cachoeira nos três poderes, em grandes empresas privadas e na imprensa, mas o relator Odir Cunha (PT-MG) já avisou nesta quarta-feira, logo na abertura dos trabalhos, que podemos tirar o cavalinho da chuva.

"A agenda prioritária buscará caracterizar a organização criminosa do senhor Carlos Augusto Ramos", decretou Cunha. E ainda é preciso caracterizar alguma coisa depois de tudo o que já foi apurado?

Nós temos o direito de saber o que ainda não veio a público, ou ficou escondido nos rodapés dos jornais _ como, por exemplo, as relações do contraventor com setores da imprensa, uma tabelinha entre fontes e repórteres que atendia a interesses comuns.

Antes que os integrantes da CPI armassem seu esquema de blindagem para proteger aliados, os principais orgãos da imprensa brasileira já tinham feito o mesmo, defendendo em bloco e atacando em massa. A participação de profissionais e veículos na história simplesmente sumiu do noticiário.

A dobradinha formada por Cachoeira e jornalistas da revista "Veja" ficou evidente em pelo menos dois episódios que provocaram as maiores crises políticas no governo Lula: a gravação da conversa do contraventor com Valdomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu, e as cenas da corrupção flagradas nos Correios, que deram origem ao mensalão.

Nos dois casos, o contraventor ofereceu de bandeja aos profissionais da revista as imagens em que se basearam as denúncias, gravadas por arapongas a seu serviço, mantendo a partir daí uma relação constante para plantar notícias.

Isso não mereceria pelo menos uma investigação? Até que ponto o grande bicheiro tinha influência sobre o que a revista publicava ou deixava de publicar para atacar inimigos e defender interesses comuns? Bastaria comparar o conteúdo e a época das gravações das conversas mantidas por seus jornalistas com Cachoeira e o que foi publicado pela "Veja".

Pelo jeito, não pensa assim o relator Odir Cunha, que já prometeu não fazer uma "caça às bruxas", excluindo juízes, jornalistas e procuradores do rol de pessoas que devem ser convocadas pela CPI. Se não quer caças as bruxas, vai caçar o que? As princesas?

Dos poucos parlamentares que ainda insistem no assunto, o deputado Paulo Teixeira, ex-lider do PT na Câmara, quer ouvir jornalistas que "foram cooptados pelo esquema Cachoeira". Sem citar nomes, Teixeira disse à Folha que "isso tem que ser investigado pela CPI".

A simples menção de serem ouvidos também jornalistas pela CPI já provocou uma gritaria danada de colunistas e editorialistas amestrados, acenando com a ameaça de volta da censura e restrições à liberdade de expressão, como de costume.

Na Inglaterra velha de guerra, ninguém pensa assim. Velhos homens de imprensa não são considerados inimputáveis. Ainda na terça-feira, o Parlamento britânico divulgou um relatório considerando Rupert Murdoch, 81 anos, um dos maiores magnatas da mídia, "inapto a comandar uma grande empresa multinacional".

Murdoch já estava sendo investigado desde julho do ano passado, após a denúncia de que um dos seus jornais, o tablóide "News of the World", grampeava celulares de celebridades para obter informações. E não foi publicado nenhum editorial contrário às investigações e em defesa da liberdade de expressão.

Aqui no nosso Brasil, a Associação Nacional dos Jornais, entidade patronal que lidera o combate a qualquer tentativa da sociedade de regulamentação da imprensa, publica hoje um anúncio em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

O título: "Liberdade é assim: quanto mais você tem, mais difícil viver sem ela".

Se fossem mais fiéis aos fatos, melhor fariam se mudassem este texto para:

"Liberdade é assim: quanto mais nós (da ANJ) temos, mais nós (da ANJ) queremos ter".

Porque, na verdade, liberdade de imprensa deveria ser um bem de toda a sociedade, mas o que temos no Brasil hoje é a liberdade de empresa para meia dúzia de famílias tradicionais que dominam o setor.

Pobre elite

 

Cesare Pavese* diz que “quando lemos, não procuramos idéias novas, mas pensamentos que já nos passaram pela mente e que adquirem, na página impressa, o selo da confirmação”. Em outras palavras, só vemos a verdade que nos interessa.

Nessas palestras/conferências sobre drogas, quantas vezes voce já viu uma plateia constituída por pessoas viciadas em drogas? Por que as campanhas contra as drogas não atingem o seu objetivo?

É claro que são diversas as causas e não pretendo, nem poderia, tentar explicar assunto tão complexo. Mas talvez a resposta, pelo menos uma delas, às perguntas possa ser um pouco simples. O viciado em drogas não quer ouvir falar do assunto, ele não quer (não consegue?) ver a verdadeira situação, porque a necessidade (dependência) está acima de uma verdade que não é a dele, assim como o alcoólatra não vê que tem problemas.

O que forma o homem? Além da carga hereditária, negada por alguns, o meio em que vive. A família, os amigos, os professores… e a imprensa.

Alguém conhece histórias de preconceito e racismo entre crianças? Quando surgem? As primeiras e mais fortes, até porque é onde começa o homem, surgem em casa, com os pais. São pequenos comentários sobre determinada raça, cor, religião, partido político e por aí vai. Quem está ali ao lado, sentado, brincando, aparentemente “nem aí”, porém filmando e assimilando tudo? Os filhos.

Com aquelas “informações”, aquela criança se torna um adulto. Dai pra frente, além das primeiras informações, terá outras fontes, como a imprensa.

No mundo todo, os grandes grupos de comunicação estão nas mãos dos grandes grupos financeiros. É natural (?), e parece inevitável, que grandes interesses estejam em jogo. No entanto, nos últimos anos, a chamada grande imprensa atingiu um nível de deterioração que salta aos olhos, de quem quer ver.

Sempre foi difícil falar sobre esse tema, porque boa parte da sociedade tida como esclarecida, também conhecida como elite (?), sempre quis somente o selo da confirmação daquilo que satisfazia aos seus anseios de segmento diferenciado.

Como ver com bons olhos ideias que defendem maior igualdade entre as pessoas se eu sou uma pessoa diferenciada? Como aceitar que a linha do metrô que vem de áreas pobres tenha uma estação em áreas nobres da cidade? Como concordar com a ideia de que sou racista se “até tenho um amigo pretinho que é gente boa”? Como aceitar agrupamentos, políticos (mais conhecidos como partidos) ou não, que reúnam pessoas de nível social mais baixo do que o meu? Por que me incomoda tanto a defesa de cotas (sem fazer juízo de valor) para as universidades? Por que me incomodam cada vez mais “essas pessoas” que passaram a viajar de avião que estão sentadas ao meu lado? Onde é que vamos parar? Daqui a pouco também vão querer ir para a Europa, era só o que faltava.

Não interessa a leitura (ou jornal da televisão) que me nega os meus valores. Quem disse que quero pensar? Só quero “o selo da confirmação” daquilo que é meu. Isso, e algo mais, explica a tiragem de alguns jornais/revistas e a audiência de algumas redes de televisão. Algum pecado nisso? Absolutamente, é a escolha de cada um. O grande problema são as distorções das informações, que fugiram do controle, em nome de duas coisas: o enorme jogo de interesses que está por trás de tudo isso e o “compromisso” com a satisfação daquele segmento da sociedade que, a qualquer preço, deseja manter o seu “status quo”.

As histórias que envolvem alguns órgãos de comunicação são por demais conhecidas e podem ser vistas facilmente (veja só alguns exemplos aqui e aqui). São relações promíscuas, devidamente comprovadas, com momentos tristes da vida do brasileiro. O que fizemos esses anos todos?

Lembra quando vários escândalos “surgiram” pondo a pecha de ladrões em vários políticos e partidos? Por que o “mensalão” está associado ao PT se tem origem no PSDB e no DEM? Ainda que fartamente documentado, por que a imprensa não repercutiu da mesma forma o livro A Privataria Tucana. Por que foi vergonhosamente escondido pela grande (?) mídia um livro que é um best-seller?

Não vamos prolongar a conversa. Só acompanhe os últimos acontecimentos que envolvem o Senador Demóstenes Torres (DEM de Goiás), Marconi Perillo (PSDB, governador de Goiás) Carlinhos Cachoeira (bicheiro) e a revista Veja. Agora está fácil de acompanhar porque até a Rede Globo, imagine, até a Rede Globo, está mostrando (já se sabe porque ela está mostrando).

A Veja, que sempre criou e escandalizou todas as notícias, sempre esteve envolvida nelas. Você percebeu que Diogo Mainardi, o colunista preferido de muitos, anda sumido? Você faz ideia de por quê? Voce sabe que ele foi condenado à cadeia, mas, por ser réu primário, não foi preso? Que mesmo sendo um jornalista da tropa de choque de Daniel Dantas, se for condenado outra vez terá que ser preso?

Grampos, dossiês… Uma das coisas mais ridículas, mas prontamente aceita pela nossa elite, foi o episódio dos 2 milhões de dólares que “vieram” de Cuba dentro de garrafas de bebida para a campanha de Lula. Dois milhõe
s de dólares de um país pobre como aquele, dentro de garrafas de bebida… (você já pensou o que deve ser colocar 2 milhões de dólares, cédula por cédula, em garrafas de bebida). A única testemunha era um cara que estava morto

Sabia que aquele episódio que deflagrou o “mensalão” (Valdomiro Diniz recebendo dinheiro nos Correios) foi armado e filmado a mando de Carlinhos Cachoeira e tinha acontecido 2 anos antes. Por que Carlinhos Cachoeira levou dois anos para entregar à Veja a fita de Valdomiro, depois que ele foi trabalhar na Casa Civil à época de José Dirceu? Além de tantas outras coisas, quem mais se beneficiaria com o desmanche do Governo Lula, logo depois da vitória de 2002? Só como mais um registro, Cachoeira também é dono de empresa de (remédios) genéricos (opa!).

Só alguns episódios (são inúmeros) para conhecermos essa revista.

A história do boimate, tida como a maior barriga (jargão jornalístico) da imprensa brasileira, reflete bem o jornalismo da Veja. Uma notícia de 1º de abril que tinha saído em uma revista científica dizia que o cruzamento de boi com tomate dava uma carne com tempero de tomate. O diretor da Veja manda um jornalista entrevistar um professor de biologia da USP sobre o tema.

– Professor, o que o senhor acha do cruzamento do boi com tomate?
– Impossível.

O repórter não tinha sido enviado para apurar a veracidade da notícia e sim para fazer a reportagem sensacional a qualquer preço (padrão Veja). Pensou, o que é que eu vou fazer, tenho que levar a reportagem.

– Professor, suponhamos que fosse possível…
– Se fosse possível, seria a maior revolução da história da genética…

Sai a reportagem: “Professor fulano de tal da USP diz que o cruzamento de boi com tomate é a maior revolução da história da genética”.

Esse fato tem pouco mais de 25 anos. Ou seja, a Veja tem tradição em não dar a notícia, ela “cria” a notícia. Tornou-se especialista nisso. Foi assim que ela acabou com a carreira política de Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara dos Deputados (deputado federal por Goiás), em 1993.

Veja um dos diversos depoimentos que foram dados e que a sociedade sequer tem conhecimento. “A Veja mentiu a todo o país, chantageou políticos e juizes, mentiu durante anos sobre o Demóstenes (Torres), era sócia do (Carlinhos) Cachoeira, sendo que este queria dinheiro e ela queria elementos para chantagear o governo”. Veja outro, feito no Congresso aqui.

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma" (Joseph Pulitzer, 1847-1911).

* Cesare Pavese – escritor e poeta italiano (1908-1950).

Pobre Joel

estupidificação coletiva é um processo lento e gradativo e a televisão tem papel fundamental nesse processo. Ao longo dos anos foi desavergonhada e gradativamente baixando o nível de tal maneira que fez boa parte da sociedade perder a noção de bom senso. Ela se supera a cada dia e não bastassem os BBBs da vida, surgem programas como “As ricas” da Rede Bandeirantes. Não vi, mas li sobre.

Não seria o futebol a exceção. O recente episódio que envolveu Joel Santana (técnico de futebol), o Bahia (a sardinha) e o Flamengo (o tubarão) foi de fazer chorar.

O Bahia, bi-campeão brasileiro, o primeiro time a ser campeão brasileiro e a disputar a Libertadores das Américas, o time que tem a maior quantidade de títulos regionais do Brasil (se estiver errado, por favor, corrijam), com uma das maiores e mais apaixonadas torcidas do futebol brasileiro, certamente não é uma sardinha. Ao passar sete anos entre as séries B e C (por razões que o Brasil desconhece, o que é natural, e que não cabe comentar aqui), perdeu parte do seu prestigio, da sua força, mas, certamente, não é uma sardinha. A prova mais recente disso é o fato de que o Bahia foi um dos times brasileiros escolhidos pela Nike, a maior empresa de material esportivo do mundo, para fazer parte de um grupo seleto. Bahia, Corinthians, Coritiba, Internacional e Santos fazem parte desse “clube”, juntamente com a Seleção Brasileira.

Mas, por mais que ele tenha tentado provar o contrário ao fazer juras de amor eterno, beijado mil vezes a sua bandeia, foi como sardinha que Joel se referiu ao Bahia naquele fatídico “Entre amigos”, programa de esportes do SPORTV.

Abro um parêntese para dizer que não assisto ao referido programa. Já há alguns anos sou portador da síndrome “não consigo ouvir Galvão Bueno”, diagnosticada como incurável. Diante da repercussão que teve o programa, vi na internet a parte referente ao momento específico em que Joel atinge o ápice da (estou em dúvida se chamo de estupidez ou uso uma expressão mais sutil, como insensatez). Gargalhadas ecoaram.

Aproveito para abrir outro parêntese. Aquele momento foi de extrema infelicidade e grosseria para com um time de futebol com as tradições do Bahia, como teria sido com qualquer outro. Aquelas gargalhadas refletiram algo que faltou também aos jornalistas presentes; sensibilidade. Confesso, porém, que não me surpreendeu. Uma coisa que aprendi há muito tempo foi que as aparências enganam.

É claro que a torcida do Bahia ficou horrorizada, como qualquer outra ficaria, ao ver aquele momento de grosseria imperdoável com o seu time. Também fiquei, mas não por essa razão. Fiquei horrorizado pela pobreza de espírito que reinou naquele momento.

Nesse processo de estupidificação, Joel não percebe que muitas vezes, sutilmente ou não, episódios como aquele são usados para tornar “folclóricos” os seus personagens. Do folclórico para o ridículo é um passo. Nesse episódio, o passo foi dado.

A mídia se enganou, e não foi pouco, ao colocar que a torcida do Bahia “chorava” a saída de Joel do Bahia. Muito pelo contrário, ela festejou. Por que? Porque ela tem a mesma percepção que a própria imprensa tem e deixou clara nesses últimos dias; Joel é um técnico ultrapassado (se quiser ser mais sutil, diga como disse Lédio Carmona no seu blog, um técnico de “ideias anacrônicas”).

Os resultados do Bahia com Joel no Campeonato Brasileiro de 2011 foram iguais aos de Renê Simões, a quem ele substituiu, com uma diferença: com Renê o time jogava melhor. Atribuir a ele a conquista da vaga na Copa Sul-Americana em 2012 é, no mínimo, equivocada. Uma combinação de resultados, inclusive aquele absolutamente inesperado Cruzeiro 6X1 Atlético Mineiro, contribuiu muito para isso.

Os resultados de Joel neste início do Campeonato Baiano foram pobres (em parte aceitáveis por ser início de temporada), mas muito pobre e inaceitável foi a forma como o time jogou em todas as partidas. O presidente do Bahia, que deve ter as suas razões, não, mas a torcida festejou a saída de Joel.

A torcida chorou, isso sim, pela forma melancólica como ele deixou o time. O seu comportamento aqui em Salvador nos dias que antecederam a ida para o Flamengo teria sido pueril, se fosse um jovem técnico diante da possibilidade de ir para o Flamengo, para o Rio de Janeiro, de estar ao alcance da imprensa carioca, vitrines irresistíveis. Não se pode aplicar a palavra pueril para alguém com a experiência de Joel Santana. Foi muito mais do que isso.

A questão ética, na verdade a ausência dela, foi outro desastre, ainda que se argumente que no futebol é assim. Tudo foi tramado com Vanderlei Luxemburgo ainda técnico do Flamengo. Aliás, os não flamenguistas estão adorando ele ter ido para o Flamengo. Acreditam eles que Joel Santana, Ronaldinho carioca e Patrícia Amorim (presidente do Flamengo), juntos têm grande chance de arrebentar o clube, Zico que o diga. Como dizem que o verdadeiro projeto dela, Patrícia Amorim, é candidatar-se a algum cargo político, possivelmente vereadora (pelo menos por enquanto), esse projeto parece andar meio ameaçado.

Ronaldinho carioca não consegue mais se conter diante da força que tem no Flamengo e é autor de frases que falam por si: “Agora, quem manda obedece”. O que ele faz com a presidente do Flamengo e a sua diretoria nos dá a sensação de pena e tristeza. Pena por ver pessoas se submeterem ridícula e publicamente a essa total inversão de valores e hierarquia e tristeza por ver um clube com a tradição do Flamengo aceitar tudo isso.

Atribui-se ao técnico de futebol a missão de comandar o time. Com todos os seus defeitos e virtudes, do alto do seu currículo, Vanderlei Luxemburgo não conseguiu. Brigou com o dono do time. Perdeu o cargo de comandante do time. Qualquer técnico inteligente que fosse sondado para substitui-lo, no mínimo deveria pensar que, ao aceitar ser comandado por um comandado, a carreira de comandante estará ameaçada.

Com o seu comportamento “pueril”, Joel não percebeu uma coisa elementar, de profundidade menor do que piscina para bebê. Ao aceitar a condição de técnico do Flamengo neste momento, o seu descrédito pode vir como prêmio. Já se sabe quem vai mandar. E não será ele. Os jornalistas que disseram que &ld
quo;Joel será um bombeiro” não quiseram dizer exatamente isso.