Imagine

Por Ronaldo Souza

“Influenciada por Jéssica Senra – a jornalista baiana que viralizou ao falar sobre o caso – a atriz Juliana Paes também engrossou o coro contra a contratação do goleiro esquartejador de mulheres.

Ela lançou a tag ‘Meu ídolo não é feminicida’ e declarou-se, enfim, ‘defensora da causa da violência contra a mulher’.”

Este é um trecho da crônica “Juliana Paes não entendeu que lutar contra violência de gênero é lutar contra Bolsonaro”, de Nathalí Macedo, jornalista também baiana, no Diário do Centro do Mundo.

Nathalí sabe que há palavras e palavras, frases e frases, entrevistas e entrevistas.

Sabe também que as ditas ou feitas por “artistas” como Juliana Paes têm pouca ou nenhuma credibilidade.

Em cima do muro, veja o que ela disse há pouco tempo numa entrevista ao jornal O Globo:

“Torço para que o país dê certo independente de quem esteja em Brasília; Não bato palma para tudo que o presidente Jair Bolsonaro diz, mas vamos apoiar já que ele está lá. Não vou boicotar. Essa polarização é boba”.

Platitude na sua mais pura expressão.

É esperta quando diz “não vou boicotar”.

Será que imagina que ela ou qualquer outro mortal tem o poder de boicotar um presidente da república e faz isso a hora que quer e como quer?

Frase inteiramente descabida e tola que pretende ter algum efeito além de ser ridícula.

Não se trata de boicotar, até porque, de tão incompetente, o próprio governo se boicota e não faz outra coisa desde que tomou posse.

Pessoas como Juliana Paes dizem frases que parecem, aos tolos, ter algum conteúdo, quando, na verdade, nada dizem. Não dizem o que talvez até desejassem dizer e se escondem em palavras e frases ditas ao vento, sem nenhum valor.

Talvez por ignorância mesmo ou por conveniência cínica, desconhecem ou ignoram a verdade que poderia estar na frase, mas, por desonestidade ou covardia, não está.

Fazer uma tag ‘Meu ídolo não é feminicida’ e declarar-se “defensora da causa da violência contra a mulher” nessas condições é absolutamente lamentável.

Típico de quem, mais uma vez, por ignorância, cinismo, oportunismo ou covardia, seja o que for, não assume que para ser isso que ela quer mostrar não pode sair por aí dizendo que “vamos apoiar (Bolsonaro) já que ele está lá. Não vou boicotar. Essa polarização é boba”.

Puro oportunismo e demonstração de desconexão total com os fatos.

Como conceber tamanha incapacidade de correlacionar as coisas em pessoas que, como ela, têm acesso à informação?

Hastear a bandeira contra o feminicídio e dizer-se “defensora da causa da violência contra a mulher” e eleger e defender Bolsonaro é jogar pra torcida de forma vergonhosa.

E o que é pior, joga para as duas torcidas.

Bolsonaro representa tudo isso e mais alguma coisa que ela agora diz lutar contra.

Se agora Juliana Paes é isso que tenta mostrar ser, que venha a público, afinal ela é uma personagem pública, e assuma a sua reprovação aos homens que ofendem, humilham, agridem, estupram e matam mulheres, porque assim fazem mulheres de verdade.

Só assim ela teria alguma credibilidade, seria respeitada e fortaleceria a luta das mulheres.

Caso contrário, ela se torna uma mulher desprezível.

Ou será que somente o goleiro Bruno justifica a tag ‘Meu ídolo não é feminicida’?

E o outro ídolo, o mito?

E Mariele?

E Maria do Rosário?

E as tantas mulheres, inclusive jornalistas e atrizes, que foram e são ofendidas, humilhadas e agredidas por ele em todos esses anos de sua vida como político?

Será que a artista de novelas Juliana Paes não está vendo o que esse governo fez e está fazendo com a atriz e grande dama da dramaturgia brasileira Fernanda Montenegro, mulher como ela?

Ou ela, como tantas outras, também não é capaz de associar e correlacionar palavras, gestos e ações de homens como ele e os que o assessoram?

“Defensora da causa da violência contra a mulher”???

Como diria o escritor português Eça de Queiroz, “ou é má fé cínica ou obtusidade córnea”.

Voltei no tempo, doze anos atrás, quando escrevi A vida é bela.

“Todos vamos ao teatro, ao cinema, aplaudimos, rimos, choramos e depois vamos a um jantar, deixando para trás qualquer relação que aquilo que nos fez aplaudir, rir, chorar, possa ter com as nossas vidas. É só diversão, lazer, entretenimento. Perdemos o senso crítico. Não aquele de julgar o desempenho do ator e da atriz, mas, o que nos leva a fazer projeções, inferências, tentando trazer aquela obra para a vida, ou vice-versa…

Falei então sobre o filme Central do Brasil, por coincidência, brilhantemente interpretado por Fernanda Montenegro e concluí assim o texto.

A vida é bela. Viram? Então, com toda certeza, riram e choraram. Mais uma vez, a arte tenta mostrar como, às vezes, fazem a vida. Quem poderia, nas nossas vidas, gerar atos de tamanha violência, mesmo que disfarçada. Quem, pelo poder, poderia esquecer os mais elementares direitos à vida, através da arrogância e da prepotência. Mas, sobretudo, quem, como a personagem do filme, tem procurado dar vida à vida?

Sem profundidade, Juliana Paes representa um segmento que nada tem a acrescentar, que não vê e não sente a vida como ela é.

São passageiros do barco da conveniência.

Um barco de viagens curtas, cujo destino é a meta traçada.

Nada mais.

“Boa Praça”

Era o primeiro “Boa Praça” deste ano.

É como é conhecida uma “feirinha” muito legal, realizada regularmente em algumas praças de Salvador. Nesse caso, naquela em que faço minhas caminhadas, sobre a qual falei há poucos dias em Luzes do Natal.

Um pequeno pedaço da noite de domingo, 12/01.

A emoção tomou conta.

Hey Jude, don’t make it bad
Take a sad song and make it better
Remember to let her into your heart
Then you can start to make it better 

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me
I don’t want to leave her now
You know I believe and how

A praça se emocionava a cada música, estava bonito demais.

Com a minha mulher e nossas filhas, emocionei-me algumas vezes ao som da banda cover dos Beatles.

Imagine.

Viajei.

Uma viagem gostosa, doce, suave, romântica.

Uma viagem em que emoção e lágrimas insistiam em não aceitar qualquer tentativa de contenção, como se quisessem se exibir.

Mas havia algo estranho, que incomodava.

Algo não batia.

O que queria dizer John Lennon com “Imagine there’s no countries…, nothing to kill or die for…, living life in peace…, a brotherhood of man…, and the world will be as one?

Um mundo sem fronteiras, sem posses, o homem vivendo uma irmandade, em paz, o mundo vivendo como se fosse uma coisa só, igual.

Será que aquelas pessoas sentiam John Lennon e atendiam ao seu pedido “to let her into your heart”?

Não, não conseguia acreditar que os que estavam ali participando entusiasticamente daquele pequeno e maravilhoso pedaço da noite de domingo estivessem sendo capazes de sentir os Beatles.

Não acreditava que estivessem sendo capazes de entender que para sentir os Beatles é preciso amor.

Não existe Beatles sem amor.

Apesar das aparências, aquele contexto já é conhecido e não permite grandes esperanças.

Ou alguém duvida que naquela praça, daquele bairro, onde só residem pessoas do bem, muitos que estavam ali, eu diria com grandes chances de serem maioria, seriam pessoas que, como Juliana Paes, falam do amor, do amor à mulher, mas idolatram quem a maltrata?

É possível entender e sentir o pulsar da alma da mulher e cantar o amor por ela “ao lado” de alguém que descreve o nascimento da filha como uma “fraquejada”?

Eles amam?

Conhecem verdadeiramente esse sentimento que alimenta o mundo, que o transforma e permite que os que amam ainda encontrem força e razão para viver nele.

Será que aqueles que estavam naquele espaço conseguiam entender a conexão que deveria existir ali para dali levar para tantos outros espaços como aquele?

Estavam sentindo as vibrações que emanavam naquele momento ou simplesmente mais uma vez voltariam para casa deixando para trás qualquer relação que aquilo que nos fez aplaudir, rir, chorar, possa ter com as nossas vidas?

Haveria ali, de fato, vida pulsante, ou seria aquele mais um barco da conveniência, com meros passageiros sem nada a acrescentar, que não veem e não vivem a vida como ela é?

Lembra que citei o escritor português Eça de Queiroz aí em cima, quando ele diz “ou é má fé cínica ou obtusidade córnea”?

Acho que são as duas coisas.

Eles se deixaram levar pelo preconceito e ódio e se tornaram obtusos e cínicos.

Desejo-lhes o mal?

Não, a cada um deles desejo que evolua, se reencontre e se reconcilie consigo mesmo para que tenha um final com a alma menos atormentada.

E aí só com amor no coração.

Só ele constrói.

Ou reconstrói.

All you need is love
All you need is love
All you need is love
Love
Love is all you need