Por Ronaldo Souza
Um ex-presidente da república foi “julgado” e condenado sem nenhuma prova e sem que a sua defesa tivesse acesso aos documentos do processo. Só no Brasil isso é possível.
Somente anos depois (você é capaz de imaginar por que?) Ricardo Lewandowski, ministro do STF, intimou a Lava Jato a entregar todos os dados do processo de Lula à defesa do ex-presidente.
Moro, Dallagnol e a Lava Jato fizeram de tudo para impedir isso.
Não conseguiram.
Logo em seguida, o ministro determinou que tudo permanecesse em sigilo, inclusive a parte à qual os advogados de Lula já tiveram acesso.
Vou fazer a mesma pergunta; você é capaz de imaginar por que?
É que o 1% do que já foi visto revelou que nada deveria ser revelado (a construção da frase é intencional).
O que está lá está assustando meio mundo de gente (em parte já vazado e publicado pela revista Veja).
A velha dúvida; a vida imita a arte ou a arte imita a vida?
Moro está aprendendo que muitas vezes a vida imita a arte.
O país do vazamento, arte criada por Sérgio Moro para condenar Lula, ensaia voltar à realidade da vida e é ela, a vida real, que vai destruí-lo mais ainda.
Ninguém mais que Moro, Dallagnol e o resto da trupe sabiam que os vazamentos da Vaza Jato eram a mais pura verdade.
Entretanto, com o poder que sempre tiveram (lá estava de novo o guarda-chuva protetor da velha Rede Globo, com Míriam Leitão e tudo), conseguiram abafar e tudo caiu no esquecimento.
O que fazia a manada nesse tempo?
Enfeitava as avenidas e praças nos domingos do Brasil, com aquele colorido verde-amarelo que se tornou símbolo da luta contra a corrupção, em memoráveis encontros de grande exaltação à inteligência, sensibilidade e conhecimento sócio-político.
Não haverá mais como contornar e muito menos tentar esconder o que esses bandidos fizeram ao país.
Definitivamente, as sus máscaras cairam.
Ainda que vocês (todos sabem muito bem quem são esses “vocês”) não queiram ver, pela absoluta estupidez que os domina, ainda que nada aconteça a eles, ainda que esse país demonstre mais uma vez que nunca esteve tão desmoralizado e possua um paspalho como presidente, nada disso importa.
Definitivamente, eles acabaram.
E, finalmente, atropelados pelo que está vindo à tona, alguns jornalistas resolveram fazer o “mea culpa“.
Agora é a vez do jornalista Chico Alves reconhecer a verdade que foi escondida de toda a manada que, como tal, não consegue pensar.
Alfafa só alimenta o corpo.
Aguardem o que ainda virá.
Na cadeia (onde deveriam estar) ou não, eles servirão para marca-los em definitivo com mais um ferro.
Um gado já marcado com o ferro JB, agora será marcado também com o ferro SM!
Ambos, em definitivo!
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Armações de Moro e Dallagnol na Lava Jato são atos de corrupção?
Por Chico Alves, no UOL
Desde que começou, há seis anos, a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, se apresentou como grupo de super-heróis decididos a varrer a corrupção do Brasil. Também o juiz escolhido para julgar os casos, Sergio Moro, se vendeu assim. Praticamente todas as instituições da República, a imprensa inclusive, avalizaram essa bravata.
Após esses anos de atuação espetacular, os procuradores e seus fãs se gabam da recuperação de quantia superior a R$ 4 bilhões, provenientes de maracutaias contra os cofres públicos.
Das acusações do Ministério Público Federal e das sentenças de Moro resultaram mais de 155 condenações – em sua maioria, de figuras de destaque na República, como o ex-presidente Lula.
Há evidências de sobra de um gigantesco esquema de corrupção encravado na Petrobras. Segundo várias acusações e provas, no entanto, a força-tarefa da Lava Jato e o juiz Sergio Moro só chegaram a tal performance por meio de expedientes que estão fora dos manuais jurídicos: uso abusivo das delações premiadas, divulgação estratégica de dados sigilosos e parceria indevida entre acusadores e magistrado.
Essas reclamações passariam apenas como choro dos advogados de defesa, não fosse a atuação de hackers que invadiram ilegalmente o aplicativo de mensagens de Moro, Deltan Dallagnol e sua turma. O conteúdo das conversas veio a público em 2019, na série de reportagens conhecida como Vaza Jato, publicada pelo site The Intercept Brasil.
Os bate-papos confirmaram as acusações contra o juiz e os procuradores, revelando um indevido jogo combinado entre eles.
Depois de causar muito barulho e obrigar Moro e Dallagnol a se explicarem muitas vezes – inclusive no Congresso -, a Vaza Jato foi esquecida como se tivesse tratado de um tema irrelevante.
O ocaso da Operação Lava Jato ocorreu pela atuação do procurador-geral da República, Augusto Aras, não pelas acusações feitas anteriormente.
Dallagnol pendurou as chuteiras e Moro, depois de uma temporada como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, saiu com a popularidade abalada para quem tem pretensão de ser candidato a presidente. No entanto, seu status de caçador de corruptos permaneceu.
Agora, por conta de um pedido da defesa de Lula, acatado pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, parte das mensagens trocadas entre o ex-juiz e os procuradores da Lava Jato foram encaminhadas ao ex-presidente.
Ali está a confirmação de que houve tabelinha entre Moro e a força-tarefa. A tal ponto que Dallagnol apresentou ao magistrado um esboço da denúncia contra Lula, para que ele avaliasse se o documento estava contundente o bastante. Essa colaboração, exposta em matéria do jornalista Jamil Chade, do UOL, é ilegal.
Desde que apareceram as primeiras críticas aos paladinos anticorrupção, os defensores da Lava Jato responderam com os resultados da operação, que prendeu engravatados desonestos e recuperou bilhões em dinheiro público.
É um raciocínio parecido com o que os moradores das favelas cariocas usavam no início da atuação das milícias: são ilegais, mas aumentam a sensação da segurança. Deu no que deu.
O brasileiro parece não se acostumar com a ideia de que só é possível fazer justiça dentro da lei. Agentes públicos que investigam e julgam acertando de antemão a sentença são tão criminosos quanto supõem ser os réus que condenam.
Nesse sentido, talvez os super-heróis da Lava Jato tenham cometido uma modalidade bastante grave de maracutaia.
No dicionário Caldas Aulete, a palavra “corrupção” quer dizer “ato ou efeito de subornar, vender e comprar vantagens, desviar recursos, fraudar, furtar em benefício próprio e em prejuízo do Estado ou do bem público”. Nesse caso, os acusados de desviar dinheiro da Petrobras estão incluídos.
Mas também há outro significado no dicionário: “adulteração das características originais de algo; desvirtuação, deturpação”. Foi exatamente o que Moro e a turma de Dallagnol teriam feito com as regras do processo legal, segundo o que se conclui dos diálogos que vieram à tona.
Os tietes de Moro e da Lava Jato não gostam dessa avaliação – muitos deles certamente irão consignar sua discordância nos comentários que você lerá abaixo desse texto.
Mas, a não ser que achemos boa coisa fomentar o culto à personalidade, é preciso arrancar o ex-juiz e os procuradores do pedestal em que se instalaram. Seus admiradores precisam avaliar objetivamente as acusações e tirar conclusões desapaixonadas.
Isso vale tanto para o cidadão comum quanto para as instituições que inflaram a aura de perfeição.
Nós da imprensa tivemos papel fundamental no surgimento dessa lenda. Apesar de quase sempre avessos à autocrítica, é chegada a hora de dizer com todas as letras: erramos.