Por Ronaldo Souza
Nem sei se ainda se usa essa expressão e se ela pode ser usada aqui, mas não navego nas redes sociais.
Quando faço as postagens dos meus textos costumo ir na “Página inicial” do Face Book para conferir se está tudo certo, se o link para o site está funcionando e aí saio; é hábito desde quando comecei a fazer postagens.
Quando postei “Mulheres da vida” ontem (09.01) pela manhã, fiz isso.
Ao fazer, notei que logo abaixo da minha estava uma postagem feita pelo professor Wantuil.
Wantuil Rodrigues Araújo Filho, este é o seu nome.
Já fui inúmeras vezes ao Rio nesses últimos mais de 40 anos, pois, além de ter ido lá algumas poucas vezes antes, desde quando casei ia pelo menos a cada 2 anos, para passar Natal e Reveillon com a família da minha mulher. Era um ano aqui em Salvador, outro lá.
Digo ia porque com a morte recente dos pais dela, isso mudou um pouco.
Ela continua indo de vez em quando por causa das irmãs, eu, não.
Apesar disso, nunca tive amigos no Rio de Janeiro além dos meus concunhados.
É comum dizer-se “Freud explica”.
Mas não preciso de Freud para explicar.
Afinidades e empatias não são obrigatórias; existem ou não.
E relações profissionais não significam e não devem significar necessariamente amizades que surgem. Essas relações muitas vezes não têm a consistência que poderiam ter.
O tempo, senhor de tudo, se encarrega de nos orientar.
Ambas, amizade e relação profissional, têm razões que só a alma e o coração conhecem.
Wantuil mora no Rio.
Só estive pessoalmente com ele uma única vez (e não foi lá) e nos falamos por telefone cerca de 4 ou 5 vezes, acho que não mais do que isso.
Uma dessas vezes foi para lhe pedir um favor, que foi atendido com a maior gentileza do mundo.
A postagem dele, foi o vídeo abaixo.
Vi o vídeo.
Como me fez bem.
Poucas vezes me senti tão tocado.
A música é ali dos anos 1970, quando para mim ainda se misturavam o final da adolescência e o início da fase adulta.
The Marmalade, a música, a gravação, a minha vida, tudo se misturou naquele momento inexplicável de grande emoção em que senti a insuportável leveza da beleza da vida.
“Insuportável leveza da beleza da vida” numa música que diz “the world is a bad place, a bad place, a terrible place to live…”?
Sim.
Porque em seguida vem “oh, but I don’t wanna die”.
É a beleza da poesia e do poeta.
Não se explica.
Mas por que aquela música “solta” me tocou tanto?
Só à noite entendi.
Recebi de outro amigo, este aqui de Salvador, uma mensagem no whatsapp com o mesmo vídeo falando da morte de Dean Ford, o cantor do The Marmalade.
Mais uma vez o coração se agitou.
E só aí tive a sensação de que algo estranho tinha acontecido.
De repente, pareceu-me que a música e as reminiscências que me vieram à mente traziam alguma mensagem.
Aquela postagem logo abaixo da minha pareceu então não estar ali à toa.
“Afinidades e empatias não são obrigatórias; existem ou não”.
Lembra que falei isso aí em cima?
Uma vez um amigo psicanalista me disse:
– Ronaldo, o mundo é sujo.
Com outras palavras, Dean Ford disse a mesma coisa; “o mundo é um lugar ruim para viver”.
Sim, o mundo é sujo e um lugar mau para viver.
“Oh, mas eu não quero morrer”, como diz o mesmo Dean Ford na sequência da música.
O poeta precisa nos provocar e assim nos chamar para a vida.
“As saudações de pessoas com problemas… oh, como elas enchem meus olhos…”, diz outro trecho da música.
Da dor das suas reflexões ele tira a beleza da essência das coisas.
E como estamos precisando dessa essência.
A morte pode significar a “insuportável leveza da beleza da vida”.
The Marmalade, a música, a gravação, a minha vida e agora aquela música “solta”, tudo parecia se misturar como que numa mensagem naquele momento inexplicável.
Aquele único contato pessoal que tive com ele, os outros por telefone e algumas coisas mais já tinham me dito muito dele e aparentemente eu não soube perceber.
Durante todo esse tempo existira uma pessoa com afinidades e empatias no Rio.
Wantuil.
Assim é a vida.
A vida como ela é, como diria Nelson Rodrigues, pernambucano-carioca apaixonado pelo Fluminense do Rio, o Rio de Wantuil.
Que é um Rio diferente.
Nele há mais poesia, mais beleza, mais sentimento.
Fiz questão de trazer a música como foi gravada à época em que foi um grande sucesso com o The Marmalade e que está no mix do vídeo lá em cima.
Que maravilha.
Estamos necessitados de beleza.
De poetas.
E amigos.
Abraço, Wantuil.