Jogo perigoso

Escudo do Bahia

Por Ronaldo Souza

O torcedor tricolor lembra do que a imprensa esportiva da Bahia disse no início deste ano com relação aos times que Bahia e Vitória estavam armando?

Disse que o Vitória estava formando um super time, com grandes jogadores, nomes consagrados e que a diretoria estava de parabéns.

Enquanto isso, o Bahia estava formando um time inexpressivo, jogadores desconhecidos e que a diretoria tinha que mudar a forma de agir.

Eu dizia a pessoas mais próximas; tanto um time quanto o outro pode dar liga, isso é imprevisível, mas prefiro a forma que o Bahia escolheu. Jogadores jovens, nenhum nome conhecido, muito menos consagrado, mas que já mostraram bom futebol por onde passaram e todos buscando conquistar um espaço no futebol brasileiro.

Dispenso-me de qualquer comentário sobre o que aconteceu, está acontecendo e com a qualidade do time do Vitória. Seus torcedores que se preocupem com isso.

É só para mostrar, mais uma vez, a competência da nossa imprensa esportiva.

Há um bom tempo não vejo o Bahia jogar futebol com a qualidade que vem apresentando.

Sem querer tirar o seu mérito de ter deixado um time montado, já falei aqui e aqui que não foi Guto Ferreira e sim o acaso que armou o ataque do Bahia com Zé Rafael (numa fase sensacional), Edgard Junio e Allione.

E esse ataque, sem o centro avante clássico, mudou para melhor a forma de jogar do time.

Porém, diante de 5 jogos sem vencer e chegando à zona de rebaixamento é natural que surjam incertezas e críticas.

Vamos lá.

Tenho ouvido muita gente dizer que está faltando um matador ao Bahia. O cara que “empurre” a bola para dentro do gol.

Dos que ouvi, se não todos quase todos os comentaristas da nossa competente imprensa esportiva dizem isso.

Por que será que chamam Hernane de “brocador”?

Porque ele broca, faz gol.

Hernane é, portanto, um matador, como eles reconhecem.

Será que todos, inclusive a torcida, já esqueceram que até ele se machucar estavam reclamando muito da falta de gols do time e a torcida já estava “pegando no pé” dele e até vaiando?

O substituto, Gustavo, não é um cabeça de bagre. É jovem, acho que em outro momento pode jogar mais, mas no Bahia não parece muito provável que venha a faze-lo. Até porque também já está um pouco “marcado” pela torcida .

É incrível como se ouve com frequência a imprensa dizer; “o time tem que ter reservas a altura dos titulares”.

Os “comentaristas” dizem isso todo dia.

E para minha surpresa, entre esses “comentaristas” estão ex-jogadores. Como dizem bobagens.

A nossa cultura futebolística ensina a pensar assim em relação a qualquer time que perca 3 ou 4 partidas seguidas.

No caso do Bahia dizem que a diretoria tinha que contratar um atacante no mínimo no mesmo nível de Hernane.

Qualquer diretoria de time de futebol que se deixar guiar pelo que diz a imprensa estará fadada ao mais absoluto fracasso.

Quantos times conseguem ter na reserva jogadores do mesmo nível que os titulares?

Aliás, algum consegue?

Você acha que o Barcelona tem ou pode ter três reservas no mesmo nível de Neymar, Messi e Luis Soares?

Digamos que tivesse.

Como administrar o ego de “titulares” na reserva?

Dá pra ver o tamanho da tolice?

Vamos adiante.

O que fez mudar tão repentinamente a qualidade do jogo do Bahia e a elogiada velocidade de transição e de ataque do time?

As características dos jogadores.

Não há entre eles, Zé Rafael, Edgard Junio e Allione, nenhum matador. São jogadores com habilidade e raciocínio rápido que dão grande velocidade ao jogo.

Gente, é justamente isso que está dando esse jeito de jogar que tem sido elogiado por vários comentaristas do Brasil.

O Bahia perdeu alguns jogos e em nenhum deles foi criticado por jogar mal futebol. Pelo contrário, não só vem sendo elogiado como se reconhece que em alguns desses jogos não merecia perder, tendo inclusive chances de ganhar.

Se tirar qualquer um desses jogadores e colocar um matador vai matar esse jeito de jogar (a redundância é intencional).

Assim como o volante brucutu, o matador é um estilo de jogador que não me parece que vai resistir por muito tempo. Nele, muitas vezes morre a velocidade de transição e de criação de jogada. Ele não sabe fazer esse tipo de jogo.

Zé Rafael, Edgard Junio e Allione estão em campo desde o início da temporada com Hernane como centro avante. Por que o time não jogava como está jogando?

Usemos o próprio jogo Bahia e Flamengo.

Se o centro avante matador é o que falta, como dizem os “comentaristas”, por que o Flamengo, cuja qualidade do atual time é inegável, jogou a partir dos 30 minutos do primeiro tempo com um jogador a mais e Guerreiro, um matador, nada fez?

Concordo inteiramente com o que disse o comentarista Gustavo Castellucci, da TV Bahia:

“O Bahia dominava as ações nos 30 primeiros minutos, teve mais posse de bola, estava indo bem contra o Flamengo, até essa infantilidade do Lucas Fonseca”.

O Bahia foi superior ao Flamengo na maior parte do jogo e até a expulsão de Lucas Fonseca boa parte da partida o Flamengo passou correndo atrás do Bahia.

Mesmo com um jogador a menos, o Bahia continuou atacando e foi mais perigoso que o Flamengo.

Quando a imprensa carioca chega a colocar senões na atuação dos seus times, particularmente o Flamengo, é porque reconhece, apesar de poucas vezes admitir, que o outro foi melhor.

Por outro lado, é claro que não é somente o ataque do Bahia que merece os comentários feitos. É todo o time.

Observe o meio de campo; Edson, Renê Júnior e Régis.

Estavam jogando muito.

Chamaram a atenção pelo futebol que vinham jogando desde as semifinais e finais da Copa do Nordeste contra Sport e Vitória. Ainda que não sejam os parâmetros mais adequados, esses times estão na série A. Além disso, o Bahia jogou esse futebol também contra outros times no início do Campeonato Brasileiro.

Infelizmente, perdemos Régis por contusão (já está voltando), que é o quarto elemento do ataque do Bahia e que também imprime muita velocidade ao jogo.

Continue comigo.

Tire Régis desse time e ponha Renato Cajá, mesmo na sua melhor fase (estava numa fase horrorosa).

Acaba com a festa.

Renato Cajá é mal jogador?

Não, ele é craque.

É questão de estilo de jogo.

E para nosso azar chegamos a esses últimos jogos sem Régis, particularmente no jogo contra o Flamengo, ao qual chegamos sem ele e os outros dois titulares do meio de campo.

Enquanto o Flamengo veio com seu time completo e qualificado, como há algum tempo não tem, o Bahia jogou sem quatro dos seus principais jogadores, incluindo aí, Jackson, titular absoluto da quarta zaga, também contundido.

Quantos times conseguem jogar contra times fortes sem tantas peças fundamentais e apresentar aquele nível de futebol que o Bahia apresentou?

Assim, reconhecendo-se o poder financeiro bem menor que o dos times do Sudeste/Sul, que se faça pelo menos um pouco de justiça ao elenco do Bahia, ainda que também se reconheça a necessidade de ajustes.

Que se faça, portanto, justiça ao futebol apresentado por Matheus Sales, Juninho e Vinícius, os três que substituíram os titulares do meio de campo.

Como então não reconhecer que o Bahia tem e pôs em campo reservas de qualidade???

E não esqueçamos a regularidade e consistência do sistema defensivo. Não são os recentes gols tomados que irão negar a qualidade desse sistema e tirar o mérito dos jogadores da defesa. Assim que o time voltar a encaixar, o sistema defensivo também vai se refazer.

O time ainda precisa de alguma contratação?

É praticamente certo que sim.

Mas tem que agir com serenidade, como tem feito e vem procurando fazer.

Mas é muito importante percebermos que, apesar da posição na tabela, o Bahia está no caminho certo.

A torcida precisa ter alguns cuidados com o que diz a imprensa, que além da tradicional incompetência muitas vezes diz coisas que beiram a irresponsabilidade.