Por Ronaldo Souza
Antes de qualquer coisa, deixemos bem claro o seguinte.
Ao escrever ou trazer textos de jornalistas independentes sobre os heróis dos bolsominions, a ideia não é tentar convence-los de qualquer coisa.
Não conto com isso.
Sei o quanto o instinto de sobrevivência pode levar à irracionalidade e diante de situações assim não há porque esperar nenhuma capacidade cognitiva.
Há uma diferença considerável entre mostrar e esperar que entendam aquilo que se mostra.
São as diferenças sutis, por isso frequentemente imperceptíveis, que existem entre a informação e a possibilidade de assimilação e transformação em conteúdo.
Assim, a “reserva selvagem” de Bolsonaro e Moro pode ficar tranquila.
Não é minha intenção convence-los de absolutamente nada.
Esse poder, todos sabem, tem a Globo, e o exerce muito bem, tanto é que fez o que fez deles.
Como pretender “convencer” quem é Moro a uma sociedade que conseguiu eleger Bolsonaro, ainda que tenha sido uma eleição fraudulenta?
Como pretender “convencer” a essa sociedade que a eleição foi fraudulenta?
As informações sobre “essas coisas” estão disponíveis, mas como a Globo não mostra…
Como já dizia Ricardo Teixeira (sim, aquele mesmo, presidente da CBF, a da camisa amarela que eles usam aos domingos no Farol da Barra e nas avenidas paulistas do país), se não deu na Globo, não existe.
Por instinto de sobrevivência, eles precisam acreditar que nada do que tem sido mostrado é verdade.
Conscientemente, ignoram tudo.
É uma necessidade.
Nesses últimos dias, também a Folha desistiu de resistir; desistiu de Moro.
Colocou isso de forma bem clara, assumindo que reconhece o quanto errou ao defender Moro e a Lava Jato durante todos esses anos.
Razões para isso não faltaram.
Moro acusou o golpe.
No entanto, muito maleável, tem se mostrado camaleônico.
Desesperado, também nele o instinto de sobrevivência falou mais alto. Mudou tanto ao ponto de atropelar tudo que já tinha dito.
E não deixa de ser triste, muito triste, mesmo sendo Moro, ver um homem se humilhar tanto.
A defesa que fez de Onyx Lorenzoni é daqueles gestos que mostram o que pode haver de mais baixo na degradação moral do homem.
Dizer que o admirava e que já o tinha perdoado do crime de caixa 2 porque ele pediu desculpas, mostra o que já se sabia mas não se conhecia na sua real dimensão; a sua falta de dignidade e caráter.
Mas aí veio à tona mais um novo caixa 2 de Lorenzoni.
Nada mais restou a Moro para dizer.
Calou-se.
Fechou os olhos, em mais um momento Moro de “não vem ao caso”.
Mostrava assim a sua inimaginável capacidade de perdoar.
E essa enorme capacidade de amar ao próximo e perdoar a todos foi evoluindo, até o ponto de se ver perdoando e protegendo outro mito, por sua vez também um homem de grande altruísmo e amor ao próximo; Moro não só perdoou o presidente da república como o está protegendo contra tudo e contra todos.
Flagrado pela Polícia Federal, o ministro do Turismo foi acolhido por Bolsonaro, a quem não restava outra atitude; o ministro sabe demais.
Foi quem comandou o episódio dos laranjas e do dinheiro ilegal que irrigou campanhas, inclusive a de Bolsonaro, conforme membros do próprio partido, que já admitem.
Tudo sob o guarda-chuva da omissão vergonhosa do ministro da defesa.
Resta a dúvida.
Quem será que está autorizando a Polícia Federal a investigar os laranjais, o partido (PSL) e o próprio presidente da república?
Faça um exercício de imaginação.
A Polícia Federal está sob o comando de quem, a qual ministro ela é subordinada?
Não, esqueça, deixa pra lá.
Pergunte ao presidente que ele sabe.
Só não pergunte onde está o Queiroz.
Ele vai responder que ‘tá com sua mãe’.
Moro acima de todos!
Bolsonaro acima de tudo!
A traição entre os membros do governo, todos sabem, é grande.
Lá, é ao contrário; ninguém segura a mão de ninguém.
Eu te amo meu Brasil, eu te amo
Ninguém segura a juventude do Brasil
Ainda que se entenda a sua preocupação, por estar envolvida no processo e ser a maior responsável pela criação do “mito” Moro, até onde irá a Globo na loucura dessa proteção insana, quando todos já perceberam quem é Moro?
Mesmo sabendo que também ela não vai resistir e em breve o abandonará, a Globo foi longe demais nessa irresponsabilidade.
Ainda que numa escala menor, juízes e ministros do judiciário sofreram um desgaste enorme pelo alinhamento automático à Globo e Lava Jato, mas, sem dúvida, Joaquim Barbosa e Carmen Lúcia sofreram um apequenamento bem maior, irreversível.
O que são eles hoje?
Não há, entretanto, como negar.
Como previ aqui há tempos, Sérgio Moro sairá muito menor do que todos os demais.
Ele morre desmoralizado.
Bolsonaristas, por favor, a morte aqui é uma metáfora, não como vocês a desejam a muitos na lucidez dos seus dias.
Dispenso-me de qualquer comentário sobre Dallagnol e companheiros, pequenos demais para que se gaste “tinta e papel” com eles.
Moro, sim.
Ninguém será melhor exemplo que ele do bagaço de laranja chupada e jogado fora pela janela.
Veja abaixo a matéria do jornal espanhol, EL PAÍS.
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Por Marina Rossi, no EL PAÍS
A cruzada de Sergio Moro pelo combate à corrupção começou a enfrentar obstáculos desde que ele deixou a toga de juiz e foi nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública pelo presidente Jair Bolsonaro. Em um passado recente, o juiz curitibano fora celebrado durante as manifestações contra a corrupção. O Super Moro estampava camisetas e bonecos nas ruas e, enquanto a personificação da Operação Lava Jato, fazia palestras e dava entrevistas condenando veemente crimes como o caixa dois. “É uma trapaça”, dizia, sobre essa prática.
Mas agora, à frente do Palácio da Justiça, o ministro mudou seu discurso. Ao apresentar seu pacote de medidas para combater os crimes de corrupção –bandeira que elegeu Bolsonaro–, teve de fatiar em três partes o plano e deixar em separado a proposta que criminaliza a mesma prática de caixa dois condenada no passado porque “vieram reclamações” dos políticos. “Alguns políticos se sentiram incomodados de isso [crime de caixa dois] ser tratado junto com corrupção e crime organizado. Fomos sensíveis”, disse o ministro. O Governo sabe que, do contrário, o pacote não seria aprovado. Além disso, ao anunciar o fatiamento, o ministro ainda atenuou a gravidade desse crime, afirmando que “caixa dois não é corrupção”.
Siga a cronologia da mudança de opinião do ministro:
Agosto de 2016: Caixa dois é “trapaça”
“Eu particularmente sou favorável a essa criminalização [de caixa dois]. Tenho uma posição muito clara: eu acho que o caixa dois muitas vezes é visto como um ilícito menor, mas é trapaça em uma eleição. E há uma carência da nossa legislação de tipificar esse tipo de atividade. E essa carência acaba gerando suas consequências no sentido de que se isso não é criminalizado, é tipo como permitido”. A frase fora proferida pelo juiz durante um debate no Congresso sobre o pacote que promovia as 10 Medidas Contra a Corrupção, que acabou não sendo aprovado.
No mesmo debate, Moro afirmou que o que mais lhe chamou a atenção no decorrer das investigações da Lava Jato foi o fato de os investigados citarem “de forma muito natural” o pagamento e o recebimento de propina. Em um discurso de aproximadamente uma hora, o então juiz também cobrou maior participação do Executivo e do Legislativo no combate à corrupção.
Abril de 2017: “Caixa dois é crime contra a democracia”
“Tem que se falar a verdade, caixa dois nas eleições é trapaça, é crime contra a democracia. Alguns desses processos me causam espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre corrupção para fins de enriquecimento ilícito, e a corrupção para fins de financiamento de campanha eleitoral. Para mim, a corrupção para financiamento de campanha eleitoral é pior que para o enriquecimento ilícito”. Sérgio Moro falou a uma plateia de estudantes brasileiros na Universidade Harvard no dia 8 de abril de 2017, sobre diversos assuntos. Dentre eles, a corrupção. “Se eu peguei essa propina e coloquei numa conta na Suíça, isso é provável crime, mas esse dinheiro está lá, não está fazendo mais mal a ninguém naquele momento. Agora, eu utilizo isso para ganhar uma eleição? para trapacear numa eleição? Isso pra mim é terrível”, seguiu.
Novembro de 2018, sobre caixa dois de Onyx Lorenzoni
“Ele foi um dos poucos deputados que defendeu a aprovação do projeto das 10 Medidas [contra a corrupção] mesmo sofrendo ataques severos da parte dos seus colegas. Quanto a esse episódio do passado, ele mesmo admitiu seus erros e pediu desculpas e tomou as providências para repará-lo”, amenizou Sérgio Moro, no final do ano passado, quando já havia sido anunciado para compor o novo Governo.
Moro deu uma entrevista coletiva em que foi questionado sobre o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Lorenozini, atual ministro-chefe da Casa Civil, admitiu, em maio de 2017, que recebeu 100.000 reais de caixa dois da JBS para a campanha que o elegeu deputado federal em 2014. “Usei sem [fazer a] declaração das contas”, afirmou em entrevista para a rádio Bandeirantes de Porto Alegre. “Quero pedir desculpas ao eleitor que confia em mim pelo erro cometido”, afirmou ele, que foi relator do projeto 10 Medidas Contra a Corrupção.
Fevereiro de 2019: “Caixa dois não é corrupção”
“Não, caixa dois não é corrupção. Existe o crime de corrupção e existe o crime de caixa dois. Os dois crimes são graves. Aí é uma questão técnica”. Pressionado pelos parlamentares, Moro fatiou seu projeto, como amenizou o discurso sobre o caixa dois.