Por Ronaldo Souza
Tornou-se muito cansativo falar de Bolsonaro, sua família e seu governo.
Escândalos surgem a todo instante, todos envolvendo desde o Messias e sua família ao seu desqualificado e falido governo.
Pior, porém, é falar de tudo que está acontecendo no entorno deles.
É doloroso!
Ver ao vivo, mas sem cores, a degradação mental e intelectual de uma sociedade dói muito e provoca mal-estar.
Um mal-estar que, entre outras coisas, gera um desconfortável sentimento de pena por parte da socieade que, nesse processo de degradação, tornou-se incapaz.
Tocam a vida, mas não sentem o seu pulsar.
Para alguns, certamente, alguém dizer “tocam a vida, mas não sentem o seu pulsar” é mi mi mi.
Lamento por eles.
Pela reconhecida ignorância e incapacidade de reflexão, reagem sempre da mesma forma; a negação e a tentativa de desqualificação daqueles que não rezam na mesma velha bíblia do atraso.
Agem por impulsos.
Freud os definiria como impulsos pulsionais.
Aliás, ele, Freud, não ignorou esse mal-estar. O seu livro, “O mal-estar na civilização”, fala sobre a dicotomia entre os impulsos pulsionais e a civilização, isto é, entre indivíduo e sociedade.
Não se compra a reação qualificada, aquela que se apresenta com contra-argumentação, como se compra uma arma. Esta, cada vez mais facilmente, está à disposição das mentes empobrecidas pelo retrocesso a que foram submetidos esses segmentos da sociedade.
Há “produtos” que não são construídos e postos à venda, mas construídos pelo saber e incorporados ao ser que se desenvolve pela civilidade.
Estamos na fronteira entre civilização e barbárie.
É em momentos assim que a vida se perde.
Momentos em que, tal qual o persongaem de Saramago, no seu livro Ensaio sobre a Cegueira, eu gostaria de ficar cego:
“Se tivesses que ver o que sou foraçda a ver todos os dias, também quererias ficar cego.”
Sim, gostaria de ficar cego.
Apresso-me em explicar aos bolsonaristas, para que possam entender alguma coisa, que se trata de uma figura de linguagem, uma metáfora. O cego aqui não é a condição da cegueira física, mas da incapacidade de “ver” o que de fato ocorre ao seu redor.
A cegueira, como ignorância, não traz sofrimento.
Como diz a velha e bendita sabedoria popular, “o que os olhos não veem, o coração não padece”.
Não há sofrimento no que não se vê.
Não há sofrimento naquilo de que não se toma conhecimento.
O fato de Bolsonaro, sua família e seu governo já fazerem parte do lixo da história diz bem como têm sido enormes o esforço e o sacrifício de falar sobre eles. Algo que faz mal à saúde.
Como também faz mal à saúde conviver nesse momento em que, como diz Bertrand Russel, “a ignorância coloca-se na primeira fila para ser vista. A inteligência coloca-se na retaguarda para ver“
A ignorância e a estupidez ocuparam todas as primeiras filas dos auditórios do país.
Do processo civilizatório de todos nós, fizeram parte as comemorações das datas cívicas, entre elas, o 7 de Setembro.
Quantos milhões de crianças por esse Brasil afora já desejaram desfilar nas paradas de 7 de Setembro!
Momentos em que soldados desfilavam pelas ruas e avenidas desse imenso país e projetavam naquelas crianças os sonhos mais nobres de defesa da Pátria, que eles, soldados, juraram respeitar.
E, de repente, transformam uma data cívica, quem sabe a mais importante delas, a que comemora a Independência do Brasil, no momento mais oportuno para que se promovam dias de insegurança.
Nas paradas de 7 de Setembro, os soldados marchavam com armas, na construção de momentos mágicos em que o simbolismo da Pátria pairava sobre nós. Uma demonstração cívica de amor e respeito ao país.
Neste 7 de setembro, do mesmo jeito, irão às ruas armados, mas com objetivos em nada nobres e muito menos de qualquer demonstração cívica de amor e respeito ao país.
Serão muitos os que irão às ruas? Serão poucos?
Agarram-se aos números, aos quais, como tudo mais, sempre manipulam na arte de falsear, arte em que são mestres.
Ao final, isso será o que menos importa, mas é compreensível que não consigam ver dessa forma.
Não lhes é possível dimensionar o gigantesco retrocesso que vive o país.
Todo o processo civilizatório, de milhões de crianças e da sociedade como um todo, está sendo abortado da maneira mais absurda possível, uma obra de arte ao avesso e de péssimo gosto.
O país está doente.