Duelo de Titãs

Por Ronaldo Souza

Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill, 1959).

Um belo filme de John Sturges, com Kirk Douglas e Anthony Quinn (o ator de chapéu é Kirk Douglas, pai do também ator Michael Douglas).

Assisti ainda garoto, não lembro com quantos anos.

Há pouco tempo voltei a assistir no TeleCine.

Numa das encruzilhadas da vida, Kirk Douglas descobre que o filho de Anthony Quinn, um velho amigo que se tornara muito rico e dono de uma cidade, matara sua mulher e ele resolve, como delegado da cidade vizinha, ir busca-lo para ser julgado.

Assim se desenvolve o filme, um dos clássicos do western americano.

Um confronto entre dois homens, um dos quais desesperado para proteger o filho, mesmo sabendo que este cometera um crime pelo qual tinha que pagar.

A vida imita a arte.

A arte imita a vida.

Um velho dilema.

O Brasil presencia um duelo nesse momento.

O presidente da república briga em público com o seu agora ex-ministro da justiça.

Se naquele duelo de titãs eram dois homens, amigos que naquele momento estavam em lados opostos pelas circunstâncias da vida, nesse, não.

Ao invés de chama-los de homens, prefiro chama-los de figuras públicas, pois isso são.

As suas armas são outras que não aquelas do filme.

Ao invés de balas, tão ao gosto de ambos, a cada tiro sai a podridão de cada um, tiros que atingem os dois ao mesmo tempo.

Tiros que já mataram os dois.

Mortos, continuam excrementando o país via jornais e microfones e câmeras de televisões que, venais que são, protegem ou um ou outro.

Moro não saiu.

Moro caiu.

Já tinha caído enquanto estava no governo, de tantas vezes que foi humilhado por Bolsonaro.

Permanecia no cargo, pois já não era mais nada e precisava daquele emprego porque alimentava dois sonhos já bastante conhecidos; ser indicado por Bolsonaro para o STF ou, sonho dos sonhos, ser presidente.

Por conta disso cometeu todos os pecados que um ministro da justiça pode cometer, como esconder e proteger Queiroz, milicianos, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni…, seria bobagem elencar todos.

Ao mesmo tempo, ao invés de fazer arminhas como o presidente e os demais debiloides, usava outras armas.

Diante da fragilidade e declínio flagrante do mico, começou a querer se soltar.

Incomodado há muito tempo, Bolsonaro foi pra cima dele, inclusive com a propalada demissão.

Com um pé na porta, Moro ameaçou se demitir, mas manteve a porta entreaberta aguardando uma sinalização de Bolsonaro. O ministério da justiça passou aquele dia dizendo que não confirmava a notícia do seu pedido de demissão.

Foi Bolsonaro que, mais uma vez e agora em definitivo, chutou o pau da barraca, a barraca, Moro, o bom senso… e tudo mais que apareceu à sua frente.

Moro é um dedo duro asqueroso, alcaguete ordinário, sem caráter.

Numa briga pessoal por poder com Bolsonaro, vazou conversas particulares com a deputada Carla Zambelli para o Jornal Nacional (que novidade!).

Por pior que seja o caráter da deputada, e isso parece ser consensual, a conversa era privada entre ela e Moro.

Mesmo sendo ele, sem caráter e já viciado em vazamentos seletivos, não podia violentar a privacidade de uma conversa com quem quer que seja, ainda mais que se tratava de, segundo ele próprio, “uma guerreira…, que mereceria uma medalha”, de quem ele é padrinho de casamento.

https://www.youtube.com/watch?v=NJwZmWe0JgU

Um ser asqueroso.

Usa as pessoas para dedurar (ele prefere delatar) outras, nesse caso a sua própria afilhada, de um casamento que ocorreu há simplesmente dois meses.

Moro marca a sua volta aos braços da Globo (na verdade, nunca saiu) com uma delação premiada.

Delação; entregar Bolsonaro, agora abertamente, de bandeja à Globo.

Prêmio; sua blindagem e início da campanha rumo à presidência da republica.

Por sua vez, a Globo deixa de ser comunista e volta a ser a menina dos olhos de parte da reserva selvagem de Bolsonaro, a que agora irá com Moro.

Quem ainda tinha dificuldades em entender o que é ser comunista, agora ficou fácil; comunista é todo aquele que não está com Bolsonaro.

Moro, portanto, não pode reclamar por ser taxado de comunista.

Você conhece o clássico de Alexandre Dumas, os Três Mosqueteiros (que na verdade eram quatro)?

Essa definição de comunista também já virou um clássico, só que do folclore brasileiro.

E ela é fruto da imaginação (meu Deus!) dos três mosquiteiros!

Que na verdade, também são quatro.

Registre-se que no caso aqui, mosquiteiros são aqueles que andam com insetos.

Moro nunca deixou de estar nos braços da Globo. Era, na verdade, um agente duplo, o que mais incomodava a Bolsonaro.

Fonte certa de vazamento.

Moro é a personificação da traição.

Nesse cenário de excrementos voando de um lado a outro, a Globo, particularmente o Jornal Nacional, reconstruirá Moro diariamente.

Entre as tantas coisas que mostrei dele aqui ao longo dos últimos anos, eu disse que ele estava no governo, mas era todo o tempo um traidor e que Bolsonaro sabia que estava “dormindo com o inimigo”.

A Globo agora vai tentar reergue-lo a qualquer preço, pois será o candidato dela. Se isso se sustentar, adeus Luciano Huck, Dória, Witzel.

O gado?

Agora dividido em dois rebanhos, seguirá sendo conduzido para onde o levarem.

Já foram todos Aécio.

Já foram todos Cunha.

Já foram todos Temer.

Já foram todos Bolsonaro.

Agora serão todos… é melhor esperar o que a Globo vai dizer.

Kennedy Alencar:

“Moro é a figura mais perigosa para a democracia”.

“Com mais diálogos, fotografia de Moro piora. Ele queria o monopólio do uso político da PF. Exerceu esse poder pra proteger Bolsonaro e minimizar Vaza Jato. Não é o santo que pintam de modo irresponsável. Só abriu a boca pq perderia mais poder. Não prevaricou, não?

Luis Nassif:

“Em sua declaração, de ontem, Sérgio Moro disse que a única exigência a Bolsonaro, para aceitar o Ministério da Justiça, seria uma garantia de pensão para sua família, caso alguma coisa acontecesse com ele, já que abriu mão de sua carreira de juiz.

Não bate. Ele tem formação de advogado, a esposa é sócia de escritórios de advocacia. A alegação de que seria para amparar a família cabe em qualquer proposta de suborno. Basta o sujeito alegar que fez aquilo para garantir a família. O que houve, de fato, é que Moro vendeu seu passe de avalista do governo Bolsonaro. Quanto foi? Quem pagou?”,

Moro, uma farsa viva.

George Orwell termina assim o seu famoso livro, “A Revolução dos Bichos”:

Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.