Por Fernando Brito no Tijolaço
Diz-se que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. A assertiva vale sobretudo para guerras sem armas de fogo, as guerrras políticas, cujas principais batalhas se dão no palco da mídia. Ganha quem possui maior domínio sobre a informação. O PSDB, por exemplo, apesar de ser o partido campeão no ranking do TSE de ficha suja e estar envolvido em escândalos de corrupção bilionários, ainda assim tenta se vender ao eleitor como o partido da ética. Tudo porque é apoiado pela grande mídia.
As denúncias de corrupção envolvendo o metrô de São Paulo existem há tempos. Em 2011, o R7 publicou matérias (aqui, aqui e aqui) na quais uma testemunha apresenta informações e documentos que atestam exatamente a mesma coisa que está sendo repercutida apenas agora nos outros jornais. No entretempo, as empresas envolvidas foram investigadas e condenadas nos EUA e Europa. Aqui continuam fazendo negócios.
Matéria no Jornal da Record, em 2011 (vale a pena ver de novo):
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As denúncias do superfaturamento de obras e serviços do metrô e trens em São Paulo chegam à chamada grande imprensa quase três semanas após o caso voltar à baila em reportagens de capa da Istoé. Com o estouro do escândalo na imprensa europeia, e os movimentos de rua agendando protestos com esse tema, a bolha de proteção ao PSDB se rompeu.
A denúncia chegou, finalmente, ao Jornal Nacional.
Os jornalões hoje veiculam o escândalo, mas já iniciaram movimentos de blindagem às autoridades tucanas. No editorial deste sábado, a Folha defende “dupla cautela” na análise das denúncias:
Há que considerar a investigação co
m dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30%, sem provas de envolvimento das autoridades.
Pausa para rir.
A Folha acha que seus leitores são totalmente idiotas se imagina que alguém vai acreditar que Siemens e Alstom vem fraudando contratos públicos desde 1998 sem que ninguém do governo tucano estivesse envolvido.
Que história é essa de ~dupla cautela~? Cautela, tudo bem, é sempre bom. Mas porque ~dupla~?
Pra que tanto nervosismo?
Alstom e Siemens tem contratos com o governo paulista pelos quais receberam mais de R$ 15 bilhões em recursos públicos. Segundo o Ministério Público de São Paulo, há documentos comprovando propina a funcionários do governo.
A Folha, pelo jeito, terá que pedir cautela “tripla”. Há diários, emails, documentos, confissões de executivos, testemunhas. Há condenações na Europa e nos EUA das mesmas empresas por atos de corrupção idênticos ao que estamos apenas começando a investigar.
Jamais um escândalo de corrupção foi tão documentado.
Quantos mensalões cabem num contrato de metrô em São Paulo? Será que o Ministério Público Federal repetirá o que fez para o mensalão petista e publicará em seu portal uma história do escândalo do metrô voltada ao público infantil? Veremos aqueles imensos infográficos com os rostinhos dos diretores? A teoria do domínio do fato será aplicada aos chefes políticos do esquema?
Estamos aguardando os paladinos da ética fazerem seus discursos de indignação contra a roubalheira em São Paulo. Não podemos esquecer que não existe essa de verba pública “paulista”. Verba pública é verba pública, pertence a todo o povo brasileiro, pois tudo que afeta São Paulo afeta o país inteiro.
A ~cautela~ da Folha tende a crescer porque um escândalo desse porte, somado à queda de popularidade do governador Geraldo Alckmin, pode colocar em risco a hegemonia tucana no estado de São Paulo.