Por Ronaldo Souza
Não me lembro de ter feito assim anteriormente.
Como não tinha sido possível fazer a caminhada na praça no cedo da manhã, fiz ali pelas 18:30.
Um detalhe.
Era noite de Natal.
A praça é praticamente na porta do edifício onde moro.
Toda iluminada, estava bonita de se ver, mas havia alguma coisa diferente.
Só então me dei conta de que estava vazia, completamente vazia.
A proximidade das ceias tirara as pessoas da praça, mas não era desse vazio que ela estava vazia.
Era de algo bem maior.
O completo não estava completo.
O vazio, muito vazio.
Bateu tristeza.
Era mais um Natal não tão completo, como alguns já vinham sendo desde as primeiras ausências de meus pais, algo que faz parte da vida, com a qual aprendemos a ter a necessária resignação. Eles que moravam mais perto ainda da praça que eu.
Mas se essas ausências incomodam, e como incomodam, a vida nos ensina a ter um lugar especial para elas.
Ali, naquela noite, naquele momento, a tristeza tinha alguma outra razão.
Talvez por ser noite de Natal, tímida, envergonhada, a explicação foi chegando aos poucos. É que esses momentos nos levam a reflexões mais profundas.
Os rios estão bebendo sua própria água, talvez por sentirem que estão vendendo a nossa água, que poderá se tornar algo mais difícil de conseguir.
As árvores estão comendo seus próprios frutos, talvez por sentirem que pouco lhes restará, dizimadas que estão sendo por tantas queimadas.
O Sol não brilha mais, encoberto pela fumaça criminosa da destruição de nossas matas e florestas.
As flores perderam a fragrância porque, sem o Sol da vida, nada lhes resta.
Estamos sendo violentados.
As luzes iluminavam a praça da minha caminhada, mas não havia luz na minha alma.
As luzes iluminavam a praça, mas faltava vida.
Em casa, os mais doces sorrisos me aguardavam.
Nos arrumamos e fomos desejar Feliz Natal aos nossos.
Era noite de Natal.