Por Ronaldo Souza
Tenho ouvido com alguma frequência membros da imprensa esportiva local dizerem “eu prefiro que o time jogue mal e ganhe do que jogar bem e perder”.
Referem-se ao Bahia.
Criam assim um clima desfavorável que contamina a torcida.
Resultado. Vaias, que já ocorreram no último jogo, contra o Fluminense.
Para um time que vem jogando bem.
Se a imprensa reservasse algum espaço para o bom senso talvez pudesse entender que é no mínimo pouco provável que um time jogue sempre mal e ganhe as partidas e que outro jogue sempre bem e perca.
Em algum momento essa “matemática” não vai funcionar e as razões para isso parecem óbvias.
Faço questão de frisar mais uma vez que ao torcedor de futebol quase tudo é permitido, à imprensa não.
Esse tipo de comentário é de uma insensatez à toda prova e por trás dele podem existir algumas coisas.
Incompetência em primeiro lugar, além do desejo de fazer média e agradar à torcida ou qualquer outra razão inconfessa.
O lugar de destaque, porém, é ocupado pela incompetência mesmo.
Vamos ver Guto!
Será que já esqueceram, entre outros, do jogo ridículo que o time fez contra o CRB (série B, 2016), quando ganhava de 2X0, em 10 minutos deixou empatar e se tivesse mais tempo de jogo era bem capaz de perder?
Também já esqueceram do último jogo do campeonato, contra o Alético Goianiense, fora de casa?
O Bahia perdeu, com o time jogando covardemente mais uma vez, a despeito da importância da partida.
Subimos graças à derrota do Náutico.
O que fez essa mesma imprensa quando Guto armou dois times, um para o Campeonato Baiano e outro para a Copa do Nordeste agora em 2017?
Criticou e muito. E elogiou bastante o Vitória.
Sobre isso, o que fizeram e como chegaram os dois times nas semifinais e finais dos referidos campeonatos já conversamos no texto Jogo perigoso.
Sem querer tirar o mérito de Guto Ferreira por ter deixado um time montado, também já falei aqui e aqui que não foi ele e sim o acaso que armou o ataque do Bahia.
Independentemente de qualquer outra coisa, para conseguir isso Guto levou um ano.
E não está bem no Internacional.
Tendo-o criticado na maioria das vezes durante o ano em que esteve no Bahia, agora a imprensa incensa o time montado por Guto.
E critica quem?
Vamos ver Jorginho!
Tem 1 mês e 10 dias de Bahia.
Do quarteto que encantou a todos (Régis, Zé Rafael, Edgard Junio e Allione), Jorginho já não encontrou Régis, o jogador mais importante para o time naquele momento, à sua disposição.
Em seguida perdeu Edgard Junio.
Do meio campo titular, além de Régis, perdeu Edson.
Todos por contusão.
Justamente nesse momento em que estava sem jogadores importantes no Campeonato Brasileiro, entre jogos fora de casa e na Fonte Nova pegou a sequência com Botafogo, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e Fluminense.
Considerando-se particularmente a qualidade desses times, o Bahia jogou bem (com exceção feita aos jogos com Palmeiras e Corinthians em que não esteve tão bem), foi elogiado e em alguns poderia ter ganho.
A única partida em que jogou mal foi contra o Vitória. Todos sabemos que em clássicos com essa rivalidade os times se igualam e geralmente não há favorito. O Bahia esteve naqueles dias em que nada dá certo. Acontece.
Na última partida agora, contra o Fluminense na Fonte Nova, a imprensa, inclusive a do Rio, mais uma vez reconheceu o futebol jogado (mesmo não tendo sido das melhores partidas) e disse que o Bahia foi superior “durante todo o jogo”.
No programa “Troca de Passes” (SporTV), enquanto Abel fazia considerações bobas na entrevista coletiva nos vestiários, foi possível ouvir bem baixinho ao fundo alguém no estúdio dizer; “esse negócio de Abel dizer que o time…”.
Não deu para ouvir mais do que isso e muito menos identificar de quem era a voz, pois o som desapareceu em seguida. Após terem dito que o Bahia foi superior “durante todo o jogo”, acho que podemos deduzir que alguém da bancada do programa (André Rizek, Carlos Eduardo Lino e Roger Flores) não estava concordando com as declarações do treinador do Fluminense.
Quando Vanderlei Luxemburgo assumiu o Sport só fez perder ou empatar no início. Onde está agora o Sport? Na sexta colocação.
O futebol brasileiro está virando uma loucura.
A demissão de Wagner Mancini da Chapecoense foi um absurdo e com apenas pouco mais de um mês, Eduardo Baptista já foi demitido do Atlético Paranaense, cujo time é limitado.
Espero que a diretoria do Bahia não se deixe levar somente pelos resultados e tenha um pouco mais de serenidade. O time precisa de reforços, mas não é ruim. E ainda continuo achando que deve ser o mesmo que vinha jogando, assim que todos os jogadores estiverem à disposição do treinador.
Quanto a Jorginho, é um bom técnico.
Talvez não se tenha observado um comentário feito por ele desde que chegou sobre a intensidade que o time vinha empregando no início dos jogos.
Observe que com Guto o Bahia algumas vezes começou muito intensamente, criou muitas oportunidades e o gol não saía. No segundo tempo, já mais cansado, o time diminuía a intensidade e, diante de um time um pouco mais qualificado, já corria riscos de tomar gol.
Jorginho chegou falando de equilibrar mais a intensidade nos dois tempos do jogo, mais posse de bola (tudo bem, sei que posse de bola não é tudo que andaram dizendo), coisas nesse sentido.
Ou alguém pode imaginar que Zé Rafael poderia jogar todas as partidas naquele ritmo inicial? Procure lembrar quantas vezes ele foi substituído no segundo tempo já esgotado.
Mas talvez Jorginho esteja precisando definir mais, ousar
Uma coisa acho que ele já sabe; Armero é o mais fraco dos laterais esquerdos e ele já o tinha tirado do time.
Sentiu-se pressionado pela diretoria ou pela torcida e o escalou outra vez? Não sei. Apesar de alguns acharem que Matheus Reis não se saiu tão bem, ainda acho que é melhor do que Armero. Talvez o técnico precise dar mais moral a ele e a Juninho Capixaba (lateral esquerdo da base que já está entre os profissionais).
Com Armero não dá. Mais claro do que no jogo contra o Fluminense não podia ficar. O time é capenga, só joga por um lado, o de Eduardo (lateral direito), que, mesmo precisando melhorar muito os cruzamentos (Jorginho foi lateral direito muito bom, por que não ensina a ele?), é bom lateral e titular absoluto. Reconheçamos; joga muito para o time.
Rodrigão está chegando e já apresentou maior potencial do que Gustavo. Vamos ver.
Só mais uma coisa.
Apesar da inegável qualidade do seu futebol, ainda fico “um pouco assim” com Allione. Sinto-o ausente em determinados momentos dos jogos. A impressão que tenho é a de que é um pouco instável emocionalmente.
Amanhã (12/07), contra a Ponte Preta, teremos mais um jogo muito difícil.
Torcedor tricolor, vamos ter um pouco mais de tranquilidade, seu time ainda pode surpreender.
Continue jogando com ele.