Férias no Brasil; mas temos muito mais para oferecer

Escola de samba

Por Ronaldo Souza

Depois de ler um ótimo texto do Professor Nilson Lage, A metamorfose da insignificância, veio-me a vontade de escrever alguma coisa sobre o tema abordado por ele, mas estava sem inspiração.

Inspiração que também não quis chegar para o título.

Pensei em algo como “Conhecendo um pouco o Brasil”, mas desisti.

Quando me lembrei do famoso desdiscurso do presidente em Davos, no qual, segundo a jornalista americana Heather Lang, a melhor parte foi quando ele convidou os presentes a passarem “as férias no Brasil”, achei melhor escolher outro.

Pois é, o presidente eleito foi minha inspiração, quem diria!

E deixei o barco correr.

“Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais…?”

Desesperado diante do incômodo espelho que insiste em refletir a verdadeira imagem do que você realmente é e não a que imagina ser, faltou chão ao presidente eleito e nos 6 minutos dos 45 que lhe foram dedicados, veio à tona com a força de um tsunami tropical o “complexo de vira latas”.

Em pânico, ofereceu a colônia de férias Brasil aos milionários ali presentes.

É o complexo de vira latas que faz nordestinos se renderem aos encantos do “sul maravilha” e brasileiros ficarem maravilhados com os Estados Unidos e a Europa, particularmente o primeiro.

Identifica-lo não é tarefa fácil, aceita-lo é muito pior.

Foi isso que das catacumbas de um passado bem recente irrompeu forte das entranhas do presidente eleito e se manifestou naquele momento.

A subserviência é um traço cultural perverso e muitas vezes imperceptível.

Não deixa de ser uma espécie de autoflagelação.

Dizem os psicanalistas que mais do que chamar a atenção, o autoflagelo é um pedido de socorro.

Estava ali configurado o pedido de socorro; faltou só o help!

Uma das causas do autoflagelo é o sentimento de incapacidade.

Sentimento que esteve estampado na cara do presidente durante toda a eternidade daqueles pouco mais de 6 minutos naquele palco de chão em brasas.

Personalidades forjadas em ambientes de formação rígida, onde as normas não ensinam respeito natural à autoridade, impõem, estão mais sujeitas a esse tipo de comportamento.

Ensina-se obediência, não respeito.

O capitão não sabe, mas é uma vítima.

Ele jamais conseguirá ser um homem livre, independente.

Precisará sempre de um superior.

Assim tem sido a formação do brasileiro.

Incute-se a dependência na cabeça das pessoas.

Num processo perverso e cruel, ao longo dos séculos pensamentos doutrinadores e bem direcionados subjugaram a alma do brasileiro e o fizeram ver-se inferior.

Reflexo da sociedade que o compõe, o país perde a sua identidade.

A “imagem” do famoso grito “Independência ou Morte”, criada pelas conveniências e necessidades da história, representa a independência do Brasil do domínio português.

A colonização do Brasil por Portugal é um dado oficial registrado pela História.

Para muitos, o famoso Grito do Ipiranga se transformou em “Dependência ao Norte”.

O Neocolonialismo, expressão que saiu da sua definição original e ganhou maior abrangência, é fato.

É bastante conhecida a falta de compreensão que paira sobre essa questão e a sua não aceitação é só uma fuga da realidade.

Negar-lhe a existência é negar a história contemporânea.

Criar e manter um processo tão complexo e sofisticado exige mentes privilegiadas e não se faz da noite pro dia.

Como manter esse processo tão complexo e sofisticado?

A família!

A família é criada para ter uma vida certinha, organizada.

Tudo que não é ordem é desordem, claro.

Ordem é sistema de vida.

Sistema!

É disso que se trata (Establishment, para alguns).

Em qualquer situação, quem se opõe ao sistema, subverte-o.

Quem subverte o sistema é um subversivo.

Como manter o sistema?

Da forma mais simples e rudimentar possível.

Demonizando pensamentos, ideias, palavras, frases… pessoas.

Aquele que contradiz o sistema foi marcado a ferro:

Comunista!

Uma pecha, que, pronunciada com peito aberto e sabor especial, tinha o objetivo de ofender, acuar, jogar às cordas.

A partir daí, tudo se tornou válido.

Tolices de todos os tipos foram e são ditas, como se, por serem ditas e repetidas à exaustão, ganhassem profundidade.

O cérebro perdia a função.

Pensar passou a ser uma transgressão.

Por que artistas (por favor, artistas, não gente do entretenimento), escritores, poetas e filósofos são temidos pelo sistema?

Porque tiram as pessoas do conforto da não reflexão.

“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas”.
Schopenhauer

Para que coisa mais tola e ridícula do que “a nossa bandeira jamais será vermelha”.

Meu Deus!!!

Qualquer outra cor pode.

Bandeira laranja

Mas, além de laranja, tão em uso nos dias atuais, aqueles homens milionários e seu dinheiro maravilhoso, que se espraia pelos quatro cantos do mundo com fins nada nobres, sabem que o bananal Brasil ainda tem muita coisa para lhes oferecer.

Entreguemos então o que ainda resta deste país.

O nosso know how de exploração de petróleo, o próprio petróleo, a Embraer, a indústria naval, a indústria civil, enfim, o conhecimento brasileiro, conquista de um povo que jamais tinha ousado andar com suas próprias pernas e pensar com a sua própria cabeça.

Mas índio quer apito.

Índio quer apito para que a festa tenha muito barulho, para abafar o choro e o grito do povo brasileiro ao ver o seu país ser entregue e as suas riquezas irem embora.

“Índio quer apito
Se não der pau vai comer”