Por Ronaldo Souza
Talvez não seja tão simples nos tempos atuais não ficar triste.
Se olho para a profissão, incomoda a quantidade de “professores” com interesse meramente mercantilista.
Foi-se o tempo em que ensinávamos?
Em que tempo estamos? No tempo de tirar de quem nos procura, ao invés de dar? Estamos para brindar pelo que entra como dividendos e não mais pelo que sai dos nossos corações e almas como orientadores do futuro de jovens que ainda sonham? Tornaram-se eles somente o nosso meio de vida?
Que maravilha ser professor!
Quantos cargos imponentes. Diretor, chefe de departamento, coordenador de núcleo, homenagens, professor melhor amigo, melhor isso, melhor aquilo, tantos trabalhos, tantas publicações… e os nossos alunos buscando seguir os nossos passos.
Que passos, se nos perdemos?
E os alunos, desnorteados, achando que os parâmetros que estabelecemos para nós são os que devem estabelecer para eles.
Estamos diante de um momento único, sem dúvidas.
Momento em que novas ideias e concepções estão aí, pairando no ar. Concepções que precisam ser discutidas e que sobre elas sejam lançados novos olhares.
Por que não acontece?
Talvez seja mais interessante a criação de novas especialidades, novos cursos…
Necessidades não surgem mais naturalmente; são criadas.
Se olho para o mundo só vejo dedos apontando para os erros. Que não sejam os nossos ou dos nossos, mas os daqueles que não rezam na nossa cartilha.
Só vejo dedos acusando alguém de algo. Só vejo autoridades ignorantes e descomprometidas me dizendo o que fazer.
Tentam tirar a minha cidadania. Ninguém quer me permitir ser eu.
Quero ser marginal.
Aquele que vive à margem.
À margem da mediocridade, do que você determina.
Sou aquele que não lhe segue porque você não tem competência para ser seguido.
Quero escolher!
Errar, acertar, e depois, lá na frente, olhar para trás e dizer:
Eu fiz!
Resta-me torcer para quando chegar esse momento poder contabilizar mais acertos do que erros, porque ambos, acertos e erros, estarão comigo. E aí terei feito as minhas escolhas, terei vivido a minha vida. Os pecados e glórias serão meus.
E então poderei dizer aos meus filhos:
Sejam!
Onde vou encontrar esse mundo?
Onde você vai encontrar?
Não, não vamos encontrar. Simplesmente, não vamos encontrar.
Temos que construir.
Não quero um mundo em que me digam; faça. Quero um mundo em que façam comigo.
Quero fazer o meu mundo.
Mas, como?
Vivendo a vida dos meus pais, dos meus professores, dos “professadores” da verdade?
Quero viver a minha vida.
A minha!
Crescer, amadurecer.
Como é difícil!
Vive-se cada vez mais a vida do outro.
Somos cópia.
Somos manada.
“A gente nasce primeiro para os outros. Há um dia em que nascemos para nós mesmos”.
Essa frase é de um personagem do livro “Antes, o verão”, de Carlos Heitor Cony.
O seu primeiro nascimento não foi escolha sua.
O segundo é.
“Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer…”
(Geraldo Vandré)