Por Ronaldo Souza
Há muito tempo Moro e Dallagnol fizeram do judiciário um trampolim para a política.
Cansei de falar aqui sobre o que há bastante tempo está evidente; a indecência de Moro e Dallagnol como membros de um judiciário já desmoralizado e os prejuízos que isso trouxe para a justiça brasileira (agora mais desmoralizada ainda) e para as empresas mais importantes desse país.
Detalhar aqui agora seria absoluta e desnecessária perda de tempo.
A tentativa de Moro de chegar à presidência foi percebida por todos, particularmente nos primeiros passos que deu em direção ao governo Bolsonaro, e ficou escancarada quando finalmente se tornou ministro.
O pior de tudo, mas já esperado, foi o fato de que todo o tempo agiu como um traidor de Bolsonaro, na velha parceria com a Globo.
Um espião no governo.
Por tão escancarada a sua atuação, foi-se o seu desejo inicial; o de ser ministro do STF.
Dallagnol já estava armando sua candidatura ao Senado. No entanto, ainda que não letal, o vazamento das suas tramas com Moro pela Vaza Jato o atingiram de forma irreversível.
Completamente desmoralizado, hoje vive se escondendo.
Agora, será pior.
Por intimação de Ricardo Lewandowski (ministro do STF), a Lava Jato teve que entregar aos advogados de Lula todos os documentos pertinentes ao seu “julgamento”.
E lá estão os diálogos entre Sérgio Moro, Dallagnol e toda a Lava Jato.
Já um pouco mais adiantada a análise dos documentos, somente os 4,6% vistos até agora (aproximadamente 34 Gb dos 740 Gb totais disponibilizados) já seriam suficientes para demissão e prisão desses grandes homens que lutaram bravamente contra a corrupção e se tornaram heróis de expressivo (em termos de quantidade) segmento da sociedade brasileira.
Veja o que diz a procuradora Livia Tinoco em um dos diálogos, publicados pela imprensa:
“TRF, Moro, Lava Jato e Globo tem um sonho: que Lula não seja candidato em 2018. E o outro sonho de consumo deles é ter uma fotografia dele [Lula] preso para terem um orgasmo múltiplo, para ter tesão”.
Em outro momento, veja o que diz Deltan sobre Moro:
“O material que o Moro nos mandou é ótimo. Se for verdade, é a pá de cal no 9 (apelido pejorativo dado por ele a Lula) e o Márcio merece uma medalha”.
SEN-SA-CIO-NAL!
Mas é na percepção que tive há alguns poucos anos que quero chegar.
O que se pode esperar de uma sociedade que não conseguiu ver o que esses dois cidadãos e toda a trupe representam (óbvio do óbvio) de nefasto ao país chamado Brasil?
Qualquer coisa!
Vou além.
Se a visão curta não lhes permite enxergar nada, como se surpreender quando elegeram Bolsonaro e o defendem ainda hoje?
Sem ter a menor noção do que acontece e agindo por instinto, afinal, o que lhe resta, esse segmento da sociedade brasileira se expôs de tal forma que corpo e mente ficaram nus em praça pública.
O corpo mostrou vísceras apodrecidas, com o odor mais fétido que se poderia imaginar; a mente exibiu sem nenhum pudor a já conhecida ignorância.
Abriram-se os portões do porão onde pareciam jazer os instintos mais primitivos e baixos da raça humana.
Esse conjunto, regido pela irracionalidade, permite a eles defenderem que não há mais corrupção no governo.
Inacreditável, não é mesmo?
Vamos lá.
Que importância tinha Bolsonaro na política nacional?
Nenhuma.
Zero.
Daí eu parto.
Até bem pouco tempo, como seria comprar os passes de Aécio e Bolsonaro? Qual seria o mais caro?
Por exemplo, se Furnas formasse um time de futebol (FFC – Furnas Futebol Clube) e desejasse ter algumas “vantagens” no jogo jogado, qual seria o jogador mais importante e, portanto, o mais caro?
Alguma dúvida de que seria Aécio?
Ou seja, na folha de pagamentos de Furnas Aécio aparecia como recebendo milhões e Bolsonaro alguns poucos “contos de réis”, em função de sua nenhuma importância para o time.
As premiações de Aécio por cada jogo (“bichos”, como são conhecidos no futebol) sempre muito altas, porque era tido como craque.
Bolsonaro sempre um perna de pau.
Acostumado como jogador a ganhar bichos irrisórios, pelo seu fraquíssimo futebol, viu-se de repente diante do poder que lhe foi dado.
Agora poderoso, resolveu então formar seu próprio time.
Ainda com o apoio do dinheiro pesado de grandes empresários, com apoio total da imprensa e tendo até a proteção de árbitros (juízes, como são mais conhecidos) digamos, não muito confiáveis, ele formou um time que, no início, parecia que tinha tudo para vencer os futuros campeonatos.
Entretanto, completamente desqualificado para um projeto tão ambicioso e com a formação de um time de péssima qualidade, a percepção de que não tinha nenhuma condição de ir além da função de roupeiro do time (com todo respeito à categoria) foi se tornando evidente e generalizada.
Os donos do dinheiro e do poder que bancaram sua ascenção passaram a se dizer “surpresos” com a sua total incapacidade e alguns começaram a abandonar o Titanic, ainda que timidamente e de forma velada.
“Perceberam” que o paspalho a quem deram o poder era um desastre como empresário/gerente daquele time de futebol.
Ocorre que a torcida do seu time, que sempre fez parte do jogo, não só aceitara todas as regras sujas como passou a adotá-las, como nenhuma outra tinha feito até então.
Ela, que já tinha mostrado todo seu potencial de muita violência, com torcedores sem nenhuma noção de como é o campeonato, desrespeitando todas as regras e com a enorme capacidade de desqualificar e difamar jogadores e diretoria dos times rivais (uma característica de torcida nunca vista naquelas proporções), dava sinais claros de assimilação, incorporação e adoção de todos os métodos daquele novo empresário/gerente.
A simbiose perfeita.
A tal ponto que aquele ser se tornou um mito para eles, numa relação de identificação de capacidades, propósitos e ações poucas vezes vista.
Foi nesse processo, respaldado pelo grande dinheiro (que muitos chamam de grande capital) e por forças armadas de todas as maneiras para protegê-lo, que ele construiu o seu próprio time.
Um time que chegou ao mercado com um grande poder de compra.
O Centrão Futebol Clube.