Circuito Nacional de Endodontia

Por Ronaldo Souza

Em 2006, o Prof. Gilson Sydney me propôs a criação de um “evento” de Endodontia em Curitiba e Salvador, um ano em cada cidade.

De imediato aceitei a ideia, mas também de imediato propus faze-la de maneira um pouco diferente.

Por imaginar o quanto poderia ser cansativa e repetitiva a sua realização somente em duas cidades, sugeri uma pequena modificação.

Tendo em vista que o evento nascia apoiado fundamentalmente na força de uma amizade que se consolidara ao longo dos anos, propus a incorporação de outro grande amigo nosso, o Prof. Carlos Estrela.

Como envolveria três cidades, Curitiba, Goiânia e Salvador, seus respectivos estados e regiões do país (Sul, Centro Oeste e Nordeste), sugeri então o nome Circuito Nacional de Endodontia.

Foram momentos ricos de idealização e criação e os nossos batimentos cardíacos acelerados acusavam a pulsação arterial mais forte por conta de uma alegria “jovial de jovens não mais jovens” (permitam-me) e por isso contagiante.

Mas, estranho, a sensação não era plena.

E a razão era o fato de que outro grande amigo estaria ausente desse feliz encontro.

Pelo fato de à época estar morando na Inglaterra, o Prof. José Antônio Poli de Figueiredo e o Rio Grande do Sul “não estavam” no Circuito.

O Circuito Nacional de Endodontia nunca teve como lastro as faculdades às quais estavam vinculados os professores, nem as suas cidades e respectivos estados.

O seu grande lastro, e isso ficou evidente e foi registrado desde o início, era a amizade daqueles homens.

E foi muito interessante como desde o primeiro momento, ainda 2006 em Salvador, eu e Gilson “estabelecemos” que o Circuito Nacional de Endodontia não teria presidente, talvez como reflexo do que a vida ensina sobre a às vezes frágil estrutura psicológica do homem.

A vaidade pode levar o homem por caminhos que ele nem sempre deseja trilhar.

Mas esta é apenas uma particularidade. Há outras.

Por um pedido meu, também ficou estabelecido que as duas primeiras etapas seriam Curitiba (2007) e Goiânia (2008). Salvador ficaria por último, como de fato ocorreu, em 2009.

Na sequência, em 2010, quando voltava a Curitiba, ao Circuito foi incorporada a cidade de Campinas (SP), através do Prof. Rielson Cardoso. Em 2011, ele já ocorreu em Campinas.

Nesse espaço de tempo, três cidades e seus respectivos estados manifestaram desejo de se incorporar ao Circuito.

Conversamos, observamos, mas não aconteceu.

Nunca foi desejo do Circuito Nacional de Endodontia ser grande.

De ser o melhor, sim. Sobre isso, temos a nossa análise.

Mas um velho desejo tinha agora todas as possibilidades.

E em 2016, numa conversa a caminho do aeroporto, o professor Figueiredo me confirmava a “chegada” do Rio Grande do Sul.

Ali estava o velho e bom amigo “inglês” que impedira a plenitude da alegria “jovial de jovens não mais jovens”. Em 2018, o evento foi realizado em Porto Alegre.

Mais recentemente tivemos mais dois contatos, mas, por razões diversas, não aconteceu.

Até então nos moldes tradicionais, foi em 2009 em Salvador que ocorreu o primeiro debate do Circuito Nacional de Endodontia, atividade que passou a ser uma característica do evento; em todas as etapas, o turno ou o dia é finalizado com um debate.

Tornou-se uma marca forte.

Não tenho nenhuma dúvida de que outros eventos também adotarão essa postura, tão saudável e essencial para o real desenvolvimento de qualquer especialidade.

Sejam bem-vindos.

Estarei na torcida para que isso aconteça.

Características assim foram definindo o “jeito” de ser do Circuito, o que não tardou a ser reconhecido pela comunidade endodôntica.

O Circuito Nacional de Endodontia não exibe a Endodontia, conversa com ela.

E mais do que isso, traz a Endodontia para a discussão, para o debate. A Endodontia é exposta à discussão, afinal “da discussão nasce a luz”.

As empresas comerciais ligadas à Endodontia, parceiras de vários momentos, souberam entender, porque também perceberam que ali havia algo mais.

O Circuito Nacional de Endodontia representa o triunfo da ciência endodôntica e da atividade clínica num corpo só, mas, sobretudo, a festa da amizade.

Quando amizade e princípios estão no comando, tudo é mais sólido, mais consistente.

Nesse sentido, o Circuito Nacional de Endodontia é um evento único.

E este foi o legado maior que o Prof. Gilson Sydney nos deixou.

Poucas vezes vi exemplo maior desses valores.

Gilson é um exemplo para todos nós.

Entretanto, não são poucas as vezes em que a vida se põe à nossa frente e abre o seu leque de eventuais dificuldades, oportunidades e alternativas e nesse momento estou me afastando desse evento que se tornou o mais representativo da Endodontia brasileira e que poucos serão capazes de imaginar o que representa para mim. 

Não tenho nenhuma dúvida de que o Circuito Nacional de Endodontia estará em mãos que saberão preservar as suas conquistas.

Aqui, sob o Céu e o Sol da Bahia e a proteção dos Orixás, estarei torcendo por isso.