O futuro do Brasil no quintal de uma casa

Crianças

Por Ronaldo Souza

Não costumo me indignar com pessoas com pensamento binário. Tenho, isso sim, pena delas

O que dizer então de Bolsonaro e o seu não pensar?

Como ficar indignado diante de duas ou três frases suas, quando ele consegue formular e dizer?

Não se pode exigir nada dele.

É claro que incomodam as suas baixarias.

O Brasil se tornou uma extensão da casa da família Bolsonaro.

Tudo agora é baixaria.

Entram em nossas casas todos os dias com as maiores e mais diversas baixarias, em flagrante desrespeito às famílias brasileiras e aos seus filhos.

Quando existiu isso?

Nunca.

Jamais, em nenhum tempo, um governo no Brasil exibiu tão absurda falta de civilidade. Incluam-se aí os anos de chumbo da ditadura militar, que ele tanto exalta.

Falta de civilidade identificada por todos, porque eles próprios perceberam a necessidade de propagar para alimentar a matilha.

Bolsonaro, Josias e a doença

Veja o que diz Josias de Souza no seu blog.

“Não foi ninguém da oposição. Foi o vereador Carlos Bolsonaro, chamado pelo pai-presidente de “meu pitbull”, quem difundiu nas redes sociais vídeo com uma coletânea de baixarias pronunciadas por Jair Bolsonaro. Em meio a palavrões, o novo presidente da República ensina na peça que ‘assaltante precisa é de pancada’, revela o seu  desejo de que ‘matassem 200 mil vagabundos’ e exibe para a câmera uma camiseta onde se lê: ‘Direitos humanos: esterco da bandidagem.’

Veja o vídeo que o pitbull de Bolsonaro está divulgando.

Por uma obsessão facilmente explicada, eles vivem e se alimentam de Lula e do PT. Observe como o título do vídeo é “A esquerdalha chora! Vamos pra cima!”

O que mais eles têm pra dizer além de “frases” tão sábias?

Nada.

Não fica mais fácil entender melhor os também sábios comentários dos seus eleitores? “Idiota; você é um idiota; você também é corrupto; quanta bobagem; putz… muita”.

Assim eles se retroalimentam e preservam a espécie.

O que resta à esquerdalha?

Chorar.

Claro!

Como não chorar diante diante da degradação do ser humano?

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
John Donne

A degradação do homem pode ser vista como a morte no poema de John Donne (poeta inglês do século XVII).

“A morte (degradação) de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano.

Os sinos dobram para todos.

Mesmo para os que se degradam.

Ainda que se tornem irremediavelmente degradados.

Engana-se redondamente quem imagina que os eleitores de Bolsonaro refutam suas grosserias.

Muito pelo contrário.

Aplaudem.

A exaltação do macho pelo macho é, além de identificação entre eles, um reflexo da necessidade de autoafirmação.

As carências são conhecidas.

Eles precisam se encontrar.

Para piorar mais ainda e deixar sob nuvens escuras as perspectivas do futuro que já é presente, Josias de Souza termina o seu texto com uma profecia de mau agouro, um tipo de terrorismo enviesado:

“Dentro de poucas horas, o autor dos comentários vestirá a faixa de presidente da República”.

Não, não somos iguais

Tempos difíceis, muito difíceis, virão. Isso está claro como a mais límpida e pura das águas.

No entanto, não importa quão difícil pode ser, temos que continuar lutando contra o primitivismo que toma conta do país.

A oposição covarde que fizeram a Dilma Rousseff foi apenas uma das formas de manifestação desse primitivismo, onde, entre outras coisas, o macho se impõe.

Sob o manto da ignorância que já tomava conta de boa parte da sociedade brasileira, à base de ofensas, xingamentos, difamação, inauguraram um novo tempo, cujo ápice foi a enorme traição ao país com um golpe que já se mostrou como farsa.

Mas a nossa luta não é e jamais será igual à deles.

A nossa dor não é por uma eleição perdida.

No mundo das enormes limitações intelectuais em que vivem, que nunca foram tão evidentes como agora, pensam que choramos a eleição perdida.

Ainda que eles jamais consigam perceber e muito menos sentir algo igual, o que nos dói e muito é ver no que transformaram o país.

Mas nem mesmo essa dor, que dói como nenhuma outra, nos fará agir como animais irracionais.

Em nós, ela chega e se transforma e nos faz reagir com o lirismo dos poetas e artistas desse grande país.

Não somos ofensa, xingamento.

Não somos violência.

Somos música.

Somos poesia.

Somos Fernando Pessoa, Neruda, Chico Buarque…

Somos amor.

Lutem, lutem, lutem.

Jamais parem de lutar.

Mas como sempre fizemos.

Com a leveza que a nossa inteligência e sensibilidade sempre nos ensinaram e permitiram fazer.

Apesar dos tempos que virão, cabe-nos continuar lutando pela preservação dos nossos ideais com toda a força que tivermos, mas com amor e delicadeza.

Cabe-nos continuar amando, na eterna busca do encontro de todos.

Ninguém solta a mão de ninguém