Multidão lotou o Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, em defesa da democracia, contra o golpe
Por Adilson Filho, especial para o Viomundo
Foi bonito demais estar ao lado de tanta gente na praça, gente dançando, gente de punhos pro alto, dizendo qual o país que desejamos viver para continuar lutando por mais inclusão social e ampliação de direitos.
Estou um pouco emocionado ainda, sei que esse processo que mergulhamos no fim de 2014 está sendo duro pra muitos de nós, mas ontem foi uma recompensa e tanto. Mais um dia inesquecível em nossas vidas de luta.
A democracia é um bem inestimável, mas nunca a percebi como um fim e sim um meio — importantíssima para possibilitar, além do seu próprio aprimoramento, a luta por aquilo que há de mais urgente nas minhas prioridades como cidadão: justiça social.
Assim, sei o quanto me expus nas ruas e nas redes, ganhei antipatia, indiferença e talvez até inimizade de gente que gosto quando, desde o fim das eleições, abandonei um pouco a posição crítica, inclusive a minha participação no movimento social, para defender esse que muitos estão chamando de “governo indefensável” e que me machuca demais quando ouço.
Eu não sou petista, mas sou mais um dos que cresceram inconformados em ver fotos de crianças morrendo em cima de um prato onde só se via resto de calango misturado a um punhado de terra.
Que consegue, de alguma forma, imaginar a alegria de um pai de família quando chega em casa com a carteira assinada, sabendo que agora poderá garantir a refeição na mesa dos filhos, ou do orgulho que deve dar no porteiro do prédio que me viu crescer quando o encontro fazendo compras no mesmo lugar que frequento e que jamais pensou em entrar (sim, falo desse consumo que parte da esquerda e da academia tanto critica).
Eu não posso conceber jamais que uma pessoa que nasceu num país tão acentuadamente desigual cuja maior chaga, depois da escravidão, é a fome, alguém com todos os privilégios que lhe foram conferidos, feche os olhos para isso, ou se envergonhe de dizer, ou sequer perceba — como muitos que ouço dizer — que o combate à miséria foi “muito pouco”. Não, eu não posso. E, aí, eu agradeço aos meus pais, que não tiveram a oportunidade que me deram de estudar, mas que me educaram pra não esquecer nunca de quem tem menos do que eu, que está sendo oprimido e precisa de apoio na sua luta.
Esse golpe caminha para ser derrotado; as ruas desse país, lotadas de povo, deram mais uma vez o recado, mas quem é de esquerda já veio ao mundo sabendo que jamais terá descanso nessa vida.
A ameaça da volta da ditadura é apenas mais um episódio na guerra constante dos que querem manter privilégios à custa do suor do trabalho dos que lutam pra serem reconhecidos como cidadãos.
Todo santo dia há motivos de sobra pra nos indignarmos, darmos as mãos e lutarmos.
Voltando à normalidade democrática, é pressão no governo pelas reformas agrária, de mídia, tributária, etc e se unir, de alguma forma, à luta pela vida daqueles brasileiros que ainda vivem em permanente estado de ditadura, nas favelas e periferias do país.
PS: Sem querer tripudiar, mas alguns segundos antes de subir no palco Chico Buarque passou do ladinho deste humilde admirador, ganhou um chamego no braço, retribuiu com um sorriso e ouviu: “Chico, aqui você recebe é carinho”