Luz

Por Ronaldo Souza

Dias difíceis, jamais imaginados.

Hora de arregaçar as mangas e enfrentar.

Todos, cada um à sua maneira, “juntos”, da melhor forma possível.

Para os religiosos, hora de muitas preces.

Para os espiritualistas, hora de espiritualidade.

Não estou falando de espiritismo.

Espiritualidade transcende as religiões.

Falo dela como algo que pode nos levar ao equilíbrio.

Hora de muita reflexão.

Há muita coisa para ver.

Se você me perguntar se quando passar a tormenta virá o tempo da bonança e o mundo será um mar de rosas, direi que não.

Mas, mudanças virão.

Não é possível que depois de tudo isso, continuemos os mesmos.

Mas já faço a ressalva.

Muitos não mudarão.

Eles já circulam e continuarão circulando entre nós, mas, sem que tenham noção, já estão marcados pela forma como se desnudaram nas redes sociais nesses últimos tempos.

Não vou longe.

Depois de um bom tempo sem “entrar” no FaceBook (faço a postagem da parte inicial dos meus textos e saio), ontem (24/03) resolvi fazer isso.

Vi um “diálogo” entre colegas em que o adjetivo utilizado por um deles para definir os outros e assim afastar a possibilidade de um futuro encontro (cogitado para uma conversa sobre o momento político atual) foi uma clara demonstração de que já estão identificados e tornaram o estigma inevitável.

Na verdade, uma autoestigmatização.

Não percebida, claro.

O bom senso recomenda evitar determinados encontros, mesmo que tenham sido comuns em tempos anteriores.

Dizem que prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Rédeas soltas, expuseram-se demais e exibiram suas entranhas e vísceras e nelas vimos o que há de pior na raça humana.

Depois de repetidas vezes se manifestarem desejando a morte por câncer de figuras do ambiente político brasileiro, já não surpreende que falem da morte de idosos e enfermos contaminados pelo coronavírus com assustadora naturalidade.

Seguem seus gurus na necessidade de proteção da economia.

O odor é fétido.

Eu olho-os com olhos lassos,
Há nos meus olhos ironias e cansaços
(José Régio)

De forma irreversível em alguns casos, os relacionamentos já não são e não serão mais os mesmos de antes.

Mas não falo para eles.

Falo para você que, mesmo pensando diferente de mim no campo sócio/político, vê que o mau nos ronda.

O mau nos administra, nos diz coisas feias todos os dias, nos conduz por caminhos desconhecidos, que nunca foram os nossos.

Entrou em nossas vidas, em nossas casas e ameaça o futuro de nossos filhos e netos.

Mas observe o seu povo.

Mesmo assustado e contido no que tem de mais forte, a afetividade, “resigna-se”, mas reage.

Abraços, beijos, simples apertos de mãos, tudo está proibido e, afastados todos de todos, as pessoas estão reagindo e se encontrando na solidariedade, no gesto, na atenção.

Mesmo povos que não conhecem de verdade o que é um abraço, agora parecem reconhecer o quanto são valiosos.

Mesmo diante de tanta dor e sofrimento, que dias lindos estamos vivendo.

Transformação será a palavra.

Momento único em que estamos nos sentindo humanos outra vez.

Que bem nos faz nos sentirmos como já fomos.

Estamos começando a ver com mais clareza a angústia do verdadeiro isolamento que já estávamos vivendo sem perceber.

Que tenhamos poucas baixas nessa luta para que possamos ver lá adiante que enfrentamos o terrível isolamento físico dos nossos entes queridos e o vencemos.

Como um presente, recuperaremos o afeto, a delicadeza, o amor.

Recuperaremos o ser humano que ainda existe em cada um de nós.

“Espera que o sol já vem”.