Ilha de estupidez

Por Ronaldo Souza

“A correta definição é: ilha é uma porção de terra cercada de água marinha, fluvial ou lacustre.

Em alguns livros de Geografia, no entanto, lê-se redundantemente: ilha é uma porção de terra cercada de água ‘por todos os lados’. Há quem já tenha visto alguma coisa cercada que não seja por todos os lados?”

Encontrei esse jeito de definir o que é ilha nesse site www.unimedpinda.com.br/definicao-de-ilha/.

Não gosto de “definições definitivas” e essa me parece uma delas.

A redundância, o pleonasmo, a linguagem coloquial… estão aí para permitir a flexibilização das coisas rígidas.

Por isso, então, permito-me a definição mais conhecida e mais utilizada:

Ilha – pedaço de terra cercado de água por todos os lados.

A Terra é plana

“Eu não sabia nem o que era o SUS!”, disse Eduardo Pazuello, então ministro da saúde, em lançamento de campanha.

“A política (de saúde) é do governo Bolsonaro, não do ministro. O ministro executa a política do governo”, disse Marcelo Queiroga, atual ministro da saúde e presidente da sbc (sociedade brasileira de cardiologia).

Pérolas não faltam.

Ouvimos e vemos diariamente.

Lembra dessa?

Dispensa comentários.

Também a que está lá em cima fala por si. Nada poderia ser mais estúpido.

Ela nos traz desde apresentador de televisão a ministro da educação e tanto um quanto outro dispensam apresentações.

Poupo-me de qualquer tentativa nesse sentido quanto ao apresentador de televisão. Essa é uma maneira de minimamente obedecer às recomendações do meu cardiologista que, para tranquilidade de minha família, não é Marcelo Queiroga, presidente da sociedade brasileira de cardiologia (quem o elegeu?) e atual ministro da saúde. 

E o gado, onde fica?

Claro que “eles” não podiam ficar de fora, não podem ser esquecidos.

Através do seu filho (qual é mesmo o número de identificação desse, 01?), Bolsonaro atira na cara dos senadores a irresponsabilidade do Senado. 

Como fazer “aglomeração” em plena Pandemia?

Como fazer reuniões onde algumas pessoas vão se aglomerar sem que a vacinação de toda a população tenha ocorrido, uma preocupação constante e tão defendida pelo presidente na sua luta pessoal, incansável e heróica pela saúde do povo, como um verdadeiro Messias.

É claro que o senador 01 não estava falando só para o Senado. Os senadores não podem ser tão estúpidos!

A sua fala representa mais um momento em que o governo Bolsonaro se dirige particularmente ao seu fiel rebanho, tendo a certeza de que ele continuará seguindo-o pela escuridão da ignorância e do obscurantismo.

Vejamos só um pouquinho do que disse 01:

1. “…o presidente (do Senado) tá errando, tá sendo irresponsável, porque está assumindo a possibilidade de durante os trabalhos dessa CPI acontecerem morte de senadores…”
Realmente, quem promove aglomerações no atual momento é, no mínimo, um tremendo irresponsável e é responsável sim pelas eventuais mortes. Existe alguém que faz isso todos os dias.
2. “Por que não esperar todo mundo se vacinar e fazer com responsabilidade esses trabalhos…?”
Senador 01, do jeito que alguém tem dificultado a vacinação, o senhor consegue imaginar quando teremos todos vacinados? Quando então teria início a CPI? Até lá, o que aconteceria? É isso que se deseja?
3. “Essa insistência em abrir essa CPI agora, atropelando todos os protocolos, ignorando a questão sanitária, alguém em algum momento vai ser responsabilizado se algo acontecer”.
Senador 01, essa sua preocupação com o atropelamento de todos os protocolos e a insistência em continuar ignorando a questão sanitária é realmente tocante e comovente. Muito, muito mesmo. Mas o senhor ainda não percebeu que todos já sabem que alguém já foi, é e será responsabilizado por tudo isso?

Senador 01, o senhor consegue imaginar quem é “alguém”?

Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. 

Quanto ao ministro da educação, Milton Ribeiro, mais uma demonstração do que cerca a ilha. Ele acabou de afirmar que as políticas do MEC devem estar em “consonância com a visão educacional do presidente da República”.

Nada mais é preciso dizer!

Portanto, nada vou dizer.

Entretanto, perguntando e não dizendo, o que mais ainda pode restar ao Brasil diante da brilhante afirmativa do brilhante ministro da educação, quando ele diz que as políticas do Ministério da Educação e Cultura devem estar em “consonância com a visão educacional do presidente da República”?

Diante disso, diante da minha perplexidade, diante do meu abestalhamento, diante de tudo que vocè quiser imaginar, pergunto.

Ele sabe quem é o presidente da república do Brasil?

Com redundância ou sem redundância, com pleonasmo ou sem pleonasmo, com linguagem coloquial ou sem ela, Bolsonaro é, definitivamente, uma ilha de estupidez cercada de idiotas por todos os lados.