Por Ronaldo Souza
O 13º Congresso Internacional de Endodontia da SBEndo foi, sem dúvidas, um belo evento.
Desde já, merecem destaque o acolhimento e o tratamento dado por toda a comissão organizadora, tendo à frente o professor Flares Baratto Filho, sempre muito atencioso com todos nós.
Organização impecável, dentro das orientações das autoridades sanitárias brasileiras e mundiais da Saúde: salas arejadas e grandes, de maneira a permitir o devido afastamento entre as cadeiras, a exigência de uso de máscaras, enfim, todos os cuidados necessários para que pudesse ocorrer ali o congresso que todos imaginávamos e foi.
Tudo isso num lugar muito bonito; Centro de Eventos Positivo, no Parque Barigui.
Nesse ambiente, os professores, reconhecidos pelo seu valor profissional e compromisso com o ensino da Endodontia, puderam apresentar com tranquilidade e serenidade os diversos temas propostos.
Foi estimulante e promissor ver a Endodontia sendo mostrada e discutida no nível elevado em que foi. Parece ter ficado no ar, quem sabe, aquele sabor de quero mais e as Arenas, em particular, pelo seu próprio objetivo, parecem representar um bom exemplo!
Encontros e reencontros representaram um capítulo à parte, possivelmente com intensidade nunca vista anteriormente.
Uma certa dose de ansiedade e excitação parecia estar pairando nesse cenário.
Natural, diante das circunstâncias!
Mas como foi bom!
E é neste contexto que me permito mais facilmente dizer que o 13º Congresso Internacional de Endodontia da SBEndo foi, na verdade, grandioso!
Grandioso por nos proporcionar a “volta à vida”.
Não, não vou chamar de “novo” normal.
Quando vivida, e basta isso, viver, ela, a vida, fluirá normalmente.
E quando a vida flui, não precisamos conceituá-la.
Nem velha, nem nova; simplesmente, vida.
E ela continua bela.
E assim será sempre.
Foi ali o momento dos “novos” apertos de mãos e abraços, algo tão importante nas nossas vidas, ainda que seja possível que alguns nunca o tenham percebido na sua real dimensão.
O que poderia ser mais importante do que um abraço?
Nada!
Nem o beijo.
O beijo pode ter outras conotações, outras razões, outros envolvimentos, o que for.
O abraço, não!
Ele não carrega em si nenhum tipo de preconceito.
Aceito em todas as línguas, é aceito entre todos os sexos, cores, raças, religiões…
Universal.
Definidor de afeto como nenhum outro gesto, dificilmente ele será fruto ou carregará consigo a falsidade de sentimentos!
Único!
Sim, mas, e daí?
O que tem a ver Endodontia com Rita Lee?
Muito!
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Já estava tudo bem planejado.
Antes mesmo de minha viagem a Curitiba para participar do 13º Congresso Internacional de Endodontia da SBEndo, minha companheira e nossa filha mais velha já estavam em São Paulo com a nossa filha mais nova, que hoje estuda naquela cidade.
Não voltei, portanto, para Salvador.
Logo após a minha atividade durante toda a manhã de sábado do congresso, cheguei em São Paulo à tarde.
Ingressos comprados previamente pela Internet, fomos no domingo ver a exposição de Rita Lee no MIS, Museu da Imagem e do Som.
Ao entrar, a primeica coisa com que me deparei foi a frase de Caetano Veloso aí em cima:
“Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução!”
Somente muitos anos depois de Caetano (poetas e artistas estão sempre à frente), venho descobrindo São Paulo.
Graças à nossa filha, que, como disse, hoje estuda naquela cidade.
E Rita Lee veio para completar esse momento e me fazer ver muita coisa.
Não sei bem porque (no fundo, acho que sei), emocionei-me algumas vezes na exposição.
Um poeta baiano chamado Caetano diz, com seu absurdo talento, que Rita Lee é a mais completa tradução de São Paulo.
Eu, que somente agora me flagro descobrindo São Paulo (não sou poeta), talvez esteja entendendo melhor aquela cidade pelas lentes de Rita Lee.
Cidades como Nova Iorque, Londres, São Paulo… carregam dentro de si encontros e desencontros, harmonia e desarmonia, acolhimento e preconceito, o feio e o belo (“é que Narciso acha feio o que não é espelho”, como diz o doce baiano), tudo isso numa intensidade e violência inimagináveis e, por isso, muitas vezes incompreensíveis.
Tornaram-se uma espécie de laboratório do cosmopolitismo!
Ressalvo que não conheço nem uma, Nova Iorque, nem outra, Londres. Falei como vejo uma e outra, o que é diferente.
Mulheres como Rita Lee viveram e vivem essa muitas vezes dura realidade.
Mulheres como Rita Lee, tão intensas que são, também provocam sentimentos e percepções antagônicos.
Já digo há algum tempo que são esses “loucos” poetas e artistas que, como a utopia, fazem o mundo andar.
Deixemos de lado os eventuais arroubos da juventude: Rita Lee é uma mulher corajosa, desbravadora, uma abridora de caminhos, por mais que a expressão possa soar estranha a alguns.
Uma mulher admirável!
Por que me emocionei em alguns momentos de minha visita “às coisas” dela?
Porque vi mais de perto a luta, a perseverança, a audácia de enfrentar os dogmas de uma sociedade presa a conceitos que dificultam o seu próprio desenvolvimento.
E talvez aí tenha surgido para mim a relação que julgo existir entre ela e a Endodontia
Como um Shakespeare, arrisco-me a dizer que parece haver mais mistérios entre Rita Lee e a Endodontia do que talvez possa nos fazer imaginar a nossa vã filosofia.
Acabei de ver uma Endodontia surgindo, tal qual Rita Lee, vibrante, arrebatadora, perseverante, audaciosa, enfrentando dogmas e paradigmas que dificultam o seu real desenvolvimento.
Uma Endodontia desafiadora, que parafraseia Einstein quando ele diz que “a imaginação é mais importante do que o conhecimento“.
Uma Endodontia que pretende nos afastar da linearidade do pensamento e ensinar a dar asas à nossa imaginação.
Como Rita Lee, uma Endodontia que pretende derrubar prateleiras e abrir caminhos.
“Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz“
Esta é a última frase que se vê na saída da exposição dessa mulher notável.
Como ela, a Endodontia se mostrou viva e cheia de graça no congresso da SBEndo.
E certamente ainda fará um monte de gente feliz.