Incompatibilidades?

Quantos culturistas intelectuais você conhece? É possível que existam? Talvez sim, mas não parece muito provável. Sem preconceito. O culturismo exige horas de atividades dedicadas ao corpo. O conhecimento exige horas de atividades dedicadas à leitura, ao estudo, ao intelecto. Não é fácil conciliar.

Esse tipo de incompatibilidade parece existir em vários momentos e situações da vida. Será que poderíamos determinar a quantidade de horas que um professor precisa para estudar, incluindo aí tempo para pesquisa e publicações, para ser, de fato, um bom professor? Será que isso é compatível com ganhar muito dinheiro? Diz-se brincando(?) que quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro. E quem estuda?

Ser professor não é fácil, é desgastante. A depender do compromisso de cada um, em determinados momentos chega a ser frustrante. Às vezes imaginamos que esses momentos de frustração só ocorrem na graduação, pela imaturidade dos alunos, compreensível pela idade. Ledo engano.

Uma vez estava dando aula em um curso de especialização e, tentando trazer mais conhecimento e reflexão para aquele momento da aula, caprichei nas explicações, analogias, etc. Uma sala pequena, doze alunos, curso de especialização, momento propício para um crescimento científico, um aluno à minha direita, levanta o braço e, cheio de esperanças, ouço: “Professor, resumindo, como é que o senhor faz a técnica”? Pedi a morte.

Jornada de Prótese, eu, como sempre, sempre que posso, assistindo. Começa um curso, o professor, apesar de posudo, faz uma bela introdução, evocando Leonardo da Vinci e, através dele, falando de noções de estética, da sua importância, muito legal. Vira uma colega do meu lado e, do alto da sua sensibilidade e dos trezentos anos de formada, diz: “Esse cara vai ficar enrolando, não vai falar de prótese”? Quem mandou o professor querer trazer algo mais, quem mandou ele falar de Prótese e não de prótese?

Curso do Prof. De Deus. Introdução também fazendo algumas considerações, tentando trazer algo mais, vira um professor, isso mesmo, um professor, e pergunta em voz baixa aos que estavam por perto: “Que horas vai começar o curso”?

Não é fácil. As tentativas de aumentar os horizontes da Odontologia nem sempre são bem-vindas.