Por Fernando Brito, no Tijolaço
Estadão, ontem, e Folha, hoje, mostram a preocupação do golpismo com as articulações políticas de Lula.
No Estadão, Lula faz de hotel em Brasília ‘QG da crise’; na Folha, Contra impeachment, Lula avança sobre ‘baixo clero’.
Quem é que iria conversar com um debilitado Lula, tratado como “piada” pelo sabido diretor de Redação da Folha?
A não ser os nossos transtornados jornalistas de matilha e a turma da “direita do Facebook” acha que é a oferta de cargos que Lula usa nesta rearticulação de duas fases: evitar o golpe do impeachment e, a seguir, recompor maioria parlamentar e normalizar o governo.
Conversa política, desde que o mundo é mundo, termina frequentemente assim. Mas jamais, salvo com Severinos Cavalcântis, começa assim.
A questão posta a eles é: estes senhores, acostumados a dois, três, quatro, eternos mandatos, o que ganham entrando num torvelinho de caos e instabilidade?
Porque, salvo os parceiros dos apetites aflitos de Cunha, quem é que acredita que Temer vai assumir o Governo e as coisas serenarão?
Derrubar Dilma pode reunir a maioria do Congresso, embora não provavelmente os 342 votos necessários a isso.
E depois?
Os miúdos terão vez, ante a disputa dos graúdos que vão se digladiar pelos nacos do poder?
O centro das decisões nacionais voltará a Brasília ou continuará em Curitiba e em alguns escritórios de luxo?
A “supremacia Cunha” terá forças para obter a anistia e sobreviver?
Político algum e mais ainda os da pequena política gostam de ameaçar com o abismo mas não de se atirar nele. Não são jogadores de uma cartada só, de bola ou búlica.
Este é o argumento que lhes cala.
Depois de interlocutores pífios, como durante anos Dilma teve no parlamento, e de Jaques Wagner, que entrou para ser “um pouco de Lula”, agora é a incontestável autoridade pessoal do ex-presidente que entra como fiador.
O que ele lhes diz é: “Olha, estão jogando o navio nos rochedos e quando ele afunda, todos acabam morrendo”.
Pede ajuda para atravessar a arrebentação e, depois, para reparar a embarcação.
Do outro lado, as manifestações mostraram que não é um fenômeno Collor o que ocorre, que há rua com o Governo, como há contra.
Acordo contra o golpe, Lula garante.
Acordo pró-golpe, quem garante?
Temer, o traidor? Cunha, o réu? Do lado tucano, quem? Aécio, Serra, Alckmin?
Com o frenesi alimentar dos tubarões, os peixes pequenos pensam em si e sabem que as mandíbulas não os pouparão, se necessário.
Foi tarde, indesculpavelmente tardia a entrada em campo de Lula, já atingido pelos pontapés judiciais antes de começar a jogar.
Mas o que temem é que não tenha sido tarde demais.