Por Ronaldo Souza
Apesar de ocuparem cargos que podem lhes dar algum destaque, determinados homens vivem no anonimato.
Por qualquer razão que seja, entretanto, não é incomum que a vida dê a essas pessoas oportunidades que normalmente não lhes seriam dadas.
E de repente, os holofotes se voltam para elas.
A excitação é imediata e, de certa forma, compreensível.
A excitação, no entanto, muito raramente se faz acompanhar do bom senso. Até porque, o bom senso costuma ter como companheiras e boas conselheiras a inteligência e a sensibilidade.
Aí o bicho pega.
De deputado medíocre (por várias razões, mas basta citar uma; em 27 anos como deputado só teve dois projetos) a forte candidato à presidência da república, de repente o capitão Bolsonaro se viu importante.
Ao se ver em destaque, a pessoa pode perder a noção de espaço e o controle de si mesma.
Vendo-se autoridade, assim passa a agir.
A partir daí tudo é possível.
Talvez não consigamos dimensionar o quanto deve ser complicado para certas mentes imaginar-se capaz sem ter a menor noção do real; a incapacidade.
Já ouviu dizer que mais importante do que as homenagens é merece-las?
As pessoas homenageadas não pensam assim.
Por não sermos capazes de imaginar o tamanho da dificuldade que isso deve representar, talvez devêssemos ser mais compreensivos com essas pessoas.
Guga Noblat, filho do jornalista Ricardo Noblat, de O Globo, não agiu assim.
Tudo bem que nunca houve dúvidas sobre a capacidade cognitiva de Bolsonaro, mas bem que ele, Guga Noblat, podia ter sido mais cuidadoso com as palavras.
Quando me reportei ao general Hamilton Mourão (vice do capitão) e disse “um general, diga-se de passagem, à altura do capitão”, não errei.
Eles, capitão e general, devem possuir QI semelhante (de um dígito), a mesma sensibilidade, o mesmo profundo conhecimento sobre as coisas da vida, enfim, pensam igual.
Em recente entrevista, o general mostrou seu potencial, com alguns momentos de grande brilho, como por exemplo quando disse que “direitos humanos são para humanos direitos”.
É uma frase de efeito e de grande profundidade.
Quantos mais poderiam dizer algo tão enriquecedor e pleno de sabedoria como essa frase?
Poucos!
Diante da proposta “higienista” do general, quem determinaria quais são os humanos direitos?
Na classificação de Bolsonaro-Mourão, certamente não estariam as mulheres, porque são seres inferiores e que só nascem quando o homem dá uma “fraquejada”, como diz Bolsonaro.
Ainda segundo o capitão, têm que ganhar menos que os homens porque engravidam (realmente, um defeito imperdoável da mulher; engravidar) e merecem ser estupradas (se não forem feias, claro).
Idiotas, mentirosas e analfabetas, aí sim, é que nada merecem mesmo.
Do catálogo de humanos direitos de Bolsonaro-Mourão certamente também não fariam parte os negros, os homossexuais, os índios e outros tipos inferiores como eles.
Sobre a relação do Brasil com os países da África e da América Latina, Mourão foi além e fez críticas com a mesma sutileza paquidérmica da dupla:
“E aí nos ligamos com toda a ‘mulambada’, me perdoem o termo, existente do outro lado do oceano, do lado de cá…”
Ou seja, já tínhamos um capitão do Exército Brasileiro que bate continência diante da bandeira dos Estados Unidos e agora um general que não deixa dúvidas sobre a sua preferência nesse sentido.
É bem possível que nesse momento, Guga Noblat esteja reforçando os comentários sobre a qualidade da escola militar.
Digo há muito tempo; o que move todos eles é uma coisa só; preconceito.
O general Mourão se imagina e se vê branco.
Como ele, com a mesma cor e o mesmo tom de pele, muitos se veem brancos.
E desfilam pelas passarelas das redes sociais todos os dias, tentando disfarçar o racismo embrenhado lá dentro, bem no fundo, no mais fundo das suas almas.
Imaginam-se brancos também, claro.
É o nazismo ignorante que não tem a menor noção do que é ser branco na concepção de Adolf Hitler.
É o nazismo que, na sua ignorância, desconhece completamente o que é o arianismo e o projeto de depuração da raça desse personagem da história universal cujo desequilíbrio dispensa comentários.
Aproveito para colocar outra frase que adoram e repetem como um mantra:
“Bandido bom é bandido morto”.
Meu Deus!!! Esta é uma das maiores demonstrações de ignorância e subdesenvolvimento que uma pessoa pode dar.
E a repetem com o orgulho pulsando forte nas veias onde corre o sangue nobre; o sangue da classe média brasileira.
Não é preciso ser um estudioso de Antropologia e Sociologia para perceber que, além de representar um acinte à dignidade do ser humano, frases como essa demonstram o profundo desconhecimento de princípios básicos necessários para o desenvolvimento do homem ao longo do tempo.
“Pô, São Pedro, tem como voltar, cara, pelo menos trocando um tirinho lá com o pessoal que merece, porra”?
Nesse discurso brilhante, o filho de Bolsonaro mostra qual será o seu argumento para voltar à Terra assim que se deparar com São Pedro; “trocar um tirinho”.
Bolsonaro percebeu há muito tempo, e seu filho também, a inteligência e sabedoria do seu eleitor. Por isso elevam o nível.
“Trocar um tirinho”!
O DNA de uma família será agora de um povo?
Do povo brasileiro?
Este país não suportaria tamanho retrocesso.