Por Ronaldo Souza
A eleição de Bolsonaro, segundo o exército brasileiro um “covarde, canalha, contrabandista e um homem com graves distúrbios psicológicos“, tornou inviável qualquer discussão política.
Explico porque.
Até a campanha de Aécio ainda se tratava de política, mesmo sendo ele o que se mostrou nos últimos tempos; um ser abjeto.
Apontado por boa parte da imprensa (a de sempre) como grande político, nunca o foi, a não ser na capacidade de enganar.
Apresentado como futuro da política brasileira, poucos poderiam ser tão retrógrados.
Impune, solto e inexpressivo, representa uma página virada na política brasileira.
Mas da sua insatisfação pela derrota para Dilma Rousseff, com apoio da imprensa (Globo à frente), boa parte do judiciário e de segmentos influentes da sociedade, Aécio iniciou um movimento que impediu o governo de Dilma, que culminou com o golpe que a derrubou e na sequência levou Lula à cadeia.
Não, não vou perder tempo falando do que foram capazes homens e mulheres para que esse projeto fosse adiante e tivesse o desfecho que teve. Indecentes e imorais, todos se revelaram como são; canalhas.
Todas as vezes que demonizam políticos e política, o resultado já é conhecido; surgem os messias e os corruptos que “combatiam” a corrupção terminam dominando a cena.
Não só aumenta a corrupção como a violência, nas suas diversas formas, se instala.
Abra os olhos, olhe e é isso que você verá.
Não há, entretanto, nenhum precedente igual ao momento que vivemos.
A descoberta de que a Terra é plana, as conversas de Jesus em pés de goiaba, o fundamentalismo religioso, a tentativa de destruição da inteligência e das ciências brasileiras são provas incontestes de que a ignorância e a loucura assumiram o país.
Um homem personifica tudo isso e ninguém o faria à perfeição como ele.
O atual presidente da república.
Nunca antes na história deste país foi visto qualquer coisa semelhante a este momento.
Como então falar de política com pessoas e segmentos da sociedade que “conseguiram” por esse homem sentado no trono da presidência.
Sim, puseram-no na cadeira da presidência para cumprir o que lhe é determinado.
Ele não governa, ele não é presidente.
É alguém que se diverte durante o dia passando twitter e dizendo m….
Ele é a prova incontestável de que a classe média brasileira é uma das coisas mais medonhas que existem.
“Uma abominação política porque fascista, uma abominação ética porque violenta, e uma abominação cognitiva porque ignorante”.
Marilena Chaui
Aberração humana e política, tudo desconhece, tudo ignora.
Manipulado e controlado, o perigo que representa como presidente é justamente o de não saber o que diz e o que faz.
Assim, sem nenhuma noção e controle, fica sujeito a pessoas que dão provas diárias do seu despreparo.
Ministros que parecem brigar para ver quem vai ficar responsável pela asneira do dia, precisando sempre se desdizer logo em seguida, com as mais esdrúxulas explicações e justificativas.
E os filhos vice-presidentes?
Dispensam comentários.
Excludente de ilicitude
Moro, não.
Moro é um caso à parte.
Mas que, finalmente, cada vez mais pessoas começam a ver quem ele realmente é.
Gente como o jornalista Kennedy Alencar.
Em primeiro lugar, o de sempre.
Um homem bastante limitado na sua cognição.
O que se costuma atenuar chamando de limitações, são características marcantes nele.
Não consegue mais, entretanto, disfarçar o seu jeito acanalhado de ser.
Mas não se engane.
Ele é estúpido, mas é esperto.
Violento, mas frio e calculista, sabe que está nas mãos do presidente desprovido de tudo, mas o trairá assim que surgir a oportunidade mais propícia.
E esta certamente não se apresentará por agora.
Mas ele saberá esperar o dia e a hora.
Tem a seu favor um auditório que, como tantos outros auditórios, não possui nenhum discernimento.
Provas disso há em abundância.
Mas, por que insistir com o óbvio, mesmo sendo ele ululante, como diria Nelson Rodrigues, se nada mais óbvio parece existir?
Quantas coisas podem ser mais óbvias, por exemplo, que a sanha que ele mostrou ter pelo Coaf?
A (verdadeira) razão pela qual desejou ardentemente ter o Coaf nas suas mãos foi tão acintosa e escancarada que até Bolsonaro percebeu e por isso tirou dele.
Os seus incultos e incautos (como também diria Nelson Rodrigues) seguidores/admiradores passaram longe, bem longe, dessa percepção.
Nenhuma surpresa, claro.
Mas talvez seja o “excludente de ilicitude” a mais assustadora e maior aberração das propostas do seu pacote anticrime, pacote por demais sedutor para mentes de pouco alcance. Mais uma vez o seu séquito sequer consegue imaginar o que isso de fato significa.
Projeto antigo, ambos, Bolsonaro e Moro, desejam a qualquer custo aprovar a licença para matar. Aqui, o óbvio não só é ululante como dá pulos e saltos ornamentais de alegria diante de qualquer possibilidade de aprovação.
https://www.youtube.com/watch?v=Y3w-zjH3CuA
Um vergonhoso garoto-propaganda pouco antes de se eleger.
Quem há muito já se excluiu da licitude não poderia ter desejo diferente.
De uma sociedade que não consegue perceber quem é Bolsonaro e o elege presidente do país, como esperar que perceba quem é Sérgio Moro?
Não é razoável esperar pelo impossível.