Por Ronaldo Souza
Durante as manifestações que culminaram com o golpe que pôs Michel Temer na presidência, os eleitores de Aécio Bolsonaro chegaram a pedir muitas vezes “intervenção militar democrática”.
???
Se alguém souber explicar o que é isso, por favor fique à vontade.
Essa e tantas outras coisas ditas por eles deixavam bem claro que estava em processo “a ascensão fulminante e irresistível do idiota”, como bem descreveu Paulo Nogueira Batista Jr., economista e ex-diretor do FMI, em Os falsos idiotas.
Já tive oportunidade de dizer aqui que se todos os idiotas percebessem que são idiotas, haveria um suicídio coletivo em larga escala.
Como é impossível que o idiota perceba alguma coisa, é claro que esse suicídio coletivo jamais aconteceu ou acontecerá.
Como também é claro que, por razões óbvias, nunca desejei esse suicídio.
A constatação do fenômeno não me leva necessariamente a desejar que ocorra. Até porque o mundo tem seus pesos e contrapesos e é isso que permite o seu “equilíbrio”.
Recorro novamente a Paulo Nogueira Jr.
“De repente, tudo mudou. O idiota descobriu o próprio peso e desencadeou-se por toda parte com força brutal. Passou a publicar, dar entrevistas, gerir empresas e – o que é pior – ocupar cargos públicos da maior importância. Isso foi, como dizia, no século passado.”
O mundo azul e rosa dos mentecaptos
Quem poderia acusar Hitler de idiota?
Negar-lhe inteligência?
Não, muito menos a quem estava ao seu lado; Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, um gênio da comunicação e o grande mentor do regime.
Não é muito preciso o tempo que durou o império nazista. Teria sido de 1933 a 1945, 12 anos, portanto.
Por mais tempo durou o Fascismo de Mussolini na Itália, 23 anos (1922-1945).
O primeiro existiu por um tempo bem menor que a ditadura brasileira; 21 anos (1964-1985). O segundo, um pouco mais.
O Salazarismo, regime também fascista, sem dúvida, foi o mais longo deles (1933-1974). Foi deposto pela “Revolução dos Cravos”, um momento de grande beleza e riqueza da história do povo português.
Considerando-se todas as proporções e possibilidades de cada momento na história, pode parecer que não cabem comparações com a ditadura brasileira.
Não é bem por aí.
Não se trata de comparar, por exemplo, a dramaticidade das condições e quantidade de mortes do nazismo e a ditadura brasileira.
Trata-se tão somente de traze-los para um contexto e nesse sentido existiria pelo menos uma coisa a unir esses momentos.
Parece não haver dúvidas de que em todos eles a humanidade deu passos para trás.
Da mesma maneira, é certo que haveria menor semelhança ainda com a atual situação do Brasil, a começar pelo fato de não haver como comparar os líderes dos dois momentos.
Hitler, por si só, e seu mentor intelectual, Goebbels, um homem de inteligência e intelectualidade inegáveis.
Quem teríamos em cargos equivalentes no momento que estamos vivendo para comparar?
Bolsonaro e Olavo de Carvalho (mentor do atual governo).
Sem chances.
https://www.youtube.com/watch?v=NZWKScoj3s0
Dispensam-se comentários.
“Duas coisas não têm limites: o universo e a estupidez humana”.
Einstein
O que disse recentemente um dos mais ativos ministros do novo governo e um dos seus consultores, o general Augusto Heleno?
“A posse da arma, desde que seja concedida a quem está habilitado legalmente, e essa habilitação legal virá por meio de algum instrumento, decreto, alguma lei, alguma coisa que regule quem terá direito à posse da arma, ela se assemelha à posse de um automóvel. Está em torno de 50 mil (o número) de vítimas de acidente de automóvel. Se formos considerar isso, vamos proibir o pessoal de dirigir. Ninguém pode dirigir, ninguém pode sair de casa com o carro, porque alguém está correndo o risco de morrer porque o motorista é irresponsável.”
Há como manter um diálogo minimamente inteligente diante disso?
“A nossa bandeira jamais será vermelha”
Tudo para eles é binário.
Ou é azul ou é rosa.
https://www.youtube.com/watch?v=6myjru-e81U
A incapacidade que exibem todos os dias não vai permitir que enxerguem qualquer coisa nesse panorama de tamanha complexidade que vivemos atualmente.
É difícil de acreditar que algo tão patético quanto “A nossa bandeira jamais será vermelha” teria alguma chance de se tornar o lema de qualquer coisa que fosse.
Exibem da forma mais despudorada possível o quanto são medíocres e ridículos.
Fazem-no por conhecerem muito bem a plateia para quem falam.
Um dos textos recentes do sociólogo e professor Celso Rocha Barros tem como título a expressão “Nunca fomos tão repulsivos”. Nele, Celso Barros faz uma crítica contundente às elites brasileiras.
Viver nos dias de hoje, século XXI, 2019, 30 anos depois da queda do Muro de Berlim, com coisas como “A nossa bandeira jamais será vermelha” é assumir; nunca fomos tão medíocres.
Vamos lá.
O que pode ser mais emblemático do que o “Outubro Rosa”, movimento que pretende chamar a atenção para a luta contra o câncer?
Nessa luta, os monumentos Brasil afora foram iluminados com a cor rosa, representação do “Outubro Rosa”.
Assim foi, por exemplo, com a Catedral de Brasília.
Veja o que eles conseguiram fazer.
Inoculados com o vírus da estupidez, os bolsonaristas confundiram o “Outubro Rosa” com comunismo e, na sua incapacidade de ver as coisas, destilaram todo o seu ódio.
Eles são os passos para trás que nesse momento dá o nosso país.
O atraso será gigantesco.
Recorro novamente a Paulo Nogueira:
“O que temos, hoje, não é mais a ascensão do idiota, mas o seu completo e indiscutível triunfo”.
Se alguém ainda duvida é só olhar para o primeiro dia do ano.