Por Fernando Brito, no Tijolaço
A “era Bolsonaro” no Brasil vai, um dia, ser prato cheio para estudiosos de psicologia social.
Não é só o conservadorismo – melhor, o reacionarismo – que a marca, mas a construção de uma espécie de “império da estupidez” no governo e em muitas partes da sociedade.
Há farto material para análise patológica deste fenômeno.
O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, definindo as mulheres como “portadoras de vaginas” o que, em alguns casos como o de sua concepção, talvez seja mesmo um “defeito”.
Hamilton Mourão, o cavaleiro (sem H) que habita a vice-presidência da República, chama a Argentina de “eterno mendigo”, numa reunião com possíveis investidores estrangeiros.
Jair Bolsonaro dispensa comentários: diz que o STF está quebrando a Constituição ao determinar que o presidente do Senado instale a CPI da Covid, o que está procrastinando há tempos, mesmo contra o que determina o regimento da Casa.
O país chega a 4,25 mil mortes em um dia e não há uma manifestação de tristeza ou de alerta das autoridades públicas.
O Ministério da Economia, alegando que só os ricos leem, quer taxar o livro para que, quem sabe, nem por eles e, não lhes venham estas ideias malucas de ciência e humanismo. Ademais, está aí a inteligência artificial para suprir o dinheiro, não é?
Mas há, ainda, a cereja do bolo: a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, publicada pela Folha, dando conta que mais de um quinto (22,5%) dos médicos apoia o uso de medicação não referendada cientificamente para o combate à Covid.
O que, na prática, equipara os doutores – já que não estão participando de um experimento regular de medicamentos – à categoria dos charlatães que, agora, ganhou o belíssimo nome de “liberdade para os médicos”.
Liberdade para serem estúpidos com a vida alheia.
O que há de comum em tudo isso? Arrisco sugerir aos que, no futuro, estudarem o que se passou aqui, venha que há um traço comum a tudo isso: a estupidez perdeu a vergonha de exibir-se em público.
Vivemos a era do ‘nude” da ignorância que, antes, tinha o pudor de se vestir-se de silêncio e que agora se exibe, vaidosa de sua ferocidade.